Desde o nascimento deste blog, há quase cinco anos, tenho procurado por motivos para mantê-lo. Tanto é verdade que vez ou outra penso em encerrar a publicação de novas postagens. No entanto, vez ou outra recebo alguma forma de estímulo para dar continuidade à existência deste fórum. E o fato é que há pelo menos meia dúzia de postagens novas a caminho neste exato instante. São textos que dependem de ações de outras pessoas que têm procurado colaborar comigo.
Além disso, recebo um volume considerável de e-mails e mensagens de pessoas que desejam compartilhar ideias e experiências pessoais. Eventualmente peço para publicar tais relatos aqui. E a presente postagem se enquadra nesta última categoria.
Edson Oliveira da Silva é músico instrumentista, especializado em cavaquinho, violão e bandolim, estudante do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Ceará (UFCE) e professor de ensino médio e de cursos pré-vestibular na rede pública e privada de Fortaleza, Ceará.
Recentemente Edson foi obrigado a assinar um documento no qual ele se compromete a não reprovar mais por faltas no Curso de Licenciatura em Matemática da UFCE. Em função disso, Edson encaminhou ao Coordenador do Curso um outro documento. Trata-se de uma sugestão de termo de compromisso a ser assinado por todos os professores de instituições federais de ensino superior (ifes).
Adverti Edson Oliveira da Silva que a publicação de seu documento neste blog poderia prejudicá-lo na UFCE. No entanto, ele insistiu que não devo me preocupar com isso. Apenas lamento que exemplos como o deste jovem sejam tão raros em nossas terras.
Segue abaixo o texto enviado por Edson Oliveira da Silva ao Coordenador do Curso de Licenciatura em Matemática da UFCE.
______________________
TERMO DE CONSCIÊNCIA PARA DOCENTES DE IFES
Eu NOME DO PROFESSOR, professor da Universidade X, atesto estar ciente diante dos rigorosos e fiscalizadores Código de Ética e Conselho Nacional de Professores das Universidades Públicas, que PERDEREI meu cargo de professor se cometer os seguintes atos:
- Ministrar uma disciplina que eu não domino, pois é um ato de desonestidade intelectual ficar “enrolando” os alunos.
- Reprovar por falta quando eu mesmo não gosto de perder tempo fazendo chamadas, e também por saber que eu mesmo falto muito.
- Viajar para o exterior e deixar meus alunos do Doutorado dando aula por mim, mesmo sabendo que no Sistema consta o meu nome naquela Disciplina, e não os deles.
- Comparecer apenas dois dias na semana para lecionar uma disciplina, quando no Sistema diz que são três. Pois tenho que trabalhar X horas para ganhar $Y.
- Cobrar conteúdos que estão fora da ementa.
- Cancelar Bolsas, alegando que o bolsista faltou muito, quando eu sei que tem um que viajou para outro estado e só retornou após um mês, e mesmo assim recebeu os miseráveis reais da bolsa.
- Lecionar quando sei que sou gago, portanto não sei me expressar em público.
- Modificar os objetivos pedagógicos dos projetos da Universidade. Por exemplo, o PIBID tem como objetivo principal melhorar a relação ensino-aprendizagem da Matemática na Educação Básica (Fundamental e Médio) e aproximar o licenciando do ambiente escolar. Portanto, não faz sentido pedir para bolsistas deste Projeto falar sobre Matemática Pura nas reuniões do mesmo.
- Colocar questões em prova que nem eu mesmo sei fazer, apesar do meu mestrado e/ou doutorado.
- Aprovar ou reprovar alunos movido por questões pessoais, religiosas, políticas, sexuais etc.
- Acumular cargos visando apenas o dinheiro, quando é impossível cumprir a carga horária de todos.
Entrei na Universidade através de Concurso Público também. Se posso perder minha vaga por não cumprir determinadas condições, professores também deveriam perder as suas pelo mesmo motivo. O fato é que: Professor de universidade pública tem seu emprego garantido, independentemente da qualidade de suas aulas e posturas acadêmicas. Por que médicos, psicólogos, advogados, políticos e outros profissionais podem ter suas licenças cassadas e professores não? O que há de tão especial entre os professores? Eles são incapazes de errar? Precisamos criar um código de ética para professores no Brasil e conseqüentemente um Conselho Nacional de Professores.
Profº Edson Oliveira da Silva, Maracanaú - Ce
Comentário rápido:
ResponderExcluirEssa foi de lascar: "Cobrar conteúdos que estão fora da ementa". Esse item denuncia uma atitude do tipo "quero estudar o mínimo possível pra obter meu diploma". Não sei se é o caso do rapaz, mas que parece, parece.
Concordaria com Leandro Medeiros se o item prescrevesse "adotar uma ementa com uma quantidade de conteúdo maior do que a minimamente necessária" ou "cobrar conteúdos que, apesar de estarem na ementa, não foram explicitamente trabalhados nas aulas" ou “cobrar todo o conteúdo que está na ementa”. Obviamente, este não é o caso e a conclusão é precipitada.
ExcluirUm professor que cobra conteúdos que estão fora da ementa denuncia a mesma atitude de um médico que receita medicamento para dor de ouvido quando, na verdade, o problema é uma distensão na panturrilha: incompetência (ou, o eu é pior, má fé).
Obs.: é possível que nossa divergência de opiniões resulte do fato de atribuirmos significados diferentes para o termo "ementa".
Leonardo, você cometeu um equívoco. Seguindo a linha de raciocínio do(a) PRL, imagina se num curso de "Cálculo Diferencial Integral I", onde normalmente é lecionado limites, derivadas e integrais de funções de uma variável real, o professor aplicasse provas, exercícios ou trabalhos com questões sobre integrais triplas e de superfície? Ou pior, no mesmo curso, o professor querer ensinar sobre a Revolução Francesa...
ExcluirLeonardo, seu comentário foi muito infeliz. Você pode trabalhar muitas questões dentro de uma ementa, ou seja, o aluno não estudará o mínimo possível comforme você disse.
Excluir