terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Sobre entrevista de Artur Avila no programa de Jô Soares


O texto abaixo é de autoria de Maria Lewtchuk Espindola, física que trabalha no Departamento de Matemática da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O que ela escreve é motivado por uma entrevista recentemente concedida pelo matemático Artur Avila, único brasileiro a conquistar a Medalha Fields, em programa de televisão conduzido por Jô Soares. Apesar de eu discordar de alguns pontos importantes defendidos por ela, julgo que vale a pena ler e pensar criticamente sobre os temas abordados. Isso porque ela também defende ideias dignas de atenção. Ao final do texto de Espindola faço alguns comentários sobre o que ela escreve.

Desejo a todos uma leitura crítica.
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Comentário sobre a entrevista do matemático Artur Ávila, ganhador da medalha Fields, no programa do Jô
de Maria Lewtchuk Espindola

Fiquei extremamente afetada pela entrevista de Artur Ávila no programa do Jô, aliás deprimida até. Procurei então assisti-la de novo para me certificar que os absurdos que escutei não teriam sido mal interpretados e, infelizmente, concluí que o meu entendimento não estava equivocado. Resolvi então entrar em contato com o professor Adonai e sugerir que ele escrevesse sobre o assunto. O professor me respondeu propondo uma colaboração, a qual aceitei com muito gosto. Na verdade, sou uma admiradora deste blog e costumo divulgá-lo pois, com certeza, hodiernamente é uma das melhores leituras. Em muitos casos não concordo com algumas ideias e esse é um dos motivos deste comentário. Numa determinada postagem se discutiu a necessidade de existir no Brasil um incentivo a jovens talentosos, os  quais não precisariam passar pelos cursos normais de formação. Acredito que o direcionamento de mentes muito jovens, para uma certa área em detrimento das demais, acaba prejudicando o desenvolvimento normal do adolescente. Creio que existem etapas que não podem ser saltadas. Isso é claro quando existe um único direcionamento, e que acaba não favorecendo a sedimentação do conhecimento como um todo, sendo que o mesmo ocorre quando o direcionamento é para qualquer outra carreira, sem que haja uma formação paralela. Isso acaba gerando pessoas que não apresentam quaisquer possibilidades de se relacionar com os demais seres viventes, ou indivíduos frustrados, que muitas vezes acabam sendo conduzidos ao suicídio, como testemunhei em diversos casos.

A entrevista começou com enorme dificuldade, uma vez que o entrevistado não respondia às perguntas. Na sequência foi piorando: perguntas sem resposta, ou com respostas evasivas, incompletas, com conceitos errados ou com ar de escárnio.  E, em alguns casos, com manifestação de uma superioridade intelectual de quem não acha pertinente explicar aos apedeutas o que só determinados cérebros privilegiados podem entender. Acredito que o entrevistado é a prova viva do que não deve ser feito; o conhecimento não pode ser incorporado como se fosse por milagre... A falta evidente de maturidade do entrevistado ficou visível, assim como a falta de um embasamento científico e cultural. O desconhecimento das áreas onde está sendo aplicada por ele a técnica matemática que ele desenvolve fica evidenciada não só nessa entrevista como em outras que pesquisei¹

Acredito que nenhum jovem deve ser conduzido ao mestrado ou à universidade sem passar pelas etapas normais, apesar de que estas poderiam ser aceleradas, sem prejudicar o desenvolvimento nas demais áreas de conhecimento. Aqui é importante ressaltar que não defendo o fato de que todos os alunos devem obrigatoriamente cumprir as etapas no mesmo período, mas o que gostaria de ressaltar é que nenhum jovem passa de um estágio onde ele resolve uma série de problemas de uma olimpíada para a de pesquisador ou cientista... O chamado espírito científico precisa ser construído, e não creio que a atividade de competir em olimpíadas que premia o mais bem treinado é o melhor parâmetro para avaliar a possibilidade de que esse será um profícuo cientista no futuro. Na verdade, a quantidade de premiações não habilita ninguém como gênio ou cientista, uma vez que o desenvolvimento da criatividade não é premiado. Um cientista não pode ser somente um solucionador de problemas formulados (como foi designado por um dos seus colaboradores e pela comissão do prêmio²) mas, com certeza, deve ter a capacidade de discernir e formular novos problemas. Isso pode ser justificado historicamente, ao nos depararmos com os vinte e três problemas formulados por Hilbert no início do século passado (atualmente acrescido do que se refere a simplicidade das resoluções ou teorias formuladas). Das diversas reportagens e depoimentos de colegas de Artur fica esclarecido que ele é considerado como um solucionador de problemas. Por outro lado, em todas essas reportagens e entrevistas fica claro o seu despreparo na formulação até de simples ideias ou explicações. E me assusta quando ele reconhece a desnecessidade de quaisquer tipos de leituras; não tem o hábito de ler livros ou artigos, nem sequer possui uma biblioteca em casa³. Diz que o contato e a conversa com os seus colegas é suficiente, pois os palpites dados o conduzem à resolução dos problemas, mesmo desconhecendo o assunto abordado³. Segundo Einstein: "A formulação de um problema é muito mais importante que a sua solução. Esta pode ser apenas uma questão de habilidade matemática ou experimental. Propor problemas novos e encarar os velhos sob um novo ângulo é o que requer imaginação criadora e promove o progresso da Ciência". É evidente que esse contato é imprescindível em muitos casos,  principalmente quando o pesquisador trabalha em assuntos da moda, como define Santaló, apesar de existirem muitos exemplos de cientistas que acabam se isolando e produzindo grandes teorias, como Descartes, desde que possuam um cabedal de conhecimento que os torna capazes.4 

Tanto o comunicado do IMU ao premiá-lo, como o reconhecimento do próprio em diversas entrevistas, de que os últimos anos foram dedicados a escolher parceiros e problemas que o conduziriam ao prêmio, me induz a fazer uma pergunta: qual é a efetiva contribuição que as premiações têm no desenvolvimento da ciência? O que de fato está sendo premiado? Os resultados que podem ser considerados como gerais ou simplesmente aqueles que estão mais visíveis no momento ou que se tornaram os mais famosos? Quais, de fato, vão conduzir ao desenvolvimento da matemática ou de suas aplicações? Estão sendo premiadas a resolução de problemas particulares ou a formulação de teorias em ciência pura ou aplicada? São de fato os cientistas que estão recebendo essas premiações? Ou meros especialistas na falange distal do dedo mindinho da mão esquerda? Na verdade, esse comentário pode ser estendido a outras premiações em ciência, música, literatura, artes etc. Ao passo que os premiados se tornam celebridades, raramente o senso crítico predomina. 

Ainda gostaria de ressaltar que fiz questão de difundir, inclusive criticar a falta de divulgação, da premiação de Artur, pois de fato a mídia não deu o mesmo tratamento que é dado a qualquer premiação em esportes ou em outras atividades. Mas, isso é compreensível,  uma vez que um cientista não gera verbas diretamente, como qualquer outra celebridade na nossa sociedade. Como também foi quase nula a divulgação do Prêmio Balzan em 2010, que o professor Jacob Palis recebeu e que talvez seja mais próximo ao Nobel. O Professor Palis também foi entrevistado pelo Jô. E que belíssima entrevista, onde o premiado tanto respondeu a todas as perguntas como ainda conseguiu esclarecer mesmo para leigos qual a relevância dos seus resultados e da teoria desenvolvida. Na verdade, o professor Palis é considerado o avô científico do atual premiado, desde que ele orientou o Professor Welington de Melo, o orientador de doutorado de Artur. Para fazer justiça devemos dizer que existem ainda outros matemáticos que deveriam ser citados. O IMPA foi criado em 1951 pelos matemáticos Lélio Gama, Leopoldo Nachbin e Maurício Peixoto, com o intuito de estabelecer no Brasil um centro de excelência de pesquisa em matemática pura e aplicada. E é importante ressaltar que o Professor Maurício Peixoto foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da área de sistemas dinâmicos e pode ser considerado o bisavô de Artur. Inclusive o estágio atual do IMPA, nessa área, se deve ao fato de que não só o professor Peixoto iniciou a formação dos pesquisadores como tem resultados de extrema relevância, sendo que existe um resultado denominado de teorema de Peixoto em sistemas dinâmicos. 

