Professor Estável |
Anos atrás fiz várias contribuições para a Scientific American Brasil, com dois artigos, diversas notas de divulgação e jornalismo científico, revisões técnicas para a Série Gênios da Ciência e uma resenha de um livro de Richard Dawkins, entre outras. No final do ano passado, porém, apresentei uma proposta ao editor Ulisses Capozzoli: publicar um artigo sobre as mazelas das universidades federais brasileiras. Pedi a ele que visitasse este blog, para ter uma ideia melhor sobre o que eu tinha em mente. Capozzoli imediatamente concordou, percebendo que certas questões sobre as universidades públicas precisam ser urgentemente discutidas.
A edição de fevereiro de Scientific American Brasil com o artigo em questão já está nas bancas brasileiras e portuguesas. No editorial, Capozzoli dá especial atenção ao artigo, afirmando que "o que ocorre nessas instituições [universidades públicas] é a ação nefasta de grupos/pessoas interessadas na fermentação interna da mediocridade intelectual como estratégia de sobrevivência parasitária".
Com permissão do editor, reproduzo aqui uma versão do artigo original, adaptada ao perfil deste blog.
Agradeço ao editor Ulisses Capozzoli não apenas pela importante iniciativa, mas principalmente pela cuidadosa revisão que ele fez na primeira versão do texto.
Parte significativa do artigo contém informações e discussões já veiculadas aqui, principalmente sobre o problema da estabilidade de emprego entre professores de instituições federais de ensino superior. Mas há também tópicos que ainda não exploramos neste blog.
Veremos, agora, as reações dos diferentes segmentos sociais deste país. As primeiras mensagens de reação já começaram a chegar, principalmente de jovens estudantes.
Desejo a todos uma leitura crítica.
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Ciência e Educação (de qualidade) são a Base da Esperança
Em 1998 o Governo Federal criou por decreto a Gratificação de Estímulo à Docência no Magistério Superior. Tratava-se de um adicional ao salário dos docentes de instituições federais de ensino superior (ifes), cujo valor dependia da produtividade em ensino, pesquisa, extensão e administração de cada professor. Pouco tempo depois o valor máximo desta gratificação foi incorporado aos salários de todos os docentes concursados das ifes. Os professores que sistematicamente tinham produtividade máxima (de acordo com critérios governamentais) continuaram a receber em seus contra-cheques o mesmo valor de meses anteriores. Os demais, com produtividade inferior, conquistaram significativo aumento em seus vencimentos.
Este é um exemplo que retrata com fidelidade o quadro típico da universidade pública brasileira: a falta de meritocracia. E, sem reconhecimento efetivo de mérito, como promover progresso científico e tecnológico relevante? Esta falta de políticas meritocráticas na academia brasileira atinge não apenas professores e pesquisadores, mas também alunos e funcionários do quadro técnico-administrativo.
Neste artigo esboço de forma muito breve alguns dos mais graves problemas crônicos do ensino superior público - com ênfase nas universidades federais - e algumas consequências de tais problemas, geralmente gravitando ao redor da confortável garantia de emprego para todos os professores concursados. O foco deste texto se justifica de forma simples. As universidades federais de nosso país têm um papel estratégico fundamental em toda a rede educacional brasileira. Ações e políticas de instituições privadas e estaduais de ensino superior ou médio são muitas vezes dependentes de práticas comuns às universidades federais espalhadas pelo território nacional, as quais são fortemente controladas pelo Governo.
Instituições federais de ensino superior não têm autonomia para contratação, demissão ou negociação salarial de professores. Concursos públicos, para fins de contratação de novos docentes, somente podem ser realizados através de editais nacionais do Governo Federal. Localmente, não há como negociar a contratação de professores, não importando a competência dos mesmos, fatores emergenciais ou as necessidades da instituição. Sempre devem ser aguardados os editais governamentais. Demissões somente podem ocorrer em casos extremamente graves, como abandono do cargo. Participei, anos atrás, de uma comissão interna da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que deveria avaliar a situação de um docente que não aparecia no trabalho há pelo menos seis meses. Esta foi uma demonstração muito clara da lentidão administrativa de uma universidade federal. Se um docente lecionar de forma incompetente ou se não realizar atividades de pesquisa, extensão ou administração, isso não caracteriza motivo suficiente para demissão ou perda de privilégios básicos do cargo. Vale observar que estou falando da prática e não daquilo que consta em documentos oficiais. Também não estou discutindo sobre professores substitutos, os quais são contratados por tempo determinado, ganhando salários muito inferiores aos de concursados.
Se um professor é contratado após realização de concurso público, ele deve cumprir um estágio probatório de três anos. Após este período, seu cargo está praticamente garantido, independentemente de sua produção posterior ao longo de toda a vida acadêmica restante. Além disso, docentes podem eventualmente progredir em planos de carreira, mas jamais regridem. Uma vez que um docente se torna Associado III, por exemplo, jamais pode regredir para Associado II ou I, mesmo que nada mais produza após sua última progressão funcional.
É claro que há professores de ifes que mantém excelente produção acadêmica. Mas existem também aqueles que faltam às aulas (sem registro oficial de tais faltas), não cumprem ementas de disciplinas ou horários de aulas, não realizam pesquisa alguma ou qualquer atividade de extensão e nem orientam alunos de graduação ou de pós-graduação. Tais professores podem contar com os mesmos benefícios da estabilidade dada aos mais produtivos.
São várias as consequências do conforto conquistado através da estabilidade irrestrita. Uma delas é o fato de que comumente professores mais antigos se sentem intimidados por jovens que demonstram talento evidentemente superior à média, e muitas vezes usam mecanismos burocráticos absurdos como tentativa desesperada para nivelar todos a um mesmo patamar de desempenho mediano. Cito um caso que eu mesmo testemunhei. Durante minha chefia do Departamento de Matemática da UFPR, de 2005 a 2007, fui relator de um processo de pedido de afastamento de um casal de jovens professores recentemente contratados pelo Departamento de Estatística daquela instituição: Leonardo Soares Bastos e Thaís Cristina de Oliveira Fonseca. Ambos foram convidados para realizar doutoramento em ótimas universidades britânicas, sob a orientação de dois pesquisadores de excelente reputação internacional e com bolsas de estudos pagas pelas respectivas instituições estrangeiras. Apesar do Departamento de Estatística ter aprovado as duas solicitações e de meu parecer ter sido justificadamente favorável, o Setor de Ciências Exatas (instância superior) indeferiu os pedidos. A alegação foi o estágio probatório, o qual deveria ser cumprido por ambos. Legalmente, o estágio probatório poderia ser cumprido no exterior, uma vez que o vínculo empregatício com a UFPR seria mantido. E os membros do Conselho do Setor de Ciências Exatas sabiam disso. Mas o fato é que vi de perto os verdadeiros motivos para negar os pedidos de afastamento temporário: o medo provocado por jovens que crescem rapidamente em suas carreiras. O resultado não poderia ser outro. O ambicioso casal pediu demissão e seguiu rumo para a Inglaterra. Hoje são professores doutores das Universidades Federal Fluminense e Federal do Rio de Janeiro. Ou seja, apesar das políticas das ifes serem praticamente as mesmas em todo o país, este casal ainda insiste em apostar no futuro de nossa nação. Afinal, o Brasil precisa de estatísticos de alto nível.
A consequência mais óbvia da estabilidade irrestrita para docentes das ifes é a falta de um ambiente competitivo na vida acadêmica pública. É claro que muitos professores com produção científica (nem todos) têm acesso a bolsas de estudo e/ou pesquisa, o que caracteriza um certo reconhecimento de mérito por parte de órgãos de apoio que são geralmente externos às ifes. E a manutenção dessas bolsas depende da contínua produção científica dos beneficiados, de acordo com critérios muitas vezes exigentes. No entanto, seus cargos em suas instituições de origem jamais estão ameaçados, ainda que não produzam conhecimento algum. E mesmo em casos de faltas graves, como a prática comum de lecionar conteúdos de forma superficial e até errada, o cargo continua garantido. As ifes ainda contam com o trabalho competente de diversos pesquisadores e cientistas brasileiros, algo que dificilmente pode ser encontrado em universidades privadas deste país. Mas, em geral, as condições de trabalho deles em pouco difere daquelas ofertadas a todos os demais. Temos, assim, um ambiente de pouco estímulo à produção intelectual relevante do ponto de vista do exigente cenário internacional.
O Brasil não é internacionalmente reconhecido como uma nação que produz ideias. Os Estados Unidos são um país tão novo quanto o nosso. Mas as melhores universidades do planeta estão na América do Norte, de acordo com diversas pesquisas internacionais realizadas de forma independente. Por que o Brasil não consegue se destacar em produção científica? Não estaria na hora de percebermos que estamos fazendo alguma coisa errada? Mentes brilhantes nosso país tem desde muito tempo atrás.
Carlos Chagas foi oficialmente indicado ao Nobel de Medicina em duas ocasiões. Perdeu porque Afrânio Peixoto era contrário à política meritocrática adotada por Chagas durante sua gestão no antigo Departamento de Saúde Pública do Governo Federal. Deste modo, Peixoto e colegas fizeram campanha perante a Comissão Nobel, no Instituto Karolinska (Suécia), afirmando, resumidamente, que o trabalho de Chagas não merecia atenção alguma.
Natural de Petrópolis, RJ, Peter Medawar ganhou o Nobel de Medicina, mas durante a juventude teve a cidadania cassada pelo Governo Federal, simplesmente porque não se apresentou ao serviço militar obrigatório. Os resultados de suas pesquisas sobre transplantes de tecidos vivos estão acessíveis a qualquer brasileiro, incluindo militares. Mas a cidadania de Medawar somente foi restaurada muito tempo depois e de forma absolutamente discreta. Por sorte Medawar tinha cidadania britânica também. Assim, Inglaterra ganhou um Prêmio Nobel a mais e o Brasil até hoje ignora a fundamental importância da ciência feita em ambientes competitivos.
Universidades estadunidenses também conferem estabilidade para professores. Mas são poucos os que recebem este benefício, conhecido como tenure. O critério é simplesmente meritocrático. E tal mérito não se avalia através de concurso público realizado em dois ou três dias, mas ao longo de uma extensa carreira marcada por contribuições de elevada relevância acadêmica e negociações. A concessão de estabilidade irrestrita a qualquer professor universitário ou pesquisador é uma forma extremamente eficaz para cultivar um ambiente sem desafios significativos. E ciência, como qualquer outra atividade profissional de alto nível, se fundamenta na constante luta para vencer desafios.
Um docente de instituição federal de ensino superior pode ter acesso a bolsas governamentais de pesquisa e orientar alunos de pós-graduação, se demonstrar produção científica principalmente na forma de artigos publicados em certos veículos especializados de circulação internacional. No entanto, em áreas como matemática, física, química e biologia, esta produção é especialmente avaliada a partir de números que nem sempre têm a ver com qualidade. Avalia-se a quantidade de artigos publicados em periódicos reconhecidos pelos órgãos de apoio à pesquisa, mas raramente se avaliam fatores extremamente importantes, como impacto social de pesquisas e a efetiva participação dos envolvidos.
A revista britânica Nature, por exemplo, adota a seguinte política editorial: ao final do artigo publicado deve ser especificada a real contribuição de cada um dos autores. No entanto, a maioria dos periódicos especializados não adota esta postura. A inclusão de nomes de colegas em artigos científicos tem sido cada vez mais frequente, mesmo quando estes colegas não participam de forma alguma no projeto em questão. E apenas uma minoria dos professores pesquisadores das ifes consegue publicar contribuições que demonstram algum impacto significativo à ciência. O mecanismo mais imediato para avaliar impacto é citação. Em geral, quanto mais citações um artigo recebe na literatura especializada internacional, mais relevante é o impacto do trabalho citado. Porém, mesmo esta visão quantitativa tem limitações.
Por conta de um único artigo publicado na revista Nature, o curitibano Cesar Lattes revolucionou a física de partículas elementares. E, por conta deste trabalho, ele também foi indicado ao Nobel. Quantos outros pesquisadores deste país podem dizer que passaram por experiência parecida? Em avaliações de produtividade, para fins de progressão funcional nas ifes, este artigo de Cesar Lattes valeria tanto quanto um trabalho obscuro publicado em Physics Essays, um dos piores periódicos de física em circulação. E valeria a metade de um livro didático publicado, independentemente de sua qualidade.
A verdade é que vivemos em uma nação na qual há um número crescente de doutores que sequer sabem ler inglês, situação essa simplesmente inadmissível nos países desenvolvidos, principalmente nas áreas científicas. E sem conhecimentos básicos de inglês, como produzir ciência?
De forma alguma recomendo que deveríamos copiar o modelo acadêmico norte-americano. Mas certamente poderíamos aprender muito com modelos que demonstram claramente funcionar melhor do que o nosso. Afinal, as universidades estadunidenses, apesar de inúmeros problemas graves, produzem a maioria das mais impactantes contribuições científicas e tecnológicas do mundo. O Brasil simplesmente não compete.
Nos Estados Unidos jovens ingressam em universidades. No Brasil, jovens ingressam em cursos universitários. Esta é uma diferença profunda entre os dois sistemas. Se um aluno de uma instituição federal de ensino superior consegue vencer as absurdas barreiras do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do vestibular, ele está praticamente preso a um curso escolhido enquanto cursava o ensino médio e, portanto, enquanto estava longe de qualquer ambiente universitário. Se este aluno percebe que o curso escolhido não está de acordo com seu perfil pessoal, ele dificilmente terá chances de conseguir uma transferência. A burocracia é muito complicada e prática para poucos. Provavelmente terá que se submeter ao ENEM e ao vestibular de novo ou simplesmente desistir, como muitos o fazem. Já em uma universidade norte-americana, seja privada ou estadual, o recém ingresso encontra a oportunidade de conhecer todas as diferentes realidades das opções disponíveis para graduação. Ele tem a chance de escolher seu futuro profissional a partir de um ambiente genuinamente universitário. No Brasil, as ifes operam como instituições poliversitárias. E este modelo é copiado por instituições estaduais e privadas do ensino superior brasileiro. Logo, o Brasil não tem ideia do que é uma universidade.
Um sistema de ensino superior que exige de um adolescente a escolha de seu curso superior antes de ingressar em qualquer universidade é um sistema que negligencia sua juventude.
Nas ifes também não existe, de forma séria, a tradição das associações de ex-alunos. Isso significa que as ifes, em geral, não avaliam as carreiras de seus egressos. Uma universidade que não está interessada em saber sobre o destino profissional de seus ex-alunos é uma instituição que não está interessada em conhecer seu papel real perante a sociedade. Novamente temos negligência.
Em 2007 todas universidades federais assinaram o polêmico contrato REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) com o Governo. A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) foi a última a assinar este pacto. Em troca de dinheiro, essas ifes assumiram o compromisso de aumentar gradualmente suas taxas de conclusão de curso para noventa por cento. Do ponto de vista educacional, essa exigência é simplesmente irresponsável. Cursos nas áreas científicas, por exemplo, comumente apresentam índices de reprovação muito superiores a dez por cento, mesmo nas melhores universidades do mundo. Isso significa que tanto o Governo Federal quanto os professores que alegam lutar pelo ensino superior público de qualidade em seus emocionais movimentos de greve, estão negligenciando o futuro da nação de forma realmente perigosa. A preocupação evidente é com quantidade de jovens que se formam em graduações e não com qualidade de ensino.
Em 2012 a consultoria britânica Economist Intelligence Unit publicou um levantamento global de educação que comparou quarenta países, levando em conta notas de testes realizados por alunos e qualidade de professores avaliados entre 2006 e 2010. O Brasil ficou em penúltimo lugar, denunciando um sistema educacional básico que supera apenas o da Indonésia. Este resultado desastroso é uma das múltiplas evidências de que professores formados pelo ensino superior brasileiro não estão demonstrando competência profissional. Diante da promessa do Governo e das universidades federais de que as taxas de conclusão de curso deverão subir indiscriminadamente para noventa por cento, percebe-se que o futuro reserva um desempenho educacional ainda pior para o Brasil, a longo prazo.
Usualmente também não existem programas de honors (ou equivalentes) nas ifes. Esses programas constituem em uma série de procedimentos de avaliação que reconhecem os alunos que se destacam como os melhores em suas respectivas turmas de formatura. Na prática, os programas de honors operam como cartas institucionais de recomendação que simplesmente afirmam: "Este indivíduo realizou seu curso com distinção e louvor." É uma forma de ajudar a alavancar as carreiras dos mais brilhantes. Nas ifes, no entanto, novamente faz-se questão de tratar todos de forma igualitária. Temos assim outro exemplo de negligência em um país cujas universidades públicas geralmente consideram elitismo como algo socialmente reprovável.
Não existem mais cátedras nas ifes. Se um professor de universidade federal falece, pede exoneração do cargo ou se aposenta, ele libera uma vaga. Não importa se este docente orientou dezenas de doutores, publicou centenas de artigos de elevado impacto, exerceu relevantes atividades administrativas ou influenciou de forma construtiva milhares de pessoas ao longo de sua carreira. Simplesmente não existe continuidade de sua obra. Este senso de continuidade deveria ser estabelecido institucionalmente através da cátedra. O célebre astrofísico Stephen Hawking, da Cambridge University, ocupou a mesma cátedra de Sir Isaac Newton, um dos pais da ciência moderna. Trata-se de um compromisso que deve transcender a mortalidade física dos grandes nomes da ciência mundial. Nas ifes, porém, qualquer obra, por mais relevante que seja, deve morrer junto com o seu autor. O grande lógico brasileiro Newton da Costa é professor catedrático da UFPR. Sua cátedra é um cargo vitalício, conquistado décadas atrás. No entanto, apesar deste grande cientista ser responsável pela formação de uma importante escola de lógicos brasileiros reconhecidos internacionalmente, a UFPR não se preocupa em ocupar esta cátedra com algum profissional que continue tal tradição. Isso porque todas as cátedras foram extintas, não apenas na UFPR, mas em todas as ifes. Temos aqui um exemplo de negligência com obras relevantes. Falta a percepção de que memória não se promove apenas com museus ou nomes dados a salas de aula e bibliotecas.
Mantenho um blog no qual promovo discussões e articulo ações sobre educação, com especial ênfase à matemática. Neste sítio convoquei alunos de ifes a espalharem cartazes em suas instituições de ensino com a frase "Professor de universidade pública tem seu emprego garantido, independentemente da qualidade de suas aulas." É uma frase simples, excessivamente resumida, mas que retrata um fato importante. Os jovens que atenderam ao pedido foram surpreendidos com manifestações imediatas de extrema intolerância, vindas justamente de professores. Docentes concursados, que viram esses cartazes, simplesmente os arrancaram. Cartazes colados em paredes foram dilacerados. Há pouco espaço para autocrítica nas ifes.
Recentemente recebi convite da revista Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do estado do Paraná, para escrever um artigo. Imediatamente escrevi um texto crítico sobre a educação brasileira. Recebi a resposta de que aquele texto não poderia ser publicado, pois não interessava à SETI criar atritos políticos com demais setores do governo paranaense. Em função desta resposta, escrevi outro artigo, no qual eu criticava o papel do filósofo da ciência nos dias de hoje. O artigo foi publicado na íntegra. Ou seja, criticar filósofos não tem problema. Mas criticar o sistema público de ensino é desaconselhável. E isso ocorreu em uma revista chamada Sem Fronteiras.
Quando propus o presente artigo ao editor Ulisses Capozzoli, a resposta foi imediata: se a Scientific American Brasil publica artigos contendo críticas a universidades dos Estados Unidos e de outros países, por que não criticar universidades brasileiras? Esta é uma postura genuinamente científica. Sem crítica, não se faz ciência e nem educação. Sem crítica, não se sustenta uma instituição de ensino séria e competitiva e, em particular, uma universidade. E os exemplos de negligência dados são igualmente exemplos de falta de crítica.
