sábado, 1 de novembro de 2014

Sexo e inteligência


Apresento aqui uma breve discussão sobre algumas descobertas recentes envolvendo as relações entre sexo e inteligência. Meu principal objetivo é alertar para uma certa hesitação da comunidade científica internacional e segmentos sociais associados a ela, quando o assunto é sexo.

Primeira pergunta: atividade sexual saudável interfere em aspectos cognitivos humanos? Resposta: Ninguém sabe.

O que se sabe é que ratos de meia-idade, com vida sexual ativa, tendem a ter um desempenho cognitivo melhor do que ratos de meia-idade privados de atividade sexual. Há evidências convincentes de que sexo interfere de forma positiva no hipocampo, região do cérebro responsável por memória e navegação espacial. E o estudo que aponta para esses resultados foi publicado somente em 2013.

Segunda pergunta: pessoas mais inteligentes têm vida sexual melhor? Resposta: Pouco se sabe a respeito disso.

Em artigo publicado também em 2013 foi relatado que no universo de adultos que se encontram na terceira idade, a vida sexual diminui para a metade quando essas pessoas apresentam um quadro clínico de prejuízo cognitivo moderado (comumente associado à doença de Alzheimer). No entanto, neste estudo os autores demonstram uma preocupação com quantia de relações (por intervalo de tempo), sem qualquer discussão sobre qualidade de vida sexual. E o fato é que existem poucos estudos que focam na questão de satisfação sexual em um contexto mais amplo de saúde pública. Um excelente (e pioneiro) artigo que aborda esta relação entre satisfação sexual e saúde pública foi veiculado somente em 2011. Neste trabalho é promovida uma análise sobre relações entre satisfação sexual e saúde sexual em um universo de estudantes universitários dos Estados Unidos. No entanto, neste estudo nada se discute sobre aspectos cognitivos humanos, algo que certamente interessa aos jovens estudantes avaliados.

Terceira pergunta: Homossexuais são mais inteligentes do que heterossexuais? Resposta: Parece que sim.

Em artigo publicado em 2012, são apresentadas fortes evidências de que indivíduos mais inteligentes tendem a adquirir e expressar mais novidades evolutivas do que indivíduos menos inteligentes. Como o comportamento exclusivamente homossexual era muito raro em tempos ancestrais de nossa espécie, o autor conclui que pessoas mais inteligentes tendem a assumir mais facilmente um comportamento homossexual. Mas o que mais despertou atenção, ao ler o artigo, é um comentário do autor, Satoshi Kanazawa. Afirma ele que seu "interesse científico em comportamento homossexual [...] é estritamente teórico." Bem. Durante cerca de vinte anos trabalhei com física teórica. E, entre as centenas de artigos científicos que li até hoje, jamais vi qualquer comentário do tipo "meu interesse em física quântica é estritamente teórico." Por que fazer uma observação dessa natureza? 

Em suma, apesar do relato nesta postagem ser excessivamente resumido, creio que é seguro afirmar que existe sim uma certa hesitação na comunidade científica para tratar de assuntos que relacionam sexualidade com cognição. Talvez essa postura tenha correlação com atividades pseudocientíficas de passado não muito remoto, as quais associavam diferenças raciais com inteligência. Ou talvez essa hesitação ocorra simplesmente porque sexo ainda é percebido de forma exageradamente preconceituosa. Afinal, jamais podemos ignorar o fato de que o próprio avanço da ciência está fortemente vinculado a contextos sociais sem relação direta com a atividade científica em si. Mas ciência deve ser promovida justamente para avançar sociedades humanas, não apenas para uma melhor compreensão sobre quem somos, mas também para o melhoramento de nossas civilizações.

Um comentário:

  1. Extremamente excitante esta postagem, rsrsrsrsrsrsrsrsrs

    Não resisti.

    Como o blog carece de bom humor, dou minha contribuição........

    =)

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