Quero acreditar que esse menino tem ainda a possibilidade de amadurecer e, como os matemáticos acima citados, se tornar um dos grandes cientistas brasileiros deste século. Por outro lado, acredito que existem várias lições a serem tiradas desse episódio, que ainda não foram citadas. Em parte costumo atribuir a centros de pesquisa como o IMPA, o CBPF, o Bourbaki, entre outros, um defeito que de certa forma conduz a determinados comportamentos que acabam atrapalhando o desenvolvimento da ciência. São academias onde uma parte dos seus membros adota o estilo da Academia Pitagórica. Apesar de serem responsáveis pela formação de pesquisadores muito produtivos e cientistas geniais, além de estarem entre as poucas opções para quem gosta da ciência pura, existe uma série de subprodutos que ficam evidentes. Eventualmente manifestam a sua superioridade de forma constrangedora, como foi o caso do entrevistado que se ofendeu quando Jô Soares o chamou de professor. Por exemplo, tenho observado que os alunos que são formados acreditam que não precisam transmitir seus conhecimentos, e  não valorizam a atividade didática, o que fica evidente em aulas, palestras e livros publicados. Isso fica bastante evidenciado no caso da arrogância do entrevistado, pois só considera importante a comunicação com os seus coautores ou em ambientes acadêmicos. Acredito que a ciência que é produzida passa a pertencer à humanidade. Somos pagos para produzir e isso nos coloca na posição privilegiada de seres aptos a transmitir o conhecimento, aliás com o dever de bem o fazer. O ensino não deve ser encarado como uma atividade de menor valor social do que a pesquisa e seria muito interessante que este fosse o lema de todos os nossos pesquisadores e cientistas. Na minha experiência de atuação em física e matemática desde o curso de graduação, como parte do grupo de iniciação científica, conheci grandes cientistas, os quais nunca se recusaram a transmitir seus conhecimentos, ao contrário, quanto maior é o saber mais simples e modestos são.  Os verdadeiros gênios, não só transmitem seu saber, como ainda sabem valorizar novas ideias e incentivar o seu desenvolvimento.* O entrevistado aliás deve a esses o seu desenvolvimento... 

Referências

¹ Artur Ávila - I Congresso de Jovens Matemáticos: 
   
Sobre sua trajetoria acadêmica

Matematica Pura vs Aplicada

A habilidade de transpor conhecimentos              


² Artur Ávila ganha a Medalha Fields 

ICM2014 Awards

³ Na entrevista para a FAPESP: O homem que calcula

…Você fez vários trabalhos com colaboradores. Gosta de trabalhar em equipe?

Gosto principalmente quando é para aprender. Não tenho o hábito de ler….”

…Mas como se faz pesquisa assim?

Em matemática, é possível avançar sem ter um conhecimento mais profundo da literatura. É mais importante ter uma compreensão bem precisa das coisas fundamentais. E essas coisas importantes pego mais facilmente conversando com outros pesquisadores. Aí entra o aspecto da colaboração. Você vai conversando e a pessoa diz exatamente qual é o pulo do gato. Não precisa necessariamente passar por uma leitura extensa de toda a bibliografia em torno de um problema…” 

* Entre esses gênios cito os professores: Nelson Lima Teixeira  (meu orientador de doutorado na UFPB, onde de fato ele foi realizado e posteriormente defendido na UFRJ),  Newton Carneiro Affonso da Costa e o professor Luiz Adauto da Justa Medeiros.
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Observações
de Adonai Sant'Anna

Exponho, a seguir, algumas das minhas impressões sobre o texto de Espindola.

1) De fato considero que existem excessivos obstáculos em nosso país contra o desenvolvimento e aproveitamento de jovens superdotados. O próprio Artur Avila enfrentou esses problemas, uma vez que a legislação brasileira o obrigou a obter um diploma de graduação. No entanto, também entendo a preocupação de Espindola no que se refere à adaptação social de superdotados. Por isso mesmo julgo que podemos aprender muito com programas de ajuste social e acadêmico voltado a jovens e crianças. Neste site, por exemplo, o leitor pode encontrar um belo programa cujo público-alvo inclui até mesmo crianças com três anos de idade.

2) Realmente Artur Avila não colaborou muito em sua entrevista no programa de Jô Soares. Mas isso pode se dever a fatores não contemplados por Espindola. Afinal, convenhamos, televisão remete a um ambiente muito diferente do acadêmico. Certa vez Newton da Costa foi convidado para participar deste show de TV. E ele perguntou o que eu achava disso, antes de decidir se aceitaria o convite. Respondi que provavelmente ele ficaria chateado com o resultado final. Isso porque o formato do show não abre muito espaço para uma exposição cuidadosa de ideias. Resultado: da Costa recusou o convite.

3) O fato de Avila declarar que não lê muito é certamente algo perigoso. Jovens sem familiaridade com a vida acadêmica podem interpretar essa afirmação de formas completamente corrompidas. E não há dúvidas de que o exemplo de Avila é muito influente sobre jovens. Neste sentido, não há quaisquer evidências convincentes de que Avila tenha (pessoalmente) um compromisso social maior, além da própria matemática. E como ele se tornou muito rapidamente uma perene figura pública, esta responsabilidade precisa ser reavaliada por ele.

4) O IMPA é um centro de excelência mundial em matemática. Este é um fato extremamente claro. E isso significa que os valores matemáticos lá cultivados estão em perfeita sintonia com o que há de melhor em matemática no mundo. Portanto, se existe algum problema de metodologia de pesquisa e investigação matemática no IMPA, este problema se espalha por todo o planeta. Matemática é a área do conhecimento com o menor número de citações. Isso decorre por vários motivos. Um deles é o fato de que matemática faz uso de linguagens formais muito difíceis de serem transpostas para leigos. Mas outro motivo, que considero o mais grave, é o fato de que aplicações da matemática raramente podem ser publicadas em periódicos de matemática. A maioria esmagadora das aplicações de matemática são publicadas em periódicos de física, engenharias, psicologia, direito, medicina, entre outras áreas. Portanto, matemáticos têm uma tendência natural de se isolarem de outras realidades. Físicos, porém, têm uma mente muito mais aberta. Se o leitor clicar aqui, encontrará alguns exemplos fascinantes de pesquisas sobre cinema, vida sexual e medicina publicados em excelente periódicos de física teórica. Se existe alguma imaturidade em Avila, não é apenas por culpa dele. Matemáticos em geral são criaturas academicamente imaturas.

5) Resolver problemas matemáticos famosos é uma atividade científica legítima e extremamente importante. Criar teorias também é importante. Mas desenvolver as teorias hoje existentes é fundamental. Não vejo como uma atividade possa ser mais relevante do que a outra.

6) Adotar estratégias de investigação científica com o objetivo de conquistar prêmios também é importante e socialmente necessário. Existem cientistas que buscam respostas a questões formuladas por eles mesmos. Mas existem aqueles que adotam condutas diferentes. Se uma pessoa prefere a conduta de um sobre a de outro, esta é uma questão de mero gosto pessoal. Um prêmio como a Medalha Fields não representa retorno apenas ao contemplado, mas a uma variedade de segmentos sociais. Ou seja, querendo ou não, Artur Avila beneficia sim o Brasil. Devemos ser gratos a ele e ao IMPA, por isso. Tanto é verdade que a própria professora Espindola sempre fez questão de divulgar essa premiação. 

7) Para não ser criticado, basta não ser lembrado. E para não ser lembrado, basta não fazer coisa alguma. Quem faz, se expõe. E quem se expõe está sujeito a críticas. O IMPA erra? Certamente! Artur Avila erra? Sem dúvida! Espíndola erra? Claramente! Eu erro? Bem, se eu não errasse jamais teria mudado o perfil deste blog ao longo dos anos. Erros devem ser apontados não com o objetivo de destruir pessoas, mas com a meta de revisar ideias infelizes e preconceitos, e mudar as práticas que não funcionam. No vídeo que Espindola elogia, Palis também erra. Ele conta uma história sobre Alfred Nobel que tem sustentação altamente questionável. No entanto, conta como se fosse real. 

98 comentários:

  1. Na expressão: "meros especialistas na falange distal do dedo mindinho da mão esquerda" Haveria alguma discriminação aos médicos do nosso ex-presidente? Se o Nicolelis inventar uma prótese para esse fim seus recursos se multiplicarão.

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  2. Texto muito bom. Você fala muito de crítica poderia fazer um texto sobre isso.

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    1. Anônimo

      Isso já foi pedido antes e acabei esquecendo. Espero conseguir algo ainda este ano.

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  3. Para quem não conhece, o ISMART "Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que identifica jovens talentos de baixa renda, de 12 a 14 anos de idade, e lhes concede bolsas em escolas particulares de excelência e o acesso a programas de desenvolvimento e orientação profissional, do ensino fundamental à universidade." http://www.ismart.org.br
    Esse Instituto tentou se instalar em São Paulo em 2010 mas o Secretário da Educação, Gabriel Chalita (que possui dois doutorados defendidos com a mesma tese), não aceitou a cooperação. Segundo Chalita todas as crianças são igualmente inteligentes. Curioso que no mesmo anos Chalita criou um Projeto de Lei para desenvolver técnicas para auxiliar crianças com dificuldade de aprendizagem.
    http://nosbastidoresdaeducacao.blogspot.com/2011/11/chalita-apresenta-pl-para-alunos-com.html

    Julinho da Adelaide

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    1. Julinho

      Esse Chalita é uma figura que realmente implora pelo carimbo "Imbecil" na testa. Não gosto de rotular pessoas, mas não vejo outra solução para essa criatura. Grato pelas informações.

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  4. Achei um tanto arrogante mesmo o Artur na entrevista.

    Sou um tanto o quanto cético quanto à eficácia dessas olimpíadas. Me parece ser uma justificativa para muitos professores universitários treinarem alunos "geniais" do ensino médio e não fazerem pesquisas mais relevantes.

