sábado, 30 de maio de 2015

A aula que o Brasil perdeu


A Segunda Guerra Mundial, encerrada 70 anos atrás, transformou profundamente a civilização ocidental, mas não o Brasil. Diante do mais importante evento do século 20, nosso país estava simplesmente deitado em berço esplêndido, tirando uma soneca. Foi esta guerra que separou os homens das crianças.

A Segunda Guerra Mundial foi a Guerra da Ciência e não do campo de batalha. A Alemanha nazista de Adolf Hitler foi extraordinariamente eficiente na elaboração de uma política de pesquisa e desenvolvimento que viabilizou uma sólida parceria entre cientistas, tecnólogos e engenheiros, bem como empresas privadas, para atender a interesses militares governamentais. E as forças aliadas, especialmente Inglaterra e Estados Unidos, entenderam isso muito bem. 

Cito uns poucos exemplos. 

1) A máquina eletrônica concebida por Alan Turing para quebrar os códigos nazistas gerados por outra máquina (Enigma) teve papel crucial em campanhas britânicas contra alemães no Atlântico. Foi uma obra de engenharia concebida por um dos mais brilhantes matemáticos da história e que salvou a vida de milhões de soldados e civis. 

2) A maior parte das mortes de soldados durante a Primeira Guerra Mundial foi causada por perda de sangue resultante de ferimentos. Em função disso e do novo conflito que iniciou em 1939, Edwin Cohn, bioquímico de Harvard, isolou albumina do plasma sanguíneo. Albumina é uma proteína que pode ser armazenada por longos períodos de tempo e facilmente transportada. Essa descoberta salvou a vida de milhões de soldados. 

3) Um dos problemas de logística em qualquer guerra é a distribuição de comida. Samuel Hinkle, químico da Hershey Company, desenvolveu uma barra de chocolate altamente calórica e nutritiva, mas com sabor intencionalmente ruim, para manter soldados americanos permanentemente alimentados em campo de batalha. George Stigler também colaborou neste sentido, resolvendo um problema de otimização hoje conhecido como dieta de Stigler. Foi um trabalho pioneiro de programação linear. 

4) Aparelhos eletrônicos capazes de produzir pulsos de ondas de rádio, em uma direção especificada pela posição de uma antena, são capazes de detectar certos objetos metálicos a grandes distâncias e com muita precisão. Esses aparelhos foram desenvolvidos como projetos secretos em diversos países, durante os anos 1930, incluindo Alemanha, União Soviética, Japão, França, Itália, Inglaterra, Holanda e Estados Unidos. Os norte-americanos batizaram o invento com o nome de RADAR. Era uma tecnologia que permitia inibir ataques-surpresa vindos de terra, ar e mar.

5) A bomba atômica é, sem dúvida, o exemplo mais impactante de parceria entre ciência, tecnologia e militarismo durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar da Alemanha nazista ter investido em seu próprio projeto da bomba, foi uma equipe norte-americana, chefiada pelo físico Robert Oppenheimer, que conseguiu concluir com sucesso essa empreitada. Resultado: genocídio instantâneo de cerca de oitenta mil cidadãos japoneses e coreanos, se levarmos em conta apenas a cidade de Hiroshima. Outros cinquenta mil morreram posteriormente por conta de contaminação radioativa. 

Os aviões a jato Messerschmitt Me 262 foram uma das últimas super-armas da Alemanha nazista, apesar do projeto já existir antes mesmo do começo da Segunda Guerra. Essas aeronaves revolucionaram não apenas a tecnologia militar, mas também a aviação civil. E os mísseis balísticos V2, outra tecnologia de ponta alemã, aterrorizaram e mataram milhares de britânicos e belgas. Estima-se que três mil foguetes V2 foram lançados contra inimigos da Alemanha nazista. 

Com o fim da Guerra, o engenheiro responsável pela tecnologia V2, Wernher von Braun, passou a comandar o programa espacial norte-americano, o que resultou na primeira missão tripulada para a Lua. Os soviéticos também copiaram tecnologia desenvolvida por von Braun e sua equipe. Ou seja, foi a tecnologia alemã que iniciou a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, durante a Guerra Fria. 

