sábado, 6 de setembro de 2014

Colaborador do blog Matemática e Sociedade publica coleção de livros


Trinta postagens deste blog foram escritas por colaboradores, até o presente momento. Outras estão a caminho. Mas o primeiro a colaborar de próprio punho para o desenvolvimento deste fórum foi meu ex-aluno e atual professor e consultor Marlon Soares.

Pois bem. Semanas atrás reencontrei Marlon no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná. Além de uma produtiva troca de ideias com ele, fui presenteado com três livros. São os volumes 1, 2 e 3 da obra Física, publicada em 2013 pela Editora Positivo, distribuída pelo Programa Nacional do Livro Didático do Ministério da Educação (com tiragem inicial de duzentas mil cópias) e de autoria de Alysson Ramos Artuso e Marlon Soares (o qual assina como Marlon Wrublewski). 

Passei as últimas semanas lendo cuidadosamente conteúdos dos três volumes. E, em função disso, decidi publicar neste blog a primeira postagem inteiramente dedicada à resenha de uma só coleção de livros.

Minha leitura dos três volumes começou com pontos críticos. Eu queria saber o que os autores tinham a dizer para o púbico-alvo de ensino médio sobre conceitos fundamentais e filosoficamente polêmicos como os de energia, massa, força e campo, entre outros. E foi então que percebi algo quase inédito na literatura didática brasileira. Os autores simplesmente se recusaram a copiar conteúdos de outros livros e apostilas de ensino médio. Eles genuinamente transpuseram conteúdos avançados de física para uma linguagem acessível, estimulante e adequadamente rigorosa ao jovem interessado. 

O jovem que dedicar tempo e atenção à obra de Artuso e Wrublewski estará mergulhando em uma riquíssima contextualização dos estudos de física teórica dos pontos de vista histórico, filosófico, social, experimental, matemático e até mesmo pessoal. 

Para discutir, por exemplo, sobre a noção de campo elétrico, os autores traçam um elegante paralelo entre o conceito newtoniano de ação a distância e a influência de convicções religiosas de Michael Faraday sobre estudos seminais de eletrostática. Para introduzir a delicada noção de energia, os autores iniciam com uma inspirada analogia originalmente concebida por Richard Feynman. Para instigar o senso crítico do leitor, os autores reproduzem um texto de divulgação científica de Scientific American Brasil que relata a possível identificação de polos magnéticos isolados. Para incentivar retornos sociais simples (mas marcantes) de conhecimento científico e tecnológico, os autores discutem de forma cuidadosa e estimulante sobre a lâmpada de Moser, uma invenção brasileira que tem beneficiado favelas do Brasil, Índia, África do Sul, Vietnã, Nepal, México, Colômbia e até mesmo da Ilha Vanuatu, no Pacífico. Para contextualizar ciência com outras atividades humanas, os autores discutem como se aplicam conceitos de mecânica clássica na dança e nos esportes. Para estimular o alcance do conhecimento físico os autores analisam desde o exemplo da invenção brasileira do escorredor de arroz até a formação de crateras lunares. Para exemplificar o alcance da matemática os autores convidam o leitor a calcular sua potência ao subir um lance de escadas, bem como uma estimativa do rejuvenescimento de Rubens Barrichelo nas 326 provas automobilísticas de Fórmula 1 que disputou, se for levada em conta a contração de tempo de acordo com a teoria da relatividade restrita de Einstein.

Como não poderia deixar de ser o caso, naturalmente os três volumes não esgotam os temas abordados, ainda que se leve em conta apenas os propósitos formativos e educacionais do ensino médio. Afinal, críticos desta área do conhecimento como Ernst Mach, Pierre Duhem, Albert Einstein, Richard Feynman, Immanuel Kant, Ludwig Wittgenstein e Anton Zeilinger, entre outros, dedicaram vidas profissionais inteiras ao esclarecimento conceitual da física teórica e experimental. No entanto, como ferramenta de formação básica e de fomento à análise crítica, essa coleção é muito bem sucedida. Resta apenas saber se os professores de física de nosso país estão preparados para esses livros. Se o docente se limitar à simples leitura da obra em tela, sem pelo menos buscar contato com as inúmeras referências citadas no próprio texto, não vejo como fazer justiça à proposta de Artuso e Wrublewski, que são não apenas educadores do mais alto gabarito, mas também indivíduos engajados em diversas outras atividades sociais (esportivas e artísticas), sem jamais perderem de vista suas responsabilidades como autores, pesquisadores, divulgadores científicos e professores.

6 comentários:

  1. Se esta coleção for boa desta forma, será um cântaro de água em meio ao deserto de ignorância que permeia nosso país. Tomara que sirva de estímulo para outros escreverem obras de qualidade, principalmente em matemática.

    Será que tem a versão nova para venda à reles "não professores da rede" como eu?

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  2. Encontrei uma versão de 2013 em um sebo virtual. São muitas as mudanças desta versão para a de 2015?

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    1. Hugo, peço desculpas pela demora para dar um retorno. Passei muitos dias sem internet. Pedirei aos autores para responderem à sua pergunta.

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    2. Oi, Hugo. Essa é a primeira versão desse livro minha e do Marlon. Até tenho uma coleção didática mais antigas, mas que está muito distante dessa nova obra. Se puder, envie-me um email em aartuso@positivo.com.br com seu endereço que tentarei uma coleção cortesia da editora para você.

      Abraços,
      Alysson

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  3. Oi professor Adonai.
    Acabo de descobrir seu blog, e estou fascinado! Os temas são interessantes e o senhor escreve muito bem.
    Na verdade, eu sou um estranho no ninho aqui. Eu estudo Comunicação Social na UFS, e desde o fim do Ensino Médio que eu não me reencontrava com a Matemática. Mas eu me interessei pela pesquisa, e decidi seguir carreira acadêmica.
    Estou fazendo meu TCC sobre o mercado de música gospel no Brasil, sob o viés da Economia Política da Comunicação, focando no impacto das Tecnologias da Comunicação e Informação sobre a indústria cultural.
    Resolvi voltar à matemática porque levantamentos estatísticos ainda são o melhor método para estudos de audiência e características subjetivas dos consumidores de bens simbólicos.
    Espero que um simples jornalista reaprendendo a contar não incomode muito aqui no blog...

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    1. Oi, Edson

      Seja muito bem-vindo por aqui. O público que acessa este blog é bastante diversificado, levando em conta que traçamos paralelos entre matemática e diversas áreas do saber. Seu TCC me parece abordar um tema realmente interessante. Se puder, eu gostaria de receber uma cópia, quando estiver pronto. Enquanto isso sugiro a leitura de uma postagem daqui especificamente sobre música, conforme segue abaixo.

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2013/01/quando-sera-o-fim-da-musica.html

      Abraço

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