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    1. Hugo

      Ter olimpíada é melhor do que não ter. Mas ter apenas olimpíada não é nada inteligente. Existem muitas formas para se aprender e desenvolver matemática. Olimpíadas estimulam apenas uma dessas formas.

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    2. "Me parece ser uma justificativa para muitos professores universitários treinarem alunos "geniais" do ensino médio e não fazerem pesquisas mais relevantes"

      Não entendi direito isso. Poderia esclarecer um pouco mais?

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    3. Anônimo, existe um programa em que professores universitários dão aulas para bons alunos do ensino médio para prepararem-nos para olimpíadas. Mas ensinar aluno bom é fácil né campeão? Nenhum deles quer roer o osso e ensinar quem tem dificuldades e precisa de fato. Aí isto é um trabalho para o "reles" professor de escola pública.

      Entendo perfeitamente que alunos com mais capacidade devem ter um atendimento especializado. O problema é que esses professores se vangloriam de ter bons alunos, pegando carona na "genialidade" deles. Porém será que eles estimulam mesmo esses bons alunos a terem uma carreira promissora como cientista ou só para serem alunos resolvedores de questões?

      Espero que tenha me compreendido. Taí outra bom assunto para uma postagem professor Adonai.

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    4. Hugo

      Sua sugestão é ótima. Resta saber se consigo atender. Talvez um bom ponto de partida seja a visão de Poincaré a respeito de diferentes perfis de matemáticos. Pensarei a respeito.

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    5. Entendi, mas não concordo.
      Não sei a qual programa se refere exatamente. Eu estou ciente do PIC JR, PECI, POTI, todos ligados a OBMEP. Conheço vários professores e nunca identifiquei esse comportamento. O PIC JR, o maior dos tres projetos, é voltado ao aprendizado de matematica, não diretamente relacionada a olimpiada, ou resolver questoes. Já os outros dois são especificamente para competições internacionais. Mas não vejo problema nisso.
      Eu participei do PIC JR nas suas primeiras ediçoes, e foi importante na minha opção por matematica. Sou de origem humilde, e não tenho certeza se ao menos teria feito vestibular. E caso tivesse, talvez fosse pra algum outro curso, como engenharia. Mas não sei dizer se o meu caso é maioria ou não

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    6. Anônimo

      Fiquei curioso com o seu depoimento pessoal. Espero não estar abusando de sua paciência, mas eu gostaria que respondesse às seguintes questões: 1) Você já cursa matemática em alguma universidade? Se a resposta for positiva, há quanto tempo? 2) Qual a sua principal motivação para estudar matemática? Ou seja, o que você pretende fazer, em termos de carreira, ao estudar matemática?

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    7. Aliás, eu também sou de origem humilde.

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    8. Anônimo, também sou de origem humilde. Ser pobre não é empecilho nenhum para quem quer se dedicar aos estudos.

      Veja bem, eu não disse que esses tipos de treinamentos não são importantes. Mas matemática não é somente isso. Eu mesmo nunca participei dessas competições, pois na minha época não tinha essa mamata que tem hoje. Entretanto estou concluindo mestrado pelo PROFMAT, da mesma forma que um colega meu que fez o PIC.

      Se você saisse do anonimato seria até mais fácil discutir esses temas, pois não sabemos se é professor ou aluno.

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    9. Eu idem, além de ser filha de imigrantes ucranianos...
      Formada pela escola pública, comecei a dar aulas particulares ainda no antigo ginásio, feito no Colégio Estadual do Paraná.
      Mas, gostaria de acrescentar aqui uma reportagem sobre o que verdadeiros professores podem fazer: "… o jovem foi estudar matemática. Antes mesmo de se formar, já dava aulas. O resultado? Bem, Cocal dos Alves, um lugarejo de cerca de seis mil habitantes, no sertão do Piauí, é a prova real de que, às vezes, o amor demora a acontecer. Mas quando acontece... a cidade acumula 172 premiações na OBMEP. São 101 menções honrosas, 44 medalhas de bronze, 13 medalhas de prata, 14 de medalhas de ouro, conquistadas por 87 alunos. Um resultado impressionante para um município cujo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos 50 mais baixos do país e onde cerca de 95% da população vivem do Bolsa-Família."
      Trecho da reportagem:

      Deu Certo!
      Antônio Cardoso do Amaral, de Cocal dos Alves (PI)
      http://anpmat.sbm.org.br/deu-certo

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    10. Boa noite, desculpe a demora para responder

      Alias, antes disso gostaria de corrigir o que escrevi: "E caso tivesse, talvez fosse pra algum outro curso, como engenharia". Na verdade, eu fiz vestibular para engenharia, comecei a cursar e mudei para matemática. Queria dizer que (provavelmente) não faria essa opção. Estava desatento quando redigi.

      1) Você já cursa matemática em alguma universidade? Se a resposta for positiva, há quanto tempo?
      Sim. Como disse, fiz um pouco de engenharia elétrica antes (2 anos) e estou na matemática desde então (3 anos)


      2) Qual a sua principal motivação para estudar matemática? Ou seja, o que você pretende fazer, em termos de carreira, ao estudar matemática?
      Eu acho mais interessante o trabalho com pesquisa. Por outro lado, eu gosto muito de ensinar (é muito gratificante para mim). Então o objetivo é ser professor universitário, pois posso fazer os dois.


      Hugo, certamente ser pobre não impossibilita, mas dificulta. Inclusive minha opinião é tendenciosa a favor do PIC e Olimpiadas justamente por eu ter ganho algum dinheiro com eles que fez uma diferença considerável.

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    11. Grato pela resposta, Anônimo.

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  5. "Na verdade, a quantidade de premiações não habilita ninguém como gênio ou cientista"

    Acredito que o própio Ávila está ciente disso. Arthur participou da IMO, a olimpiada de matematica mais prestigiada. E foi premiado com ouro (se não me engano hoje o Brasil só tem 9, em umas 25 participações, sendo 6 participantes em cada). Poderia participado novamente no ano seguinte, mas se recusou, pois já estava mais interessado no trabalho de pesquisador. Pelo que entendo, ele encara tudo como um desafio. Colocando dessa forma, suas escolhas em problemas que aproximassem da medalha fields é natural. Não acredito que criação e solução são inseparáveis. Ao meu ver, realizar apenas um ou os dois não determina se um cientista é bom ou não. Ambos são importantes

    Dizem que ele tem uma oratória ruim (realmente, suas aulas pecam), tem uma índole duvidosa, e é realmente um pouco arrogante. Então pode ser que isso atrapalhou a entrevista. Por outro lado, nem todas as perguntas foram boas. Por exemplo, sobre as imagens. Explicar ideias abstratas para leigos e em poucas palavras não é fácil. E pra quem não é bom de papo complica ainda mais. Quanto a Ávila não saber aplicações do que ele faz é normal. Em geral, matemáticos não se importam com isso mesmo. As vezes as aplicações podem nem existir ainda. Ouvi uma história (que não sei se é verdade), contando que algum dos precursores (não lembro quem) da algebra linear estava interessado em criar algo que não tivesse aplicação (pratica, na fisica/engenharia) nenhuma. Ironia é que hoje é fundamental, por exemplo, em ciencia da computação. Mas concordo que isso nos deixa isolados. O espaço físico do IMPA e sua localização já parece ser uma ilha no meio do Rio.

    A questão da leitura é realmente complicada. Vou contar minha impressão sobre isso. Eu sou uma pessoa introvertida, não converso muito com ninguém. Não é atoa que tenho dificuldades pra escrever haha. Inclusive tive problemas para arrumar um orientador no mestrado, já que não sabia falar. Então eu sempre aprendi basicamente tudo pela leitura, desde que me lembro. Não tive muitos professores bons, então mal ia as aulas. Mas me surpreendi em quão mais fácil foi aprender conversando (no caso, com meu orientador). Acredito que foi algo nesse aspecto que o Ávila quis transmitir

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    1. transcrevendo o que o anônimo disse acima: "... Dizem que ele tem uma oratória ruim (realmente, suas aulas pecam), tem uma índole duvidosa, e é realmente um pouco arrogante..."

      - que o Arthur tem oratória ruim, é fato
      - que ele é arrogante, é opinião
      - mas, índole duvidosa - só com provas se menciona uma coisa dessas.

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  6. Realmente não consegui sentir arrogância por parte do Ávila. Achei que ele falou a verdade. Acontece que ele é muito diferente em sua visão de mundo. Para as pessoas perfeitamente integradas ao sistema, é possível que possa parecer arrogante. Temos que entender que ele foge da curva normal. Poderíamos dizer que ele é um marginal na curva. Eu já havia lido a entrevista dele na Revista Fapesp e achei muito interessante. Agora vi e ouvi a entrevista e não achei nada de arrogância e que não houvesse respondido o que foi perguntado.
    Uma vez um artista cearense em uma reportagem foi perguntado como ele criava as esculturas em madeira, que eram lindíssimas. A resposta: vou andando pela praia e enxergo um tronco que veio parar na areia e vejo a escultura. Em um primeiro momento pensei em figura de linguagem, mas logo percebi que era genialidade e ele realmente via aquilo que eu não poderia ver. Apenas falou a verdade, de forma simples (claro, para ele). Como eu não via, tentei algo que fizesse sentido para mim. Quando percebi que eu estava equivocado em minha interpretação, neste momento senti que havia evoluído um monte no auto conhecimento e na aceitação daquilo que não compreendo. Também não senti irritação quanto ao confundir-lhe com professor. Ele apenas disse que não era, ou seja, falou a verdade.