A participação do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial foi periférica e fortemente influenciada pelos Estados Unidos. Por um lado, os norte-americanos estavam interessados no apoio brasileiro para fornecimento de aço e borracha para os aliados. Por outro, o Brasil demorou muito para enviar tropas para o campo de batalha. Mas, de qualquer forma, a colaboração brasileira não se deu em termos científicos ou tecnológicos. Daí o uso do termo "periférica". 

Cito o triste caso dos soldados da borracha. Milhares de nordestinos migraram para a floresta amazônica, movidos por promessas de riqueza em função de uma parceria entre Brasil e Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial. Enquanto Alan Turing era um soldado que lutava em um laboratório para decifrar os códigos da máquina alemã Enigma, os soldados da borracha trabalhavam em regime semelhante à escravidão e enfrentando doenças tropicais. Ao término da Guerra, eles foram simplesmente esquecidos por nossas autoridades. O governo dos Estados Unidos chegou a enviar dinheiro, como forma de compensação. No entanto, esses recursos foram desviados aqui mesmo, provavelmente para a construção de Brasília, outra empreitada que custou a vida de muitos. Uma análise histórica multifacetada dos soldados da borracha pode ser encontrada no livro In Search of the Amazon, de Seth Garfield. 

Em função dos abusos monstruosos da Guerra da Ciência, foi feita a Declaração dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Isso mudou alguma coisa? Bem. Ainda não ocorreu a Terceira Guerra Mundial. Mas neste link o leitor pode encontrar um levantamento dos cem conflitos militares mais sangrentos desde o fim da Segunda Guerra. Ao todo o mundo já testemunhou 250 conflitos militares nos últimos 70 anos, resultando em 30 milhões de mortes (quantia apenas estimada). E o país que mais marcou presença nestes conflitos foi justamente os Estados Unidos, a nação que hoje lidera a produção de conhecimento científico e tecnológico. 

Brasil é um país que não tem tradição científica, tecnológica ou bélica. E o fato é que ciência e tecnologia, ainda que não tenham finalidades militares, são instrumentos de poder. É um poder que nosso país tem sistematicamente ignorado. E é um poder que, honestamente, faz falta para nós. 

Quando a tcheca Johanna Döbereiner identificou uma bactéria que fixa o nitrogênio ao solo, ela mudou a economia de nosso país. Hoje o Brasil é o maior produtor mundial de soja, graças ao resultado de um único projeto científico. Döbereiner foi também a principal responsável pelo programa Proalcool, referência mundial de tecnologia em combustíveis. No entanto, quem lembra desta que é a cientista mulher mais citada em nosso país? 

Brasil é um país que conta com mentes brilhantes que certamente podem fazer a diferença. Mas a cultura de nosso povo, espelhada em nossos governantes, simplesmente não enxerga isso. 

Quando perguntaram a Hitler como ele ocuparia o Brasil, reza a lenda que ele teria respondido laconicamente: "Eu tomo com um telefonema". Hoje não existe mais a ameaça nazista. Brasil não tem inimigos. Mas também não tem feito muitos amigos. É ainda uma nação-criança, cujos jovens percebem educação apenas como forma de obter contra-cheques menos magros, cujas escolas mantêm professores mal qualificados, e cuja sociedade ignora completamente o poder transformador do conhecimento.

Como sair disso? Continuarmos deitados em nosso berço esplêndido certamente não ajuda. Então, que tal começarmos a estudar ciências? Seria um ótimo ponto de partida. 

O Brasil pode não ter percebido ainda, mas o mundo lá fora está em guerra. Há guerras no sentido convencional, mas há também uma guerra econômica, uma guerra científica e uma guerra tecnológica. Já perdemos a aula da Segunda Guerra Mundial. Vamos perder agora o restante deste interminável e belicoso período letivo? O que é necessário para o brasileiro acordar? Um tapa na cara?

42 comentários:

  1. Faltou citar a Internet e sua origem.

    Posso ser muito radical, mas acho que para o Brasil ser o tão sonhado país do presente faz-se necessária uma guerra sangrenta aqui, civil ou entre outro(s) país(es). Só assim, na minha míope visão, as coisas andarão por estas bandas.

    Estava vendo agora: em termos de Nobel científico per capita, o Brasil (que oficialmente não tem nenhum) perde para os seguintes países: Polônia (5), África do Sul (4), Argentina (3), Portugal (1), Venezuela (1), Ucrânia (1), Egito (1), México (1), Paquistão (1) etc.

    http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_Nobel_laureates_per_capita

    Eis nosso país como o maior desperdiçador de talentos científicos do mundo!

