quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Entre Professores e Alunos, Quem Vale Mais?



Apesar do foco desta postagem ser a Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredito que a maioria das considerações aqui colocadas são cabíveis a praticamente todas as instituições públicas de ensino superior de nosso país. 

Um dos objetivos deste blog é criar condições para a promoção de debates e ações em favor da educação brasileira. Neste sentido, tenho aprendido com muita gente que coloca suas opiniões aqui, no facebook ou mesmo em conversas pessoais. E até muito recentemente eu acreditava que um dos grandes males da educação superior pública é a indiferença, tanto de alunos quanto de professores. 

No entanto, em função de certas reações à postagem que antecede esta, percebi que preciso melhorar consideravelmente minha percepção em relação à suposta indiferença da comunidade acadêmica com o ensino público superior.

De fato, as universidades públicas estão infestadas de professores e alunos que são como zumbis, alimentando-se muito mal de miolos alheios e vivendo vidas completamente desprovidas de responsabilidade social. Mas há também uma massa considerável de indivíduos nestas instituições que conseguem perceber claramente as estupendas mazelas das instituições federais e estaduais de ensino superior e, ainda assim, jamais tomam qualquer atitude significativa para mudar o quadro negro da educação pública. Estes indivíduos não são zumbis, apesar de agirem como tais. Eles são covardes. Explico nos parágrafos que se seguem.

Na postagem Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba (título que faz referência ao hilário humor negro do cineasta Stanley Kubrick) apresento apenas os primeiros resultados de uma estratégia que adotei para manipular a cômica ingenuidade de professores e alunos da UFPR. A rigor a UFPR nada pode fazer para mudar meus critérios de avaliação. Mesmo assim consegui convencer tanto alunos quanto professores de que eles deveriam abrir um processo para investigar minhas atividades docentes. Parte do resultado está retratada na postagem mencionada. 

Logo em seguida recebi uma mensagem pública de um aluno do Curso de Física da UFPR, a qual reproduzo aqui (as observações entre colchetes são minhas): 

"O CAHK [Centro Acadêmico Hugo Kremer] foi quem levou a queixa ao Colegiado de Curso. Eu era o responsável por fazer a intermediação entre os corpos discente e docente, e, caso o senhor não lembre, eu que fui falar com o senhor. Porém, eu renunciei devido a problemas diversos, e os membros restantes disseram que não vão mais participar desta questão. Uma das diretoras restantes me disse, quando eu ainda integrava a gestão, para 'cuidar do meu próprio cálculo'. Relevante ou não, ela fazia Cálculo I com o senhor.

Quanto ao Prof. Celso, ele é excelente coordenador. É sempre disposto a ouvir as queixas, sugestões e elogios dos alunos, ao invés de simplesmente dizer 'os professores entendem mais, os alunos devem ficar quiestos' como defendido por alguns membros do corpo docente (da universidade inteira, vale dizer) e, curiosamente, por alguns alunos. O Prof. Celso saiu candidato a coordenador de curso por pedido meu e da [nome omitido]. Na próxima vez, busque informar-se melhor sobre a obra de alguém ao invés de criticar por causa de um documento que, eu concordo, ficou mal-escrito, porém inteligível."

O que se deriva desta mensagem é algo sintomático de toda a população acadêmica da UFPR: o domínio das emoções. 

Na visão deste aluno o Coordenador do Curso de Física é excelente. Por quê? Porque ele ouve os alunos e tenta tomar providências. Ou seja, o único fator de avaliação é de ordem puramente emocional. Um coordenador de curso é excelente se ele ouvir os alunos e tomar providências. Não importa se tais providências são arquitetadas e executadas de forma primária. O que importa são as suas intenções. Ele quer o bem, o bem dos alunos. Não tem problema algum se for incompetente. 

Agora analisemos as entrelinhas (não apenas da mensagem pública que recebi, mas de todas as atividades de ensino na UFPR). Onde há o domínio das emoções, existe o palco perfeito para o domínio do medo. 

Alunos têm medo de professores. Por quê? Porque professores têm o poder de reprovar alunos, seja por mérito ou não. Alunos não confiam em bancas de revisão de provas. Isso porque os membros da banca são colegas ou até amigos do professor cuja avaliação está sendo questionada. Esses mesmos alunos são dominados por este medo e muito raramente abrem qualquer processo de revisão de prova. Têm o direito à revisão, pelo menos no papel. Mas a prática não confere tal direito. Isso porque a prática é o domínio do medo.

Alunos têm medo de alunos. Por quê? Porque sempre aparece aquele colega intrometido que questiona seus professores. E este aluno é capaz de irritar suficientemente o professor a ponto de fazê-lo se vingar da turma inteira, realizando provas muito difíceis de serem realizadas com sucesso. 

Professores têm medo de alunos. Por quê? Porque são justificadamente inseguros quanto à sua competência profissional. Já vi as reações de professores cujas aulas e avaliações foram questionadas por alunos. A maioria fica furiosa. Fúria é uma reação típica do animal que se sente acuado, ameaçado. Isso é medo. 

Professores têm medo de professores. Por quê? Porque professores dependem de professores para terem seus projetos aprovados. A burocracia e o discurso emocional sempre dispõem de instrumentos para impedir o crescimento profissional de docentes e pesquisadores. Como conseguir aquele estágio de pós-doutorado se os colegas não gostam do solicitante? Um exemplo disso está retratado na postagem O que a UFPR Espera de Você?. Posso apresentar muitos outros exemplos igualmente patéticos.

Um indivíduo é covarde quando dominado pelo medo. Medo é uma reação emocional absolutamente natural. É saudável ter medo! Mas ser dominado pela sensação de medo é uma postura absolutamente incompatível com atividades acadêmicas sérias. Quando um indivíduo é dominado pelo medo, ele demonstra não ser saudável e nem inteligente (seja do ponto de vista racional ou emocional). É um covarde.

Portanto, entre os alunos típicos da UFPR e seus típicos professores, quem vale mais? Ninguém. Absolutamente ninguém. 

Covardes são pessoas que precisam ser diagnosticadas e tratadas por especialistas. Caso contrário, continuarão a perpetuar e alimentar o medo e a covardia em seus meios sociais.

Pelo menos o Coordenador do Curso de Física não se deixou intimidar. E isso eu respeito e admiro. Apesar de certamente não ser o bastante, já é um começo. Resta saber como esta situação evoluirá. Se nada mais acontecer, cogito em estender meu critério de aprovação para todos os alunos matriculados. Se não for apresentada uma solução sensata para o dilema REUNI-UFPR versus realidade admito a possibilidade de aprovar todos os alunos matriculados em qualquer disciplina de graduação que eu lecionar, independentemente de eles assinarem avaliações ou sequer aparecerem em sala de aula. 

Confio mais no corpo técnico-administrativo da UFPR. Eles fazem o seu trabalho! Alunos e professores que são dominados pelo medo de questionar são pessoas que não têm valor social construtivo. Não se promove ciência e cultura sem questionamentos sérios e pertinentes. 