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    1. João, você demonstrou ser uma pessoa de bom senso. Perfeita a sua colocação. Esse rapaz é genial, foge ao comum. Ele apenas falou, o que aos olhos dos outros possa parecer esnobismo, coisas que para a mente dele são simples. Ele não desfez da classe de professores, ele apenas esclareceu que não era. E para quem realmente conhece o Artur, sabe que ele falou no intuito de esclarecer que ele não tem o "dom" de ensinar. Apenas ele coloca suas ideias de uma forma diferente.

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  7. É fascinante ver a diversidade de opiniões sobre um mesmo fato. Oscar Wilde foi um que percebeu bem as implicações deste fenômeno.

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  8. Artur Avila não pertence ao sistema academico brasileiro vigente, muito menos está a par das retóricas tautologicas oriundas de certas discussões vigentes deste meio. Ele é um pesquisador nato moldado para resolver problemas matemáticos relevantes sem se preocupar com suas aplicações aparentes. Qual o problema desse procedimento? Nenhum.
    Uma discussão paralela sobre pesquisa e educação e como as duas atividades podem e devem estar interligadas tem sua relevância, mas em outro contexto...não neste. Geralmente bons pesquisadores podem ministrar excelentes aulas, entretanto verifica-se que nem sempre bons professores são sinônimos de bons pesquisadores, ou mesmo que façam alguma pesquisa relevante. Enfim, Artur Avila é um pesquisador que não gosta de ministrar aulas por estar ciente de suas dificuldades de comunicação para com o publico. Ele pecou por ser honesto? Acho que não. Para ele, a palavra professor apresenta uma outra dimensão, de respeito certamente, a qual simplesmente não se encaixa. Afinal de contas, se levarmos em conta a importancia de se fazer pesquisa séria e de ser um bom professor nas nossas universidades, deveríamos então expurgar 90% dos docentes dos quadros atuais tendo em vista o não atendimento de ambos os pré-requisitos. Não quero promover aqui uma discussão circular que não leva a nada...devemos prosseguir.
    Sou físico teórico, como a professora Espindola, compartilho determinadas preocupações pontuais, mas fica somente nisso. Fico com a sensação que Artur Avila tornou-se um exemplo não ideal para os models arcáicos da academia, daí a razão de certo desconforto. Proponho então uma reflexão: É possível modernizar o nosso meio academico atual e assim transformar as nossas universidades obsoletas em universidades do futuro?

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    1. Respondendo ou apenas manifestando minha opinião sobre a pergunta, penso que não é possível transformar nossas universidades obsoletas em universidades do futuro, se é que o quê eu entendi por universidade do futuro seja o mesmo que tentaste comunicar.
      É necessário criar algo novo!
      João Luiz Faria

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    2. Partilho totalmente de sua opinião. Entretanto, devemos inicialmente refletir sobre a palavra "futuro" para então empregá-la de forma correta na "criação de algo novo". Tal reflexão justifica-se: não podemos nos dar ao luxo de cometermos os mesmos erros que levaram ao atual status de nossas universidades. Na verdade, a medida que o tempo passa, fica mais evidente que o papel (modelo) destas atuais universidades está em dessintonia com a nossa sociedade. É urgente iniciarmos uma reflexão séria, como tem sido feita nesse maravilhoso blog, para construírmos algo melhor.....

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    3. Marcelo

      Um grave problema que tenho observado é que existe sim um discurso dominante em universidades públicas de que o Brasil não precisa e não deve se espelhar nos grandes centros de pesquisa espalhados nos EUA, Europa e Ásia. Esse discurso ocorre principalmente em ciências humanas e sociais aplicadas. Na prática esse falatório simplesmente mascara uma preguiça para trabalhar duro. Em função disso, têm sido cada vez mais presentes teses, dissertações e artigos que mascaram ideologias políticas com uma carcaça de supostas pesquisas científicas. Isso coloca os preguiçosos em sintonia com os poderes públicos. Matemáticos, físicos, biólogos, químicos e estatísticos que têm lutado em nosso país para alavancar nosso país, certamente encontram em profissionais de outras áreas e em políticos profissionais poderosos obstáculos. A academia brasileira precisa investir em políticas meritocráticas em todas as áreas do saber, sem uma única exceção.

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    4. Adonai

      Devemos sim nos espelhar nos grandes centros de pesquisa mesmo porquê eles ditam os rumos de pesquisa em todas as áreas praticamente. O discurso contrário a tal procedimento tem por vies a não implementação de políticas meritocráticas, levando-nos a um atraso sem precedentes. Note que ainda nos deparamos num discurso embrionário de algo que já foi implementado de longa data, confirmando assim o atraso (ou o lado obsoleto) de nossas universidades. Nesse sentido enquadro-nos como aquelas crianças que se recusam a andar eretos, com suas própias pernas, contentando-se a engatinhar eternamente.

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  9. Quando me refiro a algo novo, significa esquecer todas estas discussões. Significa imaginar como se pode fazer uma pesquisa e um ensino de verdade. Um grupo que possua o mesmo entendimento do que significa pesquisa e educação. Um dia vi uma pessoa dizendo que seu filho perguntou; é necessário saber inglês para ser pesquisador? A mãe respondeu na hora. claro! Pessoas com este entendimento não percebe o quê significa pesquisa? Creio que a maior parte das pessoas vão dizer que sou idiota. Ser pesquisador é um estado de espírito. Não significa ser poliglota. São temas bem diferentes. Entender isto nos leva para outros setores cognitivos. São os famosos paradigmas, tão citados e mal usados, que não conseguimos perceber que somos dominados por eles. Romper com eles significa um gasto energético muito grande, assim acabamos ficando na zona de conforto, termo muito em uso também.
    Se você estiver imaginando absurdos, algo que eu chamo de especulação científica, você se sentirá culpado. Fica pensando bobagem em vez de trabalhar! Entendeu? Para mim pensar em coisas utópicas pode significar pesquisar, e pesquisar é trabalho! Se reuno um grupo e ficamos evoluindo e/ou trocando ideias sobre coisas utópicas, isto é tremendamente importante. Acontece que temos em nosso íntimo que isto é vagabundagem! Como isto foi parar ai? Uma pergunta a ser respondida.
    João Luiz Faria

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    1. João Luiz

      Pensamento especulativo é fundamental em ciência. Mas o grande avaliador de uma pesquisa é resultado. Não vejo como possamos descartar isso.

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    2. Com certeza! E resultado é consequência de muito trabalho. Inovação é fruto de imaginação e muito trabalho. Entenda-se inovação como algo novo, não apenas desenvolvimento de determinado processo. Para surgir um novo processo é necessário muito trabalho.
      Uma pergunta para ser pensada: quem hoje saberia construir um computador ou outro eletrônico? Não é comprar peças e montar. Fazer um chip quem sabe? Você termina uma faculdade de engenharia eletrônica e não é capaz de fazer um chip.
      Porque isto acontece? O quê realmente nos ensinam? E muitas outros questionamentos nesta linha podem construir uma ideia sobre a situação!
      João Luiz Faria

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  10. Primeiro gostaria de parabenizar Prof. Adonai pelo Blog. Descobri o Blog no fim do ano passado, e já li diversos textos com muito interesse.

    Em geral, eu não participo em Blogs, mas fiquei muito triste com o texto da Prof. Espindola, e decidi escrever. Eu assisti a entrevista mencionada, e não observei uma gota de arrogância no Artur. Ele pareceu ser uma pessoa equilibrada e respondeu as perguntas de forma adequada. Achei que a Prof. Espindola exagerou nas críticas. Mesmo que o Artur seja “apenas” um grande resolvedor de problemas, e não seja um grande orador, isso não diminui em nada o seu mérito. A meu ver o Artur é uma história de sucesso, não só pessoal, mas também do IMPA.

    Em relação as olimpíadas de matemática, o Artur não foi o primeiro, nem será o último brasileiro a ganhar medalha de ouro. A olimpíada de matemática deve ser vista como um evento para estimular o interesse na matemática. Concordo com a Prof. Espindola quado ela diz que a olimpíada não habilita ninguém como gênio ou cientista. Não acredito que nenhum matemático veja a olimpíada de outra forma. Mas acho importante enfatizar que a Medalha Fields é sim uma grande conquista, e que existe uma diferença brutal entra uma Medalha Fields e uma medalha de ouro em olimpíada de matemática.

    Também achei infeliz a crítica ao estilo de trabalho do Artur (“... não tem o hábito de ler livros ou artigos, nem sequer possui uma biblioteca em casa. Diz que o contato e a conversa com os seus colegas é suficiente, pois os palpites dados o conduzem à resolução dos problemas”). Durante a entrevista, o Artur faz um comentário nessa linha. Achei o comentário muito válido, o contato e a conversa com colegas é fundamental. Algo que, no meu ponto de vista, não é enfatizado aos jovens estudantes.