Professores de física falam de infinitésimos em suas aulas de graduação e pós-graduação, quando modelam fenômenos físicos através de ferramentas do cálculo diferencial e integral. No entanto, o cálculo ensinado nas mesmas instituições não emprega infinitésimos, conceito este fundamental em um estudo avançado conhecido como análise não standard. Professores de cursos de letras, quando lecionam linguística, discutem sobre gramáticas gerativas de Chomsky, sem de fato conhecer teorias de conjuntos, o que torna o estudo sério a respeito do tema simplesmente impossível. E docentes de cursos de filosofia abordam filosofia da ciência sem jamais terem tido qualquer contato com atividades científicas, no sentido estrito do termo. Apesar destes problemas não serem exclusivos das universidades federais, certamente a perpetuação de tamanha ignorância em tais instituições constitui um péssimo exemplo que se propaga em praticamente todas as universidades do país. O próprio Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) considera lógica matemática como especialidade da álgebra, em sua classificação de áreas do conhecimento, demonstrando desconhecer o que é lógica matemática.
O conceito de universidade deve apelar fundamentalmente para uma visão de universalidade, como o próprio nome sugere de forma trivial. Muitas das mais importantes contribuições científicas da história exigiram pesquisas interdisciplinares. A descoberta da estrutura molecular do DNA, por exemplo, somente foi possível graças a aplicações de métodos de ciências físicas em biologia. A própria filosofia da ciência, nos dias de hoje, avançou para muito além das ideias de Karl Popper, autor ainda venerado em graduações brasileiras como uma espécie de líder atual que conduz aos temas mais avançados da metodologia e da epistemologia. O casamento entre filosofia da ciência e métodos avançados de lógica matemática praticamente não é discutido nas salas de aulas de nossas universidades. Enquanto nossos professores universitários em geral ignoram as profundas riquezas da psicologia matemática e das aplicações da teoria matemática das decisões em ciências humanas, entre outros exemplos de interdisciplinaridade, o Brasil continua estagnado perante as nações que tradicionalmente produzem conhecimento científico de alto nível e que, por conta disso, crescem dos pontos de vista social e econômico. Não é por acaso que nossas graduações em engenharias são reconhecidas apenas como cursos técnicos em países europeus.
Fala-se muito da necessidade de valorizar o professor no Brasil. No entanto, os professores do ensino público frequentemente querem impor essa valorização através de greves que reivindicam melhores salários para todos, sem qualquer discriminação. Se docentes desejam honestamente ser valorizados, poderiam examinar certos exemplos que ocorrem em outras categorias profissionais. Médicos, psicólogos, engenheiros, arquitetos e até mesmo corretores de imóveis contam com o apoio de códigos de ética. Professores, porém, não têm qualquer código de ética para estabelecer padrões de qualidade de suas profissões e mecanismos de proteção e punição. Códigos de ética certamente não resolvem de maneira definitiva o problema da valorização profissional. Mas constituem um importante passo, de caráter muito mais meritocrático do que greves. Mas, para isso, seria necessário que os docentes dialogassem com especialistas em ética, cujas competências sejam internacionalmente reconhecidas. Sem diálogo entre diferentes áreas do saber, não há universidade e nem educação.
Para o leitor perceber melhor as origens da incompetência dos professores brasileiros, recomendo a leitura deste artigo de Paula Louzano e colaboradores.
Nos Estados Unidos todas as instituições de ensino superior são pagas, incluindo estaduais e municipais. No Brasil as universidades públicas são gratuitas. Este é um exemplo brasileiro de profunda responsabilidade social. Mas qualquer que seja a realidade educacional e científica de uma nação, sempre haverá problemas graves a serem resolvidos. Portanto, a visão crítica jamais deve deixar de existir. Porém, levando em conta nossa realidade de hoje, fica evidente que ainda não encaramos de frente os problemas mais crônicos e graves.
Há muito tempo o Governo Federal tem investido consideráveis verbas para apoiar pesquisas e expandir vagas em universidades. E graças a iniciativas como a criação de institutos de pesquisa, projetos de convênios internacionais e órgãos de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico, o Brasil conseguiu conquistar um certo reconhecimento internacional em algumas áreas da medicina, matemática e física, para citar umas poucas.
Mas a preocupação principal que deve ser colocada, atualmente, é sobre a estrutura fundamental do ensino superior brasileiro. E o primeiro foco de atenção deve ser voltado às instituições federais de ensino superior, as quais respondem por grande parte da produção científica da nação e estão ao alcance de ações imediatas do Governo Federal. Em alguns rankings internacionais, as primeiras universidades brasileiras citadas são duas estaduais de São Paulo. Eventualmente aparecem também nestas listas a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas suas colocações são sempre modestas. E na rigorosa classificação Shangai, nenhuma instituição brasileira é citada.
A situação econômica do Brasil, bem como seus reflexos sobre a qualidade de vida de cada um de nós, não serão sustentados a longo prazo sem uma revisão drástica sobre os fundamentos de nossa educação e produção científica e tecnológica. Sem ciência e educação, simplesmente não há esperança.
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Veja aqui algumas críticas a este artigo.
Eu estou estudando em uma universidade americana agora atraves do Ciencia sem Fronteiras e a principal diferenca e este ambiente "universitario". Apesar de cursar fisica no Brasil fui "obrigado" a escolher materias fora da minha zona de comforto, equanto fazia mecanica quantica e fisica do estado solido tive aulas sobre a europa moderna e neste semestre estou fazendo um "seminar" do departamento de educacao. Em termos de sala de aula tenho aulas tao interessadas e bem ministradas quanto no Brasil, a diferenca mora no uso pedagogico que a universidade fez do meu tempo livre. Enquanto no Brasil eu cursava 5 ou 6 materias diferentes aqui esse numero cai pela metade mas tenho o triplo ou o quadruplo de trabalho extraclasse. Viver dentro do campus representa uma facilidade indiscritivel que facilmente se reflete no rendimento em classe.
ResponderExcluirNas proximas semanas vamos discutir na classe do departamento de educacao como o "tenure" esta sendo prejudicial para, neste caso, o ensino medio e fundamental. Espero que com o seu artigo professor discussoes comecem ai tambem. Boa Sorte.
É o que espero também, Nicholas. Espero que aproveite bem a experiência de estudar nos EUA. Boa sorte em seus empreendimentos.
ExcluirObrigado professor.
ExcluirGostaria de pedir desculpa pelos erros de portugues e falta de acentuacao, ainda estou lutando para achar algum driver para teclado americano com acentos. Queria responder rapidamente ao texto, pensei em escrever algo antes mas, infelizmente, as ideias se perdem com o tempo.
Muito obrigado e parabens.
Adonai
ResponderExcluirPrimeiramente quero parabenizá-lo pela publicação! Precisamos muito de artigos sérios que mostrem com clareza a realidade de nossas universidades! Seu trabalho nesse sentido tem sido realmente importante.
Fiquei pensando sobre as políticas meritocráticas, as quais realmente inexistem também nas IES privadas, e tento compreender os argumentos que pedagogos, por exemplo, utilizam para justificar a falta de méritocracia dentro das instituições de ensino. Na vida, nada se consegue sem mérito. Sempre procuraremos escolher o melhor médico, o melhor dentista, o melhor psicólogo (desde que tenhamos condições para isso, claro!). As promoções dentro de grandes empresas acontecem - na maioria das vezes - tendo como base o desempenho funcional (mérito profissional). Mesmo nas avaliações de estudantes, as notas sempre são atribuídas de acordo com o número (ou qualidade) de acertos... Isso também é mérito. É provável que os defensores da falta de tais políticas meritocráticas sejam justamente aqueles que não tem a intenção de fazer qualquer tipo de esforço para progredir. Mas na vida fora das IFES, são se vai em frente sem vencer desafios!
Durante a leitura deste artigo tive muitas ideias para meu projeto de doutorado! Me aguarde... Mais uma vez, conto com você!
Adriane
ExcluirSua avaliação é realmente precisa. Quem produz não tem tempo para articular movimentos de greve.
Por acaso acabo li seu artigo e lhe digo, que excelente surpresa. Em poucos argumentos você apresentou aquilo que é mais daninho e prejudicial à nossa sociedade: a ausência da meritocracia. O que é constatado nas ifes se reflete também em toda a esfera pública e setor privado. Não é por acaso que a "qualidade brasileira" é discutível e que também por isso recebamos o título de um país que não é sério... Não conheço os Estados Unidos, mas cresci assistindo aos filmes hollywoodianos e é muito claro o valor que eles atribuem ao esforço e a superação (tanto que vira filme). Aqui, no serviço público, cargos de confiança e de chefia são preenchidos por indicação, por pessoas muitas vezes sem nenhum conhecimento técnico ou competência naquela área. Ela irá gerenciar profissionais de carreira, certamente muito mais experientes, não é difícil imaginar o resultado. O mérito nesse caso não é indicativo e muito menos cogitado.
ResponderExcluirNunca tive um padrinho ou alguém que me indicasse a algo. Afirmo que o único momento que senti que estudar valia alguma coisa foi mediante os concursos que prestei e que fui aprovado. Numa dessas deixei o cargo de docente para assumir outro administrativo no serviço público federal sem pensar em títulos ou status. Deparo-me constantemente com situações onde o docente na ifes se qualifica como o "professor" (douto e infalível), enquanto os demais funcionários são seus "servidores", numa clara referência: vocês estão aqui para me servir e nunca para me questionar.
Em se tratando de produção científica, como sou aspirante a pós strictu sensu vejo o currículo de meus concorrentes e acho até engraçado, se não fosse trágico. Artigo feito a vinte mãos produzem outra dezena com os mesmos autores, cuja relevância pode ser questionada.
Quando docentes ou gestores reclamam que falta recurso na ifes, a imprensa mostra prédios sucateados, falta de material, mas ninguém apresenta o outro lado. Não se comenta, por exemplo, a ausência de planejamentos eficazes e eficientes, ou ainda, questiona como são aplicados as vultuosas somas de recursos que o governo destina a essas instituições, lembrando que o governo investe muito mais nas universidades públicas que atendem a cerca de 10% dos universitários, que nos ensinos fundamental e médio que abarca a maioria das crianças e jovens brasileiras. Vou parar por aqui, mas desde já agradeço e parabenizo seu artigo que terei muito gosto em compartilhá-lo.
Leo
ExcluirSeja muito bem-vindo a este fórum. Fico animado ao perceber que existe mais gente que percebe a pobreza intelectual deste país. Sua referência ao cinema hollywoodiano é extremamente feliz. Cinema quase sempre reflete a cultura do país de origem. Basta ver os temas recorrentes do cinema brasileiro: favelas e mais favelas.
Espero que todos possamos contar com sua participação por aqui.
E, por falar em filme, novamente é citado o roteiro que você vendeu ao Padilha! Seria MUITO interessante que este longa saísse... pois também permitiria uma reflexão. O que mais estou aguardando deste artigo, é a possibilidade de REFLEXÃO. Estou cansada de pessoas que apenas criticam, sem argumentar ou propor saídas. O artigo traz inúmeras possibilidades de questionamentos. Você cita diversos problemas que deveriam ser analisados por pessoas minimamente capazes. Estou ansiosa para acompanhar os próximos debates!
ExcluirPois é, Susan. Quando eu estava redigindo o artigo, falei ao Padilha que eu pretendia mencionar sobre o filme. Ele disse que não tinha problema. Espero que essa reação sinalize sua intenção de produzir e dirigir de fato o filme. Ele comprou os direitos. Só posso aguardar agora.
ExcluirCaro Adonai,
ResponderExcluirexcelente artigo que revela de forma bastante lúcida as mazelas de nossa educação. Vale notar que nossas Universidades, por um lado, são bastante elitistas (particularmente em alguns cursos), especialmente pela forma de acesso,por outro lado, como Você observou de modo contundente, apregoam uma "igualdade" que implica numa mediocridade que não se justifica. A "igualdade" é um dos termos fundamentais dos estados democráticos que deve-se tomar todo o cuidado no emprego. Você concordaria que as pessoas são iguais em direitos, mas não em capacidade, daí a necessidade de uma política de meritocracia nas instituições de ensino, sejam elas de ensino superior ou fundamental?
Parabéns pelo artigo!
Um abraço,
Gilson Maicá.
Gilson
ExcluirVocê tocou em um ponto extremamente relevante: a igualdade garantida pela Constituição. Preciso escrever algo a respeito e logo. Tem muita confusão na cabeça de muita gente sobre este conceito.
Concordo! De fato é um conceito extremamente controverso, mesmo para os especialistas em filosofia política.
ExcluirPrezado colega, parabéns pelo texto. Permita-me um aparte ao texto: "Legalmente, o estágio probatório poderia ser cumprido no exterior, uma vez que o vínculo empregatício com a UFPR seria mantido.", entretanto a lei 8112 que regulamenta também o cargo de Prof. do Mag. Superior é taxativa nesse ponto que diz: "Os afastamentos para realização de programas de mestrado e doutorado somente serão concedidos aos servidores titulares de cargos efetivos no respectivo órgão ou entidade há pelo menos 3 (três) anos para mestrado e 4 (quatro) anos para doutorado, incluído o período de estágio probatório, que não tenham se afastado por licença para tratar de assuntos particulares para gozo de licença capacitação ou com fundamento neste artigo nos 2 (dois) anos anteriores à data da solicitação de afastamento. (Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009)" ... então, parece-me, que não havia muito o que fazer mesmo no caso mencionado.
ResponderExcluirRafael
ExcluirGrato pelo apoio.
A questão que você levanta, como tudo o que tem natureza legal, não é tão simples. O artigo 95 da lei 8112 prevê afastamento, mesmo em estágio probatório, para estudo ou missão no exterior. Eu mesmo já passei por duas situações parecidas anos atrás e não houve impedimento algum. O fato é que não cabe ao Conselho Setorial decidir sobre questões como essa. Se há algum entrave legal, isso deve ser estabelecido pela assessoria jurídica da universidade, a qual não foi consultada.
Durante uma aula de docência ontem em um curso de pós-graduação de mestrado fiz as seguintes perguntas sem reposta:
ResponderExcluir1)Por que um professor não escreve um planejamento de ensino ao invés de copiar o que já tem pronto de outro professor?.
2)Por que ele não lê o projeto pedagógico do curso para entender a visão do curso e ter certeza que o conteúdo da disciplina irá cumprir com os objetivos de formação do aluno?.
3)Por que ao invés de planejar aderente ao projeto do curso ele copia suas aulas da internet, de um curso que não possui os objetivos pedagógicos relacionados com o da instituição, se ele ganha por hora para fazer isso?.
4)Por que o professor escreve no planejamento que as suas aulas possuem 68hs de aulas teóricas e 8hs práticas se ele nem planejou as aulas?.
5)Por que o professor entregou o planejamento de ensino ao coordenador do curso e este nem certificou o que estava escrito?.
6)Por que os trabalhos práticos repassados pelos professores normalmente excedem a carga horária de estudos e não promovem aprendizado do conteúdo da disciplina?.
7)Por que um doutor, que não é formado para ser professor, é aprovado em concurso para professor?.
8) Por que o professor escreve no plano de ensino que adota uma metodologia de ensino que ele não sabe aplicar?.
9)Como é possível aprovar ou reprovar alunos com um "planejamento" desses?.
10) Qual o papel dos professores então nas universidades federais?.
Jaguaraci
ExcluirTodas as suas perguntas são evidentemente relevantes. No entanto, preciso fazer uma advertência. Toma cuidado! Vivemos em um sistema covarde o bastante para conspirar pela destruição de pessoas questionadoras como você. Não estou insinuando que você precisa aceitar em silêncio tudo o que lhe parece absurdo. Mas se você pretende fazer alguma diferença real para a sociedade, precisa ponderar com muito cuidado sobre os aspectos políticos da vida acadêmica. Ajuda muito se você procurar por grupos de pesquisa que compartilhem de ideias semelhantes às suas.
Um sistema covarde, nas universidades? Uma maneira elegante de dizer que é um ninho de cascavéis. Não, perdão, falha minha. Animais irracionais não são cruéis assim. É um ninho de pedaços de gente... a mim não parecem completos.
ExcluirINVESTIMENTO
ExcluirPeço um pouco mais de calma. Há gente séria nas ifes. O problema é que elas estão ocupadas demais para lidar com sindicatos. Peço que acompanhe as próximas postagens. Estratégias estão sendo definidas.
Quando li os comentários, e, também li seus questionamentos Jaguaraci, fiquei relembrando minha graduação, e atualmente meu mestrado. E cada vez mais fico satisfeita com a educação que recebi da maioria dos meus professores da UFMS/CPTL/CPAN. Professores compromissados com o tripé que sustenta nossa universidade. Na verdade estes meus professores, são 'impar', vivenciam diariamente o ensino, a pesquisa, e a extensão. Quando fizemos uma paralisação no CPTL, exigindo mais professores, pois, corríamos o risco de não nos formarmos por falta de professores, o corpo docente do DED nos apoiou. Apenas, não puderam tomar a frente, uma vez que, a luta era dos alunos, mas os professores estavam lá. Fui bolsista PIBIC no meu primeiro ano de pedagogia, e nos anos seguintes participava do grupo de estudos e de pesquisa. Nossa produção foi imensa durante os quatro anos. Sempre nos inscrevíamos para ganhar recurso para desenvolvermos nossa pesquisa. A pesquisa que realizamos, gastos com papeis, gravador, canetas, computador (havia um destinado aos alunos, mas, bem precário), impressão, foi tudo tirado do nosso bolso, aliás, nosso professor tirava do dele mesmo. Sem falar nas aulas que sempre eram muito boas, eles seguiam a risca o plano de aula, a carga horária, e sempre houve muita disputa com relação com o currículo a ser empregado. E acho muito válida essa disputa, pois, mostrou o comprometimento de todos os professores, cada um defendendo seriamente sua postura, seu referencial (as brigas sempre foram muito sérias mesmo). E claro, isso se deve a postura dos professores, de viver a teoria na prática. Como afirma Frigotto a postura antecede o método. Quem dera todos os professores fossem assim.
ExcluirPrimeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo artigo. É simplesmente realista e fabuloso. Formei-me em física na UFSCar e atualmente estou realizando meu doutorado nesta mesma instituição. Durante minha graduação, pela distinta característica desta universidade, tive a oportunidade de fazer cursos no departamento de biologia, de letras, e de ciências sociais. Infelizmente, esta possibilidade é rara nas IFES. Para ser breve, minha opinião é de que as coisas só mudam no Brasil se algo realmente grave acontece, vide o exemplo em Santa Maria - RS, que agora irá provavelmente servir de lição para outras cidades. No ensino superior federal acredito ser a mesma coisa, mas infelizmente, a 'coisa grave' a acontecer é a longo prazo, e muitos brasileiros não se dão conta disso. Sobre a atuação de certos professores para coibir melhorias propostas por jovens pesquisadores ou alunos, tive uma péssima experiência quando fui até a prefeitura universitária (onde o chefe do departamento disse que eu deveria ir) para pedir melhorias simples nos banheiros do departamento de física destinado aos alunos (sim, aqui professores tem outros banheiros, com pias de mármore). Melhorias simples como acento sanitário e papel higiênico. A resposta do vice chefe foi imediata e veio até minha sala dizer quer eu não devia ter feito isso. Conclusão, até hoje, nada mudou. Embora eu tenha desviado do objetivo do texto, e peço desculpas por isso, acredito ser também uma grave falha de certos professores, como também jovens professores que passam em concursos escancaradamente auxiliados por outros professores veteranos e não por mérito.
