quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Entre Professores e Alunos, Quem Vale Mais?
Apesar do foco desta postagem ser a Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredito que a maioria das considerações aqui colocadas são cabíveis a praticamente todas as instituições públicas de ensino superior de nosso país.
Um dos objetivos deste blog é criar condições para a promoção de debates e ações em favor da educação brasileira. Neste sentido, tenho aprendido com muita gente que coloca suas opiniões aqui, no facebook ou mesmo em conversas pessoais. E até muito recentemente eu acreditava que um dos grandes males da educação superior pública é a indiferença, tanto de alunos quanto de professores.
No entanto, em função de certas reações à postagem que antecede esta, percebi que preciso melhorar consideravelmente minha percepção em relação à suposta indiferença da comunidade acadêmica com o ensino público superior.
De fato, as universidades públicas estão infestadas de professores e alunos que são como zumbis, alimentando-se muito mal de miolos alheios e vivendo vidas completamente desprovidas de responsabilidade social. Mas há também uma massa considerável de indivíduos nestas instituições que conseguem perceber claramente as estupendas mazelas das instituições federais e estaduais de ensino superior e, ainda assim, jamais tomam qualquer atitude significativa para mudar o quadro negro da educação pública. Estes indivíduos não são zumbis, apesar de agirem como tais. Eles são covardes. Explico nos parágrafos que se seguem.
Na postagem Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba (título que faz referência ao hilário humor negro do cineasta Stanley Kubrick) apresento apenas os primeiros resultados de uma estratégia que adotei para manipular a cômica ingenuidade de professores e alunos da UFPR. A rigor a UFPR nada pode fazer para mudar meus critérios de avaliação. Mesmo assim consegui convencer tanto alunos quanto professores de que eles deveriam abrir um processo para investigar minhas atividades docentes. Parte do resultado está retratada na postagem mencionada.
Logo em seguida recebi uma mensagem pública de um aluno do Curso de Física da UFPR, a qual reproduzo aqui (as observações entre colchetes são minhas):
"O CAHK [Centro Acadêmico Hugo Kremer] foi quem levou a queixa ao Colegiado de Curso. Eu era o responsável por fazer a intermediação entre os corpos discente e docente, e, caso o senhor não lembre, eu que fui falar com o senhor. Porém, eu renunciei devido a problemas diversos, e os membros restantes disseram que não vão mais participar desta questão. Uma das diretoras restantes me disse, quando eu ainda integrava a gestão, para 'cuidar do meu próprio cálculo'. Relevante ou não, ela fazia Cálculo I com o senhor.
Quanto ao Prof. Celso, ele é excelente coordenador. É sempre disposto a ouvir as queixas, sugestões e elogios dos alunos, ao invés de simplesmente dizer 'os professores entendem mais, os alunos devem ficar quiestos' como defendido por alguns membros do corpo docente (da universidade inteira, vale dizer) e, curiosamente, por alguns alunos. O Prof. Celso saiu candidato a coordenador de curso por pedido meu e da [nome omitido]. Na próxima vez, busque informar-se melhor sobre a obra de alguém ao invés de criticar por causa de um documento que, eu concordo, ficou mal-escrito, porém inteligível."
O que se deriva desta mensagem é algo sintomático de toda a população acadêmica da UFPR: o domínio das emoções.
Na visão deste aluno o Coordenador do Curso de Física é excelente. Por quê? Porque ele ouve os alunos e tenta tomar providências. Ou seja, o único fator de avaliação é de ordem puramente emocional. Um coordenador de curso é excelente se ele ouvir os alunos e tomar providências. Não importa se tais providências são arquitetadas e executadas de forma primária. O que importa são as suas intenções. Ele quer o bem, o bem dos alunos. Não tem problema algum se for incompetente.
Agora analisemos as entrelinhas (não apenas da mensagem pública que recebi, mas de todas as atividades de ensino na UFPR). Onde há o domínio das emoções, existe o palco perfeito para o domínio do medo.
Alunos têm medo de professores. Por quê? Porque professores têm o poder de reprovar alunos, seja por mérito ou não. Alunos não confiam em bancas de revisão de provas. Isso porque os membros da banca são colegas ou até amigos do professor cuja avaliação está sendo questionada. Esses mesmos alunos são dominados por este medo e muito raramente abrem qualquer processo de revisão de prova. Têm o direito à revisão, pelo menos no papel. Mas a prática não confere tal direito. Isso porque a prática é o domínio do medo.