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    1. Leonardo

      De fato, contato direto entre pesquisadores e jovens deveria ser mais frequente em nosso país. Neste ponto o IMPA é bastante aberto. Resta este exemplo ser seguido por outras instituições de nosso país. Com relação às demais críticas que você faz, creio que minhas observações ao final as respondem. Grato pelo apoio a este fórum. Significa mais ainda vindo de alguém que não costuma participar de blogs.

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    2. Leonardo

      O que gerou esta postagem foi a tristeza gerada ao ver a imaturidade do Artur na entrevista, e essa foi feita após uma extensa pesquisa para que não houvesse afirmações que não possam ser comprovadas. De fato, promovi a divulgação do premiado anteriormente e faria de novo. No entanto, creio que essa entrevista me inquietou principalmente com o futuro desse jovem e de outros que podem seguir a mesma trajetória. O vetor principal das minhas críticas é somente o resultado das observações feitas por cerca de 34 anos, a qual ocorreu em diversas universidades e estados e na minha convivência com físicos e matemáticos como aluna, como professora e como pesquisadora. Não consigo imaginar uma casa sem livros, ou sem música… Uma pessoa que afirma não ler, e isso ele ressalta em diversas das suas entrevistas como as citadas, sendo alguém laureado (meritoriamente), é no mínimo prejudicial para os jovens. Observe a gravidade das afirmações supracitadas na entrevista O homem que calcula. Pode até ser atribuída ao despreparo para a súbita fama ou a sua dificuldade de se comunicar… A interação, por outro lado deve ser valorizada e por esse motivo a pessoa deve ter vontade de divulgar o seu conhecimento tendo ou não dificuldade.

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    3. Prof Espindola,

      Eu li o artigo “O homem que calcula", e não encontrei nenhuma afirmação grave. Sim, ele afirma que não lê muito. Se isso é um fato, o que ele deveria ter feito? Deveria ter mentido? Eu achei as respostas bastante honestas. Não acho que ele tenha que ser um modelo para a juventude, um divulgador do conhecimento, ou um grande professor. Ele pode ser um grande pesquisador independentemente de ter ou não essas características. Nós devemos focar nos pontos positivos do artigo: há brasileiros fazendo pesquisa de ponta; matemática é uma atividade que exige muita criatividade; colaboração é fundamental. Essas são mensagens importantes para os jovens.

      A senhora diz que não consegue imaginar uma casa sem livros e sem música. Eu também não consigo imaginar uma casa sem livros, mas consigo imaginar uma sem música. Nós devemos aceitar o fato que pessoas são diferentes. Há pesquisadores de todos os tipos. Não acredito que seja necessário que todos os pesquisadores divulguem o conhecimento. Da mesma forma que não acredito que toda a pesquisa tenha que ter aplicação prática, ou impacte a sociedade.

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    4. Leonardo

      Preciso, neste momento, ressaltar que as questões acima discutidas pela Professora Espindola vão um pouco além de opiniões.

      1) Se Avila lê pouco, esta é uma falha dele. E ele deveria reconhecer isso como tal. Mas não o faz. A questão não é mentir sobre o fato de ler pouco. O problema é ler pouco. Sim, é possível aprender muita matemática a partir de conversas. Mas matemática não é uma área do conhecimento que se aprende apenas com conversas. Matemática é muito mais rica do que o conhecimento via oral consegue dar conta.

      2) Você afirma que Avila não tem que ser um modelo para a juventude. No entanto, ele já é um modelo para muitos jovens! Portanto, o que ele afirma em entrevistas é ouvido. E justamente por isso ele deveria ter mais cuidado em afirmações públicas. Falta-lhe sim maturidade. E isso é algo muito natural.

      3) Você afirma que devemos focar nos aspectos positivos do artigo. Bem, eu digo que pessoas comumente focam naquilo que se identifica com elas mesmas. Portanto, textos tornados públicos sempre correm o risco de más interpretações. E quando um pesquisador de alto nível afirma que lê pouco, isso é ruim, muito ruim.

      4) Música é beleza. E as relações entre música e ciência são muito bem conhecidas e ainda despertam interesse científico profundo. Uma casa sem música é, sim, uma casa incompleta.

      5) Sim, as pessoas são diferentes. Mas frequentemente existem diferenças que se justificam pela falta de aproveitamento de boas oportunidades. A oportunidade de cultivar boa música é algo que lamentavelmente é dispensado em nosso país. O Brasil cultiva pouquíssima música, limitando-se a uns poucos gêneros musicais de beleza altamente questionável. E isso nos torna um povo de cultura pobre. Certamente devemos aceitar o fato de que pessoas são diferentes. Mas jamais devemos aceitar o fato de que oportunidades valiosas estão sendo jogadas ao lixo.

      6) Sua visão de que nem toda pesquisa precisa de aplicações práticas ou que impacte a sociedade não é compartilhada por todos os filósofos e cientistas de destaque. Esta é uma questão ainda em discussão nos dias de hoje. A ciência tem uma contraparte estética, sem dúvida. Mas não se limita a isso. Nem mesmo as artes se limitam ao aspecto puramente estético.

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    5. O grande avaliador de uma pesquisa é resultado. Não vejo como possamos descartar isso.
      O Ávila tem resultado! Muito mais do que muitos pesquisadores. Talvez isto possa incomodar. É preciso que ele é um marginal na curva da normalidade, portanto tentar iguala-lo a nós normais não dá certo.
      Estamos por demais acorrentados a paradigmas. Acho que devemos tentar vê-lo como um fora de série. Existe um garoto que foi considerado altista, que no entanto hoje com 13 anos é um fenômeno na física. Ele diz: quer inovar, então pare de aprender! Como será que cada um de nós interpreta estas palavras?
      Penso que é necessário eliminar certos paradigmas, aliás muitos, para podermos ver algo diferente. Não se pode cobrar uma atitude "normal" de uma pessoa que não é normal. Alinha cognitiva dele difere do normal. Por este motivo ele chega onde muito poucos chegam. E muito poucos mesmo! Talvez se ele fosse um devorador de livros e fanático por música, não tivesse chegado onde chegou, pois estaria enredado em paradigmas, muitas vezes conflitantes e que nos engessam!
      Ele deu vazão a um caldal energético que nós normais não conseguimos. Ele é diferente! Entendamos-o assim!
      João Luiz Faria

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    6. João Luiz

      De fato esta é uma forma de perceber as coisas.

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    7. Creio que o professor Adonai respondeu de forma magnificente!
      Mas gostaria de observar que ao longo da minha carreira conheci muitos gênios, e volto a ressaltar que esses precisam adquirir maturidade para não se perderem no meio do caminho e almejarem chegar aos oitenta ainda com a capacidade de ensinar e aprender!

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    8. O que significa maturidade? Será que todos temos a mesma compreensão do termo? Ou também será uma questão relativa?

      João Luiz Faria

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    9. João Luiz

      Ótima pergunta! Não há um conceito rígido para maturidade. Mas em psicologia maturidade está associada a uma capacidade de resposta adequada ao ambiente. Apesar desta noção não ser clara o bastante (afinal, o que significa "adequado"?), psicólogos concordam que maturidade é algo que se aprende. Não nasce com a pessoa.

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    10. Prof Adonai,

      Acho que você projetando o seu conjunto de valores sobre o Artur. A diversidade é importante.

      1) Note que no artigo "O homem que calcula", Artur diz explicitamente que lê livros de matemática e papers ("Leio livros de matemática e papers, leio muito pouco."). Vale lembrar que essa não é um característica exclusiva do Artur. Vários colegas acreditam: no mantra "leia somente os Mestres"; ou que o excesso de leitura afeta a criatividade. Por outro lado existem muitos outros que acreditam cegamente no academicismo. A diversidade deve ser celebrada. Acredito que ambos tenham valor, e que trabalhos incríveis são frutos da colaboração entre esses opostos.

      2) Concordo que ele deveria ter cuidado para as afirmações não serem mal interpretadas. Felizmente existem pessoas como você que se preocupam com os jovens, com o sistema de ensino, e o impacto na sociedade.

      3) Mas um motivo para focarmos nos aspectos positivos no seu Blog, e deixar claro que existem pesquisadores que leem muito (e outros que nem tanto).

      4) Concordo quando o senhor diz que as relações entre música e ciência são muito bem conhecidas. Existem inclusive livros muito populares (e.g., "Gödel, Escher and Bach") que enfatizam muito bem essa relação. O importante é aceitar que existem várias formas de beleza, e que ela é subjetiva. Para uns a música é fundamental, para outros não. Não existe uma regra.

      5) Concordo que devemos expor os jovens a música e a várias outras formas de arte. Acho muito válido o seu esforço em tentar expor nesse Blog a beleza na matemática e na ciência.

      6) Eu estou ciente que a minha visão não é compartilhada por todos os filósofos e cientistas de destaque. Ela é apenas a minha visão (e também é compartilhada por muitos outros filósofos e cientistas de destaque).

      Eu concordo com o João Luiz.