Ciência não é uma atividade democrática. Ao inferno com a opinião da maioria! Foram maiorias que apoiaram Hitler e elegeram Collor. São maiorias que defendem a estabilidade de professores de instituições federais de ensino superior. Mas estas mesmas maiorias dependem do trabalho sério de absolutas minorias. A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin triunfou por mérito de ideias. Jamais houve qualquer eleição para a humanidade decidir se o homem evoluiu a partir de outras espécies ou se descende de Adão e Eva. 

A maioria toma decisões sustentadas predominantemente pela emoção e não pela razão. Uma universidade deve saber lidar com esta realidade. Por um lado, uma universidade não se sustenta pela opinião de maiorias. Por outro lado, ela deve servir a essas mesmas maiorias. Uma universidade é uma prestadora de serviços para a humanidade. Esta é uma grande responsabilidade. Tanto Governo Federal quanto universidades federais que aderiram ao REUNI romperam com esta responsabilidade. 

Enquanto os covardes queimam eu seus próprios infernos pessoais, faço uma chamada aos demais: Mudem o país para melhor!

44 comentários:

  1. "[...] Onde há o domínio das emoções, existe o palco perfeito para o domínio do medo. [...]"

    Com certeza. Talvez seja por isso que até hoje eu tenha medo de encarar uma turma, em sala de aula, mesmo tendo conhecimentos de Química superiores aos da média dos colegas que se formaram comigo.

    Passei por péssimos momentos na minha graduação, que afetaram-me emocionalmente, principalmente em termos de auto-estima.

    O resultado não poderia ser muito diferente de covardia!!!!!!

    "[...] professores têm o poder de reprovar alunos, seja por mérito ou não. Alunos não confiam em bancas de revisão de provas. Isso porque os membros da banca são colegas ou até amigos do professor cuja avaliação está sendo questionada. [...]"

    Também não é para menos. Naturalmente os alunos ficam temerosos com esta postura de alguns professores. E isto é mais da metade do caminho para formar profissionais covardes, que podem desenvolver uma insegurança que os impeça a acreditar em suas competências.

    Os universitários acabam sendo tratados como crianças submissas até o fim do curso (e não como profissionais, como deveriam ser tratados a partir da segunda metade do curso) e, ao sair da Academia, podem ficar tão acostumados à submissão e a esta "superioridade" dos professores, que não desenvolvem o hábito e as habilidades para tomar decisões por conta própria, o que gera insegurança, medo e covardia, mesmo que o estudante tenha tido um desenvolvimento acadêmico bom.

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    1. Leandro

      Admitir o próprio medo é um ato de coragem. Portanto, você não demonstra covardia, ao meu ver. Pode crer que eu, por exemplo, não estou cem por cento seguro sobre minhas ações. André Furtado, por exemplo, tem colocado observações extremamente pertinentes neste blog. Espero que ele esteja errado. Mas somente o tempo poderá responder a essa questão.

      Seu último parágrafo é uma avaliação precisa e importante.

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    2. E por um acaso existe alguém cem por cento seguro de seus atos? Não creio! Como vc mesmo disse, o medo é um instinto natural e necessário. O problema é quando nos deixamos dominar por ele. Também não tenho certeza se estamos fazendo a coisa certa. Só sei que não podemos ficar parados vendo tudo desandar. Algo deve ser feito. Enquanto alguém não aparacer com ideias melhores, prefiro caminhar por aqui. Incentivar o blog e os alunos que queiram mudanças. Incentivar o debate sério, as sugestões boas e as ações competentes. Não tenho filhos, mas não quero deixar um país tão lindo e rico, com tantas possibilidades de mentes brilhantes (que não é o meu caso), cair no vazio da ignorância (intelectual e física). Sobre sua atitude de aprovar os alunos, eu imaginei o contrário: dar aulas de alto nível e cobrar à altura, ou seja, provas extremamente rígidas. Será que com a atitude de séria competência e com elevada repetência, as coordenações fariam reuniões para chamar a atenção? Uma coisa eu sei: os alunos reclamariam em peso!

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    3. Susan

      Conheço muita gente que tem absoluta confiança de que não comete erros em suas ações.

      Com relação à sua pergunta, não vejo como isso possa funcionar. A última turma de cálculo na qual ainda adotei meus antigos critérios de avaliação foi uma do Curso de Física. Uma única aluna foi aprovada por média e uma única aluna foi aprovada em exame final. Os demais (cerca de 90) foram todos reprovados. Não ouvi uma única reclamação.

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    4. Adonai... só uma sugestão, tendo em vista o seu perfil: porque não adota esta avaliação rigorosa? Trará problemas do mesmo jeito e vc não precisa se sentir culpado de estar colocando no mercado profissionais incompetentes. Ou eles não conseguem avançar no curso sem a devida compreensão de sua matéria e por isso fica mais "tranquilo"?

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    5. Susan

      Eu não queria colocar de forma explícita por aqui, mas não vejo saída. Minha estratégia é colocar a mim mesmo como alvo, para ilustrar de forma clara que professor de universidade pública tem seu emprego garantido, independentemente da qualidade de suas aulas, avaliações, pesquisa, atividades de extensão e administração. Não estou mais preocupado se coloco no mercado profissionais competentes ou não. Estou preocupado com o sistema público de ensino superior como um todo. Neste sentido, já estou esboçando outras ações.

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    6. Eu demorei para entender a estratégia, mas percebo agora que se ninguém se incomodar com a aprovação praticamente automática, realmente estamos em uma situação pior que imaginávamos.

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    7. Agora sim entendo a sua estratégia; mas se não funcionar, a situação é pior que aparenta.

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    8. Eu demorei para entender a estratégia, mas percebo agora que se ninguém se incomodar com a aprovação praticamente automática, realmente estamos em uma situação pior que imaginávamos.

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    9. Eu demorei para entender a estratégia, mas percebo agora que se ninguém se incomodar com a aprovação praticamente automática, realmente estamos em uma situação pior que imaginávamos.

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    10. Adam

      A UFPR nada fará em relação a essas aprovações, simplesmente porque não há como fazer algo. A única chance desta postura ter reflexos positivos é se tais aprovações despertarem real atenção por parte de segmentos externos à universidade. Universidades públicas são absolutamente desprovidas de auto-crítica.

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    11. O problema que eu vejo nessa estratégia é que se está querendo chamar a atenção de forma crítica para um fato geral (estabilidades dos professores) através de um tipo de ação totalmente atípica (aprovando alunos que somente assinam suas provas), esse não é o tipo de atitude que os professores das universidades públicas costumam adotar e portanto não acho que seja válida essa estratégia. Essa é uma das razões pelas quais discordo dessa estratégia, existem outros mas não quero me alongar muito aqui.

      Agora, deixando de falar da estratégia adotada e passando a falar sobre a estabilidade em si, eu acho que ela é fundamental para a liberdade acadêmica. A história recente demonstra que os professores universitários estão entre os primeiros a serem perseguidos, despedidos e aposentados compulsoriamente em algumas situações de crise política. Foi assim, por exemplo, com os professores universitários na Alemanha nazista, com os professores universitários estadunidenses pacifistas e socialistas que se opunham à Primeira Guerra Mundial e foi assim durante a ditadura militar do Brasil de 1964 a 1985.