Alunos têm medo de alunos. Por quê? Porque sempre aparece aquele colega intrometido que questiona seus professores. E este aluno é capaz de irritar suficientemente o professor a ponto de fazê-lo se vingar da turma inteira, realizando provas muito difíceis de serem realizadas com sucesso.
Professores têm medo de alunos. Por quê? Porque são justificadamente inseguros quanto à sua competência profissional. Já vi as reações de professores cujas aulas e avaliações foram questionadas por alunos. A maioria fica furiosa. Fúria é uma reação típica do animal que se sente acuado, ameaçado. Isso é medo.
Professores têm medo de professores. Por quê? Porque professores dependem de professores para terem seus projetos aprovados. A burocracia e o discurso emocional sempre dispõem de instrumentos para impedir o crescimento profissional de docentes e pesquisadores. Como conseguir aquele estágio de pós-doutorado se os colegas não gostam do solicitante? Um exemplo disso está retratado na postagem O que a UFPR Espera de Você?. Posso apresentar muitos outros exemplos igualmente patéticos.
Um indivíduo é covarde quando dominado pelo medo. Medo é uma reação emocional absolutamente natural. É saudável ter medo! Mas ser dominado pela sensação de medo é uma postura absolutamente incompatível com atividades acadêmicas sérias. Quando um indivíduo é dominado pelo medo, ele demonstra não ser saudável e nem inteligente (seja do ponto de vista racional ou emocional). É um covarde.
Portanto, entre os alunos típicos da UFPR e seus típicos professores, quem vale mais? Ninguém. Absolutamente ninguém.
Covardes são pessoas que precisam ser diagnosticadas e tratadas por especialistas. Caso contrário, continuarão a perpetuar e alimentar o medo e a covardia em seus meios sociais.
Pelo menos o Coordenador do Curso de Física não se deixou intimidar. E isso eu respeito e admiro. Apesar de certamente não ser o bastante, já é um começo. Resta saber como esta situação evoluirá. Se nada mais acontecer, cogito em estender meu critério de aprovação para todos os alunos matriculados. Se não for apresentada uma solução sensata para o dilema REUNI-UFPR versus realidade admito a possibilidade de aprovar todos os alunos matriculados em qualquer disciplina de graduação que eu lecionar, independentemente de eles assinarem avaliações ou sequer aparecerem em sala de aula.
Confio mais no corpo técnico-administrativo da UFPR. Eles fazem o seu trabalho! Alunos e professores que são dominados pelo medo de questionar são pessoas que não têm valor social construtivo. Não se promove ciência e cultura sem questionamentos sérios e pertinentes.
Ciência não é uma atividade democrática. Ao inferno com a opinião da maioria! Foram maiorias que apoiaram Hitler e elegeram Collor. São maiorias que defendem a estabilidade de professores de instituições federais de ensino superior. Mas estas mesmas maiorias dependem do trabalho sério de absolutas minorias. A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin triunfou por mérito de ideias. Jamais houve qualquer eleição para a humanidade decidir se o homem evoluiu a partir de outras espécies ou se descende de Adão e Eva.
A maioria toma decisões sustentadas predominantemente pela emoção e não pela razão. Uma universidade deve saber lidar com esta realidade. Por um lado, uma universidade não se sustenta pela opinião de maiorias. Por outro lado, ela deve servir a essas mesmas maiorias. Uma universidade é uma prestadora de serviços para a humanidade. Esta é uma grande responsabilidade. Tanto Governo Federal quanto universidades federais que aderiram ao REUNI romperam com esta responsabilidade.
Enquanto os covardes queimam eu seus próprios infernos pessoais, faço uma chamada aos demais: Mudem o país para melhor!
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba
Na última sexta-feira finalmente recebi um ofício que eu aguardava há muito tempo. Não foi fácil extrair um interesse mínimo sobre a educação na inerte UFPR, mas finalmente consegui um pequeno fruto. Trata-se de um documento assinado pelo Professor Doutor Celso de Araujo Duarte, Coordenador do Curso de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tal ofício (143/2012) está anexado a um processo que tramita no Conselho do Setor de Ciências Exatas da UFPR, com cópia encaminhada à unidade onde estou lotado, o Departamento de Matemática.