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    11. Ok. Que idade tem Ávila?
      Penso que estamos diante da criação de um arquétipo do que seja professor/pesquisador e de como se deve aprender. Queremos uma fórmula padrão para reproduzir para todos. Isto me parece um equívoco.
      Poderíamos estar aqui trocando ideias para entender o que ele está querendo nos ensinar. Estaríamos aprendendo com ele. Ao invés disto estamos querendo ensina-lo a como deve ser maduro e politicamente correto.
      Enquanto isto, lá fora, ele está ensinando e aprendendo com seu grupo, enquanto nós aqui estamos discutindo qual é o padrão adequado de uma pessoa.
      Este comportamento é bem característico do sistema educacional brasileiro. E muito provavelmente de outros países também.
      O IMPA parece soube entender o menino e o acolheu e tenho certeza que aprendeu muito com ele. Sejamos humildes!
      Desculpem o desabafo, mas necessitamos urgentemente reconhecer os paradigmas que nos engessam e vamos evoluir, ver o mundo com outros olhos e sentir com outro coração, descer de nosso púlpito e viajar na ciência sem rótulos, na humanidade sem preconceitos e na vida sem medo!
      João Luiz Faria

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    12. João Luiz,

      Concordo novamente com todos os pontos na sua mensagem. Muito bem colocado.

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    13. Leonardo

      Certamente projeto meus valores pessoais sobre o que vejo ao meu redor. E admito isso como uma limitação minha. Mas não creio que você acha que uma instituição como o IMPA aja de maneira diferente. Por isso mesmo essas discussões todas são muito delicadas. Vão muito além de Avila. Ainda que eu projete os meus valores sobre o que vejo, jamais posso me dar ao direito de tentar sabotar aqueles que pensam de forma diferente. Ou seja, existem muito mais fatores sociais envolvidos do que normalmente se antecipa.

      Um dos projetos de pesquisa em que estou envolvido hoje trata justamente da questão da convergência de diálogos em linguagens naturais. Estou tentando tratar disso via método axiomático. Meu sonho é entender melhor os mecanismos de convergência e divergência de visões e opiniões. É uma tarefa complicada.

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  11. Depois de ver Jô Soares jogando fora excelentes oportunidades de entrevista, não assisto mais ao programa dele. Percebi que o pessoal só comentou sobre o desempenho do entrevistado, não do entrevistador.

    Sebastião

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    1. O Jô Soares tinha um ótimo programa no SBT, quando entrevistava gente interessante. Como exemplo, quase todos os depoentes da CPI do Collor depunham a tarde e eram entrevistados a noite pelo Jô. Na Globo ele se limita a mostrar como o cast da emissora é brilhante, genial, composto pelas pessoas mais inteligentes do universo. São poucas as entrevistas com pessoas de fora do meio artístico.
      Além disso, ele pegou a mania de responder a pergunta pelo entrevistado com perguntas como: "Teve uma vez em Paris que você se hospedou em um hotel, foi tomar o café da manhã e havia uma barata na mesa?" O que entrevistado pode responde ? Sim?

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  12. Adonai

    Se não me engano, vc já comentou em outra postagem que o brasileiro deveria, digamos, aventurar-se mais em publicações internacionais, expondo suas ideias para veículos de circulação mundial.

    Neste sentido, vc já pensou em publicar seus três livros (O que é um Axioma, Definição, Conjunto) em alguma editora internacional, como a McGraw-Hill, por exemplo????

    Se são de interesse nosso, podem também ser de interesse para os estrangeiros.......

    =)

    P.S.: por gentileza, quando puder responder minha dúvida sobre variável ficarei grato, pois é algo que me incomoda faz tempo.

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    1. Leandro

      Tenho planos sim de publicar um ou dois livros fora do Brasil. Mas certamente não serão livros didáticos, como os que publiquei por aqui. Um deles será sobre conjuntos de von Neumann e aplicações. Sobre o outro é ainda muito cedo para discutir.

      Com relação à sua pergunta, não recebi e-mail algum. Poderia enviar novamente para adonai@ufpr.br?

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  13. Pronto, acabei de reenviar.

    Por favor, não se escandalize com a natureza da dúvida.

    É bem provável que seja algo muito básico, mas sempre tive vergonha de perguntar.

    Como não é algo do qual seja necessário ter plena consciência para realizar as operações mecanicamente, então nunca que isto afetou em termos práticos.

    Mas faz anos que isto me incomoda.

    Obrigado.

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    1. Leandro

      Não sei se é problema de minha conta, mas ainda não recebi. Se possível, envie também por Facebook.

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  14. Não estão publicando o meu comentário.

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    1. Anônimo

      De vez em quando o blogger dá problemas de navegação e interação. Peço desculpas pelo inconveniente. Mas sempre há outras opções. Você pode enviar mensagens através de um campo destinado a isso na barra direita desta página, ou pode enviar e-mail para adonai@ufpr.br, ou ainda tentar o Facebook. De tempos em tempos eu mesmo publico comentários aqui, encaminhados por leitores do blog.

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  15. Há mtos comentários sobre o texto da sra Maria Espindola. Comentários bons, outros nem tanto assim. Aquele do sr João Luiz Faria, em 22 de janeiro às 16:20 h, resume mto bem quando diz: "... estamos querendo ensina-lo a como deve ser maduro e politicamente correto. Enquanto isto, lá fora, ele está ensinando e aprendendo com seu grupo, enquanto nós aqui estamos discutindo qual é o padrão adequado de uma pessoa..."
    Sabe como foi difícil para ele aparecer num programa como o do Jô Soares? Pensa que ele quer aparecer?
    Na cabeça desse rapaz tudo teria que ser perfeito. E a timidez, a dificuldade na oratória , o não ser nota 10 socialmente, o não saber ser professor ...ele reconhece, e sofre .Para que crucificá-lo? Aposto que o que ele mais gostaria era de ficar quieto no seu canto fazendo matemática com os seus pares,ou sozinho, sonhando...com matemática. Não gosta de se expor mas é obrigado a fazê-lo. Esse prêmio que ganhou precisa ter exposição. Ele representa Instituições, no Brasil, na França...e em outros lugares.
    Ele é verdadeiro no que faz. E o que sabe fazer, faz bem feito.Ou se projetaria de outra maneira? Será que só ser honesto, verdadeiro, esforçado o projetaria? Ou tem pai influente,rico, poderoso ? (mãe, acho que nem tem).
    Explicou mto bem o sr Marcello Marchiolli ao escrever: "... Artur Avila é um pesquisador que não gosta de ministrar aulas por estar ciente de suas dificuldades de comunicação para com o publico. Ele pecou por ser honesto? Acho que não. Para ele, a palavra professor apresenta uma outra dimensão, de respeito certamente, a qual simplesmente não se encaixa..."
    Então: o Arthur prefere deixar o ensinar por conta de quem tem talento para tal. É desprezo para com um professor dizer que não é professor? Ou seria melhor ser um farsante fingindo ensinar enganando-se a si mesmo e aos alunos? Nós sim às vezes somos uma farsa.
    E mais: quando o rapaz diz que não lê , será que não lê mesmo ? (quando o Jô falou sobre vários assuntos ,o Arthur os conhecia.É um advinho? É um paranormal?). Quem sabe se numa passada de olhos ele lê mais que nós? E o computador ? Ele pode não ter uma biblioteca, será que não tem mesmo? Talvez uns 200 livros para ele seja pouco.
    Sabemos que ele leu muito na infância e na juventude .Lemos que o pai dele , embora fosse humilde, teve visão para adquirir revistas e livros "cabeça" para o filho, tudo o que a criança queria ler e mais um pouco. E o que lia era para além da sua idade (o menino sempre queria mais). - Aliás... cadê a mãe desse rapaz? Ele que fala tanto no pai? Até já li que conta negativamente para ele não ter sido criado por mãe.Sempre foi semi-interno.
    Se ele diz que aprende com seus pares, valoriza o trabalho em conjunto , isso é uma qualidade do Arthur. Ele reconhece o conhecimento e capacidade dos colegas. Ele não se acha o tal. Há muitos pesquisadores que se isolam com receio de que "roubem suas ideias"; o garoto não teme nada disso. Ele é seguro (embora "imaturo") ; é respeitado (embora "arrogante").

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  16. continuando o comentário sobre o sr Arthur que foi criticado no texto da sra Maria Espindola:
    Comentários (que não estão no texto escrito por ela)

    Escreveram que ele "...tem índole duvidosa...". Por acaso ele é traíra? Ele "roubou" trabalho de alguém? fez alguém de escada?
    Ele não tem caráter? "...Pessoas com deficiências de caráter simplesmente não funcionam..." "...O mundo cuida de fechar as portas a essas pessoas..." "...Uma pessoa com problemas de caráter não passa dos 30 dias de experiência..." (não são frases minhas).
    É... concluo que o Arthur deve ser mesmo mto superior a nós todos pois está quietinho em seu canto: trabalhando, indo à praia, recebendo reconhecimento (ontem recebeu o premio faz a diferença do Globo ao lado de outros 16 feras, e Tb ao lado do sr. Juiz Sergio Moro ), recebeu Honra ao Mérito do Tribunal de Contas da União, Honra ao Mérito do governo francês...
    E nós? Estamos mesmo preocupados com o futuro dele? Que é o futuro?
    LOGO QUE CONTINUE A TER O DOM DE DEUS PARA FAZER A SUA MATEMÁTICA para ele estará tudo bom.Falando bem ou não; tendo uma grande oratória, ou não; sendo simpático, ou não.