      Outro ponto importante é a subjetividade e complexidade das questões: quem vai avaliar as qualidades das aulas? Quais os critérios adotados? Quem vai eleger esses critérios? As mesmas perguntas devem ser respondidas para a questão da qualidade nas pesquisas científicas. Essas perguntas são cruciais já que pela proposta apresentada aqui os professores poderiam ser despedidos por não darem aulas e fazerem pesquisa de qualidade (que qualidade?)

      Quem deve dar as respostas a essas perguntas são os que defendem o fim da estabilidade dos empregos dos professores universitários. E, na minha opinião, devem fazê-lo antes de tudo.

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    12. Eu respondi pessoalmente ao Adonai, mas como insistem que eu responda por aqui, aqui vai: "Adonai, creio que todos nós percebemos esta sua estratégia: De se colocar como exemplo vivo do emprego garantido. Apenas achei que ser rigoroso pudesse dar mais resultados e impediria alunos ruins de continuarem. Só isso. De resto, como sempre fiz, continuo a seu lado para o que precisar!" Ainda acho que pode-se incomodar também fazendo justamente o trabalho bem feito. Ou seja, dar ótimas aulas e cobrar de acordo. Mas, respeito seu ponto de vista. Agora, me retiro. Um abraço!

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    13. André

      À medida em que a discussão se aprofunda, aos poucos a verdade vai se revelando. Neste momento você revela que considera que a estabilidade é fundamental para a liberdade acadêmica, usando como referência uma realidade política recente e supostamente extinta. Não acredito que sua real preocupação tenha sido colocada ainda. Mas já é um progresso.

      Observe que as ditaduras militares na América Latina foram possíveis graças ao apoio dos Estados Unidos, em uma época em que o grande medo era o domínio do comunismo no mundo. Este mesmo país (EUA) mantém um sistema acadêmico no qual a estabilidade é dada somente por mérito (tenure) a pouquíssimos profissionais. Isso porque eles sabem que estabilidade irrestrita é tão absurda quanto minhas aprovações praticamente irrestritas de alunos. Deste modo, o Brasil caiu em uma armadilha, sendo reconhecido apenas como um grande país sem tradição alguma na produção de ideias. Não produzimos. Apenas obedecemos aos outros.

      Quem defende o fim da estabilidade para professores de universidades públicas não precisa de forma alguma garantir que não haverá perseguições e injustiças. São a sociedade e a justiça que devem se adaptar a uma eventual realidade sem estabilidade.

      Se você honestamente acredita que uso a estratégia errada e ainda para defender uma ideia equivocada, não há com o que se preocupar. Afinal, a maioria dos brasileiros pensa como você. A maioria dos brasileiros, na verdade, anseia por um emprego bem pago e com estabilidade, no qual se tem plena liberdade para fazer ou não fazer o que bem entender.

      Se é segurança que você tanto deseja, fique tranquilo. Ela o aguarda com carinho.

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    14. Susan

      Adotei a sua estratégia recomendada durante mais de vinte anos. Tentei convencer órgãos internos da UFPR a criar programas de honors e outras iniciativas para valorização de alunos. Em geral as pessoas me olham como se eu estivesse falando outros idiomas alienígenas, pois desconhecem o que é vida acadêmica. O REUNI foi a gota d'água. Hoje adoto outros caminhos para ver se a macacada da vida "acadêmica" brasileira consegue despertar, ainda que minimamente. Mas garanto que é cansativo, muito cansativo.

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    15. Começo citando as palavras de Cary Nelson, professor de literatura e de língua inglesa na Universidade de Illinois e presidente da Associação Americana de Professores Universitários, sobre a ternure, a estabilidade e a liberdade academica:

      "O papel tradicional que o corpo docente tem no governo de suas instituições está começando a desaparecer em algumas instituições e, em outras, está sob grande pressão, porque sem estabilidade de emprego os professores ou não têm o direito de ajudar a governar suas instituições ou, se têm, não podem abrir a boca de fato. Basicamente, se você não tem estabilidade de emprego, você não pode criticar a administração"

      Adonai, porque você não acredita que minha real preocupação ainda não foi colocada? O que eu falei é sim a minha real preocupação. E note que na verdade eu não citei “uma” realidade política recente para justificar meu ponto de vista, mas sim três e bem distintas (e poderia citar outras).

      Veja, Adonai, eu não disse que “quem defende o fim da estabilidade para professores de universidades públicas precisa garantir que não haverá perseguições e injustiças”. Eu não disse isso, até porque seria impossível tal garantia seria impossível sem a estabilidade assegurada de antemão, como indicam os exemplos que eu citei.

      O que eu disse foi que os que defendem o fim da estabilidade dos professores universitários, defendendo que seus empregos devem estar condicionados a boas aulas e boa pesquisa científica, precisam (antes de mais nada!) dizer quem definirá o conceito de boa aula e boa pesquisa científica. Isso é fundamental, afinal, professores poderiam ser demitidos por supostamente não ministrar as tais boas aulas e não produzir as tais boas pesquisas científicas.

      Depois de respondida a questão de quem serão os detentores do poder de definir os critérios do que é uma boa aula e do que é uma boa pesquisa científica vocês deverão responder quem julgará a qualidade das aulas e pesquisas científicas desses professores. Espero que concorde que essas são questões extremamente delicadas e complexas, não só do ponto de vista teórico mas também no que diz respeito à sua implementação.

      Com relação a comparações com os Estados Unidos, não acho que isso seja produtivo. As situações econômicas e históricas dos dois países são muito distintas e acho que tirar a estabilidade dos professores universitários brasileiros porque os professores universitários estadunidenses não tem essa estabilidade seria mera cópia e isso é o que não queremos, não é?

      Além disso, não acho que as universidades dos EUA produzem ciência de qualidade porque a maioria dos seus professores assinam contratos temporários e sim porque, fundamentalmente, os Estados Unidos tem dinheiro para pagar para que os melhores cientistas do mundo vão trabalhar em suas universidades.

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    16. Começo citando as palavras de Cary Nelson, professor de literatura e de língua inglesa na Universidade de Illinois e presidente da Associação Americana de Professores Universitários, sobre a ternure, a estabilidade e a liberdade academica:

      "O papel tradicional que o corpo docente tem no governo de suas instituições está começando a desaparecer em algumas instituições e, em outras, está sob grande pressão, porque sem estabilidade de emprego os professores ou não têm o direito de ajudar a governar suas instituições ou, se têm, não podem abrir a boca de fato. Basicamente, se você não tem estabilidade de emprego, você não pode criticar a administração"

      Adonai, porque você não acredita que minha real preocupação ainda não foi colocada? O que eu falei é sim a minha real preocupação. E note que na verdade eu não citei “uma” realidade política recente para justificar meu ponto de vista, mas sim três e bem distintas (e poderia citar outras).