ResponderExcluirAbraço e novamente, parabéns e desculpe-me pelo desvio no comentário.
Jonas
ExcluirVocê não desviou do objetivo do texto. O que seu relato mostra é intolerância ao questionamento, mesmo quando se trata de questões elementares, como manutenção de banheiros. Se nem de banheiros a turma quer cuidar, quem dirá do resto.
Estudei por um tempo na USP e hoje me aventuro numa graduação na Universidade Federal do Acre. Há realmente muita coisa errada por aqui: disciplinas sem ninguém para ministrar, professores que mais faltam do que aparecem, conteúdos mal ensinados...
ResponderExcluirSempre tive a sensação de que a causa da maior parte desses problemas reside na falta de meritocracia, aliada à segurança que o funcionalismo público oferece. Seu artigo retrata e complementa todas as minhas impressões e conclusões.
Me chamou atenção a ideia dos cartazes com aquela frase. Certos professores realmente exalam intolerância. Criei um blog onde abordo conteúdos relacionados ao meu curso, www.ufac.si, e uma das coisas que publico nele: o "Faltômetro Docente", onde os alunos registram as faltas dos professores. É um experimento interessante. Ao controlar e publicar as faltas docentes, é curioso observar como de repente muda a forma com que certos professores te tratam: uns pra melhor, como se reconhecessem a iniciativa e respeitassem, mas outros para pior, como se você fosse uma ameaça.
Seu artigo é uma ótima iniciativa, parabéns.
Gustavo
ExcluirInfelizmente nunca estive no Acre. Seria possível você contribuir com um texto para este blog sobre o "Faltômetro Docente"? Essa é uma denúncia da mais alta importância que precisa ser divulgada de todas as formas possíveis. Peço também que envie carta ou e-mail para a Scientific American Brasil, relatando o que você coloca aqui.
Adonai, se você tiver interesse, com certeza posso contribuir. Mas será algo modesto: pelo menos ainda, esta iniciativa ainda não atingiu a proporção que eu gostaria. É uma experiência recente, e realizada num universo reduzido, um único curso pequeno.
ExcluirDe qualquer forma, é bem verdade que se trata de algo de simples execução, exigindo somente gente com iniciativa. Iniciativa esta que, infelizmente e por alguma razão, parece ser o mais difícil de se encontrar.
A maior parte dos alunos é lesada de diversas formas mas, ou por medo de represálias ou por inércia, nada fazem.
Quando eu tiver algo, envio no seu e-mail. Qualquer coisa, meu e-mail é gustavo@ufac.si.
Ótimo. Fico aguardando.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente artigo, demonstra claramente muitos problemas que já percebi em contato direto com alguns "professores", que contrariando o que se pensa, foram doutorados em programas tidos como de excelência pela CAPES. O ensino no Brasil precisa mudar, principalmente a estabilidade garantida para todos e a falta de meritocracia. Nós, que somos contribuintes, sustentamos verdadeiros parasitas que vêem no serviço público uma oportunidade de viver as custas do dinheiro público sem ética ou compromisso com a universidade e o ensino. Não concordo de forma alguma em chamar esses parasitas de professores e tenho total repúdio pela permanência deles no quadro de docentes de um estabelecimento de ensino superior. O MEC precisa fazer uma faxina urgente!!
ResponderExcluirJaguaraci
ExcluirPeço que envie este seu comentário, exatamente da forma como está, para a redação de Scientific American Brasil. Sem pressão, vinda de todos os lados, nada mudará.
Caro Adonai,
ResponderExcluiro que Você tem afirmado neste Blog, sempre faz pensar na constituição histórica da universidade brasileira. Inicialmente constituída para formar uma elite agrária, ligada a nobreza do estado brasileiro, que em seu início era monárquico. Esta universidade formava médicos, advogados e filósofos para a carreira eclesiástica (os doutores da nação). Esta universidade evidentemente não estava conectada aos ideias do liberalismo (político e econômico), que fez parte das revoluções inglesas e francesa, mas estava principalmente comprometida com os ideias escolásticos e monárquicos dos estados ibéricos (Portugal e Espanha). Assim, a educação, particularmente a universitária, era destinada as elites. Quando da proclamação da república, o estado brasileiro e a universidade permaneceu elitista, guardando privilégios medievais, não comprometidos com a ideia de igualdade de direitos (o vestibular é apenas um exemplo de um mecanismo desigual de acesso a universidade), típico dos estados liberais, onde a noção a meritocracia tornou-se imperiosa por diversas razões que não vou aqui elencar. De qualquer forma, a urgência de uma revolução industrial iniciada principalmente nos anos 40 ou 50, promovida a forceps, desencadeou a necessidade de uma mão de obra melhor qualificada, mas ainda completamente desinteressada pela ciência. Em estados liberais, a revolução industrial foi um resultado da revolução científica, em terras tupiniquis a ciência incipiente é fruto de uma revolução industrial tacanha e imposta. Naturalmente os homens não fazem qualquer história, mas a fazem a partir de seus condicionantes históricos, econômicos e sociais. Assim o fato de termos um Cesar Lattes ou um Newton da Costa, não transforma nossa história educativa, estes representam apenas desvios estatísticos. É deveras importante seu trabalho, que admiro e procuro contribuir sempre que posso, haja vista a necessidade de criarmos massa crítica para transformarmos nosso país.
Gilson Maicá.
Caro Gilson
ExcluirComo pode perceber, pelos comentários acima, há mais gente que pensa dessa forma. Peço que envie uma versão resumida de seu comentário para a redação de Scientific American Brasil. Achei sensacional sua observação de que Cesar Lattes e Newton da Costa são meros desvios estatísticos. É exatamente isso o que acontece nesta nação.
Certamente que enviarei estimado Adonai. Já fui assinante desta revista que considero muito boa!
ExcluirBem, um dos meus professores indicou esse artigo em um grupo da faculdade no facebook, uma prova que há uma consciência do problema por parte de alguns nomes do corpo docente
ResponderExcluirComo iniciei meu curso agora, estando ainda no primeiro semestre, não percebi por mim mesmo muitas das coisas citadas, mas já ouvi muitos professores falando dessa situação lamentável que se encontra o ensaio superior no pais
Pelo que eu percebi, existe uma aposta que, a partir da volta dos inter-cambistas do ciência sem-fronteiras o corpo discente passe a ser mais exigente em relação ao ambiente universitário
Ainda não percebi aulas sendo mau ministradas aqui no campus onde eu estudo, todavia, levando em consideração o que foi dito no artigo, sobre as vantagens de se morar no campus, bem, tirando o fato de que em casa minha família por vezes interrompe meus estudos com questões cotidianas, estudar no campus para mim se resume em ter um ambiente onde minha atenção não será desviada
Concluo esse comentário citando uma frase que falaram para minha turma no primeiro dia de aula, se não me engano era algo assim: Façam seus próprio curso, não esperem nada do Governo, por que ele só está interessado em números, não esperem nada da Faculdade, por que ela é do Governo
Grato pela atenção,
Nathan Fernandes
PS: Minha interpretação dela é de que temos que nos esforçar para sair da media imposta pela faculdade, nos esforçarmos para ser um desvio estatísticos, parafraseando um comentário feito anteriormente
Nathan
ExcluirNeste blog há inúmeros exemplos de conteúdos ensinados de forma perpetuamente errada no Brasil, sem que a maioria dos professores e alunos perceba. Não é minha intenção deixá-lo paranoico, mas o senso crítico é muito fraco em praticamente todas as instituições de ensino deste país. Portanto, é muito difícil as pessoas julgarem corretamente se uma aula é bem ministrada ou não.
No entanto, a julgar pelo seu primeiro parágrafo, fico um pouco mais tranquilo ao perceber que ainda há professores e alunos que desejam pelo menos pensar a respeito dessas questões.
Não sei isso o deixará mais tranquilo, mas ontem, sexta-feira, um dos meus professores se disse descontente com o sistema do campus, segundo ele, a carga horária da matéria é insuficiente para se ensinar tudo que o aluno precisa saber, que por causa disso ele é obrigado a correr com a matéria e não pode se demorar muito em cada tópico
ExcluirAté então eu pensava que a agilidade com que se era dada essa matéria era normal, parece que como você disse, o senso crítico é um tanto fraco (não querendo me desculpar, mas devido ao desconhecimento de informações para se ser crítico)
Ele também criticou o plano de carreira, disse que a greve não beneficiou realmente o ensino, visto que não foi dado nenhum incentivo para o ingresso de bons professores no meio acadêmico... o salário oferecido a doutores é menor do que o que se esperar que um graduado ganhe
Nathan
ExcluirNas próximas horas publicarei um texto crítico. Peço que o mostre para o seu professor. Talvez ele queira colaborar.
Sempre a lenda de que o salário é insuficiente. Um professor na Universidade de Paris ganha em torno de 3 mil euros. Não é muito mais que aqui. Mas lá, o custo de vida, é muito mais que aqui.
ExcluirO problema é que ficam fazendo comparações estapafúrdias: delegado da policia federal ganha... um juiz ganha... um auditor da receita ganha..
Ora, os concursos são púbicos. que façam um desses então.
E nunca entendi por que não se comparam com os ganhos do Neymar ou do Ronaldinho. Que nem doutores são!
INVESTIMENTO
ExcluirDe fato essas comparações salariais são ridículas. No entanto, é fácil perceber que professores em greve sempre se rendem a aumentos salariais. Os representantes sindicais jamais estiveram preocupados com qualidade de educação. Mas um dos objetivo deste fórum e de iniciativas paralelas é mudar este quadro. Espero contar com a sua colaboração.
Olá caro colega,
ResponderExcluirme chamo Alysson Diniz, sou professor Assistente I da Universidade Federal do Ceará. Achei seu texto interessante demais, compartilhei-o na lista de discussão do meu departamento e de lá surgiram algumas idéias interessantes que sumarizo aqui:
1 - A estabilidade na carreira não é privilégio da carreira docente. Ela é baseada na 8112 que rege todo funcionário público federal brasileiro. Concordo que a estabilidade irrestrita é danosa, mas se ela for alterada, tem de ser através de uma reformulação em todo o serviço público brasileiro, e não apenas na carreira docente. Ora, se a carreira já é desprivilegiada por apresentar salário inferior ao de outras carreiras que exigem menos titulação, retirar a estabilidade apenas da carreira docente só iria afastar as pessoas que escolhem a profissão pq desejam de fato trabalhar com educação.
2 - A meritocracia me parece fundamental, no entanto gostaria de ressaltar que não é algo inexistente (mas sim insuficiente, como as Bolsas de produtividade são do CNPq) e não creio que seja a solução definitiva para todos os nossos problemas. Na Universidad do Chile, por exemplo, para cada artigo publicado em journal o professor ganha de 1000 a 4000 dolares. Se não é produtivo ou tem carga-horária baixa de aulas, o professor pode ser demitido em avaliação bi-anual do ministério da educação. Mesmo assim esta instituição não aparece em nenhum ranking a frente da USP, por exemplo.
Sobre os "tenured professors" dos EUA, colo a opinião de um colega exposta na nossa lista de discussão dos professores aqui da UFC, que esteve recentemente viajando por Universidades de lá:
"Nos EUA vi diversos "tenured professors" bem fracos, que não pesquisavam e davam aulas ruins. Conseguiram o tenure não por mérito, mas por amizades, jogos políticos, etc, e assim continuavam a se manter relativamente bem na carreira acadêmica por anos e anos. Outros, muito bons, não conseguiram porque não se alinhavam ao status quo da instituição -- justamente aquilo que a ideia do tenure procura preservar: pluralidade, autonomia, etc".
3 - Enfim, todos sabemos dos problemas da Universidade Pública brasileira. Todos temos histórias e experiências pessoais de favorecimento, conchavos, desleixo de professores e funcionários. Neste ponto, textos como estes, que nos fazem refletir sobre como deveriam se proceder as mudanças são importantes demais. Mas acho injusto e negativista demais nos relegar a uma condição histórica de colonizados, elitistas, atrasados e pontos fora da curva. Perdoe minha insolência quase juvenil, talvez ela seja culpa da pouca idade e tempo de profissão =]
Encerro com a fala correta do colega Windson Viana que sumariza adequadamente meu pensamento:
"Entretanto, lembro que os desinteressados ou descomprometidos são uma minoria dos nossos colegas da UFC. A frase do texto: "A consequência mais óbvia da estabilidade irrestrita para docentes das ifes é a falta de um ambiente competitivo na vida acadêmica pública", para mim é falácia muito grande. Quem faz pesquisa sabe quão competivo é fazer ciência no Brasil (projetos e artigos em bons lugares somente para quem trabalha muito e seriamente)".
Alysson
ExcluirTodos os argumentos apresentados, sem uma única exceção, já ouvi anteriormente. Muitos deles foram respondidos neste fórum. Outros tive que responder no facebook, por e-mail ou mesmo pessoalmente. Já tenho planejada uma postagem de resposta a cada uma de suas colocações, bem como a outras que estão sendo enviadas para mim. Peço apenas um pouco de paciência. Ainda não sei quando postarei este texto de resposta, mas deve demorar no máximo um mês. Tenha em mente que o presente texto perturbou consideravelmente a ordem natural deste blog, tornando-se o segundo mais visualizado desde 2009, em apenas 24 horas. Agradeço pelas suas importantes contribuições.
Qualificando...
ExcluirQuando afirmei que ouvi esses argumentos anteriormente, eu estava me referindo a discussões que estão acontecendo por aqui desde 2009.
Muito bom o artigo. Gostaria de ver uma crítica destas sobre as instituições de superior Privadas do Brasil.
ResponderExcluirHenrique
ExcluirHá algum tempo venho estudando as instituições privadas de ensino superior. Este é um tema que certamente interessa.
Prezado Adonai,
ResponderExcluirParabenizo pelo texto e pela iniciativa em torná-lo público. Refletindo um pouco sobre tudo que li lembrei de uma discussão sobre a inclusão de ponto eletrônico para servidores da UFPR. Você deve saber, melhor do que eu, como isso aconteceu e que fim levou.
Enfim, o exemplo do ponto eletrônico é apenas mais uma mostra do corporativismo doentio dessas categorias (servidores e professores).
Felipe
ExcluirNão confio muito nesse tipo de recurso. Aliás, sempre desconfio da dependência de mecanismos eletrônicos. Quando eu era garoto, havia campanhas do governo para as pessoas tomarem banho. Hoje isso não é mais necessário. Ou seja, precisamos mudar mentalidades, para que os alarmes sobre os faltosos sejam as próprias pessoas. Se um professor falta, os alunos devem cobrar da instituição.
Excelente artigo, mostra a realidade que fica escondida nas IFES "humboltdianas" (no pior sentido de universidade fechada).
ResponderExcluirParabéns
Artigo excelente. A estabilidade profissional é uma das coisas que mais atrasam a vida de um professor e pesquisador que queira ser produtivo. A estabilidade causa um prejuízo enorme, que se contabilizado, ainda seria subestimado. Mas o pior é ver o pacto da mediocridade: professores que fingem que ensinam e alunos, que sem saber o que fazer, fingem que aprendem. E no fim, métodos mirabolantes de avaliação são criados para exaltar nossa mediocridade. Uma vez ouvi um comentário de que Einstein não tinha currículo para ser Pesquisador 1A do CNPq (uma titulação dada a pesquisadores de excelência no Brasil). Eu pensei comigo mesmo "mas será que Einstein acharia uma honra, ou grande mérito, se Pesquisador 1A?". É dose!
ResponderExcluirSe dissecarmos os acontecimentos dentro de um contexto, percebemos que existe um processo e nele um conjunto de causas e efeitos. Só pra ser mais específico, em uma cultura cujo clientelismo impera mudar isso demanda tempo, se mudar... o fim da estabilidade seria para nós, hoje, a desgraça dos questionadores, dos éticos e dos comprometidos. Por quê? O que garante termos a liberdade para criticar e questionar, negar e não se submeter, mesmo que não sejamos ouvidos é justamente a estabilidade. Como a competência é deixada de lado, assistiríamos de certo bons profissionais serem dispensados para que em seu lugar, um "puxa saco" assuma, tudo de modo arbitrário e irracional, assim como ocorre com as nomeações de cargos de confiança, por exemplo.
ResponderExcluirLeo
ExcluirSeu argumento já foi usado por muitos outros. Diante da realidade de hoje, no Brasil, é muito possível que você tenha razão. No entanto, observe que não estou defendendo o fim da estabilidade. Estou defendendo o fim da estabilidade irrestrita. Ou seja, certos profissionais podem ser beneficiados pela estabilidade sem que tirem qualquer proveito egoísta. Além disso, nosso país precisa também de um sistema judiciário que funcione com agilidade e responsabilidade, para proteger o direito à crítica de qualquer cidadão. Educação não se faz apenas em sala de aula, mas envolve uma ampla rede social que inclui, justiça, segurança e saúde.
Sempre a lenda de que o salário é insuficiente. Um doutor da universidade de Paris percebe em torno de 3 mil euros. O que não é muito mais do que aqui. Mas o custo de vida, lá, sim é muito mais que aqui.
ResponderExcluirE ficam, os nossos docentes, fazendo comparações estapafúrdias: um delegado da polícia federal ganha... um juiz ganha... um auditor da receita ganha...
Gente, os concursos são públicos. Façam concurso para delegado, juiz, auditor...
Não sei até como ainda não compararam com os rendimentos do Neymar ou do Ronaldinho?
É, gente, parodiando alguém, jogar futebol é fácil. Basta o pontapé inicial e o apito final. Entre eles é que tem que existir talento!
Meritocracia? Lembro-me que, na última greve, os sindicalistas solicitavam que todos os professores tivessem seus salários igualados aos dos professores com doutorado, já que todos davam as mesmas aulas...
ResponderExcluirProfessor, sou um humilde técnico NS. Que faz serviço de NM. Porque, como sou administrador, sou um perigo. Imagine, um técnico administrar uma Universidade. Sacrilégio, só professores doutores peagádeuses podem fazê-lo.
ResponderExcluirCurioso. Os hospitais que não estão quebrados são os que souberam separar a área de hotelaria da área médica. E a hotelaria ficou na mão de administradores.
Mas deve ser um mau exemplo. Nos hospitais talvez não existam doutores tão doutos quando os das IFES.
Não o vejo como um humilde técnico. Para mim você parece alguém com maior consciência social do que a maioria dos professores deste país, especialmente os que trabalham em instituições públicas. Leia, por favor, a última postagem divulgada hoje. Todos contamos com a sua ajuda e com a ajuda daqueles que você conhece.
ExcluirSei que a gente séria. Infelizmente sou passional, explodo. Mas agradeço (e vou envidar meus melhores esforços) para que eu tenha mais calma. Assim é a forma de se trabalhar - nas novas estratégias - juntos.
ResponderExcluirSidney de Almeida
ResponderExcluirPrezado Adonai. Parabéns por este artigo tão lúcido e bem escrito. Realmente precisamos valorizar a real qualidade da educação e da ciência e não meros números. Eu iniciarei um pós-doutorado no exterior a partir de março próximo. Embora ainda esteja vivendo de bolsas acadêmicas, estou muito entusiasmado com as possibilidades de meu crescimento intelectual e profissional. Digo isso porque o objetivo geral de muitos profissionais no Brasil é conseguir a famigerada "estabilidade" e não necessariamente a excelência e competência. Não que a estabilidade não seja importante, mas temos de evitar a mediocridade. Depois de um ano retornarei ao Brasil e, pretendo eu, criar boas oportunidades de trabalho e produção no nosso país. Divulgarei o seu artigo o quanto puder. Parabéns mais uma vez!! Obrigado.