Um dos inúmeros problemas existentes na UFPR é sua falta de transparência perante a população que sustenta com pesados impostos os absurdos existentes no ensino público. Exatamente por isso, venho disponibilizando publicamente neste blog uma série de irregularidades que pude testemunhar. Agradeço ao Colegiado do Curso de Física da UFPR por viabilizar parte da transparência que tanto procuro alcançar. Quem sabe agora possamos iniciar uma discussão séria para efetivamente melhorar o ensino público superior. Mas isto somente será possível se tais discussões ultrapassarem as cercas de concreto que circundam o engessado Centro Politécnico, campus que abriga o Setor de Ciências Exatas da UFPR. Afinal, nenhuma universidade federal deste país tem autonomia para se transformar em uma instituição de ensino superior competitiva em âmbito internacional.
Seguem abaixo cópias do Ofício 143/2012 da Coordenação do Curso de Física da UFPR e de minha resposta que entreguei na manhã de ontem.
Aproveito a oportunidade para insistir que alunos de instituições federais de ensino superior continuem a colar cartazes em salas de aula e demais dependências dessas instituições com a frase
É imperativo que se crie uma rede social suficientemente forte para romper definitivamente as mazelas fundamentais do ensino superior público. A maioria dos professores de instituições federais e estaduais de ensino superior vive em uma espécie de "Ilha da Fantasia", garantida única e exclusivamente pelo patético conforto da estabilidade de emprego. Não existe progresso onde há conforto garantido. O mundo real não funciona sem uma constante e árdua luta pelo incessante crescimento profissional. Os alunos e a maioria dos egressos de instituições públicas não contam com este conforto. Por que os professores deveriam ser tratados de forma diferente?
Observação: o uso de caracteres em itálico e negrito, bem como a estrutura gramatical e o emprego de pontuação na cópia do Ofício 143/2012 estão em acordo com o texto original. Boa leitura.
____________________
Curitiba, 09 de novembro de 2012
Of. 143/2012
Ao Prof. Adonai Schlup Sant'Anna
Departamento de Matemática
c/c Direção do Setor de Ciências Exatas e Chefia do Depto. de Matemática
Ref.: Disciplinas de Cálculo I ofertadas ao curso de Física
Sr. Professor,
Tendo em vista o seguinte conteúdo no sítio adonaisantanna.blogspot.com.br,
"Mas, uma vez que o REUNI está aí, atendendo à vontade da instituição onde trabalho, tomei uma decisão. Pelo menos neste semestre aprovarei todos os meus alunos de Cálculo Diferencial e Integral dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Física, desde que realizem todas as provas. Aqueles que encerrarem o semestre letivo com média inferior a 50, estão automaticamente aprovados com média final 50. Ou seja, nem preciso realizar exame final. Já fiz isso antes, conforme relatei na postagem sobre a pobre APUFPR. E não ouvi uma única reclamação, fosse de aluno ou de coordenador de curso. Se o concordante silêncio da comunidade acadêmica continuar, darei prosseguimento a esta postura.
Não estou seguro se conseguirei atingir o índice de 90% de aprovação. Afinal, muitos alunos simplesmente abandonam cursos, sem dar satisfação alguma. Mas estou me empenhando para cumprir com o papel que a UFPR, o Governo Federal e a Andifes esperam de mim."
e tendo-se em vista também as aprovações constantes nos boletins das disciplinas CM201 - Cálculo Diferencial e Integral I e CM041 Cálculo I (cujas cópias integram o processo n.o 23075.041897/2012-03, que está sendo tramitado à Direção do Setor de Ciências Exatas para ciência do fato), o Colegiado do Curso de Física, por decisão em sua 102.a reunião decidiu por unanimidade pedir-lhe esclarecimentos sobre seu sistema de avaliação, e para esta solicitação dá-se o prazo de atendimento de 07 (sete) dias corridos.
Atenciosamente,
Celso de Araujo Duarte
Coordenador do curso de Física
____________________
Curitiba, 13 de novembro de 2012
Ao Professor Doutor Celso de Araujo Duarte
Coordenador do Curso de Física
Universidade Federal do Paraná
c/c Direção do Setor de Ciências Exatas e Chefia do Dep. de Matemática
Sr. Coordenador
Esta carta é minha resposta ao Ofício 143/2012 da Coordenação do Curso de Física desta UFPR, conforme solicitado.
Apesar de seu ofício ser consideravelmente confuso, julgo que ele merece resposta. Isso porque aparentemente o documento citado transparece preocupação legítima sobre a qualidade do Curso de Física da UFPR, apesar de estar muito mal colocada.