      Veja, Adonai, eu não disse que “quem defende o fim da estabilidade para professores de universidades públicas precisa garantir que não haverá perseguições e injustiças”. Eu não disse isso, até porque seria impossível tal garantia seria impossível sem a estabilidade assegurada de antemão, como indicam os exemplos que eu citei.

      O que eu disse foi que os que defendem o fim da estabilidade dos professores universitários, defendendo que seus empregos devem estar condicionados a boas aulas e boa pesquisa científica, precisam (antes de mais nada!) dizer quem definirá o conceito de boa aula e boa pesquisa científica. Isso é fundamental, afinal, professores poderiam ser demitidos por supostamente não ministrar as tais boas aulas e não produzir as tais boas pesquisas científicas.

      Depois de respondida a questão de quem serão os detentores do poder de definir os critérios do que é uma boa aula e do que é uma boa pesquisa científica vocês deverão responder quem julgará a qualidade das aulas e pesquisas científicas desses professores. Espero que concorde que essas são questões extremamente delicadas e complexas, não só do ponto de vista teórico mas também no que diz respeito à sua implementação.

      Com relação a comparações com os Estados Unidos, não acho que isso seja produtivo. As situações econômicas e históricas dos dois países são muito distintas e acho que tirar a estabilidade dos professores universitários brasileiros porque os professores universitários estadunidenses não tem essa estabilidade seria mera cópia e isso é o que não queremos, não é?

      Além disso, não acho que as universidades dos EUA produzem ciência de qualidade porque a maioria dos seus professores assinam contratos temporários e sim porque, fundamentalmente, os Estados Unidos tem dinheiro para pagar para que os melhores cientistas do mundo vão trabalhar em suas universidades.

      Por fim, para reforçar a tese de que a não estabilidade de professores universitários não é condição necessária para a produção de ideias em universidades, cito o caso da França que é um dos países de maior produção científica em universidades e onde os professores universitários gozam de estabilidade de emprego.

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    17. André

      Não podemos comparar nossa realidade com a dos Estados Unidos, mas podemos comparar com a da França, país cuja ciência está em declínio há muito tempo? Bizarro.

      Se minha redação não foi clara o bastante, então faço mera colagem: "os que defendem o fim da estabilidade dos professores universitários, defendendo que seus empregos devem estar condicionados a boas aulas e boa pesquisa científica, precisam (antes de mais nada!) dizer quem definirá o conceito de boa aula e boa pesquisa científica". Minha resposta é novamente a mesma: o processo de justiça social deve ter caráter orgânico, envolvendo a participação direta de diferentes segmentos sociais. O atual sistema joga toda a responsabilidade sobre os ombros do Governo Federal. Nenhuma hierarquia deste tipo pode ser significativamente produtiva. A história sempre mostrou claramente que as melhores estruturas administrativas operam em forma de rede e não por hierarquias. Existem justificativas racionais para o sucesso das redes.

      Seu argumento sobre o sucesso das universidades norte-americanas, sustentado em questões financeiras, definitivamente não procede. Leia, por exemplo, sobre a história de Stanford. A universidade brilhou desde cedo, apesar da viúva de Leland Stanford estar com dívidas enormes logo após a fundação daquela instituição. O Governo dos EUA tentou fechar aquela universidade, mas não conseguiu. Isso porque ela tinha coração, algo que falta neste país.

      Com relação à citação de Cary Nelson, não compreendi a sua ideia. Isso foi uma tentativa de usar algum argumento da autoridade?

      Se suas próximas colocações novamente caminharem em círculos, não poderei mais respondê-las.

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    18. Utilizando seu raciocínio do primeiro parágrafo eu poderia perguntar retoricamente: Podemos comparar nossa realidade com a dos Estados Unidos, mas não podemos comparar com a da França? No entanto, não é essa a questão, meu objetivo não foi comparar a realidade francesa com a brasileira, mas somente dar um exemplo de que a não estabilidade empregatícia de professores universitários não é condição necessária para a alta produção de idéias nas universidades (espero que não precisemos discutir a alta qualidade da produção de idéias nas universidades francesas).

      Eu ainda não vi a resposta para as minhas seguintes perguntas:

      1- Quais seriam os critérios para definir o que são aulas e pesquisa científica de boa qualidade.

      2- Quem definiria tais critérios e quem, na prática diária universitária, avaliaria seu cumprimento?

      Não é que eu esteja caminhando em círculos, mas somente insisto em obter uma resposta a essas duas perguntas. Não vejo sentido em defender a ideia de que professores devem ser demitidos se não derem boas aulas e/ou realizarem boas pesquisas científicas sem que antes se tenha respondido as perguntas acima.

      Quando você afirma de maneira crítica que o atual sistema joga toda a responsabilidade sobre o governo federal, por acaso sugere que a iniciativa privada deveria participar da administração das universidades federais? De qualquer forma, eu não vejo que seja o governo federal quem administra as universidades federais. O que o governo federal faz é, juntamente com o poder legislativo, definir políticas públicas de ensino superior e produção científica. Porém, isso não significa que as universidades federais não possuam autonomia para se auto-administrarem. É claro que essa autonomia não é, e nem deve ser, absoluta e ilimitada, já que as universidades fazem parte da sociedade e não são (e não devem ser) meros entes estranhos a ela com vida independente dela.

      Bom, mas na realidade não sei porque esse tema geral da administração universitária foi posto em debate, o meu questionamento era, até aqui, somente relativo à questão da qualidade das aulas e da pesquisa científica. Nesse sentido, e levando em conta seu comentário, eu pergunto: na sua opinião (e na dos demais leitores que concordam com sua tese), quais deveriam ser os atores sociais, fora da esfera do governo federal e das próprias universidades federais, que deveriam participar da elaboração do conceito de boas aulas e boa pesquisa científica e que fiscalizariam se tais conceitos estariam ou não sendo postos em prática pelos professores universitários, sob pena de demissão dos mesmos? Esses atores poderiam ser empresas privadas? Bancos? ONG’s?

      O objetivo das minhas perguntas é contribuir para a qualificação do discurso nas discussões desse blog. Veja, você defende a idéia de que as universidades federais devem ser administradas por “diferentes segmentos sociais” e a minha pergunta é, essencialmente: quais segmentos sociais?

      Com relação à produção de idéias nas universidades dos Estados Unidos, é inegável a fortíssima influencia do fator econômico nessa produção. Como também é inegável o fato, por mim mencionado, de que eles tem condições econômicas de pagarem altíssimos salários aos melhores cientistas do mundo para que produzam ideias nas universidades estadunidenses. Para apoiar essa tese eu cito um fato concreto: dos 314 laureados que venceram o Premio Nobel trabalhando nos Estados Unidos, 102 (32%) eram estrangeiros. Isso é um número muito, muito alto e somente se refere aos ganhadores do Nobel, mas já é suficiente para indicar claramente a pertinência da minha afirmação.