Sidney
ExcluirAgradeço pelo suporte. Como bem sabe, não é fácil falar sobre Deus com canibais.
Parabéns professor, sou mais um a elogiar seu artigo. Além de muito bem escrito e de ampla abordagem, é realista. Infelizmente, embora todos estejam cansados de ouvir, e até de repetir, os problemas começam na base do nosso sistema de ensino, principalmente o público. Como resultado, o despreparo do aluno é sentido lá na frente e o pior, não existe ação corretiva, não existe um remédio. Evidentemente essa correção não é função das universidades, mas então como estas permitem o crescimento e a formação deses alunos? Esse mesmo problema contamina as universidades particulares, talvez até de forma mais grave, que não sofrem com greves mas definham com infinitos sistemas de benefícios e cotas de todos os tipos, todos visando a inclusão a qualquer custo, mas sem se preocupar com a real formação e a maturidade dos jovens. Muitos alunos são definitivamente empurrados para as universidades sem estarem prontos para elas. A sociedade, os pais e outros fatores pressionam e o governo facilita de todas as formas essa entrada, quando este deveria prudentemente capacitar os que não estão prontos, e não lança-los em uma universidade de qualquer forma. Os alunos por sua vez, além de não entenderem a gravidade da situação, ainda são gratos! Aumenta o número de alunos ingressando nas faculdades e universidades brasileiras, o governo federal exalta os números exaustivamente, mas a qualidade dos profissionais formados não aumenta de forma equivalente, nem mesmo aproximada (fato esse que por si só, evidencia algum erro grave no processo). Dentre os resultados, temos "profissionais" formados, que sequer sabem formular uma estrutura textual simples, muitos que nem mesmo conseguem interpretar. São os problemas do ensino básico batendo no superior, mais uma vez. Investir diretamente na qualidade do ensino superior é muito importante e a presença gritante de todos os problemas mencionados é absurdamente grave, mas sem resolver as mazelas do ensino fundamental, é como querer construir uma casa começando pelo telhado: a falta das paredes será sempre um problema intransponível.
ResponderExcluirObrigado por apresentar suas idéias (e por permitir um espaço para comenta-las). Parabéns.
Sérgio
ExcluirLamentavelmente não tenho percebido qualquer vontade real para transformar o Brasil em um produtor de conhecimentos. Neste sentido, este blog tem sido um grande aprendizado para mim.
Agradeço pelo apoio. Apenas lamento que os poucos que percebem a gravíssima situação que o Brasil está cavando para si mesmo não contam com articulação forte o bastante para mudar esta realidade.
Prezado Adonai,
ResponderExcluirseu texto eh de fato bastante interessante e concordo com muitos dos pontos apresentados por voce. Gostaria apenas de comentar uma questao: a da estabilidade. Sou professora em uma universidade britanica que esta dentre as 10 melhores do mundo. Ao contrario das universidades americanas, ha estabilidade de emprego no Reino Unido (apos o periodo probatorio de tres anos), mas nem por isso os professores deixam de publicar ou de ministrar boas aulas. Nas universidades britanicas, a meritocracia e o reconhecimento por pares eh o que move a ciencia e a educacao. O mesmo ocorre na Franca, Holanda e outros paises europeus. Pessoalmente, nao acho que o sistema americano eh um que deve ser seguido, pois as universidades sugam o maximo que podem dos seus professores e depois nao dao estabilidade no momento em que ha uma certa perda produtiva (filhos, doencas, etc).
Resumindo, concordo plenamente com voce que ha muito que deve ser mudado em instituicao de ensino brasileiras, mas discordo que a causa deste problemas venha da establidade.
Atenciosamente,
Cristina
Cristina
ExcluirSeja bem-vinda a este fórum. A questão que você levanta já foi colocada por outras pessoas no facebook, por e-mails, em blogs e em conversas pessoais. Coincidentemente, daqui a pouco postarei novo texto que trata sobre este assunto.
Países europeus como Inglaterra, Alemanha, França e Itália, entre outros, contam com uma tradição científica e cultural muito antiga. Essa valorização natural à produção do conhecimento faz parte da cultura desses povos. Até mesmo cobrador de ônibus na Irlanda considera obrigatório que qualquer irlandês conheça a obra de James Joyce.
Já as sociedades do continente americano são muito mais recentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, 40% da população acredita que o mundo nasceu exatamente da forma como está descrito no livro do Gênesis. Sociedades como a norte-americana e a brasileira ainda não alcançaram o nível cultural do continente europeu. Não creio que regras cabíveis à Europa sejam adequadas por aqui. Mas, é claro, admito que posso estar errado. Por isso mesmo promovo discussões, com o objetivo de chegar a um denominador comum.
Vale observar também que a Europa perdeu muito espaço para o sistema acadêmico norte-americano. Alguém poderia argumentar que este fenômeno é recente demais para quaisquer avaliações mais definitivas. No entanto, creio que se um dia os povos do continente americano atingirem um nível intelectual mínimo para sustentar trabalho honesto sem a pressão da competitividade a extremos, talvez possamos futuramente adotar um modelo mais parecido com o europeu.
Ola Adonai,
Excluirconcordo plenamente que ha uma diferenca cultural. Que alias explica porque alguns paises da Europa publicam mais que os outros (ou seja, nao eh um problema especifico ao Brasil).
Mas acho que para comparar a produtividade entre universidades temos que levar em consideracao outros fatores. Universidades americanas sao as mais ricas do mundo. As taxas escolares la sao mais as mais altissimas e os alunos quando se formam ainda doam muito dinheiro as universidades. Com isso as universidades americanas tem "endowments" imensos, e por isso podem dar "start up grants" na casa de centenas de milhares a milhoes de dolares para seus novos professores. Ou seja, antes mesmo de comecar a carreira, estes novos professores americanos ja tem financiamentos maiores que muito brasileiros irao ter na vida. Na Inglaterra, onde a taxa escolar maxima cobrada eh 9000 pounds ao ano, e onde nao ha cultura de doacao de dinheiro a universidades, as universidades sao mais pobres e dao apenas alguns milhares ou dezenas de milhares de pounds em "start up grant". No Brasil, um professor recem contratado recebe apenas um monte de aula para dar. Alias, nao eh a toa que USP e UNICAMP que tem mais dinheiro que outras ifes e que tem acesso a FAPESP sao as universidades mais produtivas do Brasil.
Outro ponto que vale a pena mencionar eh que a lingua influencia muito. A maior parte das disciplinas sao publicadas e discutidas em ingles, e eh claro que pessoas de paises de lingua inglesa ou que saibam ingles bem desde pequenos consigam se comunicar (e publicar) muito melhor em uma lingua que eles dominam. Canso de ver trabalhos excelentes em portugues que ficam bobinhos quando passados ao ingles por autores nao-fluentes.
Existe tambem a questao da formacao academica. No Brasil, ainda ha a ideia de que a pessoa tem que entrar em um concurso logo apos sair do doutorado, enquanto que na Inglaterra pessoas fazem 3 a 9 anos de pos-doc antes de conseguir uma posicao academica. Na minha opiniao, isso eh grande parte do problema, pois pessoas que ainda estao aprendendo a ser pesquisadores ja logo entram na vida profissional com carga de aulas imensas e nao conseguem dar conta de montar disciplinas e uma linha de pesquisa inovadora. Enquanto que as universidades dos USA e Inglaterra protegem os novos professores nos primeiros anos para que eles consigam montar sua linha de pesquisa para depois comecar a dar mais aula.
Por fim, acho injusto comparar a producao de professores brasileiros que dao por volta de 250 horas de aula por ano com professores estrangeiros que dao 50 horas de aula por ano, como na Inglaterra (ou como nos USA em que os alunos de doutorado ajudam a dar as aulas).
Na minha opiniao, comparar diretamente a produtividade de professores brasileiros e americanos eh a mesma coisa que comparar o numero de medalhas olimpicas entres estes dois paises. Nas ultimas olimpiadas, cansei de ver no Facebook e internet o povo brasileiro desmerecendo os atletas olimpicos pela falta de medalhas. Mas ninguem comparou a quantidade de dinheiro que eh posta pelo governo americano em esporte com a falta de condicoes e apoio que os atletas brasileiros enfrentam. Engracado que nas para-olimpiadas, que nenhum pais investe muito dinheiro, os brasileiros se sairam muito bem.
Eu acho que grande maioria dos casos vontade nao falta, o que falta ao professores e pesquisadores brasileiros sao boas condicoes de trabalho.
Desculpe pelo texto longo!
Oi, Cristina
ExcluirEntendo suas críticas e, até certo ponto, concordo. No entanto, não consigo deixar de lembrar do exemplo de Stanford. É uma universidade relativamente jovem, em comparação com demais instituições da Ivy League americana. Quando Stanford começou, a viúva do velho Leland Stanford enfrentou sérios problemas financeiros. O governo federal queria se apossar daquilo tudo. No entanto, ela batalhou com garra para preservar a memória do filho, a quem a instituição é dedicada. Ou seja, existe sim o fator financeiro. Mas por trás deste fator há muita garra e determinação que raramente se vê no Brasil. Há paixão mesmo.
Lembro também do exemplo da Polônia, recentemente postado neste blog. Um país pobre que se transformou em uma potência mundial da matemática. Tudo isso conquistado com um idealismo que vence até mesmo barreiras financeiras.
Se você examinar outras postagens neste blog, perceberá que existe muito comodismo em universidades públicas brasileiras. Existe muita preocupação com políticas mesquinhas. E existe muita incompetência. É claro que existem aqueles que são honestos, competentes e academicamente dedicados. A estes as suas críticas cabem perfeitamente bem. O problema, porém, é que há também uma massa muito grande de professores de universidades públicas que simplesmente não se compromete com educação e ciência.
Nem todos são como você, Cristina. Você, pelo que percebo, não precisa de mecanismos artificiais para produzir conhecimento e divulgá-lo. Mas pessoas com o seu perfil são muito raras por aqui.
Talvez você até tenha razão em sua avaliação de que vontade não falta. No entanto, simplesmente falta a noção do papel social de uma universidade. Mesmo você afirmou concordar com vários pontos do artigo. E muitas das críticas apontadas sequer foram pensadas por inúmeros professores com quem tenho conversado.
Aliás, Cristina, preciso parabenizá-la. Apesar de estar trabalhando fora do Brasil (o que certamente demanda tempo considerável seu), não esqueceu de sua terra natal. Sua sensibilidade é realmente apreciada por mim e por muitos outros.
ExcluirOla Adonai,
ExcluirSim, realmente, existe muita gente boa e muita gente ruim e acomodada no Brasil.
Imagino que nao seja facil bater de frente com universidades e governo. Por isso tambem gostaria de dar meus sinceros parabens por esta sua luta ingrata! Espero muito que suas palavras tenham efeito, pois confesso que com as condicoes atuais nao tenho muita vontade de voltar ao Brasil.
Boa sorte!
Acabei de ler o artigo na Scientific American que comprei hoje, assim como faço todo inicio de mês aqui em Porto Alegre.
ResponderExcluirFoi o segundo artigo que li na revista, ou seja me chamou a atenção o assunto, sou tecnico em química e trabalho em uma universidade bem conhecida em Porto Alegre, também sou aluno dela.
Realmente a maioria dos Doutores não sabem inglês, eu pelo contrario desde a adolescência dei muita importância a língua estrangeira e filosofia, depois de 15 anos estudando inglês ja estou no 2 ano de alemão. Porém eu não faço parte da panelinha, não sou puxa saco, e ja perdi boas oportunidades devido a minha maneira. Não me atenho a um assunto somente, vivo estudando, as coisas que decido e me fazem feliz, mas acabo não tirando notas 10 na faculdade.
Aqui pelo menos o calculo infinitesimal, o conceito disso é muito falado seja em limites , derivadas e calculos diferenciais, e nas disciplinas aplicadas, os professores tem essa preocupação, é como falaste no artigo, esse conceito é de extrema importancia, para engenharia, quimica , fisica, nem tudo esta perdido.
Porém eu troquei de curso desiludido com este universo, por gostar muito de fisico-química e matematica comecei a programar para tentar aprender construir simulações, entrei no mundo da programação, para trabalhar para fiísico química, porém a dificuldade é tanta como falei antes, poucos entendem o que é a ideia, existem clubinhos de amiguinhos, onde quem sabe uma cabeça pensante poderia vir a dominar ' medo deles' que troquei de curso, sai da química, da engenharia, e passei para ciencias da computação, mesmo faltando pouco para me formar e trabalhando há 8 anos na área com tecnico. Lá se não achar meu clubinho, trabalho sozinho.
Eu quero chegar no seguinte, me parece que a maioria finge, brinca de cientista e pesquisador com suas patotas, a ciencia esta em segundo plano. O Profº Adonai no meu entender que o problema do ensino superior no nosso pais é critíco, mas posso dizer que a prática esta pior.
Eu amo ciencia, mas infelizmente tenho que começar a pensar mais no meu futuro.
Paulo
ExcluirApenas para esclarecer sobre um detalhe. Infinitésimo é um caso particular de número hiperreal. O estudo de infinitésimos exige um profundo conhecimento de lógica e análise não standard. Desconheço qualquer graduação no Brasil que trate deste assunto. Não podemos confundir infinitésimos com diferenciais. São conceitos radicalmente distintos.
Olá Adonai
ResponderExcluirAprendi que infinitésimo ou infinitesimal seria o limite tendendo ao menos infinito, o ideal de se chegar ao instantaneo, a um estado de um processo qualquer cada vez menor, não seria isso o calculo diferencial? As derivadas de variaveis tendendo ao menos infinito? Ao momento infinitesimal ou infinitésimo, onde o inverso disso é uma integral, o todo?
Paulo
ExcluirLamento, mas essa noção de infinitésimo é simplesmente absurda. Quem disse isso a você cometeu um erro gravíssimo, algo muito comum nas universidades brasileiras. Infinitésimo é um número positivo menor do que qualquer real positivo. Portanto, não pode ser um número real. Portanto, não faz sentido definir este conceito a partir de limites.
Para referências confiáveis, recomendo o link abaixo:
http://mathworld.wolfram.com/NonstandardAnalysis.html
Quando afirmo que este país é intelectualmente atrasado, muita gente acha que exagero. É muito difícil para um aluno perceber quando seus professores falam insanidades. Mas garanto: essas insanidades estão muito mais presentes do que possa sequer imaginar.
Além disso, existem diversos tipos diferentes de cálculo diferencial e integral. O cálculo estudado nas universidades brasileiras geralmente é aquele fundamentado em limites, derivadas e integrais de Riemann. Mas existem também cálculos fundamentados em outros conceitos de integração: Lebesgue, Haar, Kurtzweil, entre muitas outros. E a análise não standard é ainda um tipo de cálculo radicalmente diferente dos demais. O mundo do cálculo diferencial e integral é algo que vai muito além das palavras de autores e professores propagadas neste país.
ExcluirObrigado Professor
ExcluirEu devo ter entendido tudo errado, vou pesquisar melhor, afinal eu que relacionei a palavra'infinitésimo' com a palavra 'infinitesimal'.
Obrigado pelo link 'sinopse', iria ver o que encontro sobre o assunto a partir destas referências.
Prezado professor Adonai
ResponderExcluirConcordo com tuas palavras em relação à ausência de meritocracia no ensino superior do Brasil. Mas creio que isto é apenas a ponta do iceberg.
Na minha modesta opinião os principais problemas da educação no Brasil são os seguintes (digo tudo em termos de educação básica e superior):
1) Obrigatoriedade do ensino: E fácil perceber que nem todo mundo tem vocação para estudar. Não falo em termos de capacidade, mas de vontade mesmo. Se somente pessoas com vontade fossem estudar,aumentaríamos bastante o nível da aulas. Posso ser taxado de elitista, mas essa é a realidade! Quem não quer estudar, que trabalhe!
2) Massificação do ensino: Como consequência da obrigatoriedade, o ensino se massificou. Com isso ele teve que se nivelar por baixo. Isso piora ainda mais no Ensino Médio onde deveria haver, uma separação entre turmas técnicas, que querem trabalhar logo, e científicas, que irão as universidades.
3) Progressão continuada (leia-se aprovação automática): Essa é a na minha opinião uma das principais causas da destruição de nossa educação. Muito se fala de impunidade, mas ela se inicia logo de cara na escola, onde alunos imerecidamente, passam ao próximo ano sem terem mínimas condições de cursar a próxima série. Ai vem aquelas pedagogas de ar-condicionado dizendo que a reprovação traumatiza as crianças e blá blá blá, mas isso é bobagem. O que prejudica não é a reprovação e sim atitude diante dela. Eu mesmo reprovei em disciplinas na faculdade e quando as cursei novamente tive um ótimo desempenho.
4) Banalização do acesso ao ensino superior:Este governo dos últimos anos escancarou as portas da universidade. Agora qualquer boçal entra em uma faculdade. Porém, como disse Elon Lages Lima em uma de suas palestras, nem todo mundo deve fazer faculdade. Segundo ele, isso baixa o nível das universidades consideravelmente. Concordo com ele. Creio que para que algo seja valorizado, tem que ser conquistado com muito esforço e dedicação e não da forma "dada de mão beijada" feita pelo governo.
5) Desvalorização dos professores: No nível básico, um professor ganha muito mal. E um emprego que ganha mal, só irá atrair péssimos profissionais. Criou-se um ciclo vicioso, onde se propaga a filosofia do Vampeta: o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende, conforme foi relatado acima. Com isso bom profissionais formados em licenciatura estão abandonado o ensino. Eu mesmo abandonei por falta de condições de trabalho e baixos salários. Temo que no ensino superior algo parecido aconteça.
O mais estranho de tudo prof Adonai, e, com todo o respeito, eu nunca vi ninguém e tampouco professores universitários, criticando e reclamando sobre os problemas 1, 2, e 3. Agora que a água bate na universidade é que alguns começam a se manifestar. Mas pelo que expus acima, a vaca já está indo pro brejo há muito tempo...
Está na hora de refletirmos sobre tudo isso, e lutarmos por uma reforma em toda a estrutura educacional do país.
Hugo
ExcluirProponho o seguinte: discutirei sobre esses problemas em postagem futura. Há outros textos a caminho. Mas imagino que em poucas semanas poderei postar algo sobre essas questões.
Olá Hugo.
ExcluirGostaria de comentar alguns de seus pontos, apesar de ser professora em uma Universidade privada e não ter tantos anos de experiência com a academia, como o professor Adonai.
1) Obrigatoriedade do ensino: Sinceramente não concordo com você sobre este ponto porque acredito que nem todos os pais conseguem fomentar a curiosidade que já é natural da criança e, pior, nas escolas os professores acabam matando isso. Creio que todo ser humano quer aprender sim, porém não temos professores realmente preparados para dar AULAS! E depois, se mantivermos o nível das aulas alto, os alunos acabam se esforçando, DESDE que motivados. O que acho é que deveria haver, depois de alguns anos básicos, uma divisão de áreas que os alunos buscariam por conta (nas aulas). Mas trabalho mesmo, só quando tiver idade para ser menor aprendiz!
2) Massificação do ensino: Foi o que acabei citando acima. De acordo com a curiosidade dos alunos, eles poderiam buscar as aulas que mais gostassem, ainda tendo as básicas. Isso deveria acontecer tanto no ensino médio quanto nas graduações. Só uma ideia. Além disso acho que o professor de ensino fundamental NÃO deveria dar todas as disciplinas. É a BASE, ela deve ser cuidadosa!