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    1. Eduardo

      É horrível admitir, mas concordo com a sua visão. Uma guerra realmente violenta poderia colocar nosso país nos trilhos.

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    2. Adonai e Eduardo

      Discordo frontalmente com essa ideia, ao contrario mesmo tendo todo esse desenvolvimento devido a segunda guerra temos muitas consequências nefastas sobre o desenvolvimento dos países onde ocorreu de fato a guerra. Por exemplo, países como a Ucrânia onde qualquer desenvolvimento científico ou cultural foi retardado e ficou atrelado ao do pais dominante. Novamente tendo a chance de se desenvolver após a independência, inclusive com diversos congressos e incentivos aos cientistas e as universidades que ocorreram, nos últimos anos foi novamente prejudicada devido a guerra. Então devemos tomar muito cuidado com determinadas afirmações. Qual teria sido efetivamente o desenvolvimento científico da Alemanha se não tivesse ocorrido a segunda guerra? E como seria diferente o desenvolvimento, principalmente do ser humano? Acho que existe uma ilusão muito grande de que de fato no exterior não exista uma deterioração da humanidade como um todo. Aliás essa é uma característica do ser humano, como bem chama a atenção o Otto Maria Carpeaux em seu artigo: “A Idéia de Universidade e as idéias das classes médias.”

      O que precisamos é continuar esse movimento que está se iniciando que é uma REVOLUÇÃO CULTURAL E CIENTÍFICA, apoiada nas novas tecnologias e com uma grande possibilidades de comunicação. Hodiernamente temos meios de conhecer, divulgar e combater ideias e atitudes de seres ignóbeis de maneira muito rápida. Assim com o interagir e trocar ideias científicas com todo o planeta. E de repente a gente acaba tendo contato com um aluno da África do Sul, o qual se interessa pelo livro de Fundamentos do Newton da Costa, entre outros…
      Você pode divulgar conhecimento, orientar e mandar textos e livros.

      E aí surge uma esperança de mudarmos pelo menos um pouco a humanidade!

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. E aí surge uma esperança de mudarmos pelo menos um pouco a humanidade!

      O que precisamos combater é exatamente o que tão bem descreve o Otto Maria Carpeaux em seu artigo acima citado, (que aliás conheci pelo teu post anterior):

      “…Resultado: um espírito artificialmente preservado no estado pueril com uma formação profissional superposta. Conheço bem as numerosas exceções que felizmente existem. Mas, em geral, estas massas graduadas se distinguem dos iletrados somente por uma autoridade profissional que as torna menos úteis que perigosas. Ainda uma vez cito Ortega y Gasset: La peculiarísima brutalidad y la agresiva estupidez con que se comporta un hombre, cuando sabe mucho de una cosa y ignora de raiz todas las demás. (O. c., p. 1291). Eles, porém, os iletrados, têm sempre razão, porque são muitos e ocupam um lugar de elite, esse "proletariado intelectual", sem dinheiro ou com ele, isso não importa. Julgam tudo, e tudo deles depende. Lêem os livros e decidem sobre os sucessos de livraria, criticam os quadros e as exposições, aplaudem e vaiam no teatro e nos concertos, dirigem as correntes das idéias políticas, e tudo isto com a autoridade que o grau acadêmico lhes confere. Em suma, desempenham o papel de elite. São os nouveaux maîtres, os señoritos arrogantes, graduados e violentos; e nós sofremos as conseqüências, amargamente, cruelmente…”

      O BBB (Big Bosta Brasil), não é uma criação brasileira, é do primeiro mundo aparentemente tão civilizado!

      A humanidade está podre!

      Precisamos sim de uma guerra cultural e científica universal!

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    5. Mariia Espindola, sua visão me parece um tanto ingênua (e lembro que falei o mesmo para o prof. Adonai em outra postagem). Elites intelectuais – e não econômicas – são necessárias para qualquer nação. Mas no Brasil, grosso modo, não há o que se chama de elite intelectual (o que seria na verdade altamente desejável); as cabeças pensantes no Brasil estão perdidas, pois estão sufocadas; não há um “norte”.