      Por fim, não vejo como argumento de autoridade mencionar as palavras do presidente da Associação Americana de Professores Universitários, segundo as quais a falta de estabilidade empregatícia dos professores universitários tolhe de maneira gravíssima sua liberdade acadêmica. Da mesma forma que não acho que seja argumento de autoridade que se exponha a opinião de um professor universitário brasileiro sobre o tema.

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    19. (Adonai, talvez apareçam dois textos idênticos, é que a primeira vez que enviei não apareceu a confirmação de que o texto foi enviado. Por isso estou enviando uma seguna vez. Nesse caso, se julgar pertinente, peço que um dos dois textos seja excluído)

      Utilizando seu raciocínio do primeiro parágrafo eu poderia perguntar retoricamente: Podemos comparar nossa realidade com a dos Estados Unidos, mas não podemos comparar com a da França? No entanto, não é essa a questão, meu objetivo não foi comparar a realidade francesa com a brasileira, mas somente dar um exemplo de que a não estabilidade empregatícia de professores universitários não é condição necessária para a alta produção de idéias nas universidades (espero que não precisemos discutir a alta qualidade da produção de idéias nas universidades francesas).

      Eu ainda não vi a resposta para as minhas seguintes perguntas:

      1- Quais seriam os critérios para definir o que são aulas e pesquisa científica de boa qualidade.

      2- Quem definiria tais critérios e quem, na prática diária universitária, avaliaria seu cumprimento?

      Não é que eu esteja caminhando em círculos, mas somente insisto em obter uma resposta a essas duas perguntas. Não vejo sentido em defender a ideia de que professores devem ser demitidos se não derem boas aulas e/ou realizarem boas pesquisas científicas sem que antes se tenha respondido as perguntas acima. Quando você afirma de maneira crítica que o atual sistema joga toda a responsabilidade sobre o governo federal, por acaso sugere que a iniciativa privada deveria participar da administração das universidades federais?

      De qualquer forma, eu não vejo que seja o governo federal quem administra as universidades federais. O que o governo federal faz é, juntamente com o poder legislativo, definir políticas públicas de ensino superior e produção científica. Porém, isso não significa que as universidades federais não possuam autonomia para se auto-administrarem. É claro que essa autonomia não é, e nem deve ser, absoluta e ilimitada, já que as universidades fazem parte da sociedade e não são (e não devem ser) meros entes estranhos a ela com vida independente dela.

      Bom, mas na realidade não sei porque esse tema geral da administração universitária foi posto em debate, o meu questionamento era, até aqui, somente relativo à questão da qualidade das aulas e da pesquisa científica. Nesse sentido, e levando em conta seu comentário, eu pergunto: na sua opinião (e na dos demais leitores que concordam com sua tese), quais deveriam ser os atores sociais, fora da esfera do governo federal e das próprias universidades federais, que deveriam participar da elaboração do conceito de boas aulas e boa pesquisa científica e que fiscalizariam se tais conceitos estariam ou não sendo postos em prática pelos professores universitários, sob pena de demissão dos mesmos? Esses atores poderiam ser empresas privadas? Bancos? ONG’s?

      O objetivo das minhas perguntas é contribuir para a qualificação do discurso nas discussões desse blog. Veja, você defende a idéia de que as universidades federais devem ser administradas por “diferentes segmentos sociais” e a minha pergunta é, essencialmente: quais segmentos sociais?

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    20. Contiunuando:

      Com relação à produção de idéias nas universidades dos Estados Unidos, é inegável a fortíssima influencia do fator econômico nessa produção. Como também é inegável o fato, por mim mencionado, de que eles tem condições econômicas de pagarem altíssimos salários aos melhores cientistas do mundo para que produzam ideias nas universidades estadunidenses. Para apoiar essa tese eu cito um fato concreto: dos 314 laureados que venceram o Premio Nobel trabalhando nos Estados Unidos, 102 (32%) eram estrangeiros. Isso é um número muito, muito alto e somente se refere aos ganhadores do Nobel, mas já é suficiente para indicar claramente a pertinência da minha afirmação.

      Por fim, não vejo como argumento de autoridade mencionar as palavras do presidente da Associação Americana de Professores Universitários, segundo as quais a falta de estabilidade empregatícia dos professores universitários tolhe de maneira gravíssima sua liberdade acadêmica. Da mesma forma que não acho que seja argumento de autoridade que se exponha a opinião de um professor universitário brasileiro sobre o tema.

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    21. André

      Suas questões são obviamente pertinentes, mas demandam uma resposta muito extensa. Proponho o seguinte: a próxima postagem será sobre os temas que você deseja ver discutidos (conforme seus últimos comentários). Naturalmente não creio que o assunto será esgotado, com a próxima postagem. Mas, pelo menos, espero esclarecer alguns pontos importantes.

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    22. André

      Mais uma coisa... devo demorar para escrever a próxima postagem, pois estou trabalhando em uma pequena surpresa para todos. Mas ainda este ano escreverei o material prometido.

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  2. "[...] Alunos têm medo de alunos. Por quê? Porque sempre aparece aquele colega intrometido que questiona seus professores. E este aluno é capaz de irritar suficientemente o professor a ponto de fazê-lo se vingar da turma inteira, realizando provas muito difíceis de serem realizadas com sucesso. [...]"

    Em consequência deste temor de alguns de meus colegas em função de minha postura crítica, indagadora e questionadora para com meus professores, cheguei a sofrer um episódio de agressão física direta de um colega que hoje é bem-sucedido em sua carreira, além de duas agressões psicológicas (uma direta e outra indireta) de um outro colega, cuja carreira não sei o que aconteceu.

    As três agressões ocorreram no DQUI-UFPR e envolveram também meus familiares!!!!!!

    Apesar da minha vontade de ter levado isto adiante, para a reitoria e outros órgãos competentes, encontrei dificuldades em convencer as testemunhas dos fatos ocorridos a testemunhar e também uma enorme resistência de meus pais em levar isto adiante, com medo que eu saísse prejudicado.

    Novamente a covardia dominando as situações!!!!!!

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  3. "[...] Professores têm medo de alunos. Por quê? Porque são justificadamente inseguros quanto à sua competência profissional. [...]"

    Também é verdade. Eu, por exemplo, morro de medo do fracasso e da incompetência!!!!!

    Mas, diferente dos demais, eu simplesmente nem sequer tento lecionar quando a insegurança me domina.

    Uma pena, visto que todos que me conhecem e que convivem comigo falam da minha didática e da minha facilidade para explicar, além de um bom conhecimento técnico.

    Mesmo assim, tenho dificuldades em enxergar e aceitar isso, apesar de ter melhorado um pouco neste quesito.

    Ironicamente, enquanto a maioria peca pelo exagero, eu peco pela falta e pela desconfiança de mim mesmo!!!!!

    Certamente eu seria um que jamais ficaria furioso com o questionamento do aluno, pois tal atitude, além de reprovável para um professor, também é altamente danoso para o aluno.

    Na pior das hipóteses, ficaria assustado em princípio e tentaria me acalmar para responder à indagação do estudante.