3) Progressão continuada (leia-se aprovação automática): Concordo totalmente com isto e conheço alguns pedagogos que também estão levantando esta questão. Ora, as barreiras acontecem por toda a vida e temos que aprender a ter resiliência (isto quase não existe no Brasil, ou seja, as pessoas desistem de tudo muito rapidamente aos primeiros sinais de que não está indo por onde querem). Aprender que o NÂO também é positivo, é importante. Promover alunos fortes e que busquem com mais afinco aquilo que realmente querem.
4) Banalização do acesso ao ensino superior: Concordo. Fiquei boba quando o Adonai me disse que a nota para passar (nas disciplinas dele) é cinco. Quando estudei na UFPR era sete e na Universidade onde trabalho também, os alunos tem que tirar sete a cada bimestre para passar de ano. Tive um professor na UFPR que sempre me dizia que devemos dificultar as coisas aos alunos. NUNCA facilitar! Sempre elevar o nível das discussões e não o que geralmente acontece, que é rebaixar o nível.
5) Desvalorização dos professores: Concordo. Pois vejo muitos bons profissionais que desistem de dar aula não somente pelo salário, mas principalmente por falta de meritocracia. Fazem bem mais que outros e recebem o mesmo! A valorização deveria ocorrer desde o fundamental até o superior. Pois senão teremos professores que mal sabem escrever (e garanto que isso eu já vi muito, inclusive no superior).
Por fim, a sua colocação de que nunca viu ninguém e tampouco professores universitários, criticando e reclamando sobre os problemas 1, 2, e 3.... bom, tenho que discordar, pois na faculdade de Letras, da UFPR, discutimos muito sobre isso com vários professores. O problema é conhecer algum "grandão" que possa mudar esta situação. Pois todos sabem que o ensino superior tem os alunos que estão ali por causa de todo um fundamento falho.
Minha modesta sugestão: TRABALHAR COM SERIEDADE TODOS ESTES PONTOS DESDE O FUNDAMENTAL ATÉ O SUPERIOR, EM CONJUNTO. Não separadamente.
Olá Susan
ExcluirDeixe-me esclarecer alguns pontos:
1) Evidentemente não concordo com o trabalho infantil. Mas na minha opinião muitos alunos não gostam ou não querem estudar mesmo. A tua ideia de criar uma escola que atendesse a vários tipos de "clientela" é muito boa. Mas se tivermos esta mesma escola básica de hoje, apenas alguns irão se interessar por ela. Talvez um modelo que atendesse a alunos que se interessassem pelo mercado de trabalho, e a outros que queiram ir à Universidade, de modo separado, como ocorre em vários países, seja a solução.
2) Tudo que se massifica torna-se muito ruim. Ainda mais com a situação atual de termos mais de 40 alunos por sala. O professor não consegue trabalhar com essas turmas heterogêneas de modo a atender a necessidade de cada um. Com relação a professores concordo contigo, não deveria haver apenas um único professor no fundamental, visto que muitos, para não dizer a maioria, detestam matemática e têm que ensinar as bases destas ciência aos pequenos.
Peço perdão quando disse que nunca vi algum professor criticando as situações 1, 2, e 3. Evidente que existem muitos críticos em relação a esses problemas. Mas a grande maioria permanece calada.
Quando fiz minha graduação em Matemática em uma grande universidade daqui de SP, minha professora de Prática de Ensino era grande defensora da Progressão Continuada e provavelmente nunca botou os pés em uma sala de aula do básico. Talvez pelo falo de o reitor da universidade ser escolhido pelo governador, estes professores têm que seguir a política educacional implementada. Mas já ouvi muitas reclamações de outros professores, mas pouquíssimas atitudes.
Acho interessante o que a UFPR faz nos primeiros anos de Matemática, que é ministrar disciplinas de nivelamento ( funções e geometria analítica). Creio que isso de uma nivelada nas turmas.
Por fim também concordo que devemos realmente trabalham todos os pontos acima conjuntamente, desde o fundamental até o superior, E não deixar a bucha somente para a universidade e aos professores sérios. Senão teremos aquilo que citei em outro post, que é a formação de pessoas completamente inaptas para o exercício de suas respectivas profissões.
P.S. Perdoe-me pelos erros de Português que possa ter cometido.
Olá Hugo. (vai em duas partes)
ExcluirCreio que a intenção de todos aqui no blog, pelo menos dos que fazem comentários, é a busca por melhores soluções para a educação. CLARO que todos nós somos limitados. Um exemplo: desde 2005, quando conheci o professor Adonai (por causa de uma sociedade de leitores tortos), sempre deixei claro para ele que detestava o inglês (na época estudava espanhol e francês). Assim uma defasagem enorme que tenho é o idioma norte-americano (apesar de que no Canadá eu me viraria muito bem). Portanto, voltando ao fio da meada, considero de extrema importância estas trocas no blog. Vejamos o que você expõe:
Novamente a questão de que muitos alunos não gostam de estudar. Trabalhei durante anos em uma ONG para menores carentes. Nela, o ensino era para serem menores aprendizes. Ficavam em um período na escola normal, outro período em uma empresa e duas vezes por semana iam na ONG para aulas conosco. Ali eles tinham diversas disciplinas, desde inglês e espanhol, computação, administração, secretariado, arquivamento, empreendedorismo, etc. Muitos iam meio que forçados pelas mães que não queriam mais que eles ficassem no mundo das drogas, outros iam porque queriam fugir de pais violentos. Outros ainda eram enviados pelo FAS (moravam em casas da prefeitura, abrigados de violências indescritíveis ou por ameaça de morte por traficantes). Creio que você possa fazer uma pequena ideia de como é isso (assim como eu fazia antes de entrar na ONG), mas garanto que a realidade é BEM pior. Pois bem, a gente pensa que adolescentes que foram espancados pela mãe, que foram violentadas pelo pai, que são ameaçados de morte, querem apenas se refugiar e dar as costas ao mundo que não deu boas chances para eles. Ou seja, eles queriam apenas trabalhar e ganhar dinheiro. Estudavam porque era uma condição da ONG: boas notas na escola. Pois bem, sou do tipo de pessoa que é mais afetuosa, que gosta de tocar. E garanto que 90% dos que estavam ali, no início se retraiam toda vez que eu me aproximava (achando que iam apanhar ou como proteção natural para não se machucar mais tarde: gostar de alguém que vai embora algum dia, afinal, sempre foram abandonados). Minhas aulas eram com conteúdo, mas sempre envolvia algum aspecto lúdico e acabava por entrosar os alunos. Claro que nem sempre se conseguia com todos. Turmas de no máximo 25 alunos eram um dos "segredos". Mas o professor vai meio que por instinto nas aulas. Uma vez trabalhei um texto em sala do Machado de Assis (O Apólogo), procurando ver a empatia dos alunos com a agulha, com o pano, com o alfinete, a linha, etc. Uma dinâmica que eu fazia. Ao final, comentei que Machado de Assis era mulato. Os olhos de uma aluna negra brilharam. Ela perguntou de novo. "Machado de Assis era mulato?" Disse que sim, que um dos maiores escritores brasileiros era mulato e vivia em uma época de muita discriminação no Brasil. Porém, conseguiu, mesmo mulato e gago, ser um grande escritor. Porque ele queria muito e não desistiu. Ela então me perguntou se poderia ser o que quisesse e novamente confirmei, se ela assim realmente o desejava. Ela sorriu e perguntou: posso ser advogada? Novamente confirmei, avisando que teria que fazer faculdade de Direito. Na aula seguinte levei um retrato do Machado para ela e a presentei com um livro. Poucos anos depois, no orkut (ainda), ela me escreveu dizendo que estava fazendo faculdade de Direito e que queria ser promotora.
(parte dois - continuando)
ExcluirClaro que estou falando de uma vitória, mas tive perdas também. Como um aluno que me dizia que não entendia para que trabalhar todas as manhãs em uma empresa e ganhar só 500 reais por mês (na época), se em uma semana como aviãozinho (drogas) ele ganhava por vezes mil reais. Perguntei onde estavam os amigos dele. Uns presos, outros mortos, ele respondeu. Eu disse que era por este motivo que ele devia continuar na empresa e que a situação era passageira, que ele poderia no futuro ganhar bem mais que isso (claro que neste momento eu não poderia ficar "vomitando" sobre lei e ética, apesar de sempre comentar em todas aulas com algum texto literário). Ele disse que eles não eram "espertos" como ele e por isso foram pegos ou mortos. Pois bem, semanas depois ele voltou ao mundo do crime e depois foi preso.
Finalizando, por experiência, vi muitos alunos dali virarem até gerentes de banco. Alguns fizeram faculdade. Outros foram trabalhar honestamente. E eram todos desacreditados da vida. Sem ânimo para estudar. Nem vou comentar casos mais escabrosos que vivenciei ali. Por isso acredito que podemos fazer renascer a curiosidade, a criatividade, a vontade de saber mais, mesmo em crianças tão "problemáticas". Mas temos que nos esforçar e sempre trocar ideias. Mais tarde comento o resto que você coloca. Um abraço!
Olá, só gostaria de comentar o post nº "4) Banalização do acesso ao ensino superior" da Profª. Susan... Discordo quando a senhora coloca que se surpreendeu ao ver que a nota mínima é 5 nas matérias do Prof. Adonai....
ExcluirCaso parecido ocorreu na universidade que frequentei. Na maioria esmagadora das vezes, um 5 ou MM, é muito mais difícil de se conseguir numa Universidade qualificada (sabemos que existem instituições e instituições por aí) do que em outras faculdades ou universidades privadas.
Isso ocorre aqui em Brasília onde, na maioria esmagadora dos cursos de nível superior, a UnB é melhor do que em toda e qualquer 'privada' da região.
Discordo com o argumento utilizado no "4) Banalização do acesso ao ensino superior" da Profª Susan. A nota 5 ou MM, aqui na Universidade onde estudei, comprovadamente, pelo menos nas matérias de cálculo e estatística, até nas específicas... são muito mais difíceis do que um 7 nas outras faculdades e universidades da região. Pode ser uma particularidade de Brasília, mas na maioria esmagadora dos cursos, a UnB é melhor do que qualquer uma do DF.
ExcluirE pelo que percebo, 5 é uma médias nas Universidade Federais, consideradas, em média, de melhor qualidade e rendimento.
Danilo e Susan
ExcluirNão é minha intenção impedir a discussão aqui iniciada. Mas tenho um pedido a fazer. Os tópicos levantados pelo Danilo, bem como as observações feitas pela Susan, merecem uma postagem específica. Para evitar a diluição de argumentos, peço a paciência de vocês até o momento em que eu divulgue um texto especificamente sobre esses assuntos. Acredito que em pouco tempo serei capaz de fazer isso.
Danilo, peço que coloque aqui o seu sobrenome, para fins de citação em postagem futura.
ExcluirOK, Adonai. Aguardo sua postagem para poder responder ao Danilo. Obrigada pela paciência! Danilo, caso tenha face e queira conversar por lá, basta me procurar! Susan Blum Moura.
ExcluirHugo, Susan e Danilo
ExcluirA próxima postagem será sobre os temas aqui discutidos por vocês três. Pretendo veiculá-la no dia 16, amanhã.
Neste momento estou para ser nomeado numa univ. federal. Mas seriamente devo refletir bem, se realmente vale a pena. Ou tento plentear uma vaga em alguma estadual de sao paulo.
ResponderExcluirMarcelo
ExcluirRecomendo que leia a postagem do link abaixo. É um exemplo real que pode servir de inspiração a você.
http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2009/10/newton-e-brasileiro-e-dai.html
Fabiano Rodrigues de Melo encontrou dificuldades para postar comentário por aqui. Por isso ele enviou seu texto como mensagem no facebook, pedindo para que eu reproduzisse neste fórum. Segue abaixo o comentário, quebrado em dois:
ResponderExcluir_____________
Oi Adonai, seu texto realmente é rico de ideias, provocações e recheado de graves apontamentos, conhecidos e vivenciados por todos nós que trabalhamos em universidades federais. Excelente exposição que você fez, aberta, sincera e muitos já comentaram aqui. Aliás, fiz questão de ler cada comentário, incluindo as excelentes contribuições de muitos. Bom, não quero me delongar (vou tentar), mas só queria lembrar que o mérito, ainda que concorde plenamente que ele seja a força motriz de qualquer universidade, precisa apenas ter critérios mais abrangentes na análise final do que cada professor, dentro do seu contexto e realidade de trabalho, consegue obter. Isso significa dizer que produzir bons artigos, de impacto, a partir de ideias e hipóteses, é a espinha dorsal sim dessa mensuração de mérito, mas, que temos outros itens ou detalhes que podem e devem ser incorporados ao processo. Entendo que, como bom medidor que é, possuir artigos com alto fator de impacto e delimitar isso como ponto de corte, é justo e bastante confiável, pois mantém sempre a "competição" saudável entre os pares (realidade que vivenciamos hoje pela CAPES, CNPq e FAPs para concessão de bolsas produtividade, projetos etc.). Mas como professor universitário que sou, que leciono entre 12 a 14 horas aula/semana/semestre, que por falta de quórum - falta de quadro técnico adequado, ou por desejo próprio (por que não, afinal, podemos e devemos gostar de questões políticas que nos cercam), participo de comissões e diversos cargos administrativos disponíveis, vamos em congressos, orientamos em todos os níveis (PIBIC-JR, graduação, pós-graduação), participamos como coordenadores ou colaboradores de diversos projetos de pesquisa e extensão (isso significa escrever dezenas de propostas para conseguir recurso e depois, escrever mais dezenas de relatórios e muitos dias de campo por ano, fora das salas de aula ou de seu ambiente de universidade), participamos ativamente de nossas entidades representativas, como sociedades (no meu caso dentro da grande área da Zoologia), auxiliamos o governo federal, através de participação em reuniões técnicas (IBAMA e ICMBio) ou discussões sobre listas de espécies ameaçadas, criação de novas UCs, organizamos eventos paralelos (extra-IFES), sejam em congressos nacionais, regionais ou mesmo cursos de capacitação de alunos para uma determinada área do conhecimento, organizando atividades com as secretárias municipais ou estaduais de meio ambiente, auxiliando programas de fiscalização sejam eles federais (IBAMA), estaduais (secretárias de meio ambiente) ou locais (polícia ambiental), enfim, isso só para lembrar um pouco do que eu, como professor de uma IFES faço...
Continuando...
ExcluirPosso até concordar que meu contrato de trabalho não prevê tudo isso, mas como cidadão responsável pela formação de uma massa crítica, sinto-me bastante orgulhoso de conseguir realizar essas ações. Daí vem meu apontamento, para terminar, o que é meritocracia dentro da universidade federal no Brasil? Publicar na Nature ou na Science e ganhar uma cátedra vitalícia ou um prêmio Nobel? Ou, tentar fazer isso de forma mais criteriosa (sempre, como disse antes, pois afinal, é a nossa força motriz), mas se aproximar do mundo real que nos cerca e se multiplicar como ator de diversas frentes de batalha, porém ajudando substancialmente na formação de alunos/cidadãos conscientes, ao aproximar a universidade do grande público que a sustenta (com os impostos), que é a nossa sociedade? E, por tabela, resolver problemas da vida real, do cotidiano e, mesmo que isso não me leve a um artigo de excelência, pelo menos garante um dos pilares da nossa universidade, que é a pluralidade de funções, pensamentos e discussões. Enfim, fica minha descrição de como devemos ser cuidadosos e criteriosos para avançar na meritocracia institucional. Espero que tenha ajudado para a discussão, grande abraço, Fabiano R. de Melo.
Professor Fabiano
ExcluirAparentemente conseguimos identificar o motivo da dificuldade de comentar neste blog: havia uma quantia de caracteres que excedia o permitido pelo blogspot. Por isso fui obrigado a quebrar seu texto em duas partes.
Concordo plenamente com sua avaliação. Apesar de eu ter enfatizado produção intelectual no artigo, vale observar que não foram ignoradas demais formas de produção. Basta ver, por exemplo, a discussão sobre a falta de cátedras nas ifes.
Recentemente houve um encontro científico aqui no Brasil cujo tema era o seguinte: Quando o Brasil terá o seu Nobel? Um dos participantes disse algo mais ou menos assim: precisamos investir na ciência e na tecnologia que beneficiem o país; a partir disso o Nobel será apenas uma questão de tempo.
Apesar de eu ainda julgar essa visão bastante radical (pelo menos em relação à sua), evidentemente ela tem o seu mérito.
Algo que eu realmente apreciaria é um fórum nacional (não apenas na internet) que discutisse todas essas questões com o objetivo de apresentar um novo modelo para as universidades públicas deste país. Toda ajuda neste sentido é muito bem-vinda, principalmente de pessoas que conseguem avaliar os problemas da academia brasileira de forma equilibrada como você.
Professor Francisco,
Excluirtenho algum receio de docentes em cargos administrativos. O Sr., por exemplo, não sabe que não tem um "contrato de trabalho" com a universidade? Sem conhecer legislação é difícil, realmente, ocupar-se de cargos administrativos.
Investimento
ExcluirEste é outro aspecto realmente incômodo da vida acadêmica. Administração universitária é tratada como algo acessível ao senso comum. No entanto, definitivamente não é o caso.
"Em 1998 o Governo Federal criou por decreto a Gratificação de Estímulo à Docência no Magistério Superior. Tratava-se de um adicional ao salário dos docentes de instituições federais de ensino superior (ifes), cujo valor dependia da produtividade em ensino, pesquisa, extensão e administração de cada professor. Pouco tempo depois o valor máximo desta gratificação foi incorporado aos salários de todos os docentes concursados das ifes"
ResponderExcluirMentira, a GEMAS só foi incorporada agora, depois da greve. Abs.
Juliana
ExcluirTalvez você não tenha acompanhado o processo, na época. Não estou falando de máscaras promovidas por mudanças de rubricas. A GED, hoje em dia, sequer aparece em contra-cheques. Mas é fato que, inicialmente, todos os professores de ifes precisavam preencher formulários anexados a documentos comprobatórios, com o objetivo de receber a GED. E é fato que em pouco tempo isso se tornou desnecessário. O valor máximo da GED passou a fazer parte do contra-cheque sem qualquer necessidade de comprovar produção. Pense um pouco antes de escrever acusações.
O comentário que se segue foi escrito por uma pessoa que assina simplesmente como Lucio. Recebi por e-mail e ele pediu para que publicasse por aqui.
ResponderExcluir________
Li com muita satisfação o seu artigo sobre as universidades brasileiras,
publicado recentemente na Scientific American, Brasil. A única ressalva
que eu faço é falta de dados comparativos com o que ocorre no primeiro
mundo, com exceção dos Estados Unidos. Em uma das postagens você
argumenta que as universidades européias têm outra tradição, não me
lembro das palavras exatas, mas parece que o sentido foi esse. Eu
gostaria de saber se na Inglaterra, Alemanha, Polônia, Itália, Suécia,
Suíça, Áustria, Noruega, Dinamarca, Holanda, Austrália, Nova Zelândia,
Bélgica, Hungria, Japão, Coréia do Sul, etc. a situação é a semelhante
ao que ocorre no Brasil ou nos Estados Unidos, ou seja, o cargo é
vitalício ou que conta é o mérito. Suponho que seja a segunda assertiva
seja a verdadeira, o que explica a diferença brutal entre eles e nós. E
no México, Argentina e Chile?
Mas será que a situação der ser 'indemitível' é suficiente para explicar
o nosso atraso em ciência e tecnologia? Apesar desse atraso, o Brasil
ocupa a 15a posição em termos de artigos publicados em periódicos
indexados. Na relação de 20 países que mais publicam a maioria
esmagadora é do primeiro mundo. Exceções são Índia, Turquia e Brasil.