A primeira confusão evidente de seu ofício está no seguinte trecho: "[...] e tendo-se em vista as aprovações constantes nos boletins das disciplinas CM201 - Cálculo Diferencial e Integral I e CM041 Cálculo I [...]". Acredito que o Sr. esteja se referindo às turmas CM201-B e CM041-J para as quais lecionei durante o primeiro semestre letivo deste ano. Se for este o caso, a primeira turma citada teve um índice de aprovação de 38%, e na segunda turma apenas 58% dos alunos foram aprovados. Tendo este fato em vista, espero que o Sr. ou o Colegiado do Curso de Física possam esclarecer o que significa a expressão "aprovações constantes". E insisto neste ponto: eu realmente quero saber o que são aprovações constantes. Para esta resposta concedo o prazo de 07 (sete) dias corridos.
A segunda confusão ocorre no seguinte trecho: "[...] o Colegiado do Curso de Física, por decisão em sua 102.a reunião decidiu por unanimidade pedir-lhe esclarecimentos sobre seu sistema de avaliação [...]". Tais esclarecimentos já estão colocados no próprio ofício 143/2012! Portanto, não faz sentido o Sr. ou o Colegiado solicitarem esclarecimentos sobre meu sistema de avaliação (assumindo que o Sr. esteja se referindo ao meu sistema de avaliação especificamente nas turmas CM201-B e CM041-J durante o primeiro semestre letivo de 2012). O que faria sentido, se me permite, é solicitar que eu confirme tais esclarecimentos através de documento oficial, como esta carta. Entendo que estou exercitando minha capacidade de mera adivinhação, ao colocar a resposta desta forma. Portanto, adianto minhas sinceras desculpas se adivinhei erroneamente sua confusa solicitação. No entanto, assumindo que o Sr. e o Colegiado do Curso de Física desejam genuinamente saber se confirmo meu critério de avaliação já descrito no sítio citado, a resposta é positiva.
Recentemente a Universidade Federal do Paraná aderiu voluntariamente ao programa do Governo Federal conhecido como REUNI, o qual prevê um aumento gradual de conclusão de curso para o índice de 90%. Vale lembrar também que o próprio Conselho do Setor de Ciências Exatas não se opôs à adesão da UFPR ao REUNI. É fácil perceber que qualquer disciplina obrigatória que reprove acima de 10% dos alunos tornaria o índice de conclusão de curso do edital REUNI impraticável. Levando em conta que Cálculo Diferencial e Integral é tema abordado em disciplinas obrigatórias do Curso de Física e considerando que esta matéria apresenta elevados e crônicos índices de reprovação na UFPR e em demais instituições de ensino no Brasil e no resto do mundo, não vejo outra saída a não ser a tentativa de aprovação praticamente indiscriminada em disciplinas como CM201 e CM041. Por isso, repito meu critério de avaliação durante o primeiro semestre letivo de 2012: (i) todos os alunos que assinaram as duas avaliações escritas realizadas em ambas as turmas, foram automaticamente aprovados com média mínima de 50, independentemente das notas conquistadas em cada avaliação; (ii) os alunos que conquistaram meritocraticamente média aritmética simples superior a 50, tiveram essas médias fielmente registradas em seus respectivos boletins.
Apesar disso, ainda estou muito longe de atingir o índice de aprovação de 90% (ambicionado pela UFPR), conforme relatado acima. Aparentemente o Curso de Física tem aceitado uma quantia considerável de alunos que simplesmente não aparecem em sala de aula. E enquanto não for apresentada qualquer outra solução para o dilema REUNI-UFPR versus realidade, continuarei a adotar este critério de avaliação ou variações dele em todas as disciplinas de graduação que eu lecionar na UFPR. Neste sentido, recomendo que os demais professores do Curso de Física adotem a mesma estratégia. É a única forma que vejo para que a promessa feita pela UFPR e pelo Setor de Ciências Exatas ao Governo Federal seja cumprida.
Fico muito satisfeito ao saber que o Sr. e o Colegiado do Curso de Física acompanham meu sítio adonaisantanna.blogspot.com.br. Em outras postagens deste blog há várias críticas e recomendações feitas especialmente ao Curso de Física da UFPR. E considero que a mais importante recomendação a qualquer professor é a qualificação de discurso em suas atividades profissionais. No entanto, lendo o Ofício 143/2012 percebi, conforme brevemente discutido acima, uma perigosa falta de qualificação na redação do mesmo. Não se faz ciência ou educação de qualidade sem qualificação de discurso! Espero que as aulas ministradas pelos professores do Colegiado do Curso de Física tenham qualidade superior àquela que percebi na redação do Ofício 143/2012.