    Aliás, o modo como o estudante indaga algo é um aspecto que os alunos poderiam melhorar em termos de comportamento.

    Se a pergunta ou questionamento é feito em tom de voz agressivo, é bem provável que o professor tenha mais chances de se intimidar com o aluno e acabar reagindo mal à pergunta.

    Daí a necessidade dos pais bem educarem seus filhos a terem bons modos.

    Nunca tive um professor sequer em minha vida que tivesse alguma queixa contra mim. Isto porque sempre soube como abordá-los para sanar minhas dúvidas e questionar de forma adequada.

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    1. Leandro

      Concordo sobre o papel fundamental da família. No entanto, há muito tempo venho insistindo na necessidade de acompanhamento psicológico obrigatório em instituições de ensino. Tal acompanhamento deveria ser feito por profissionais experientes e aplicado a alunos, professores e pessoal técnico-administrativo.

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  4. "[...] Professores têm medo de professores. [...]"

    Não sei opinar e/ou argumentar sobre isso.

    O máximo que posso falar é do medo que tive quando comecei a lecionar em uma escola da rede pública de ensino e o professor de Biologia veio brigar comigo, pois eu não estava conseguindo manter o controle e a disciplina dos alunos em sala de aula.

    Fora isso, não sei opinar.

    Ademais, Adonai, gostaria de saber, por gentileza, o motivo de não ter tido outras postagens minhas respondidas recentemente.

    Se, por acaso, meu comportamento e minhas lamúrias estão sendo prejudiciais ou irrelevantes ao contexto do blog, gostaria de saber, por gentileza.

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  5. Adonai, perdoe-me a ignorância, mas,vc tem alguma sugestão sensata?
    Com relação ao que vc diz: "Se não for apresentada uma solução sensata para o dilema REUNI-UFPR versus realidade admito a possibilidade de aprovar todos os alunos matriculados em qualquer disciplina de graduação que eu lecionar..." Sinceramente, pensei (um pouco apenas, mas pensei) sobre o assunto e uma das possibilidades que vejo é o ensino sério dos professores, independente de reprovação de maioria. Ou seja, termos professores realmente competentes (quem ou o que definiria isso? a pesquisa dele? o número de artigos publicados? o fato de ter pós-doc?) e que deem aulas suficientemente competentes para que os alunos realmente compreendam o processo e caminhem com as próprias pernas. Há outra sugestão de sua parte?

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    1. Susan

      Apenas lecionar, sem um processo seletivo que admita reprovações, não é uma boa ideia. Fico pasmado que até agora ninguém tenha dito que professores de universidade pública têm seus empregos garantidos independentemente da qualidade de suas avaliações. Eu sou um exemplo vivo e cristalino disso! Por que ninguém me disse isso até agora? Medo? Falta de reflexão? Indiferença? Qual é o problema deste país?

      Você se diz ignorante por não conseguir pensar em uma solução sensata para o dilema REUNI-UFPR versus realidade. Neste caso, também sou ignorante, se mantivermos as universidades públicas da forma como estão. A única solução que consigo perceber é uma mudança radical nos fundamentos do ensino superior público. REUNI tem que ser jogado em uma lata de lixo.

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    2. Caro Adonai,
      em última instância não é o "mercado", ou algo semelhante, que avalia a qualidade dos profissionais que saem da universidade? A competição "darwiniana" por uma colocação! O que realmente não ocorre com professores de instituições públicas.
      G. Maicá.

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    3. "[...] em última instância não é o "mercado", ou algo semelhante, que avalia a qualidade dos profissionais que saem da universidade? A competição "darwiniana" por uma colocação! [...]"

      Infelizmente, não vejo o "mercado" filtrando corretamente os profissionais de qualquer área que seja.

      Inclusive, já presenciei um coordenador de RH de uma empresa que faz seleção de professores para escolas particulares afirmar categoricamente que a estratégia pedagógica que o professor deve adotar em termos de posicionamento físico em sala de aula e o tom de voz adotado e uso ou não de recursos multimídia é tão ou mais importante para o candidato a professor do que o próprio conhecimento dele em relação à disciplina que irá lecionar!!!!!!

      Se o "mercado" valoriza tanto quanto (ou mais) a postura física dos professores e o uso ou não de recursos multimídia em detrimento do real conhecimento deste profissional sobre a disciplina que irá lecionar, ao meu ver isto é extremamente bizarro!!!!!!

      É como se o "mercado" valorizasse mais as aparências do que o próprio conhecimento, que é o que efetivamente importa!!!!!!

      É como se os enganadores tivessem vez e mais oportunidades do que aqueles que efetivamente sabem mais!!!!!!

      É como se o que importasse fosse o teatro e atuação de quem sabe falar melhor "eu sou foda, eu manjo pacas disso" do que verificar quem realmente, de fato, "entende do riscado"!!!!!!

      E a máxima do "mercado": analisar o critério da experiência profissional apenas por meio de declarações e documentação, ou seja, pelo papel. Parece que ignoram o fato de que, por vezes, o candidato ao emprego tem sim experiência, mas sem uma verificação mais aprofundada, como saber se a experiência do candidato a uma vaga de emprego representa de fato uma experiência em fazer a coisa certa ou uma experiência em fazer cagadas??????

      Uma outra falha de "mercado" em se tratando destas questões de experiência: são raríssimas as possibilidades de bons empregos para quem não tem experiência!!!!!!

      Por que o "mercado" quer que a pessoa "se ferre" bastante para adquirir experiência para depois "ser digna" de uma vaga em um bom emprego??????

      Me parece que este critério é arbitrário e reflete mais uma questão de interesses políticos ou pessoais do que uma realidade baseada em questões estritamente racionais!!!!!!

      Enfim, o "mercado" parece estar repleto de falhas e, por isso, não seria o melhor instrumento de avaliação e seleção de profissionais!!!!!!

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    4. "[...] em última instância não é o "mercado", ou algo semelhante, que avalia a qualidade dos profissionais que saem da universidade? A competição "darwiniana" por uma colocação! [...]"

      Infelizmente, não vejo o "mercado" filtrando corretamente os profissionais de qualquer área que seja.

      Inclusive, já presenciei um coordenador de RH de uma empresa que faz seleção de professores para escolas particulares afirmar categoricamente que a estratégia pedagógica que o professor deve adotar em termos de posicionamento físico em sala de aula e o tom de voz adotado e uso ou não de recursos multimídia é tão ou mais importante para o candidato a professor do que o próprio conhecimento dele em relação à disciplina que irá lecionar!!!!!!

      Se o "mercado" valoriza tanto quanto (ou mais) a postura física dos professores e o uso ou não de recursos multimídia em detrimento do real conhecimento deste profissional sobre a disciplina que irá lecionar, ao meu ver isto é extremamente bizarro!!!!!!

      É como se o "mercado" valorizasse mais as aparências do que o próprio conhecimento, que é o que efetivamente importa!!!!!!

      É como se os enganadores tivessem vez e mais oportunidades do que aqueles que efetivamente sabem mais!!!!!!