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    1. "Deus nos fez perfeitos e não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos." -Albert Einstein-

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  17. Que pena!!! volte a publicar. Estava tudo tão interessante!!!

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    1. As publicações no blog retornarão no próximo fim de semana.

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  18. muito infeliz este artigo. conheço Artur pessoalmente e ele me disse que o Jô Soares não se deu o trabalho de falar com ele antes da entrevista, sequer foram apresentados.

    ele não é professor, não se ocupa com processos pedagógicos, e o direcionamento das perguntas foi feito de forma pueril. as respostas foram sucintas, sim, mas as perguntas foram horrorosas. conforme tu mesmo disseste no artigo, importa é a pergunta; a resposta que soluciona, se feita de forma monossilábica, expressa a simploriedade do que foi perguntado.

    artur me confidenciou ter ficado extremamente decepcionado com a entrevista.

    estou sabendo que virá uma com a marília gabriela, onde se conseguiu, finalmente, edificar alguma coisa.

    nem todos são professores e precisam se ocupar com pedagogia. há indivíduos que se pró-fissionam para isso. outros simplesmente resolvem ir para a linha de frente e deixar o trabalho de divulgação para esta outra classe.

    não vejo nada de estranho. é de uma irresponsabilidade tremenda estratificar a educação desta forma que querem. a sociedade precisa de oxigenação e você prega a normatização.

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    1. com relaçao ao Palis, ele é professor, muito mais experiente e de um espírito mais plácido. a idade faz diferença, assim como a função que ele exerce hoje em sua pro-fissão. Tornou-se pedagogo.

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    2. Felipe

      Grato pelas importantes informações.

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    3. lamento pela combatividade no meu post original. admito que me restringi ao texto da Espindola e quando me referenciei a "você" era a ela que eu me dirigia.

      reli agora suas gentis colocações sobre o texto e peço perdão pela flecha atirada no alvo errado.agradeço também pelos importantes comentários, que equilibraram o teor do artigo.

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    4. Este comentário foi removido pelo autor.

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    5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  19. 1. sobre a suposta falha de caráter, uma ideia trocada não é igual a um bem material; mantém-se a ideia mesmo depois de doá-la ao interlocutor. também foi dito que esta fertilização acontece em colaborações, o que dá a entender que todos os colaboradores terão seu nome na autoria do paper e que todos se beneficiaram em um jogo de soma não-zero.

    2. sobre a falta de leitura em matemática, especificamente, não vejo como um problema. a inovatividade em geral é fazer novas conexões entre informações já existentes, e a ausência de caminhos pré-concebidos é para os raros. em um chopp esta semana um matemático me disse que a sagacidade do Artur é não seguir os caminhos tradicionais ao atacar um problema; certamente, uma característica derivada desta ausência de informação processual. isto já acontecia desde o ensino fundamental, e notadamente no início do ensino médio.

    3. sobre o foco em resolução de problemas existentes, não necessariamente correlaciona com falta de criatividade. apesar de ter resolvido uns problemas de séculos, talvez por lúdica mente, ele avançou em assuntos super interessantes sobre o comportamento de operadores no que a grande maioria considera pura desordem. como isso será aplicado não é importante naquele espírito; interessa esclarecer para si mesmo o próximo processo nebuloso. é um arrebatamento do espírito, muito comum em várias personalidades famosas na ciência.

    há uma passagem, não sei se anedótica, sobre Einstein e o almoço. se ele era doidão? claro! se depois que virou pop teve que se adaptar sociologicamente à nova função? certamente. se foi instantâneo? provavelmente não.

    Artur é uma criança em muitos aspectos, com seu lado bom e ruim. um homem que se restringiu ao mundo da matemática por toda a vida e agora se vê com funções edificantes em áreas que nunca se ocupou em desenvolver.

    o fundamental é a pergunta que segue: se a energia total de um sistema biológico é limitada e dividida por todas as dimensões possíveis, será que ele chegaria onde chegou sendo proficiente em todas elas? esta é a dor e a delícia.

    abs Adonai.

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    1. Felipe

      Preciso insistir que há pontos importantes no texto da professora Espindola. O principal, em minha opinião, é a responsabilidade que um prêmio como a Medalha Fields traz. A entrevista em questão foi muito ruim, seja por falta de maturidade de Avila, seja por falta de sintonia do entrevistador com o mundo da ciência. Matemática é a área do conhecimento menos citada na literatura especializada e a menos divulgada em textos não técnicos. Quando surge um fenômeno de tamanha importância, como a Medalha Fields, em nosso país, a responsabilidade de tornar a matemática visível torna-se muito grande. Principalmente levando em conta que a maioria dos jovens talentosos nessa área prefere estudar engenharias no lugar de matemática.

      Não basta fazer ciência. É preciso torná-la visível, mesmo quando os assuntos estudados são insólitos diante do grande público.

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    2. há pares em todas as disciplinas científicas que pegaram para si a função de divulgar a ciência. a divisão do ímpeto da descoberta em divulgação certamente também diminui a produtividade.

      entretanto, há a ciência de que este é o momento e estamos todos edificando a melhor forma de fazer com que o compartilhamento das informacoes seja maximizado. há de se ter em mente, contudo, que para esta função existe uma classe de cientistas especializada em fazer sua divulgação; cientistas que já passaram pelas suas fases mais produtivas, como Dawkings, Bohm.

      outros se unem a pessoas com dotes literários, como o Einstein com o Infeld. enfim, cobrar proficiência social em detrimento da obsessão produtiva que tem dado frutos, de uma forma pejorativa, passa longe do bom senso.

      -----
      um texto muito bom é o do João Moreira Salles com o Artur, chamado "Artur tem um problema".

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    3. Desculpe Adonai, mas não vi nenhuma irresponsabilidade no Ávila. Ele foi verdadeiro e, neste caso creio que ele foi imensamente responsável. Gostariam que ele fosse "politicamente correto, mentiroso?". O grande mérito dele é ser verdadeiro, mas isto não condiz com as obrigações sociais que se impõem, ou acreditem que deveriam ser impostas. Para mim ele foi um exemplo! Creio que rotula-lo seria matar sua criatividade.

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    4. "rotula-lo seria matar sua criatividade."
      Isso, João Luiz Faria. Vc disse tudo. Por que o rapaz Arthur deveria ser diferente se é essa maneira dele viver e trabalhar que está dando certo? Melhor deixar o sujeito com o seu "jeitão" . Ele é assim. E pronto.
      Tem sido admirado por tantos!!! Serão cegos, surdos, incompetentes para avaliar essa pessoa chamada Arthur? Essas pessoas se deixariam enganar por qual motivo?

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  20. Felipe e João Faria

    Existem nuances demais nessa questão. Creio que Artur Avila cumpriu com um papel fundamental para o nosso país. Mas é fato que toda pessoa que trabalha com seriedade está sujeita a críticas. Erros existem sim e devemos todos refletir sobre eles (sem exageros e sem levarmos para o lado pessoal). Mas, mais importante do que tudo isso é o seguinte: precisamos de mais ganhadores da Medalha Fields, mais ganhadores do Nobel, maior visibilidade na comunidade científica mundial.

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    1. Perfeito Adonai, precisamos dessas pessoas. Para que essas pessoas apareçam necessitamos aprender a ser livres. Liberdade é chama que incendiará as mentes criativas. A existência de paradigmas são bloqueadores de novas ideias.

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    2. João Luiz

      Coincidência. Nos próximos minutos postarei um texto que trata, entre outras coisas, do conceito de liberdade, segundo Paulo Freire.

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  21. que texto horroroso! o entrevistador é muito culpado da entrevista. não soube conduzir, diferente da Marilia Gabriela.

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  22. Quem assistiu a entrevista que o Artur Avila concedeu à Marília Gabriela pode perfeitamente conhecer o verdadeiro matemático. Com todo respeito ao Jô Soares, ficou nítido que o entrevistador não soube conduzir a entrevista, não soube ouvir e nem houve empatia, ao contrário da entrevista com Marília, que provou mais uma vez ser a maior entrevistadora do Brasil. Ela sim, deixou o entrevistado à vontade e conduziu a conversa de forma exemplar. Parabéns à Marília Gabriela e ao Artur Avila.

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  23. Quando vi a entrevista da Marília lembrei desse texto. Ele lê livros sim, leu a biografia de John Forbes Nash e também está preocupado com a educação do Brasil. Artur não conseguiu explicar o que é matemática criativa.

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  24. Olá,

    Sou doutoranda na área de Humanas e faço meu doutorado na França. Não sei bem como cheguei aqui e sei que estou atrasada. Mas gostaria mesmo assim de comentar, pois este prêmio que o Artur ganhou me tocou muito... Fiquei muito feliz pelo Brasil. Comecei a assistir uns vídeos dele na Internet e também outros vídeos do Cédric Villani (matemático francês que ganhou a medalha Fields em 2010).