Também espero que quaisquer decisões feitas pelo Colegiado do Curso de Física da UFPR e pelo Setor de Ciências Exatas sejam sustentadas pela razão.
Coloco-me à disposição do Sr. e do Colegiado do Curso de Física para demais esclarecimentos, sejam de forma escrita ou verbal. É comumente um prazer discutir com responsabilidade sobre educação.
Atenciosamente,
Adonai Sant'Anna
Departamento de Matemática - UFPR
Matrícula 102806
___________
Para acompanhar o que aconteceu após os eventos narrados nesta postagem, clique aqui.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
O Não que diz Sim
Enquanto decido sobre o futuro deste blog, continuo recebendo mensagens e informações de pessoas que demonstram claramente o apoio ativo à educação brasileira. E a forma de apoio que mais me interessa, neste momento, é aquela que efetivamente coloca em xeque o sistema vigente.
Mais um aluno da UFPR confeccionou cartazes e os distribuiu, conforme solicitação feita na postagem Sonhos e Frutos. Seguem abaixo duas fotografias (das três que recebi) tiradas pelo mesmo jovem:
Em seguida ele enviou dois e-mails para mim. No primeiro afirma o seguinte: "[...] estou enviando em anexo a foto de três cartazes que fixei no centro politécnico. Os cartazes das fotos foram fixados ao lado do elevador no hall do prédio de administração, os outros dois no bloco PA. Fixei cartazes também na entrada do corredor dos professores no departamento de física, no laboratório do departamento de física, no bloco de química, nas portas e em cima dos quadros em algumas salas do bloco PC, no bloco CT, no dpto de matemática ao lado dos elevadores e ao lado da porta da secretaria. Amanhã continuarei colocando os cartazes com as frases."
Em seu segundo e-mail, enviado 23 horas depois, constata algo curioso: "Acho que vale a pena também mencionar que poucas horas depois vi um professor do departamento de física retirando os cartazes. Hoje passei no departamento de matemática e percebi que os cartazes de lá também foram retirados, mas amanhã colocarei mais cartazes nos mesmo lugares, não vou desistir."
Que tal essa? Professor universitário retirando cartazes que simplesmente afirmam
Professor de universidade pública tem seu emprego garantido, independentemente da qualidade de suas aulas.
Por que esse professor fez isso? Não gostou da estética do cartaz? Viu naquela frase alguma mentira? Ou simplesmente não suporta se olhar no espelho?
Hoje lecionei minha primeira aula do novo semestre pós-greve. No início da aula havia um desses cartazes colocados na porta da sala. Ao término, o cartaz sumiu. Sempre há cartazes, editais e anúncios espalhados pelos campi da UFPR, sobre os mais variados temas. Mas nunca vi cartazes de vida útil tão curta quanto esses que simplesmente retratam um fato. Dizer que professor de universidade pública tem seu emprego garantido, independentemente da qualidade de suas aulas, é tão somente um fato! Não se trata de uma ideologia. Ideologias são sempre questionáveis. Mas fatos estão inevitavelmente acima de quaisquer suspeitas. E é justamente por isso que esta frase incomoda tanto.
Insisto com os jovens: continuem a espalhar cartazes, mas desta vez eles devem ser fixados com cola e não fita adesiva. Não se deixem intimidar pelos porcos mentais que se julgam docentes. Não há mal algum em informar fatos. É fato que a estabilidade dos professores de universidades públicas não garante qualidade de aulas. Se existem professores ofendidos por fatos, eles certamente deveriam considerar outras carreiras profissionais.
Negar acesso a fatos, para indivíduos de uma instituição de ensino, é uma afronta escandalosa à educação. Quem arranca esses cartazes está dizendo não. Mas é um não que afirma "Sim, somos profissionais incompetentes que contam com a proteção da estabilidade."
Em um país marcado pela indiferença, o arrancar desses cartazes é uma clara demonstração de que estamos no caminho certo. Mas, por favor, não os fixem mais com fita adesiva. Usem cola! Esta é a oportunidade perfeita para usar cola na escola.
Nos próximos dias terei novidades a respeito de estratégias que eu mesmo tenho empregado no combate à indiferença.
Até breve
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