quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Depoimento de um Superdotado
O texto abaixo é um depoimento de um superdotado (indivíduo com capacidade intelectual muito acima da média) que conheci pessoalmente. Já recebi vários depoimentos por e-mail e geralmente não os publico neste blog. Mas este vale a pena ler, pela sobriedade e, principalmente, pela conclusão ao final. Se você quer fazer algo pela educação deste país, por favor divulgue este texto. Aproveite também para responder à nova enquete no topo desta página.
Muito se diz sobre as condições das universidades brasileiras, do estado em que se encontra a educação como um todo (ou a falta desta) e o debate sobre o que é, ou não, adequado a um professor de uma universidade pública exigir. Isso parece seguir uma argumentação estreita que sutilmente ignora o que acredito ser o verdadeiro problema -- no Brasil, não temos uma sociedade. Acho risível quando alguém argumenta que é necessário convencer a sociedade brasileira da necessidade de ensino e pesquisa, de explicar o tipo de trabalho que lá é executado. Explicar a quem?
Se já irritou-se com o parágrafo acima, ótimo. É desta irritação que preciso. No que segue, pretendo lhe convencer de que há problemas infinitamente mais profundos com a aglomeração de nascidos no Brasil, de tal maneira que mazelas que nascem em setores distintos, têm profundo impacto na formação de uma classe de cientistas. A forma desta argumentação é a de um relato pessoal, com alvo na minha formação acadêmica, porém contendo eventos desde minha infância, que julgo relevantes para esta exposição.
Apresento uma forma leve de autismo, conhecida como síndrome de Asperger, que afeta apenas a comunicação não verbal. A comunicação verbal, nestes indivíduos, ou não é afetada, ou pode até mesmo apresentar-se superior à média. Eu era uma criança eloquente e isolada. Aos quatro anos de idade eu sabia tudo o que se poderia saber (para um garoto que cresceu em uma cidade do interior, com parco acesso à informação) sobre dinossauros. Não era uma daquelas coisas que toda criança tem. Eu podia discorrer sobre taxonomia, anatomia e fisiologia das principais espécies. Aos seis, comecei a estudar anatomia humana, em livros universitários. A capacidade que tinha de tagarelar sobre tais assuntos provavelmente ocultou meu isolamento e minha incapacidade de me relacionar com quem quer que fosse (com uma única exceção) e minha condição permaneceu sem diagnóstico até que eu completasse 34 anos. Em outras palavras, um caso de autismo passou completamente despercebido, por todos os tipos de educadores que uma pessoa possa ter.
Durante anos flertei com a biologia, mas foi aos 10 anos de idade que alguns acontecimentos mudaram meu rumo de estudos. Em um livro de biologia, me deparei com uma equação que dizia que a derivada temporal do número de indivíduos (em uma cultura de bactérias) era proporcional ao número de indivíduos. Como não compreendi o significado daquilo, recorri ao meu pai (a única pessoa com quem de fato me relacionava), que forneceu uma interpretação em termos de razão de pequenas variações. Como um amigo havia emprestado um computador a meu pai (que naquela época era uma raridade), aprendi a programar e resolvi numericamente a equação (anos mais tarde em meu curso universitário aprendi que o método que desenvolvi era chamado "método de Euler" -- o curioso é que reprovei na disciplina). Meu pai, um pouco intrigado com o feito, me sugeriu a leitura de um livro (o único sobre física na biblioteca pública da minha cidade): "Física Quântica" de Eisberg e Resnick. Confesso que não entendi muito sobre o desenvolvimento matemático do texto, mas os conceitos (as ideias) eu assimilei todos. Aí começaram os problemas.
O que ocorreu a seguir fez minha confiança nos educadores dar seu último suspiro e confirmou minha impressão de que a escola era uma prisão que eu deveria tolerar se quisesse trabalhar com ciências. Na quinta série do ensino fundamental há uma "matéria" chamada "ciências". Pois bem, geralmente é ministrada por um pedagogo. Em uma das primeiras avaliações, eis a pergunta: "como fazemos para medir a temperatura de algo?". A resposta esperada era: "usando um termômetro". Mas achei "algo" um tanto vago, poderia ser a superfície de uma estrela, por exemplo. Para mim, a resposta "termômetro" era absolutamente insuficiente. Além do termômetro, descrevi processos de pirometria e outras maneiras de utilizar a radiância espectral de corpo negro para tanto. Outras questões formuladas de maneira absolutamente imprecisa receberam como resposta um "por favor, seja mais específico". Além de receber uma das notas mais baixas da turma, a educadora, em tom de chacota na frente da sala toda, disse que não era para eu inventar coisas. Se não tivesse estudado, bastava deixar as questões em branco. Do contrário, eu poderia ficar com fama de mentiroso. Ao saber sobre minha nota baixa, meu pai, atento ao fato de que eu não era exatamente ignorante em ciências, foi à escola e exigiu ver minha prova. Com a eloquência que lhe era peculiar, conseguiu convencer a direção de que a educadora não era qualificada para aquela disciplina. Minhas notas aumentaram, mas a educadora permaneceu. Eu nunca havia comentado com ninguém sobre o dito em sala. Tenho certeza de que, não fosse o fato de ser autista, isso poderia ter abalado meu orgulho e minha vontade de seguir carreira como homem de ciências.