      Outra coisa é o que v. define como “guerra cultural e científica”. É preciso ver que cada país tem sua peculiaridade – e mesmo dentro de um país há várias. No caso do Brasil, visualizo uma “revolução cultural” aos moldes do que aconteceu na China; mas é claro, esta pode ser uma previsão errada.

      There's no free lunch. Para as coisas andarem aqui, na minha visão, é preciso mais: vontade a maioria dos brasileiros não tem (e isso inclui todas as classes econômicas). Se não há vontade, junto com empenho, nada mudará. É triste e cruel, mas o ser humano em geral precisa de medo da ameaça para agir. Somos (ainda) primatas territorialistas – basta ver o conceito de país, com suas fronteiras, e de religião, com seus dogmas excludentes.

      Quebrar ovos para o omelete? Não sei; mas a primeira coisa que precisamos é de vontade e empenho. Como teremos essas características, aí é que está a questão.

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    6. A guerra civil que o Brasil precisa passar é cultural. Vivemos em um regime cultural da pior espécie, que já foi várias vezes retratado neste Blog, embora apenas nas suas consequências.
      Antes de falarem em uma disputa fratricida, quantos picaretas vocês já expuseram nas suas associações de bairro, conselhos de classe, departamentos de pesquisa e vida profissional? Infelizmente ter retidão pra si e não exigir um padrão mínimos dos demais é omissão inadmissível para quem lamenta o atual estado de coisas.
      Quando a sociedade cultivar certos padrões básicos e universais que vemos nos grandes países, naturalmente a liderança será composta de pessoas assim.

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  2. Talvez um pontapé bem no meio do traseiro...

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  3. Bem, do ponto de vista histórico, estamos em marcha-lenta já faz algum tempo. Não consigo precisar o periodo que marca nossa letargia. Será o nosso próprio descobrimento? Enfim, a tecnologia e quem a domina fez toda a diferença desde a segunda Guerra mundial até o dias atuais e futuros certamente. O que sera preciso para o Brasil acordar para este fato? Não sei a resposta, mas uma bola de futebol e um certo campeonato já parou este país. E me recordo bem que o placar de 7x0 fez muita gente se perguntar o que está acontecendo conosco.... Mas aí chegou o dia seguinte e o povo retomou seu estado letárgico....deitado em berço quase esplêndido.....quase.......

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  4. Adonai adorei o "umbiraco" negro!
    No texto de maneira sucinta e precisa fazes um relato muito interessante do desenvolvimento científico e tecnológico. De fato, no Brasil temos muitas mentes brilhantes, mas que não tem o incentivo e o reconhecimento merecido, inclusive pelos seus próprios pares. Poucos fazem o que estás a executar!

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  5. Embora os exemplos citados no texto sejam suficientes, é importante não esquecermos dos experimentos médicos realizados por cientistas japoneses na Unidade 731.
    Encarar desenvolvimento científico e tecnológico como questão de sobrevivência talvez seja uma saída, mas isso não resultaria num desenvolvimento eminentemente prático, levando a um desinteresse pela Ciência mais teórica, ou "pura"?

    Sebastião

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    1. Sebastião

      Qualquer interesse por ciência em nosso país já seria bem-vindo.

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  6. Querem guerra aqui ? aquela de bombas e tal ? não se preocupem, seremos MOTIVO de guerra daqui a algum tempo, vcs terão o que querem, boa sorte. MAS, por favor, NÃO FUJAM tá ?? marynha dantas

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  7. Será que é necessário guerra e revolução? Parece um paradigma: para acontecer algo relevante necessitamos de guerra e similares. Porque guerra? Temos pressa? Como ocorre uma mudança de mentalidade? É isso que precisamos focar. Uma vez dado este passo, o resto ocorre!

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  8. Creio que já estamos numa guerra (sem uma clara distincão do lado A ou B), porém ninguém a quer assumir.
    Brasil é um pais extramente violento, seja no transito ou nas periferias.
    E tal qual foi colocado (ao meu ver), temos essa apatia a tudo o que se passa.
    Alias, se odeia muito também, vc não pode ser diferente que vc passa a ser um ponto de atencão (em geral do tipo ruim).
    Acho que talvez uma guerra "real" fosse um ponto de transformacão, mas acho mais provavel que iamos virar apenas mais uma republica quebrada no mundo. Mas desta vez sem recursos!