    Gostaria de observar duas coisas:
    1) as entrevistas dele na França são melhores que as do Brasil. Acho que ele se sente mais à vontade na França. Aqui ninguém liga se o Villani parece estranho ou se o Ávila é tímido. No Brasil, e o programa do Jô é um "concentrado" disso tudo, é muito importante se mostrar descolado, interessante, etc. O Ávila sabe que ele é diferente... Fico pensando: se eu, que fujo bem pouquinho à regra, já me sinto um ET no Brasil, o que um garoto como ele não deve sentir?
    2) sendo a primeira medalha Fields do Brasil, a responsabilidade dele é muito grande... Voltando ao francês Cédric Villani: no ano em que ele ganhou a medalha, outro francês também ganhou! Resultado: ele resolveu falar (e é um ótimo orador, diga-se de passagem) enquanto o outro resolveu ficar quietinho no canto dele. São personalidades diferentes! Acho que o Artur simplesmente não teve muita escolha.

    D.

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    1. De fato, D., o Brasil ainda precisa se acostumar com a prática de ciência de ponta. Resta saber quando teremos outro medalhista Fields.

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    2. Provavelmente em 2018, pois o Fernando Codá Marques é um dos mais fortes candidatos (mas talvez o alemão Simon Brendle seja escolhido, e daí o Codá não vai ganhar, porque ambos trabalham em Geometria Diferencial -- e é provável que não premiem mais de um matemático desse campo).

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  25. "Se o Avila lê pouco, esta é uma falha dele"...rs ri alto com essa frase. Como assim? O cara é de fato um gênio, e nesse país de políticos assassinos e corruptos (sim, assassinos), temos de agradecer a pessoas como o Artur que nos dão alguma esperança de mudança. Ele é muito novo, ficou famoso de repente e blablabla....fora que o Jo não faz a minima questão de se preparar para uma entrevista dessas...vejam por exemplo o programa onde ele entrevista o lutador Junior Cigano...

    go Artur!

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  26. Jô Soares queria derrubar o Artur. Mas quem caiu foi o Jô.
    Dá-lhe, Artur.

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  27. O Jô sabe entrevistar muito bem os políticos. O Artur não deveria ter concedido entrevista a esse senhor. Cada um na sua!

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  28. Agradeçam ao Artur pelos avanços matemáticos e reconhecimento que deu ao Brasil! Não vi em nenhum momento arrogância na entrevista, ele só contou o que realmente aconteceu em sua vida acadêmica e o que acha de tudo o que o foi perguntado. Simples assim.
    #ArturMito

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  29. Não há erro em chamar certos jovens de superdotados e assim gerando uma separação social?
    Digo isso pois há grande curiosidade em saber a origem de tal capacidade intelectual e o que os separa dos normais.

    Alguma explicação para tal capacidade?

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    1. Explicação clara e detalhada, até onde sei, não existe. Mas a discriminação entre superdotados e demais é necessária. Nações como a nossa precisam estimular superdotados. Dependemos deles.

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  30. Senti um pouco de inveja no ar da parte de quem redigiu este post... Vá lá, ganhe um prêmio e faça melhor, oras...

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  31. É inveja demais. Arthur está acima dessa dona fulana Maria vai com os outros. .. deixa o garoto em paz. ..

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    1. só pq eles nunca ganharam uma Fields heuhueheue

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  32. Besteira.. deu vergonha alheia do nível péssimo daquela entrevista do jô (e eu gosto dele como entrevistador). Foi tudo muito superficial, parecendo que o jô nem sabia exatamente o que perguntar.. como que o entrevistado vai demonstrar desenvoltura nas palavras com isso? sugiro que assistam outras entrevistas, pois verá que aquilo foi um ponto fora da curva. Com relação ao fato dele passar uma imagem de despreocupado, que não lê muita coisa, oras, ele disse o que ele é... se ele é assim, ele deve dizer que é assim. Era uma entrevista ou uma peça de teatro onde ele força a ser algo que não é?! Sinceramente? o cara ganhou a MEDALHA FIELDS e não deve satisfação a ninguém... ele, daquele jeito estranho dele (na entrevista) é mil vezes mais genial que qualquer um aqui, inclusive beeem mais do que quem escreveu o texto.

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  33. Olá Maria, tenho a satisfação de dizer que discordo frontalmente de quase tudo que você disse.
    Jacob Pallis pode dar ótimos entrevistas mas não ganhou medalha Fields.
    O que está errado nisso tudo é um programa imbecil como o do Jo Soares chamar uma pessoa desse naipe pra fazer gracinhas e bobagens. Esta estúpida televisão precisa de bobos e não de gênios. Foi ingenuidade do Arthur aceitar.

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    1. Professor Walter

      Não concordo, e para escrever esse texto eu analisei uma série de entrevistas, e sinto muito lhe dizer que tenho muito receio quanto ao futuro desse menino. Como muitos que vi.

      Ele seguiu uma elaboração para receber a medalha Fields, isso ele reconhece numa das entrevistas internacionais, onde ressalta que após receber a medalha poderá fazer a matemática que gosta. Tenho acompanhado o programa do Jô, e apesar de que tem muitos defeitos não merece ser desclassificado. Ele não demonstrou nenhuma segurança no que falou. aliás demonstrou a seu pequeno embasamento teórico e cultural. Assim como nas demais entrevistas, e uma das piores foi a do Congresso de jovens cientistas! Tem alguns links acima, mas posso fornecer outros. Por exemplo, numa das aulas ou conferências que apresentou no ano passado ele escreve o português na lousa completamente errado!

      Por outro lado, o premio Balzan que o Dr. Palis recebeu é muito considerado! Que tem oito agraciados em matemática, entre os quais Andrei Nikolaevich Kolmogorov (criador da teoria da medida) em 1962 (orientador de Valdimir Arnold)!

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  34. Ola Maria, revi a entrevista para confirmar a minha opinião prévia. Arthur francamente foi excelente e respondeu muito bem aas perguntas capciosas e que pretendem apenas" jogar para a plateia" do Jô Soares.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Aliás fui uma das pessoas que não só divulgaram a premiação do Ávila como cobrei de alguns meios de comunicação a falta de divulgação da premiação. No entanto críticas precisam ser feitas, como por exemplo, o seu domínio de física na dita entrevista!

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  35. Se não pararem o mimi vou enviar este texto ao email dele.

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    1. Anônimo

      Aproveite e passe o meu e-mail institucional para ele: mariia@mat.ufpb.br.

      Aproveite e se identifique!

      O que eu escrevi assino embaixo. Inclusive o texto está sedimentado numa pesquisa séria: l i ou assisti todas as entrevistas nacionais e internacionais, assim como algumas palestras.

      Gostaria muito de poder conversar com ele, gosto muito de interagir com os meninos que estão começando, pois tenho uma imensa preocupação com o futuro deles. Aliás, por esse motivo e com o intuito de modificar o ensino e a orientação, que continuam a seguir os padrões do século passado que permaneço ministrando aulas (apesar de ter o abono “pé na cova”)!

      Vivi muito intensamente todo o período desde estudante de engenharia química, monitora de Físico-Química e bolsista de iniciação científica do grupo de cristalografia do LORXI/DF na UFPR, no mestrado em Física atômica e molecular no IFT/UNESP (sofri com a ditadura militar). Posteriormente no doutorado em Física Matemática (Fundamentos da Mecânica Analítica Hamiltoniana) CBPF/UFRJ. Como professora e pesquisadora no DF/UFES, no DF/UFPB e atualmente no DM/UFPB.

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    2. Muito corajosa para alguém de produção acadêmica quase nula.

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    3. Anônimo

      Seu argumento da contra-autoridade é uma falácia.

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  36. http://geradormemes.com/media/created/nzvheq.jpg
    Além disso, "gostaria de ressaltar é que nenhum jovem passa de um estágio onde ele resolve uma série de problemas de uma olimpíada para a de pesquisador ou cientista." Eu passei, sou um contra exemplo, faço mestrado no IMPA.
    "olimpíadas que premia o mais bem treinado ", novamente, bizarro, olimpíadas de matemática são feitas com a intenção de detectar talentos para matemática, as questões envolvem pouco conhecimento teórico.
    "E me assusta quando ele reconhece a desnecessidade de quaisquer tipos de leituras; não tem o hábito de ler livros ou artigos, nem sequer possui uma biblioteca em casa" Idaí minha amiga. Ele demonstra teoremas, com habilidade genial. E você faz o que ?Criticas em bloguinhos ?
    Vou parar por aqui por que o restante do texto é ainda pior.
    Toda a argumentação é bizarra, Espindola só está com recalque por nunca conseguir ganhar uma Fields, Nobel ou um grande prêmio, e também demonstra desconhecer matemática e pessoas superdotadas. Artur não tem obrigação nenhuma de conhecer aplicações de sistemas dinâmicos.
    Agora ao Adonai recomendo mudar o nome do Blog para Matemática, Sociedade e Ataques Pessoais.

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    1. Críticas fazem parte de qualquer atividade social relevante e não-trivial. Você mesmo está promovendo críticas à autora do texto e até a este blog. Bem-vindo ao mundo da consistência.

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