Não sei como classificar Polônia e Irlanda. Será que a ciência,
inovação, desenvolvimento tecnológico serão atividades exclusivas dos
países ricos? A relação dos agraciados com os Prêmios Nobel de Física,
Química e Fisiologia e Medicina sugere isso.
Em uma de suas postagens, você argumenta que um brasileiro, Peter
Medawar, ganhou o de Fisiologia e Medicina, em 1960. Mas ele deixou o
Brasil com 15 anos de idade. Será que o fato de um vencedor desse prêmio
ter nascido em país confere a esse país tal crédito? Por exemplo, Eric
Kandel nasceu na Áustria, em 1929, de onde emigrou para os Estados
Unidos, onde trabalhou a vida toda. Quem merece a honra? Uma publicação
oficial suíça fornece o nome de Einstein como um dos 20 cidadãos suíços
a receberem um prêmio Nobel. Mas é fato que ele nasceu na Alemanha,
tendo renunciado à cidadania alemã, e adotado à suíça, para evitar o
serviço militar.
A universidade não é para todos. Dizer que todos são iguais e têm a
mesma capacidade é uma falácia. Alguns poucos carregam o mundo nas
costas. Como Atlas que, na verdade, carregava apenas o globo terrestre.
Gostaria de saber como (e se) os alunos cotistas irão concluir a
faculdade. Como esses profissionais serão colocados no mercado de trabalho.
Há três anos, li dois textos escritos por um sociólogo de UnB, com
doutorado na Alemanha e uma série de livros publicados. Pude detectar
pelo menos um erro em cada parágrafo, mas fui o único em uma turma de
30. O pior é que esses textos continuam a ser repassados por uma
professora com o mesmo nível intelectual do sociólogo. O filósofo Luiz
Felipe Pondé considera a atual universidade brasileira um dos lugares
mais medíocres que existem. Tendo a concordar com ele. É provável que
isso se deva à substituição do mérito pela visão da tabula rasa.
Ainda não estamos no fundo do poço. Chegaremos lá quando os salários de
um burocrata sem titulação for equiparado a de um professor adjunto,
associado, como querem sindicatos. Estou com um artigo aceito para ser
publicado na Revista Virtual de Química. Como de praxe, o referee fez
algumas considerações, das quais eu aceite 90%. Eu sou o único autor e,
nas conclusões, eu escrevi 'neste artigo eu faço uma análise, etc.' Pois
o colega sugeriu que eu mudasse o tempo verbal. Embora ele(ela) não
especifique o tempo verbal que devo usar, é óbvio que deve ser 'fez-se',
'o artigo faz', 'nós fizemos'. 'Nós' quem? quem fez? O que está
implícito nisso é que ninguém é mais responsável por coisa nenhuma.
Lucio
ExcluirEm alguns países latino-americanos, os professores universitários assinam contratos renováveis, dependendo de produção. Na China, um simples chefe de departamento tem poder para demitir um professor. Em diversos países europeus, a estabilidade é irrestrita. Ou seja, cada nação tem a sua realidade local. Usei o exemplo dos Estados Unidos para ilustrar dois pontos: 1) EUA é a nação líder em produção científica e tecnológica e, portanto, seu modelo acadêmico inspira um exemplo que certamente deve ser observado; e 2) estabilidade pode ser concedida sim, mas não para todos os professores concursados. No artigo da SciAmBr apontei diversos problemas da academia brasileira. E defendo que muitos desses problemas gravitam em torno da estabilidade irrestrita. Portanto, apenas acabar com a estabilidade irrestrita sem investir na solução dos demais problemas não é uma estratégia inteligente. Apenas produziria confusão. O fato é que a estabilidade irrestrita já provou de forma clara que não é adequada à realidade cultural do brasileiro. Por isso precisamos adotar outro modelo.
Ciência é uma atividade social. A produção científica brasileira, como você bem coloca, melhorou muito nas últimas décadas. Mas ainda falta a contraparte social. Essa contraparte social se reflete não apenas em quantia de publicações, mas principalmente em citações e impacto. No Brasil não existe ainda a tradição de apoio para que um pesquisador seja internacionalmente conhecido. Em geral, pesquisadores brasileiros devem lutar por este reconhecimento sozinhos.
A questão que você levanta sobre Peter Medawar é um exemplo que ilustra muito bem o isolamento brasileiro em relação ao resto do mundo. Não faz a menor diferença se Medawar deixou o Brasil quando era adolescente. O que interessa é que ele era brasileiro e, portanto, um exemplo de inspiração para o nosso país. Quando um cientista de dupla cidadania ganha o Nobel, sempre existe a disputa entre nações sobre o mérito. O Nobel não é um prêmio apenas para uma pessoa, mas um emblema de inspiração para povos.
Peço também que tome muito cuidado nas comparações de salários, principalmente quando usa o argumento da titulação. Titulação não é mérito. Mérito é produção de qualidade.
Adonai,
ResponderExcluirSe me permite a réplica:
1)Poderíamos copiar os modelos latino-americanos e chinês?
2)A estabilidade seria concedida como, por quem, a partir de quantos trabalhos publicados e em que periódicos?
3) O Brasil ocupa a 15a colocação (em 20) na questão de trabalhos publicados e a 20a em citações.
4) Concordo que o Nobel seja uma inspiração para pessoas, universidade e países, mas discordo quando você se refere à questão da nacionalidade de Peter Medawar, pois duvido que ele tivesse recebido o Nobel se tivesse permanecido no Brasil. Existem dezenas de exemplos semelhantes ao de Medawar, principalmente de cientistas fugindo de perseguições. Nesses casos, é possível que eles tivessem recebido a honraria do Nobel, fosse nos Estados Unidos, Inglaterra ou Alemanha. O Nobel significa não apenas a capacidade do cientista, mas o meio em que ele vive, as condições de trabalho, etc.
5) Utilizei a comparação do funcionário burocrata com os professores, não apenas pela titulação deste último, mas também pela sua produção acadêmica. Também concordo que mérito seja publicação em periódicos de qualidade. Acho que não se pode generalizar: titulação nem sempre é mérito, embora, algumas (muitas?) vezes estejam associados .
Agradeço pela oportunidade de poder participar desse tópico.
Um abraço
Lucio Ferreira Alves
Lucio
Excluir1) Não vejo motivo para nos espelharmos em demais países latino-americanos. A produção científica deles não é referência internacional. Com relação à China, certamente podemos aprender muito com eles. Pretendo discutir sobre a realidade chinesa ainda este ano. No entanto, vale observar que o recente sucesso chinês se deve, em grande parte, ao espírito competitivo chinês que se assemelha muito com o norte-americano.
2) Os critérios para concessão de estabilidade são inevitavelmente subjetivos. Não há sentido na adoção de critérios meramente numéricos. No entanto, existem pesquisadores cuja qualidade de produção é excepcional e internacionalmente reconhecida. Estes certamente merecem estabilidade.
3) A qualidade da produção científica brasileira está caindo. Há dados estatísticos que comprovam este fato. Não é quantia de publicações que avalia qualidade, mas impacto. Também discutirei sobre isso futuramente.
4) Concordo.
5) Não, Lucio. Publicação também não é mérito. Impacto de produção científica, isso sim é mérito.
Adonai, com gratidão expresso meu encontro com sua crítica. Sua lucidez sobre essas questões do ensino superior refletem fielmente aquilo que vejo a 10 anos, tempo que estou estudando nessas instituições. Gosto de ensinar, principalmente no ensino superior, gosto da ideia, das possibilidades teóricas, nos possíveis debates e formação de cidadãos e profissionais. Talvez por acreditar nesses ideais ainda busque ser professora universitária. Mas com a aproximação dessa realidade vejo também aproximar-se a excessiva carga burocrática e administrativa atribuidas a profissionais nada preparados para aqui. Vejo a dimunita meritocracia científica... e a completa ausência da meritocracia educacional. Ou seja, se já é difícil ser reconhecido por aquilo que se faz como cientista, muito menos pelo que se é como professor. Pessoas que querem somente ser professores de ensino superior não são valorizados por nenhuma das partes (alunos, pares e instituições)... Torna-se relativo (cada dia mais) ser um bom professor, formador de novos profissionais. Professor bom é aquele que publica e, infelizmente, como você ressaltou, as vezes nem isso. Temo onde esses valores vão nos levar... Cientistas que são despreparados para dar aulas como professores universitários, professores com sérias limitações para exercer cargos administrativos, professores capazes e críticos dando aulas a estudantes intelectualmente preguiçosos.. tudo isso num sistema permissivo e ausente. O resultado disso já estamos vendo...mas vai ficar pior, eu acho.
ResponderExcluirMuito grata novamente, principamente por que eu pude expressar minhas reflexões em algum local. Saudações e forças para nos todos.
Raiana
ExcluirNeste momento estou investindo em um projeto que envolve outros pesquisadores e demais interessados (pessoas com considerável peso social). Este blog não é uma iniciativa isolada. O objetivo é articular aqueles que percebem as falhas gravíssimas na educação superior de nosso país. Peço que aguarde as novidades que devem surgir ainda este ano. Enquanto isso, espero que compartilhe este artigo com seu colegas e amigos. Grato pelo apoio.
Ola Adonai,
ResponderExcluirPrimeiramente parabéns pela coragem de incitar discussões sobre um assunto tão importante. Trabalho como técnico em uma universidade pública, fiz meu mestrado e doutorado, e tive o privilégio de estar trabalhando desde o início de minha carreira num grupo de pesquisas de alto nível e de grande produtividade www.nupelia.uem.br . No entanto mesmo neste ambiente, sofremos pelas deficiências de formação apontadas por você, como Lógica, Matemática e Estatística, bem como uma visão realmente ampla. Acrescento uma deficiência corrente. INFORMÁTICA E PROGRAMAÇÃO. Cansei de ouvir aos longos dos anos "sou ..., não sou da área de informática, ...., para isto você esta ai", para qualquer coisa que se use computadores. É como se pedir para que engenheiros mecânicos dirigissem e levassem você e seus filhos na escola. Certa vez um professor amigo meu disse que precisava comprar um computador básico, para ele, pois ele não era da área de informática. Então lhe perguntei, "quanto tempo de seu trabalho é feito com o uso do computador?", depois disso ele decidiu comprar um computador melhor. A universidade ao invés de ser um centro de inovação, é um centro de conservadorismo e letargia.
Trabalho a anos com software livre, e cansei de ver professores dizendo que precisam do MSWORD, pra seus trabalhos, que precisam do software Statistica, para fazerem análises estatísticas, etc. E a pirataria se espalha como uma praga e como algo normal e incentivado pelos professores (HONESTIDADE, ÉTICA, QUE É ISSO MESMO?). Todos querem a última versão bugada do MSWORD, e mal sabem usar estilos, inserir números de páginas, e coisas básicas. Muitos acham ainda que isso é função de analistas de sistemas, é como dizer que um engenheiro mecânico deve ser o piloto de um F1. Quando no doutorado estive na Universidade de Karlsruhe na Alemanha, e no instituto que eu estava, usava-se praticamente só software livre. Perguntei a razão disso, me disseram "software fechado é caro, e o aberto podemos usar sem pagar", ai perguntei e quanto as dificuldades de por vezes não se ter um determinado recurso, responderam "aqui na Alemanha, as dificuldades são vistas como incentivo para se desenvolver soluções e conhecimento, algo que o software aberto proporciona de forma inigualável, só quando realmente necessário usamos soluções fechadas". realmente temos muito que crescer, mas tudo começa pelos valores básicos, como honestidade, ética e mérito.
Job
ExcluirVocê é um brasileiro completamente atípico. São raríssimas pessoas que pensam como você. Fico pasmado que tenha sobrevivido ao sistema educacional deste país. Digo a você o mesmo que tenho dito a outros. Há novidades importantes a caminho. Este blog não é uma iniciativa isolada. Enquanto isso, peço que divulgue este artigo entre amigos, colegas e familiares.
Adonai,
ResponderExcluirEu aprecio um debate, mesmo (ou principalmente) quando discordam de mim, caso contrário vira monólogo.
1) Nem de longe eu sugeri copiarmos nossos vizinhos. Apenas me baseei na sua resposta em como eles agem.
2) Também não insinuei que se deva adotar critérios meramente numéricos e,muito menos subjetivos. Publicar em periódicos como Chemical Review, Cell, Science, Nature, New England Journal of Medicine, Lancet, Natural Product Report é altamente objetivo. Deixa de ser 'numérico' e 'subjetivo'.
3) O governo vive alardeando o aumento no gasto com a ciência e tecnologia, com a concessão no número de bolsas de pós-graduação e, ainda assim, a produção científica do país está diminuindo. Aguardo a sua discussão sobre o assunto. O meu interesse no tema se baseia principalmente em tentar responder a uma simples questão: Por que apesar de tanto gasto, de o país formar tantos doutores (me refiro apenas a C&T), o número de inovações e patentes daí resultantes é tão pequeno entre nós? Por que o país continua esperando que patentes de medicamentos caduquem em vez de desenvolvê-las? Será porque esperar é mais barato? Mais cômodo?
5) Respondi no número 3. Mas é claro que esse mérito pertence, com raras exceções, a países com alto desenvolvimento científico e tecnológico.
Lucio Ferreira Alves
Lucio
ExcluirCerca de 15 anos atrás a Nature publicou uma edição especial sobre ciência na América Latina. Segundo aquele levantamento, o Brasil investia mais em ciência e tecnologia do que todos os demais países latino-americanos somados. Lembro que a Argentina investia cerca de um quinto daquilo que o Brasil aplicava em ciência e tecnologia. No entanto, o Brasil tinha apenas o dobro de produção (em termos de artigos em periódicos indexados no Science Citation Index) da Argentina. Isso demonstra que a relação custo-benefício era favorável aos nossos vizinhos. O que se percebe na academia brasileira é uso inadequado de verbas. Por isso sempre insisto em estratégias e não em verbas.
Adonai,
ResponderExcluirOs dados que você fornece constata o que nós sabemos: No Brasil se desperdiça dinheiro público.
P.S. Você sabe dizer qual é esse número da Nature?
Um abraço
Lucio Ferreira Alves
Lucio
ExcluirNão tenho mais a revista em mãos. Lembro apenas que era uma edição especial, publicada na segunda metade dos anos 1990.
"...ainda estao aprendendo a ser pesquisadores ja logo entram na vida profissional com carga de aulas imensas...".
ResponderExcluirProfessora Cristina, é de bom alvitre recordar que, nas universidades brasileiras não existe a figura do pesquisador. Os concursos são para docentes. Que tem, entre as atribuições de professor, fazer pesquisa e extensão. Note a diferença, não são pesquisadores, são docentes que fazem pesquisa.
E a inscrição no concurso é paga, eles sabem que estão fazendo concurso para docente. Então essa choradeira de que mal sabem fazer pesquisa é jogar para a platéia.
Professor,
Excluircomo tinha uma conta no Google com esse nome, Investimento, não tive alternativa se não usá-lo.
Mas, para que fique claro que não me escondo, meu nome é Eduardo Petrucci Gigante.
Eduardo
ExcluirAgradeço pelo esclarecimento. Já tive problemas com o tal do anonimato. Sempre procuro estabelecer neste fórum um ambiente de transparência e civilidade. E parece que está funcionando. Há muito tempo não recebo comentários com vocabulário chulo.
E vamos esperar que assim continue... dialogo de bom nível.
ResponderExcluirProfessor Adonai,
ResponderExcluirSo' uma pequena atualizacao, hoje eu sou pesquisador em saude publica na area de modelagem estatistica na Fundacao Oswaldo Cruz.
Obrigado e apesar de ficar quieto sempre acompanho seus posts.
Abraco,
Leo Bastos
Leo
ExcluirInfelizmente nunca visitei a Fundação Oswaldo Cruz. Grave falha minha. Até onde sei é uma boa instituição. Estou certo?
Excelente texto. Acrescento mais uma questão importante: devem existir (e existem) ótimos estudante brasileiros que pretendem seguir carreira acadêmica e que ao invés de manterem a "insistência" que o casal que você mencionou manteve, vão "se erradicar" para instituições acadêmicas estrangeiras. A falta de meritocracia das universidades não só é prejudicial no presente, mas também espanta possíveis profissionais qualificados do futuro.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente artigo, com o qual concordo plenamente. Ainda bem que colegas como você têm coragem de falar sobre essas mazelas em público. O corporativismo e falta de meritocracia são, de fato, os principais venenos da universidade brasileira.
ResponderExcluirmarcoarmello
ExcluirGrato pelo apoio. Resta saber se algo será feito para mudar esta dura realidade.
A pedido de Thomas Ferreira de Lima, reproduzo na forma de comentário e-mail que recebi dele.
ResponderExcluir____________
Comentário tardivo aqui, peço desculpas, sou um dos novos leitores (jovem de 22 anos universitário etc.) Vim por causa do artigo muito eloquente sobre os ifes. Só queria dizer que nós compartilhamos esta aflição para com o nosso sistema educacional.
Dando nome aos bois e ilustrando um pouco a história com o exemplo cálculo, fui aluno do ITA, discutivelmente uma das melhores instituições de engenharia do país, em todo caso uma com um grupo selecionado de alunos tecnicamente competentes. Não quero listar aqui os problemas e os louvores desta instituição, que estão sendo revistos neste momento na nova gestão do reitor (e do governo). A propósito ela foge felizmente de alguns estereótipos que você pôs na postagem inicial. Enfim, eu acabei abandonando a formação lá no ITA para vir à França estudar numa tradicional escola chamada Ecole Polytechnique, por minha conta própria, diga-se de passagem, já que aquela não tinha acordos internacionais de intercâmbio.
Aqui, dei-me conta do abismo que existe entre os dois países. Restringindo-me ao âmbito educacional, me senti pela primeira vez respeitado como estudante. Meu tempo aqui é muito bem empregado, não sou
sobrecarregado com matérias inúteis dadas por professores charlatões, alia-se com o fato de que eu finalmente tenho escolha sobre as matérias que vou fazer e a carreira que vou seguir. A pergunta: o que você faz exatamente?, perguntada geralmente quando se quer saber o título da formação, por exemplo engenharia mecânica, agora me incomoda. Não sei responder, ainda! E estou muito feliz com isso.
Depois, sinto uma preocupação real do corpo docente em nos levar à
fronteira da ciência. Na aulas, vemos alguns teoremas demonstrados há menos de 20 anos, revisamos trabalhos de prêmios Nóbeis desta década etc. Estou num ambiente onde ninguém se pergunta se tem de aprender inglês, porque já estão aprendendo a terceira língua, e onde se conhece os nomes dos ministros e suas políticas. A análise aqui se baseia na teoria da medida de Lebesgue, não mais em Riemann, que fundamenta a análise real e complexa que aprendi no Brasil. E não é porque ele é francês, mas porque sem sua teoria, não teríamos base suficiente para continuar os estudos em matemática, em física e às vezes até em mecânica. Estou contando só o que você já sabe, tão-somente para ilustrar melhor o carinho dado para nossa formação.
Minha esperança no Brasil também oscila, mas eu creio que estamos
caminhando lentamente para um progresso real na educação. Você não abordou a educação básica; esta é muito mais preocupante, na minha opinião. Chegamos ao cúmulo onde é preciso ter ensino superior pra fazer qualquer coisa credível! Um desastre, sabendo que é uma minoria que sai do ensino médio e entra na faculdade, e outra pequena minoria que termina o ensino médio em relação aos que começam a escola.
Para terminar, só queria comentar que gostei do texto e do blog em geral. Acho que você acertou a jugular de um problema nacional, cuja solução razoável eu não conseguiria nem apontar. Queria enfim que você comentasse, se possível, sobre o programa do Ciência sem Fronteiras da Dilma e se isso pode ajudar a responder à sua pergunta no comentário aqui de cima: Quem fará a conscientização dos jovens?