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  9. O radar poderia ter sido inventado bem antes do que foi. Um artigo interessante sobre isso: http://www.skepticalinvestigations.org/Observeskeptics/bats.html

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  10. Caro professor

    Talvez seja uma questão de pura incompetência mesmo. A Suíça por exemplo não se envolve com guerras desde o século XIX, mesmo estando em uma posição geograficamente complicada.
    O que realmente me assombra é o fato de que os avanços ocorridos durante o período da guerra não compensam uma mínima fração de seu ônus. Essa é uma visão pessoal é claro, mas o fato de o Brasil estar relativamente tão distante das zonas de atrito desse período, deveria ter sido "traduzido" como uma vantagem enorme e quem sabe um grande impulsionador para possíveis avanços científicos e tecnológicos.

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    1. Bem, Lucas. O Brasil não estava tão longe assim das zonas de atrito. Vários navios brasileiros foram torpedeados por forças italianas e alemãs. Morreram mais de mil pessoas, em função desses ataques realizados entre 1941 e 1944. Ainda assim sua visão é interessante.

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  11. https://www.youtube.com/watch?v=g4ip6PtYTzI

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  12. Bem, ao conversar hoje com uma doutoranda de linguística da UFSCar, cujo tema de sua tese versa sobre leitura, fiquei estarrecido com a postura advinda de uma pessoa tão nova mas que reflete uma visão de departamento (e/ou de sua orientadora) completamente distorcida da realidade. Ao mencionar sobre minha area (Física) e sobre a postura de publicarmos nossa pesquisa no exterior, fui chamado de colonizado. Sim, segundo ela, tenho um comportamento típico de colonizado por me preocupar em publicar a minha pesquisa no exterior e me preocupar em ter um parecer dos meus pares lá fora. Bem, vocês podem me perguntar o que a minha indignação tem a ver com o texto sobre guerras e as batalhas perdidas por nós. Esse problema que acabei de narrar não se encaixa no padrão de Guerra silenciosa das áreas acadêmicas e posturas de pós-graduações já perdida por nós? Gostaria que os leitores comentassem o fato e meu ponto de vista..... Grato.

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    1. Marcelo

      Não posso responder pelos demais leitores deste blog, mas fiquei estarrecido com o seu breve depoimento. Ainda mais levando em conta que se trata de uma doutoranda em linguística, área que obrigatoriamente demanda publicações em veículos de circulação internacional. Você acha mesmo que a mentalidade dela é compartilhada por professores da UFSCar? Há evidências disso?

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    2. Adonai

      há outros departamentos (geralmente de exatas e biológicas) que não partilham dessa idéia. Por tartar-se de um departamento de humanas (letras), para responder sua perguntar teria que fazer uma busca cruzada, via lattes (em princípio), dos professores da area que estão inscritos no programa de pós-graduação e onde eles estão publicando seus artigos. Mas na conversa que tive com a doutoranda, ela sempre falava do grupo dela, etc.... Enfim, fico te devendo uma resposta mais detalhada.... Mas espero ser um problema localizado. Alias, torço por isso......

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    3. Grato pela resposta, Marcelo. Tentarei investigar isso.

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    4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Mais uma lição que Pindorama precisa aprender:

    http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/06/por-que-os-milionarios-brasileiros-nao-doam-suas-fortunas-universidades.html

    Raul

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    1. Excelente recomendação, Raul. Acabo de divulgar na página Facebook deste blog. Grato.

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  14. Adonai


    Esta é mais uma postagem preciosa.

    Gostaria de acrescentar algumas informações interessantes.

    Nossa professora de bioquímica também mencionou este feito de Edwin Cohn na graduação. E, em química orgânica, um pesquisador muito comentado por nossos professores deste período envolvendo a 2ª Guerra foi o químico Percy L. Julian.

    Existem boatos que Percy Julian só não foi indicado ao Nobel por ter sido negro, principalmente numa época em que o racismo era fortemente manifestado, principalmente nos Estados Unidos.

    Este importante químico das décadas de 40, 50 e 60 foi responsável, pelo que ouvi de meus professores, por participar de um processo de desenvolvimento e purificação de um tipo de proteína de soja que, quando hidrolisado, gerava uma espuma altamente eficaz para apagar grandes incêndios que ocorriam nos campos de batalha, contribuindo para salvar vidas de muitos soldados aliados.