      É como se o que importasse fosse o teatro e atuação de quem sabe falar melhor "eu sou foda, eu manjo pacas disso" do que verificar quem realmente, de fato, "entende do riscado"!!!!!!

      E a máxima do "mercado": analisar o critério da experiência profissional apenas por meio de declarações e documentação, ou seja, pelo papel. Parece que ignoram o fato de que, por vezes, o candidato ao emprego tem sim experiência, mas sem uma verificação mais aprofundada, como saber se a experiência do candidato a uma vaga de emprego representa de fato uma experiência em fazer a coisa certa ou uma experiência em fazer cagadas??????

      Uma outra falha de "mercado" em se tratando destas questões de experiência: são raríssimas as possibilidades de bons empregos para quem não tem experiência!!!!!!

      Por que o "mercado" quer que a pessoa "se ferre" bastante para adquirir experiência para depois "ser digna" de uma vaga em um bom emprego??????

      Me parece que este critério é arbitrário e reflete mais uma questão de interesses políticos ou pessoais do que uma realidade baseada em questões estritamente racionais!!!!!!

      Enfim, o "mercado" parece estar repleto de falhas e, por isso, não seria o melhor instrumento de avaliação e seleção de profissionais!!!!!!

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    5. Olá Leandro.

      Uns anos atrás fiz um cursinho no CEAP Recursos Humanos - Gestão de Pessoas para Educação para saber quais as qualificações de "um professor ", segundo a exigência do mercado e, de fato, ficou explícito que importa é aparentar ser uma coisa e não ser necessariamente. O conhecer não está nas prioridades. Deve ser por isso que sempre há vagas em escolas particulares.

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  6. Olá Leandro e Adonai.
    Leandro, vc coloca que: "Uma pena, visto que todos que me conhecem e que convivem comigo falam da minha didática e da minha facilidade para explicar, além de um bom conhecimento técnico." Pois eu posso dizer de meu lado: eu "achava" que tinha boa didática e bom conteúdo técnico. Mas depois de conviver com o Adonai já não sei mais nada de mim. Ou melhor, sei que tenho didática, mas não me garanto mais em meus conhecimentos. Sempre fui questionadora de mim e dos outros e sempre busquei que meus alunos também fossem questionadores. Só sei isso. E acho, sinceramente, isso melhor que ficar "arrotando" que sou sábia, ou melhor que os outros.
    Sobre ter didática, fico pensando até que ponto sou "ouvidos" como disse o Adonai do coordenador que gostam na UFPR, ou seja, se sou "amiga" dos alunos. Ou se sou um pouco como o professor Newton (quando o Adonai disse que ao falar ele empolga a plateia), pois já me disseram algumas vezes que sentem a paixão que sinto pela leitura e pela literatura, quando falo.
    Mas, o mais importante que gostaria de falar aqui é sobre a colocação do professor Adonai, pois é algo que tenho insistido e que pretendo levar mais a sério lá na U.P.: a necessidade de um acompanhamento psicológico para alunos, professores e funcionários. Se existe este atendimento em empresas e alguns colégios (eu mesma trabalhei como psicóloga em uma escola, um hospital e uma empresa), porque não há em instituições superiores, cuja cobrança é grande para todos? Percebo muitos alunos que necessitam desse atendimento e eu mesma gostaria de poder contar com este acompanhamento.

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    1. Susan

      Já que você é psicóloga, poderia contribuir com um texto para o blog? Poderia ser um texto que tratasse, em linhas gerais, do trabalho de acompanhamento psicológico em empresas e, especialmente, instituições de ensino.

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    2. Susan

      Não sou de me gabar e nem de "arrotar" sabedoria maior do que a dos outros.

      Muito pelo contrário.

      Se vc for ler boa parte do que escrevo neste blog verá que não sou nada disso que vc acredita que eu seja!!!!!!

      Mas também preciso ser realista.

      E quando falo sobre ser realista, quero dizer sobre a consciência que tenho ao afirmar algo sobre ter um bom conhecimento técnico.

      Pelo menos em relação a uma grande maioria dos meus colegas de faculdade, insisto que possuo um bom conhecimento técnico, visto que uma grande parcela deles chegou ao Mestrado sem sequer saber resolver problemas elementares de Cálculo Estequiométrico, além de outros tópicos fundamentais para o bom desenvolvimento do profissional de Química, como Equilíbrio Químico, Cinética Química e mesmo noções básicas de Termoquímica.

      Se o indivíduo chega em um curso de mestrado com dificuldades sérias em temas que deveria ter aprendido bem (pelo menos a parte operacional) no Ensino Médio, o que é de fato o caso de Cálculo Estequiométrico, Equilíbrio e Cinética Química e Termoquímica, então algo está profundamente errado e podre com essa pessoa!!!!!!

      Infelizmente, já soube até mesmo de doutores que erraram cálculos básicos de equilíbrio iônico em solução aquosa (assunto de primeiro ano de graduação) e com dificuldades em cálculos de pH (acidez, basicidade de soluções)!!!!!!

      Já vi pós-graduandos em Química afirmarem absurdos do tipo "quando o sinal da função de onda de um elétron num dado orbital muda de negativo para positivo, o elétron deixa de ter carga negativa e passa a ter carga positiva" e outros absurdos como "em um orbital s, o elétron descreve um movimento circular ao redor do núcleo enquanto que em um orbital p, o elétron gira ao redor do núcleo como se fosse um halteres".

      Diante de um quadro desses, e sabendo que eu procuro ter bastante cautela antes de me pronunciar e correr o risco de afirmar tanta bobagem, vc não espera que eu me coloque no mesmo nível dessas pessoas que cometem deslizes dessa natureza, certo?????

      Da mesma forma, imagino que na área de Letras vc tenha colegas que cometem erros grotescos e que "te arrepiam os cabelos". Seria justo vc se considerar no mesmo nível deles?????

      Quanto ao Adonai, certamente que ele é fora de série!!!!!!

      Também me sinto muito pequeno perto do conhecimento que ele demonstra!!!!!

      Mas acredito ser prudente pensarmos também, por outro lado, que somos melhores do que muita gente por aí, pois enquanto nos preocupamos ao menos em melhorar, tem gente que sequer pensa nisso ou, pior, acha que está arrasando e sabendo mais que todos.

      Esta diferença de comportamento já nos torna melhores do que muita gente por aí e, por consequência, com melhores conhecimentos, já que buscamos e aprendemos mais enquanto muitos ficam por aí apenas fazendo o suficiente para ganhar uns trocados e só.

      Além do mais, é importante que nos valorizemos (pelo menos um pouco) e reconheçamos o que temos de bom a oferecer, pois do contrário seremos eternos derrotados.

      Se busco reconhecimento, é prudente que eu reconheça a mim mesmo antes de mais nada!!!!!

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    3. Susan

      Não sou de me gabar e nem de "arrotar" sabedoria maior do que a dos outros.

      Muito pelo contrário.

      Se vc for ler boa parte do que escrevo neste blog verá que não sou nada disso que vc acredita que eu seja!!!!!!