Cópia do e-mail que enviei em resposta.
Excluir_________
Thomas
Gostei muito de seu depoimento. E agradeço também pelo apoio.
Com relação à sua pergunta sobre o Ciência Sem Fronteiras, faço um breve comentário na postagem abaixo.
http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2013/02/quem-realmente-merece-educacao.html
Ou seja, não consigo antecipar o que resultará deste programa. Isso porque o Ciência Sem Fronteiras é mais uma iniciativa isolada que não está antenada com a emaranhada realidade brasileira.
E quanto à sua última pergunta, sou obrigado a responder que você é uma das pessoas que pode conscientizar as novas gerações. A questão é se você seguirá carreira no Brasil. Entendo perfeitamente se a resposta for negativa.
Lendo esse texto me lembrei um tanto de minhas experiências com universidades no ensino superior.
ResponderExcluirComo grande parte dos meus antigos colegas no secundário, eu tive grandes dúvidas sobre o que deveria cursar, um problema que o senhor relaciona, creio que corretamente, a falta de experiência universitária anterior a escolha de uma carreira.
Talvez por isso, talvez por ser meio empirista, passei por um bom número de faculdades nos últimos anos. Nenhuma delas era federal, mas todas estão entre as mais renomadas nos cursos que eu estudava. O mais interessante é que os problemas que você indica foram particularmente mais agudos em instituições privadas, provavelmente por serem menores e terem um perfil menos heterogêneo de docentes.
Ainda assim, acho que o curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas foi a experiência mais absurda que já tive. Nos dois primeiros semestres há um número pequeno de matérias (4) ministradas quase sempre por bons professores. O conteúdo é o básico: literatura clássica, teoria literária, linguística e lingua portuguesa. Ou seja: todas as principais áreas do curso.
Ainda que eu ache que essas matérias sejam um pouco vagas, o que dá espaço para uma professora de língua portuguesa falar durante metade do curso sobre o francês do Quebéc e a outra metade sobre declinações do latim, é um bom ano. A partir do segundo é que começa a festa, depois que os alunos já escolheram suas habilitações.
Para começo de conversa, os departamentos possuem uma organização estranha. As matérias de teoria literária, por exemplo, só podem ser “acessadas” por quem cursa a habilitação em lingua portuguesa. Já as matérias do departamento de linguistica são criadas para a habilitação de mesmo nome. Isso obriga as outras habilitações a terem disciplinas genéricas de estudos literários, filologia e linguística relacionadas apenas ao que é produzido em sua lingua.
A explicação para isso me foi dada uma vez por um professor de visão mais crítica: o curso de Letras se baseia numa visão bastante específica de algumas figuras importantíssimas, principalmente na de Antonio Cândido. Para eles o estudo da literatura brasileira era de maior relevância do que o de outras línguas, por isso teoria literária no Brasil só pode ser pensada por intelectuais brasileiros sobre autores brasileiros. Linguística entrou como uma necessidade estranha (principalmente para o anti-estruturalista já citado) ao corpo da faculdade e por isso mesmo continua como um apêndice (embora de notável qualidade).
Na parte de literatura brasileira essa influência fica mais clara. As matérias, subdividas em 6 semestres, começam com modernismo de primeira geração (1920), passam para geração de 1930 para no semestre seguinte voltar ao romantismo (século XIX), continuar em ordem cronológico até Machado de Assis, voltar para a literatura colonial (disciplina optativa ainda por cima) e literatura “contemporânea”(na verdade Guimarães Rosa e Clarice Lispector).
Esse vai e volta se explica facilmente para quem lê Antonio Cândido e seus colegas, mas é uma visão bastante particular, que não deveria ser aplicada a ferro e fogo para toda a eternidade. O problema é que os “bons” professores são descendentes diretos dessa linha de pensamento. Então ficávamos assim, meio que parados na década de 1960 esperando o Jango voltar.
É claro que isso é um absurdo completo. Como ler criticamente Machado sem ter lido antes Shakespeare e Goethe? Como discutir Clarice Lispector sem ter nenhuma base em filosofia? Sem falar que ficamos parados numa única corrente (há professores de outras linguas, mas são minoria e não tem poder sequer para sugerir uma matéria como "análise semiótica") e sem qualquer chance de estudarmos algo para além da década de 1960.
(peço desculpas pelo comentário longuíssimo)
Tomás
ExcluirProblemas muito parecidos com os seus foram relatados pelo meu próprio filho, quando cursou letras na UTFPR. Machado de Assis, por exemplo, teve forte influência de Edgar Allan Poe. Mas frequentemente isso é ignorado por professores de literatura que sequer leram Poe, mas discutem sobre Assis. Existem também professores de semântica que jamais estudaram a obra de Tarski. E por aí vai.
Com relação a universidades privadas, há algum tempo eu as acompanho. Em algum momento pretendo discutir sobre este tema. Mas ainda preciso de mais dados. O que percebi até agora é que sua análise está correta.
Mudar a dura realidade?
ResponderExcluirImprovável, professor, pelo corporativismo já citado. Quando o espírito de corpo transforma-se no espírito de porco. Veja se a mediocridade quer meritocracia. Que vem de mérito. E mérito é trabalho. E trabalho pesado. Como dizem alguns docentes da instituição onde trabalho não dá para fazer em 40 horas semanais. E eles entendem que o limite são as tais quarenta horas. Tenho uma irmã docente. E trabalha 80 horas por semana. E é palestrante internacional. É reconhecida. Claro que não dá para fazer isso em 40 horas...
Achei muito pertinente o seu texto. A universidade precisa ser debatida por todos, os que nela trabalham e os que dela fazem uso, ou seja, toda a sociedade. Há alguns pontos que precisam de atenção. Quando se fala em produtivismo se fala de uma forma generalista sobre a produção escrita e se esquece de outros encargos ao qual os professores estão submetidos, administração e pesquisa. Um professor que está no cargo de chefia, ele continua dando aula, e ainda tem que dar andamento aos seus projetos de pesquisa. Eu acho insano! Ninguém consegue fazer várias coisas bem e ao mesmo tempo. Alguns podem, outros não! Quer dizer que aquele que dá uma ótima aula, orienta bem e fica dentro do limite estipulado pela Capes, produzindo um artigo a cada dois anos, é improdutivo? Para mim essa é a questão. Traçar pararelos com as universidades americanas para aprendermos com elas alguns aspectos é ótimo e saudável, outra coisa é tê-las como nosso ideal e objetivo (eu sei que não foi isso que você quis dizer, sou eu que estou fazendo essa observação). Creio que precisamos buscar o nosso modelo de universidade, para atender ao nosso público de alunos, trabalhando para atender às necessidades de nossa sociedade. A competitividade existe dentro da universidade, e é animalesca na atualidade, porque é uma competitividade entre indivíduos, buscando fazer curriculo, usando a universidade para estabelecer sua rede de contatos. É necessário pensar a universidade, o seu alcance e importância social, criando um novo projeto para as novas demandas. Quanto às greves, eu acho que em alguns casos elas são necessárias e em outros não. Mas não desconsidero sua importância histórica e se temos conquistas foram através dos movimentos organizados que as alcançamos e não apenas nas conversas de colegiado. É preciso avançar nesse campo também. Necessitamos buscar mais o diálogo em seus vários âmbitos, dentro da universidade e fora dela, para sairmos do corporativismo e assim alcançarmos novas linhas de atuação.
ResponderExcluirEu te parabenizo por trazer esse tema para discussão, pois só assim conseguiremos avançar nos nossos objetivos enquanto professores universitários e atender à nossa sociedade da forma como ela merece e precisa. Att. Kátia.
Não é tão difícil. Basta que os docentes deixem a administração para os administradores, os técnicos treinados para isso. E vão cumprir suas obrigações pela ordem. Primeiro lugar, Ensino. Depois, paralelamente, pesquisa e extensão.
ResponderExcluirEduardo
ExcluirNão faz sentido priorizar ensino sobre pesquisa ou pesquisa sobre extensão, como você propõe. Um país com tantas realidades como o Brasil precisa de diversidade. Ou seja, algumas instituições poderiam sim adotar uma política como esta que você propõe. Outras, porém, deveriam priorizar pesquisa. Tudo depende de políticas internas definidas pelas próprias instituições.
Estimado professor Adonay,
ResponderExcluirentão temos que rever a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão.
Certamente, Eduardo. Esse discurso de indissociabilidade é simplesmente ingênuo. A rede envolvendo ensino, pesquisa e extensão é complexa o bastante a ponto de não ser sustentável em um slogan.
ExcluirOlá a todos!
ResponderExcluirAlguém poderia me indicar algum material sobre essas "aplicações da teoria matemática das decisões em ciências humanas".
O texto faz breve menção a isto e gostaria de saber mais sobre o tema.
Muito obrigado a todos!
Max
ExcluirNa postagem abaixo cito um exemplo simples, bem-humorado, de aplicação de teoria das decisões. Recomendo a obra de Ian Hacking citada no texto.
http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2012/09/consultoria-matematica-para-casamentos.html
Caro Prof Sant'Anna,
ResponderExcluirEste é o primeiro texto de seu blog que tenho acesso, e por isso peço desculpas se meus comentários forem desatualizados, ou seja, já foram discutidos em outras postagens ou até mesmo nos comentários desse texto. Comentários que por mais que eu me aplicasse em ler, não fui capaz de acompanhá-los por conta do intenso volume.
Aos comentários:
(1) Recentemente li uma notícia de que cerca de 93% do orçamento da USP para o ano de 2013 está comprometido com a chamada "folha de pessoal". Fico me perguntando se o fato das carreiras dos profissionais que trabalham na USP serem estáveis não contribui para esse quadro de administração assustador. Um orçamento na casa dos bilhões de reais praticamente todo comprometido com funcionários?!?! Não consigo acreditar que por esse motivo não houve uma manifestação severa tanto por parte dos alunos, quanto por parte dos próprios funcionários que a primeira vista ganham com isso, mas no fim tem muito a perder. Pois bem, como o Sr. acredita ser possível reverter esse problema? Já que dessa maneira nos próximos anos não haverá mais verba para investimento em coisa alguma, apenas para o pagamento desses profissionais.
(2) Ao que mais, dentro de uma universidade, o Sr. acha viável aplicar a meritocracia? Vejamos o caso da eleição do atual reitor da própria USP o Sr. Rodas. A eleição foi duramente criticada pelos alunos e alguns professores por não ser democrática (com a história da lista final, que chega nas mãos do governador, a famigerada "lista tríplice"). Ano passado uma das principais causas que "justificariam" uma greve geral por parte dos alunos (greve essa que não vingou) era exatamente a maneira não democrática e sim meritocrática da escolha do reitor.
(3) Por fim, em tom mais descontraído, percebi que o Sr. é acima de tudo um amante da lógica, por assim dizer. Sei que no texto de um blog, a estrutura é informal, mesmo assim chamo atenção para uma expressão usada na sua postagem: "...ainda não ENCARAMOS DE FRENTE os problemas..." Nesse trecho acho que o Sr. abusou um pouco da lógica. Sei que essa crítica é irrelevante para o conteúdo do texto e em nada diminui a qualidade, solidez e a própria lógica com que ele é escrito.
Em tempo: Encontrei ânimo para comentar em seu blog (algo que pouco faço em outros sites) por perceber sua dedicação em responder a todos os comentários. Por isso parabenizo-o.
Natan
ExcluirNão respondo a todos os comentários, mas à maioria. Se o leitor faz perguntas, jamais deixo de responder. Se ocorrem discussões que não parecem convergir para um consenso, não as prolongo. É uma limitação minha.
Seguem abaixo minhas respostas:
1) O Brasil precisa de uma reforma drástica em seu sistema de ensino público. Se o país insistir no atual modelo, não vejo como ele possa ser sustentado. No momento, mais importante do que verbas é a definição de um novo sistema de ensino público, radicalmente diferente do atual.
2) A meritocracia é aplicável sim, desde que seja instituída por um governo forte. Ou seja, em caso de greves, basta o governo federal não pagar os grevistas. Desta forma, greve nenhuma resiste por muito tempo. Para evitar manifestações públicas violentas, o governo deve instituir um novo sistema educacional mais justo, que beneficie os mais produtivos e que demita aqueles que não produzem. E, para consolidar qualquer novo sistema, propaganda é fundamental. Percebo que este discurso soa como algo perigosamente autoritário. E muitas injustiças devem ocorrer durante qualquer processo de transição. Mas mudanças drásticas são fundamentais. O governo investe muito dinheiro em educação e o retorno social tem sido medíocre. Se o país não mudar logo, em breve todos pagaremos muito caro pela inércia do passado.
3) Não compreendi sua crítica. Sua preocupação é por conta do pleonasmo?
De facto, o que o Brasil produz é insuficiente para suprir a necessidade de conhecimento que as Universidades públicas brasileiras precisam. O Brasil está está em um patamar no qual a quantidade é mais importante que a qualidade. Se formam muitos, porém, sem qualidade.
ResponderExcluirÓtimo artigo Profº Adonai
ResponderExcluirOs problemas que você relatou aqui não são restritos apenas as UFes. Os recentes IFes (Institutos Federais de Tecnologia) criados e multiplicados por todo o Brasil nos governos Lula e Dilma também possuem todos esses problemas e mais outros ainda.
Ingressei no curso de Análise & Desenvolvimento de Sistemas do IFSP campus São Paulo no 2º semestre de 2009 e após 2 semestres acabei desistindo do curso. A desorganização do curso era simplesmente absurda e a qualidade nos dois primeiros semestres que cursei foi muito ruim, eis alguns motivos:
1º A grade curricular da turma na qual ingressei era diferente das turmas anteriores e ambas as grades eram (e são até hoje) diferentes da grade curricular do mesmo curso nos outros campus da universidade no estado de São Paulo. Veja:
Análise e Desenvolvimento de Sistemas IFSP
http://www.ifsp.edu.br/index.php/tecnologo/1018-tecnologia-em-analise-e-desenvolvimento-de-sistemas.html
Campus Catanduva
http://ctd.ifsp.edu.br/portal/images/stories/docsalunos/projetospedagogicos/tecnlogo%20em%20anlise%20e%20desenvolvimento%20de%20sistemas.pdf
Campus Guarulhos
http://portal.ifspguarulhos.edu.br/tecnologia-em-analise-e-desenvolvimento-de-sistemas
Campus Araraquara
http://www.ifsp.edu.br/index.php/01-araraquara.html
Que organização!
2º A turma que ingressei simplesmente não tinha os conteúdos de Lógica Matemática, Análise de Algoritmos, Matemática Discreta ou Teoria da Computação (veja o projeto pedagógico do Campus Araraquara). O que havia no curso era: um Cálculo Diferencial Integral que só ensinava a calcular derivadas e integrais como um robô, uma disciplina de Fundamentos de Matemática que repetia os conteúdos do Ensino Médio e Matemática Financeira no 2º semestre. Não bastasse isso também havia problemas nos conteúdos mais técnicos como, por exemplo, Sistemas Operacionais que não ensinava a Teoria dos SOs e sim apenas a operar um tipo de SO. Felizmente depois que saí, as turmas subsequentes passaram a ter o conteúdo devido de SOs no 4º semestre, ou seja, a grade mudou de novo. Enfim, esse é um curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas cujo aluno que o concluí não sabe definir formalmente conceitos como: Sistema, Algoritmo, Lógica, Relação, Função, etc. Conceitos ou Teorias como Autômatos, Cálculo Lambda e Teoria das Funções Recursivas são coisas de outro planeta para aqueles que se formam nesse curso.
Conclusão, é notório e explícito que a expansão dos IFes foi feita sem o devido planejamento e de forma totalmente irresponsável pelo governo Federal semelhantemente a expansão das Fatecs e ETEcs realizada pelo governo de São Paulo na década passada http://www.adusp.org.br/files/revistas/38/r38a02.pdf
Realmente o Ensino Superior brasileiro possui problemas graves que precisam ser sanados urgentemente. Do contrário ficaremos muito para trás de nações como a China e a Índia no mercado global.
Att, Leonardo Manzo
Leonardo
ExcluirA sensação que tenho é que o governo federal se divide em três facções, no que se refere a ensino superior público: há aqueles que querem legitimamente avaliar o ensino superior e melhorá-lo, há aqueles que querem deliberadamente destruir a educação pública e há aqueles que não têm interesse algum no problema. Não tenho percebido expressividade no primeiro grupo, até porque existe gente bem intencionada, mas sem qualquer noção realista a respeito do papel na educação e da ciência sobre uma nação como a nossa. O modelo atualmente adotado para plano de carreiras nas ifes (conquistado após a mais longa greve da história da categoria) é um exemplo claro de que o ensino superior público caminha para o colapso. Sem mudanças radicais e que ocorram logo, não vejo um bom futuro para o Brasil.
Olá Profº Adonai e Leonardo Manzo.
ExcluirPrimeiramente parabéns ao Profº Adonai pelo post e pelo Blog. Esse é o primeiro BLOG sério sobre Educação e Ciência em nível superior que tomo contato. No entanto quero comentar algumas coisas que o colega Leonardo Manzo falou aqui.
Bem, eu também fui aluno do referido curso no 1º semestre de 2009 no período da manhã (turma inaugural do curso nesse período). Acabei desistindo após o primeiro semestre, mas segui trabalhando em TI. Realmente a maioria das críticas e colocações feitas são verdadeiras, mas algumas merecem melhores ponderações e esclarecimentos.
A questão da desordem nos conteúdos ministrados é fato e não se discute, inclusive eu também testemunhei isso. No entanto alguns professores sérios e empenhados também perceberam claramente essa desordem e resolveram agir para mudar isso (entre eles o Profº Adilson Florentino da disciplina de Sistemas Operacionais (SOs)), a referida disciplina de SOs, por exemplo, foi colocada no 3º semestre do curso. Ao longo do tempo, a grade e os conteúdos do curso foram sendo revistos e ajustados. Se por um lado isso não é o certo ou o ideal, por outro mostra o empenho de certos docentes da instituição em fazer as coisas da forma correta apesar dos erros e falhas de administração.
Um problema maior que esse da grade era o da escalação errada de professores. Eu por exemplo tive no 1º semestre um professor especialista em programação e algoritmos ministrando “Arquitetura de Computadores” (Hardware na prática) e colegas meus no 2º semestre tiveram um profº de “Administração” ministrando “Estrutura, Pesquisa e Ordenação de Dados” o resultado em ambos os casos foi muito ruim. Realmente eram muitos problemas de ordem organizacional, mas a grande maioria das instituições públicas infelizmente é assim e as poucas ações possíveis para mudar isso são inexequíveis devido à enorme desunião do corpo discente nestas instituições. Logo o melhor a fazer é se dedicar por conta e correr por fora sozinho.
Agora a colocação:
“Este é um curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas cujo aluno que o concluí não sabe definir formalmente conceitos como: Sistema, Algoritmo, Lógica, Relação, Função, etc. Conceitos ou Teorias como Autômatos, Cálculo Lambda e Teoria das Funções Recursivas são coisas de outro planeta para aqueles que se formam nesse curso.”
De fato a colocação é verdadeira, mas será que o conhecimento ou domínio dos conceitos ou teorias citadas é essencial para a prática cotidiana da área de TI?
Para responder a essa pergunta aparentemente fácil, vou levantar alguns fatos e afirmações.
Continuação...
ExcluirPara começar TI é uma área sem regulamentação no Brasil, os profissionais não são credenciados num órgão como o CREA ou qualquer outro parecido. Os cursos na área são os mais variados possíveis quanto à forma e duração, existem cursos de: 1,5 (técnicos), 2 anos ou 2,5 anos (graduações de curta duração), 3 anos (tecnólogo), 4 anos (bacharel), 5 anos (engenharia), de 2 a 6 meses (para certificações), Pós-Graduações das mais variadas formas e durações, e por aí vai.