    Se não me engano, ele propriamente não teria desenvolvido a espuma, mas sim teria contribuído para descobrir um método que tornou a hidrólise da proteína mais eficaz, ajudando a produzir uma espuma de qualidade mais elevada.

    Além disso, a "corrida científica" da década de 40 teria ajudado a criar o cenário para que Julian se tornasse o primeiro químico a conseguir sintetizar estrogênio, progesterona e testosterona em laboratório, sem precisar extrair de organismos vivos.

    A isso seguiu-se uma sequência de descobertas e sínteses de novas substâncias orgânicas e medicamentos quando Julian fundou seu próprio laboratório, de modo que, segundo meus professores diziam, Percy foi o responsável por patentear dezenas de novas substâncias, muitas das quais foram de interesse médico-farmacêutico como a famosa cortisona......

    Não é à toa que Percy Julian é tão comentado por alguns professores da graduação, especialmente em aulas de química orgânica. Bom, pelo menos na época em que fui aluno.......

    Um lado triste da 2ª Guerra foi o desenvolvimento de novas rotas sintéticas para a produção de cianeto de hidrogênio (HCN), um gás usado nas câmaras de gás, partindo por exemplo de substâncias até então usadas em tinturaria, como no caso de ferricianetos como o Azul da Prússia.

    Felizmente, com o advento das usinas nucleares, o mesmo Azul da Prússia usado para produzir gases letais na 2ª Guerra, passou a ser usado com finalidades nobres. Foi descoberto, por exemplo, que o Azul da Prússia em sua forma nativa pode atuar como um tipo de "peneira iônico/molecular", servindo de armadilha para cátions maiores, a exemplo do césio.

    Isto permitiu o desenvolvimento de um medicamento atualmente denominado "Radiogardase", atualmente usado por trabalhadores em usinas nucleares para o caso de contaminação radioativa.

    O "Radiogardase" atua com o Azul da Prússia aprisionando os íons de material radioativo em sua rede cristalina, não participando do metabolismo corporal do indivíduo. Por fim, o resíduo do medicamento contendo os cátions radioativos aprisionados são expelidos principalmente pelas fezes, eliminando ou reduzindo o foco de intoxicação radioativa do corpo da pessoa.

    Se não me engano, algo parecido com "Radiogardase" teria sido usado naquele acidente radioativo de Goiânia, com resultados satisfatórios.

    Sendo assim, não fosse a 2ª Guerra e as usinas nucleares, talvez até hoje substâncias como o Azul da Prússia estariam sendo usadas meramente para fins de tinturaria, como vinha ocorrendo desde o século XVIII, quando foi descoberta.......

    Achei pertinente acrescentar estas informações para complementar as curiosíssimas e importantes menções da postagem.

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    1. Leandro

      De fato, são informações realmente relevantes. Grato.

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  15. Há mais de vinte anos Mário Schenberg alertava para a necessidade de um plano científico sério no Brasil: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141991000200008

    É triste ver que nada mudou de lá pra cá.

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    1. O texto do Mário continua tão atual quanto antes e, quiçá, ainda mais necessário nos dias que correm. Curioso que ele era um dos raros cientistas brasileiros a se engajar com afinco no debate público. Pergunta: por que o meio científico brasileiro é tão inerte no tocante às discussões políticas no Brasil? (refiro-me aqui a postura de parte dos pesquisadores/docentes, que não se articulam a favor de uma mudança nos rumos da ciência produzida no Brasil). Diz-se que o brasileiro não se interessa por ciência. Também concordo, mas... o que é feito para que se desperte esse interesse? Falta ação e sobra lamúria. Penso ser possível a mudança, mas temos que nos organizar e propor algo para que o nosso futuro desenvolvimento como nação deixe de ser uma promessa para, enfim, se tornar uma realidade.

      P.S: Aliás, quantas crianças e adolescentes brasileiros sabem quem foi Mário Schenberg? Por que não se fala dos cientistas brasileiros nas escolas? (exceção honrosa a este blog)

      Utopia real

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    2. Utopia real

      Um exemplo marcante da cultura brasileira:

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2012/01/motivando-criancas-estudar.html

      Um exemplo marcante de uma iniciativa que está funcionando em nosso país:

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2014/04/o-verdadeiro-milagre-brasileiro-na.html

      Oportunamente divulgarei aqui outra iniciativa importante.