      Mas também preciso ser realista.

      E quando falo sobre ser realista, quero dizer sobre a consciência que tenho ao afirmar algo sobre ter um bom conhecimento técnico.

      Pelo menos em relação a uma grande maioria dos meus colegas de faculdade, insisto que possuo um bom conhecimento técnico, visto que uma grande parcela deles chegou ao Mestrado sem sequer saber resolver problemas elementares de Cálculo Estequiométrico, além de outros tópicos fundamentais para o bom desenvolvimento do profissional de Química, como Equilíbrio Químico, Cinética Química e mesmo noções básicas de Termoquímica.

      Se o indivíduo chega em um curso de mestrado com dificuldades sérias em temas que deveria ter aprendido bem (pelo menos a parte operacional) no Ensino Médio, o que é de fato o caso de Cálculo Estequiométrico, Equilíbrio e Cinética Química e Termoquímica, então algo está profundamente errado e podre com essa pessoa!!!!!!

      Infelizmente, já soube até mesmo de doutores que erraram cálculos básicos de equilíbrio iônico em solução aquosa (assunto de primeiro ano de graduação) e com dificuldades em cálculos de pH (acidez, basicidade de soluções)!!!!!!

      Já vi pós-graduandos em Química afirmarem absurdos do tipo "quando o sinal da função de onda de um elétron num dado orbital muda de negativo para positivo, o elétron deixa de ter carga negativa e passa a ter carga positiva" e outros absurdos como "em um orbital s, o elétron descreve um movimento circular ao redor do núcleo enquanto que em um orbital p, o elétron gira ao redor do núcleo como se fosse um halteres".

      Diante de um quadro desses, e sabendo que eu procuro ter bastante cautela antes de me pronunciar e correr o risco de afirmar tanta bobagem, vc não espera que eu me coloque no mesmo nível dessas pessoas que cometem deslizes dessa natureza, certo?????

      Da mesma forma, imagino que na área de Letras vc tenha colegas que cometem erros grotescos e que "te arrepiam os cabelos". Seria justo vc se considerar no mesmo nível deles?????

      Quanto ao Adonai, certamente que ele é fora de série!!!!!!

      Também me sinto muito pequeno perto do conhecimento que ele demonstra!!!!!

      Mas acredito ser prudente pensarmos também, por outro lado, que somos melhores do que muita gente por aí, pois enquanto nos preocupamos ao menos em melhorar, tem gente que sequer pensa nisso ou, pior, acha que está arrasando e sabendo mais que todos.

      Esta diferença de comportamento já nos torna melhores do que muita gente por aí e, por consequência, com melhores conhecimentos, já que buscamos e aprendemos mais enquanto muitos ficam por aí apenas fazendo o suficiente para ganhar uns trocados e só.

      Além do mais, é importante que nos valorizemos (pelo menos um pouco) e reconheçamos o que temos de bom a oferecer, pois do contrário seremos eternos derrotados.

      Se busco reconhecimento, é prudente que eu reconheça a mim mesmo antes de mais nada!!!!!

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    4. Leandro.
      Calma. Em nenhum momento eu dei a entender que vc se gaba e arrota sabedoria. "Não sou de me gabar e nem de "arrotar" sabedoria maior do que a dos outros. Muito pelo contrário.
      Se vc for ler boa parte do que escrevo neste blog verá que não sou nada disso que vc acredita que eu seja!!!!!!"
      Leandro,eu o acompanho neste blog há muito e SEI que vc não é assim. VOCÊ crê que eu pense dessa forma. Acreditar que vc seja? Eu não acredito em nada, pois sequer o conheço pessoalmente e uma coisa eu aprendi na vida: nem todas as pessoas que demonstram ser algo o são realmente (e, novamente, estou generalizando e não falando de VC especificamente).
      A cada relação que tenho mais comprovo isso... as pessoas apresentam uma faceta diferente para cada pessoa, de acordo com seus interesses. Um lástima. Desculpe se vc entendeu dessa forma, eu estava apenas pegando alguns pontos para falar de MIM. Só isso.

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    5. Adonai: sobre seu convite. Muito me honra, mas não creio que seja o caso. Você me acompanha bem de perto há uns 3 anos e sabe bem que sou "formada" em psicologia, mas não trabalho com isso há muitos anos. Muitos mesmo. Você sabe disso. Assim, o que eu faria se escrevesse algo (e vc sabe o quanto adoro escrever) seria OU um mero exercício de memória da época que atendia OU meros "achismos" (devido ao tempo de afastamento da profissão). Em qualquer um dos casos, não seria interessante para os leitores do seu blog. Memórias? melhor colocá-las na ficção. Achismos? é que mais combatemos aqui: que devemos falar apenas quando tivermos pelo menos embasamento (pelo menos isso aprendi com você - eu que tanto gostava de falar o que achava, me cerceio hoje em dia). Assim, creio que seria melhor você procurar um (a) psicólogo (a) atuante e com discernimento científico como você tanto gosta. Mas obrigada pelo convite. Quando quiser que eu escreva algo sobre plágio, artigos, produção, pesquisa, aulas, didática, pode contar comigo (vc tem meu e-mail). Obrigada a todos. Darei uma sumida daqui por uns tempos. Problemas pessoais.

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  7. Não é óbvio que o comportamento das pessoas na universidade seja de fato "dominado pelo medo", pelo contrário: é plausível que as pessoas (levando em conta também, é claro, receios como os mencionados no texto) ajam motivadas por decisões racionais, pragmáticas.

    Em particular, mesmo havendo a chance de enormes benefícios em maior escala (sociedade, etc.), é racional colocar em risco suas possibilidades de sucesso individual em busca dessa chance ínfima?
    Não difere muito de jogar na loteria -- correr esse risco, sim, é que é agir motivado pela emoção.
    Claro que há exemplos de indivíduos que causaram profundas mudanças, mas muitos outros mais, já esquecidos, tentaram, fracassaram e pagaram um alto preço. Aqueles que correm o risco são heroicos - e é maniqueísta chamar de covarde todo aquele que não é heroico.

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    1. Salve, Stafusa

      Você afirma: "é maniqueísta chamar de covarde todo aquele que não é heroico". Qual é exatamente a relação entre esta afirmação e o conteúdo da postagem?

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    2. Caro Adonai,
      tento estabelecer a conexão no primeiro parágrafo do comentário. Um exemplo bastante simples: se um aluno deixa de queixar-se oficialmente (digamos, de um orientador de postura inadequada) por concluir que as chances disso resultar numa mudança são muito menores que, e.g., as de uma retaliação, então ele pode não estar heroicamente tentando fazer sua parte, mas ele também não está sendo covarde, está apenas agindo de maneira racional.
      Veja que introduzi meu comentário com um "não é óbvio que", e realmente é o que quis dizer. Não estou sugerindo que essa (decisão racional) é necessariamente a descrição adequada em cada caso. Mas é uma possível.

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    3. Stafusa

      Entendo. Seu comentário mostra que a questão 'coragem versus covardia' é extremamente delicada.

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