Tudo o que será dito abaixo será sobre a realidade média da maioria dos profissionais de TI, realidade na qual encontram-se cargos e funções como: Desenvolvedores/Programadores (Web, Java, .Net, PHP, etc.), DBAs, Analistas Funcionais, Analistas de Suporte, etc. As exceções são os Cientistas da Computação, Engenheiros de Software e os recentes Analistas (ou Cientistas) de Dados que trabalham em atividades, sistemas ou programas altamente complexos ou especialistas como, por exemplo: o desenvolvimento ou aperfeiçoamento de um SGBD ou Sistema Operacional, desenvolvimento ou uso de suítes ou programas matemáticos ou estatísticos de grande poder ou ultra específicos, etc.
O dia a dia dos profissionais de TI é muito corrido e a pressão é grande. Além disso, são muito frequentes erros de Administração (principalmente em questões de tempo e orçamento), falta de bom senso e vários outros problemas que muitas vezes transformam a realidade desse profissional num caos.
Afirmo tudo isso com base na minha experiência no setor (aprox. 5 anos) e nos dados existentes sobre a realidade educacional atual de TI no Brasil.
Até o momento atuei em sete empresas no setor, de multinacionais à empresas pequenas com seis funcionários apenas. Nisso eu conheci mais de duzentos profissionais e posso afirmar com tranquilidade que apenas uns 15 em cada 100 profissionais em TI “conhecem” os conceitos ou teorias citadas na afirmação feita pelo Leonardo Manzo, e desses 15 apenas uns 5 (e olhe lá) sabem efetivamente usar esses poderosos conceitos ou teorias. Mas isso em termos práticos significa muito pouco, porque a grande maioria das situações práticas da área de TI simplesmente não requerem tais conhecimentos (em seus aspectos formais) para serem analisadas, entendidas e modeladas corretamente. Claro, isso não quer dizer que eles não possam ou não devam ser usados (há situações raras que só eles resolvem), mas isso é outra história.
Agora o mais interessante disso tudo é que as linguagens (SQL, JAVA, C#, etc.), técnicas (princípios de engenharia de software, tunning em banco de dados, etc.) e modelos (Fluxogramas, UML, MER, etc.) usados em TI têm implícitos, de maneira fortemente oculta, os conceitos e teorias citados em toda formalidade e extensão dos mesmos. Na verdade pode-se dizer que tais técnicas, linguagens e modelos são resultados ou produtos bastante simplificados oriundos de teorias ou conceitos altamente complexos, abstratos e nada triviais. E tudo isso porque tais produtos (ou ferramentas) foram criados com a finalidade de serem facilmente aprendidos e usados. Dois de alguns dos maiores exemplos disso são:
1) A linguagem SQL que é uma simplificação enorme das linguagens formais conhecidas como Álgebra Relacional e Cálculo Relacional de Tuplas.
2) O MER (Modelo Entidade Relacionamento) que é uma simplificação gigantesca do conceito matemático formal de relações ou Teoria Matemática das Relações (http://en.wikipedia.org/wiki/Theory_of_relations).
A tudo isso ainda soma-se o fato da realidade social atual ser dominada pelo simples e puro pragmatismo (que chega a extremos absurdos em certas áreas como, por exemplo, TI) cuja máxima principal é “Tempo é dinheiro”. Além dessa máxima há outras específicas por área profissional como a que diz que “O ótimo é inimigo do bom”, muito dita e repetida em Engenharia e TI.
Ou seja, acredito que após tudo isso a resposta para a pergunta em questão é Não.
Continuação ...
ExcluirConclusão, os profissionais de TI podem prescindir sem grandes problemas do aprendizado de conceitos ou teorias matemáticas formais. A matemática do Ensino Médio é mais do que o suficiente para estes profissionais.
Vale dizer para completar que eu particularmente só tenho noção dessas coisas porque desde os quinze anos eu cultivo uma coisa conhecida como “Atitude Filosófica” que em essência é uma atitude fundamentada em três perguntas: “O que é?” “Por que é?” e “Como é?”. Graças a tal atitude eu nunca me conformei com afirmações dadas ou jogadas e sempre procurei questionar e investigar tudo o que eu pude, de coisas “óbvias” e “simples” a coisas ocultas ou difíceis.
Agora para terminar, com relação à questão da expansão dos IFs no Brasil e das Fatecs em São Paulo nesta eu estou de pleno acordo com o que foi afirmado.
Ademais, por favor, desculpem-me pela longa exposição de ideias e pelos prováveis erros nela contidos.
Att, Leonardo Resende.
Legal Leonardo!
ExcluirInfelizmente eu tinha pouquíssimas informações sobre a área de TI e assim que eu concluí o EM em 2008 (ainda bastante perdido sobre o quê fazer) resolvi lançar-me nesta área por ela ser fortemente ligada à Matemática e proporcionar acesso à trabalhos muito bem remunerados (segundo as informações que obtive de alguns colegas meus na época). No entanto durante a minha passagem pelo IFSP percebi que as coisas eram bem diferentes disso e claramente pude ver que essa área não era para mim.
Depois de tudo isso parei, pensei corretamente e decidi cursar Pedagogia com ênfase em Gestão Escolar. Hoje faz dois anos que estou nesse curso e felizmente estou indo bem e gostando bastante.
É isso.
Muito Obrigado pelos esclarecimentos e pelo bom diálogo.
Att, Leonardo Manzo
"...a expansão dos IFes foi feita sem o devido planejamento e de forma totalmente irresponsável pelo governo Federal ..."
ResponderExcluirA quanto venho dizendo que administração é para administradores. Professores Doutores Peahgádeuses, que se comportam como administradores, fazem isso.
Eduardo
ExcluirHá muito tempo venho observando que existe a mentalidade, nas universidades, de que administração se faz a partir de senso comum. Erro grosseiro que ocorre em outras áreas do saber também.
Excelente colocação Investimento Arriscado!!!
ResponderExcluirVocê tocou num ponto pouco percebido que é o da ADMINISTRAÇÃO!!!
Fala-se muito da corrupção, o que é correto, pois esse câncer histórico do Brasil e do mundo leva embora por ano em média R$ 55 bilhões dos cofres públicos em nosso país, no mundo esse valor parece passar de $1 trilhão (infelizmente, não tenho dados precisos sobre isso ainda). Abaixo seguem algumas informações interessantes sobre a corrupção no Brasil e no mundo:
1) http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2010/05/13/interna_politica,192281/index.shtml
2)
a) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:World_Map_Index_of_perception_of_corruption.svg
b) http://pt.wikipedia.org/wiki/Corrup%C3%A7%C3%A3o_pol%C3%ADtica
c) http://pt.wikipedia.org/wiki/Corrup%C3%A7%C3%A3o_no_Brasil
No entanto corrupção e má administração são coisas bastante distintas, e sobre a segunda eu tenho a impressão de que são mostradas muitas coisas, mas poucas são devidamente explicadas ou aprofundadas e quase nunca chega-se ao cerne da questão que é discussão dos princípios administrativos vigentes.
Infelizmente ainda não tive a chance de pesquisar sobre isso para expor números aqui. Mas pode ser que as perdas com a má administração se equiparem ou até ultrapassem as da corrupção e isso obviamente é um desastre.
Logo, é vital que a Administração Pública Brasileira passe por uma profunda revisão e reformulação.
Encerro este comentário com duas afirmações sobre a importância da Administração nos dias atuais e as grandes mudanças pelas quais ela passa. Ambas as afirmações estão presentes no livro Teoria Geral da Administração, 8ª Ed., 2011, do Profº Idalberto Chiavenato:
“A Administração está sendo considerada a principal chave para a solução dos mais graves problemas que atualmente afligem o mundo moderno”
“Nos próximos anos, o mundo verá o fim da forma organizacional de hoje (a organização burocrática que ainda predomina em muitas organizações) e o surgimento de novas arquiteturas organizacionais adequadas às novas demandas da era pós-industrial”
Um texto mais aprofundado sobre o assunto:
http://www.conjur.com.br/2012-jul-31/contas-vista-nao-falta-dinheiro-administracao-publica-falta-gestao
Att, Leonardo Manzo
Parabéns pelo excelente artigo e pelas colocações. Principalmente no que tange ao código (ausente) de ética para os profissionais do magistério e sobre as universidades estarem engessadas em um modelo que não mais funciona.
ResponderExcluirAchei especialmente interessante o fato de você comentar que os alunos, no Brasil, entram em um curso universitário e não em uma universidade, como por exemplo nos Estados Unidos. De fato, estamos podando jovens que podem desistir de cursar uma universidade devido a um modelo falho e que certamente já está cobrando seu preço, basta olharmos a qualidade de alguns profissionais e universidades.
Foi uma ótima surpresa e uma atitude corajosa tanto sua quanto da SciAm em publicar o texto que é extremamente importante e pertinente para a situação educacional do Brasil.
Abraço!
momentumsaga.com
Artigo FANTÁSTICO. Parabéns.
ResponderExcluirParece que a insatisfação também está chegando nas maiores instituições:
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2013/08/alunos-do-ita-fazem-paralisacao-por-melhoria-no-sistema-de-ensino.html
https://medium.com/p/f1490a697a41
"Carlos Chagas foi oficialmente indicado ao Nobel de Medicina em duas ocasiões. Perdeu porque Afrânio Peixoto era contrário à política meritocrática adotada por Chagas durante sua gestão no antigo Departamento de Saúde Pública do Governo Federal. Deste modo, Peixoto e colegas fizeram campanha perante a Comissão Nobel, no Instituto Karolinska (Suécia), afirmando, resumidamente, que o trabalho de Chagas não merecia atenção alguma."
ResponderExcluirA Comissão Nobel se deixou influenciar pela inveja dos outros?...
Eu já tinha o pé atrás com esse prêmio quando descobri que Winston Churchil recebeu o Nobel de literatura por um livro cheio de hipocrisia bem escrita (há quem diga que o livro é bom...), e agora descubro mais essa (por incrível que pareça, não conhecia essa história)
Excelentes reflexões professor. Gostaria de parabenizá-lo especialmente pela coragem de apontar estes problemas na educação superior e produção de cientistas nas IFES. Entre os professores este assunto é um tabu. Há um protecionismo exagerado entre os professores seguindo a ideia: "Eu não te critico, tu não me critita e todo mundo fica feliz e finge que está tudo bem." O sistema educacional brasileiro castra intelectualmente ou prejudica criticamente os potencias gênios; vejo colegas excelentes continuamente desestimulados e desanimados com ciência e educação. Nossos gênios morrem todos os dias nas salas intelectualmente empoiradas nas IFES brasileiras.
ResponderExcluirPenso que há muito tempo as universidades brasileiras deveriam aceitar dissertações e teses em inglês. No meu instituto eles aceitam e até incentivam isso, mas tem que comprar briga com a pró-reitoria de pós-graduação a cada dissertação ou tese assim. Pois a pró-reitoria não vê isso com bons olhos.
ResponderExcluirAcredito que dentre todas as características do ser humano, a capacidade de pensar num nível mais elaborado e abstrato seja o que mais nos diferencia das demais espécies. O pensamento e por que não dizer, a inteligência, aparece como um instrumento transformador e que, em teoria, poderia viabilizar a solução da maioria dos desafios com os quais nos deparamos. No entanto, o que observamos no Brasil, é um processo de valorização da mediocridade. Estamos na contra-mão do fluxo de evolução de qualquer sociedade séria. Temos então a natural interrogativa: Por que?
ResponderExcluirNão sou nenhum expert em ciências humanas, psicologia e, tampouco, filosofia. Contudo, acredito que é tão natural e claro o surgimento desse questionamento, quanto os motivos de tal constatação. PESSOAS QUE PENSAM SÃO PERIGOSAS! Entendam o que digo. Uma sociedade é realmente rica e próspera, quando sua maior riqueza é seu próprio POVO. Um povo esclarecido, consciente de seus deveres e direitos e, principalmente, alerta para seu grau de responsabilidade social, esse sim é um grupo próspero! No entanto, não é isso que é incentivado por parte de quem domina o país. O problema que vem à tona com o texto extrapola o ambiente acadêmico. Vem da base, da falta de ensino de nossas crianças! Como disse anteriormente, indivíduos que pensam, contestam, exigem, fiscalizam, denunciam... esses são realmente muito perigosos! A quase inexistência de meritocracia, de valorização do esforço individual e de reconhecimento da dedicação de cada um que se esforça acima da média, mostra-se como elemento de incentivo à inércia intelectual e prática. Essa cultura de lacidão e baixa produtividade intelectual se perpetua no ambiente acadêmico e influencia de forma cabal a vida profissional da maior parte de nossa sociedade. O Estado bem sabe disso! Os jovens mais talentosos que tive a oportunidade de conhecer durante minha vida escolar e acadêmica foram absorvidos pelo Seviço Público! Nada contra aqueles que optaram por esse caminho. Mas eu me pergunto: por que uma parcela esmagadora da "elite intelectual" desse país deseja servir ao GOVERNO? Onde estão os profissionais liberais, empresários de sucesso e toda a gama de profissionais que sonham com a iniciativa privada? Não quero fugir ao tema em discussão, mas não consigo não pensar em relação de causa e conseqüência nesse ponto! A falta de valorização do professor em nosso país não ocorre por acaso! A ESCOLA é um lugar sério! Plageando o eminente jornalista Alexantre Garcia, digo que A ESCOLA É O LUGAR MAIS IMPORTANTE DE UMA SOCIEDADE! NÃO É DEPÓSITO DE CRIANÇAS, PARA QUE OS PAIS POSSAM TRABALHAR! O marasmo intelectual em que vivemos é um excelente meio de cultura para que cérebros embotados continuem se perpetuando em posições de destaque e inquestionável relevância social! O que digo é que: É DO INTERESSE DE QUEM DOMINA, QUE SE PERPETUE O STATUS DE DESPREPARO INTELECTUAL VIGENTE EM NOSSO PAÍS! É óbvio que não posso generalizar... até porque seria INGENUIDADE de minha parte... mas refiro-me à grande parcela de nossa população que não consegue compreender uma simples frase (analfabetos funcionais). Ambientes de competição são extremamente vantajosos e férteis para o surgimento do progresso no território das idéias. É altamente relevante que nos sintamos FORA DA ZONA DE CONFORTO para que nos esforcemos mais! Enfim, não acredito em fórmulas milagrosas para o progresso. O sucesso é resultado de trabalho sério, constante e disciplinado. A NATUREZA NÃO JOGA DADOS! Mesmo que admitamos a existência do acaso, temos a Estatística para nos mostrar que a maior parte do que observamos na natureza é oriunda de uma distribuição sabida, esperada, calculada previamente! Portanto, não aceitemos que o acaso seja o regente social... Nós somos os responsáveis; eu, você, todos! Viva o mérito! Viva o ESFORÇO individual! Que os desiguais sejam tratados de forma desigual!
Jônata Freitas Virginio
Jônata
ExcluirSeu comentário fez surgir uma ideia. Talvez fosse interessante, em alguma postagem futura, publicar uma seleção de comentários de leitores.
Acho que ainda prevalece a noção de poder docente para as gerações antigas de professores, e eles de fato estacionam em uma zona de conforto, sequestrando suas instituições, visando sempre seus ganhos pessoais, ou nesse caso, seu "descanso" e sua garantia de estabilidade. Tente fazer um mestrado em uma universidade estranha à de sua formação e verá que tipo de barreiras enfrentar.
ResponderExcluirAproveitando a deixa que o professor pontuou sobre a formação acadêmica, ciência e filosofia da ciencia, quero compartilhar sobre algumas mudanças desastrosas na ementa de um curso de licenciatura em Física que atualmente eu curso. Como graduanda deste curso presenciei três mudanças na matriz curricular e atualmente uma mudança significativa na ementa de disciplinas que eram de extrema importância na formação dos futuros professores e pesquisadores da ciências. Nas disciplinas de metodologia de ensino de física e pesquisa de ensino física, atualmente se enfatiza a epistemologia pedagógica (assistir aula nessas disciplinas e pesquisar o termo epistemologia no google, apenas difere o custo que tenho que desembolsar p me deslocar até universidade), Piaget é a unica referencia ao termo epistemologia e pior, estudado a partir da visão monocular de outros autores que leram sua obra.
ResponderExcluirAssim, as disciplinas de 'humanas' foram praticamente extintas do curso, restando (bota resto) as extensas hrs de disciplinas pedagógicas.
Nao estou querendo desvalorizar o papel da pedagogia, que obviamente eh importante na formação docente, mas nao se pode hipervalorizar um campo de estudo em detrimento do outro por motivos duvidosos, sobretudo pq tais mudanças ocorreram devido aos interesses de professores que precisavam aumentar suas hrs de atividades nestas areas em prol da sua carreira acadêmica.
Nessas disciplinas o professor recebe o nome de objeto, aluno de sujeito e sem levar em consideração discussões sobre a deontologia e ética da profissão, tanto do professor quanto do pesquisador...
Juliana
ExcluirSeu comentário merecia extensa discussão, principalmente na instituição onde você estuda. Mas esta discussão deveria envolver pesquisadores de universidades que se destacam fora de nosso país. Seria uma forma de oferecer uma perspectiva diferente para o corpo docente e o corpo discente da casa. No entanto, mesmo que isso ocorresse, dificilmente implicaria em mudanças para melhor. Afinal, "o que os gringos sabem da realidade brasileira?". Minha sugestão é que você cumpra com as exigências de seu curso e, paralelamente, estude o que realmente importa por conta própria. Procure contato com bons pesquisadores nas áreas que lhe interessam. E tente, futuramente, fazer um mestrado ou doutorado em um lugar melhor.
Mas, é claro, outras pessoas dariam um conselho diferente para você. Ver, por exemplo, o link abaixo.
https://www.producoeseclipse.com/sociedade/2017/2/25/o-fim-da-escola-entrevista-com-zak-slayback
Adonai
ResponderExcluirObrigada por sua resposta e sugestão, que aliás não apenas concordo como exercito na medida do possível.
Mas, confesso que resiliência nao eh meu ponto forte, ainda mais quando minha maior dificuldade eh digerir o custo de um investimento justaposto com a inóspita realidade da minha formação e profissão.
Também gostaria de acrescentar uma observação que obtive através da realização de um projeto de pesquisa em direito educacional no ensino superior, onde verifiquei a relaçao entre a evasão profissional de professores do ensino secundário e os índices de abandono das carteiras universitárias nos cursos de licenciatura em física.
Apesar da multiplicidade de motivos sobre a importância da produção de pesquisa em direito educacional no ensino superior, como exemplo as questões que envolvem a estabilidade profissional nas ifes , destaco o fato das ifes serem atualmente detentora de consideráveis investimentos do setor público sobretudo ao verificarmos que a maioria destes investimentos são oriundos de projetos de politicas publicas implementadas nos últimos anos.
O que me chamou mais atenção no trabalho foi a escassez de pesquisas em politicas educacionais, sobretudo quanto a falta de autores vinculados a area de educação ou com experiências significativas em educação no ensino superior.
Sendo assim, fica uma duvida inquietante sobre quem são os atores envolvidos na gênese e implementação de politicas educacionais num ambiente carente de discussões, pesquisas e normas que observam o ensino superior.
Juliana
ExcluirVocê publicou esta pesquisa em um bom periódico especializado? Isso é algo que deveria ser amplamente conhecido.
Prof Adonai
ResponderExcluirEsse cara resume bem https://www.youtube.com/watch?v=8X8LqVSMUac
Grato, Hugo. Muito bom o vídeo.
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