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  16. Existe um professor da UFSC, Nildo Ouriques, que se tornou conhecido pelas críticas que vem fazendo à universidade brasileira, ele já escreveu até um livro (em colaboração) sobre o tema. Tomei conhecimento do texto do Mário assistindo à uma palestra dele disponível no youtube*, que, apesar de discordar de algumas visões suas (como um nacionalismo um tanto exagerado, e uma ignorância com relação a determinados temas), os dados apresentados são muito relevantes (e alarmantes).

    *https://www.youtube.com/watch?v=QJziflgyHdk

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    1. Lucimário

      A palestra de Nildo Ouriques é muito desanimadora. Infelizmente só consegui acompanhar os primeiros 16 minutos. Você poderia dizer quais dados que despertaram a sua atenção? Peço desculpas pela minha intolerância para o ver o restante do vídeo.

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    2. Lucimário, eu já havia visto outra palestra do Nildo Ouriques, aqui: https://www.youtube.com/watch?v=qIAbNxrN8Fs
      Esse vídeo eu achei porque alunos de onde leciono o citaram para atacar/ofender os professores.
      Sinceramente, acho que ele é um desqualificado. Sua linguagem é de boteco de esquina. Existe gente da qual você discorda, mas esse sujeito é intragável. Qualquer um poderia se dar o trabalho de refutar o que ele diz. Apresentar dados relevantes e alarmantes (segundo quem?) até um papagaio faz. Ele não só é ignorante como xenófobo, arrogante, pretencioso, defende regimes autoritários de esquerda e por aí vai. As falas dele só me despertam asco e raiva, e eu não tenho mais estômago para assistir mais nada desse naipe.

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  17. Sugestão de postagem (campo: economia e educação):

    1 - http://www.economistax.com/convergencia/

    2 - http://www.economistax.com/educacao-e-desenvolvimento-economico-parte-i/

    3 - http://www.economistax.com/educacao-e-desenvolvimento-economico-parte-ii/

    P.S: Prezado Prof. Adonai, recomendo vivamente que o senhor entre em contato com os autores do site "Economista X" (professores universitários como o senhor), pois acredito que uma parceria frutífera poderá, talvez, surgir desse encontro. Assim como este blog, o site deles também é muito bom. Indico-o a todos os participantes deste espaço.

    Constantin Carathéodory

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    1. Constantin

      Grato pela excelente sugestão. Assim que puder, farei o contato. É realmente necessária uma maior articulação.

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    2. Off-topic:

      " Cícero: Em sua opinião qual é o papel da filosofia no mundo hoje?

      Chateaubriand: Bom, eu acho que eu vou dar uma resposta um pouco negativa. Eu acho que o papel é extremamente limitado. A maneira mais forte de colocar isso seria dizer: nenhum. Mas a gente poderia ainda fazer um compromisso. Eu acho que o que acontece é que a filosofia no mundo de hoje se transformou numa coisa puramente acadêmica. Os filósofos estão nas universidades produzindo papers em suas áreas de especialização, e esse trabalho, com algumas poucas exceções, não tem um efeito maior no mundo, não tem uma relevância maior para o mundo. A relevância fica dentro desses grupos que estão trabalhando, do pessoal que está trabalhando em filosofia. Então eu acho que, realmente a filosofia deixou de ter um papel que em outras épocas ela já teve, um papel formador, por exemplo, inclusive para os cientistas. Hoje em dia os cientistas não dão bola nenhuma para a filosofia."

      Visão interessante. Sei que já foi objeto de postagem por aqui, mas volta e meia me pego pensando sobre isso. Bem, é melhor ler a entrevista completa:

      http://nefa-ufc.blogspot.com.br/p/blog-page.html

      Constantin Carathéodory

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  18. Finalmente reforma no E.M http://www.sbm.org.br/destaque/manifesto-da-sociedade-brasileira-de-matematica-sobre-a-reforma-do-ensino-medio

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  19. A propósito disto, estranhamente sumiram aqueles comentários raivosos que alguns aqui vociferavam a respeito da péssima situação de nosso país. Tá tudo maravilhoso agora né?

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