O que abalou realmente minha vontade foi meu ingresso em um colégio técnico. Era um curso técnico em bioquímica. Permaneci dois meses na escola. Nesse ínterim, alguns professores me odiaram, outros me adoraram e ninguém ficou aparentemente em um meio termo. Este fenômeno também ocorreu com meus colegas. O curso era em período integral. Agora, além de não ter mais tempo para estudar (pois ficava o dia todo na escola), tinha que conviver o dia todo com outras pessoas. O contato social, dentro dos padrões de violência e assédio que outros adolescentes acham natural, foi simplesmente insuportável. Ao final de dois meses, eu tive meu primeiro colapso nervoso. Sem que ninguém soubesse. Para minha família, minha decisão de sair do colégio foi apenas devido ao fato de eu não conseguir lidar com notas baixas (ninguém se preocupou em verificar que minhas notas eram muito boas -- meu pai já havia falecido há um bom tempo). Ao voltar para o ensino médio convencional (o nada bom e velho colegial), minha decisão de nunca mais pôr os pés em um laboratório estava tomada.
Terminado o colegial, resolvi procurar emprego, dado que cursar uma universidade estava fora de questão. Por insistência da minha então namorada, comecei a frequentar um cursinho pré-vestibular. Não demorou muito para eu descobrir que eu nunca duraria mais que alguns dias em um emprego regular (é difícil ser vendedor se para você é impossível não dizer a verdade, por exemplo) e vi em prestar um vestibular uma oportunidade para que minha família me custeasse mais um tempo até que eu resolvesse meu problema de renda própria. Quanto ao cursinho, no quarto mês eu não assistia mais às aulas. Mas era "monitor" de física, química, matemática, biologia e história geral.
Entrei no curso de física da Universidade de São Paulo. Em dois meses tive meu segundo colapso nervoso. A explicação da minha família foi a mesma de antes. Na universidade em si, eu fui bem tratado (salvo um único caso de uma professora que tratava a todos como se fossem idiotas preguiçosos). Mas a cidade de São Paulo é insuportável a um autista. O ritmo de vida e as poluições visual e sonora me levavam a dois ataques de pânico por dia. Um na ida e um na volta. As autoridades sabem disto e oferecem transporte especial para portadores de autismo. No papel. Na prática, é impossível alguém conseguir este "benefício". Mas não importa, pois na época eu ainda não havia recebido um diagnóstico -- ou sequer acompanhamento psicológico.
Passei o resto do ano fazendo "bicos", como instalações elétricas, aulas particulares etc. e mais um ano no sul de Minas Gerais procurando emprego. É curioso como a análise de currículo é feita pelas empresas. Alguém lhe pergunta: você sabe fazer manutenção nestas máquinas? Você responde: me dê um manual que em três dias eu saberei. A pessoa ri e coloca seu currículo embaixo da pilha. A esta altura eu já tinha percebido que dizer coisas do tipo -- aos doze anos eu sabia como cada tipo de usina nuclear funciona, em detalhes, acho que dou conta de uma máquina de cortar papel -- não iria me ajudar.
Como não podia mais me manter, resolvi retomar a ideia do curso de física. Desta vez eu escolheria o curso pela cidade, não pelo seu "ranking". Escolhi Curitiba, digo, a Universidade Federal do Paraná. Nunca imaginei que uma cidade pudesse ser tão cruel com seus moradores, mas isso eu comento depois.
Ao chegar no curso de física eu já tinha uma ideia razoável sobre cálculo diferencial e integral e física básica. Queria trabalhar com sistemas dinâmicos, particularmente, caos. É impossível um aluno de primeiro ano conseguir a atenção de quem quer que seja no departamento de física. É pressuposto que você seja ignorante e que está lá pedindo para trabalhar porque é arrogante, inexperiente e imbecil.
Depois de três meses de aulas -- surpresa -- greve. Durante a greve, organizamos, eu e alguns colegas, encontros para que pudéssemos continuar estudando durante este período. Assim, alguns de nós poderiam adquirir pré-requisitos que faltavam para o curso e até mesmo ir um pouco adiante nas disciplinas. Após meses em greve, o retorno foi estafante. Passamos dois anos seguidos sem férias, e eu -- no meu turno duplo usual -- fui levado à exaustão. Mas não foi apenas a exaustão o problema. Nos dois primeiros anos, tive boas notas em disciplinas (e vi colegas extremamente competentes reprovando) e umas poucas brigas com professores. Tive alguns bons professores, mas tive dois ou três professores que simplesmente não faziam ideia do que estavam falando. Mas até aí tudo bem, a gente discutia, eles se davam por convencidos e todo mundo ficava feliz. No segundo ano me aproximei de alguns professores do departamento de matemática e a experiência foi muito boa. Mas sempre que começava a trabalhar em alguma coisa por lá, algo dava errado por algum motivo aleatório (por exemplo, comecei um bom trabalho com um professor que, quando começou a deslanchar, ele recebeu uma oferta irrecusável de concluir seu doutorado em outra instituição). Decidi que trabalharia sozinho, como sempre fiz. Porém, no terceiro ano tudo mudou. Comecei a ter aulas com "especialistas" nas disciplinas, que simplesmente não iam deixar barato um simples aluno questionar sua autoridade no assunto. Para argumentar que não é arrogância minha, gostaria de citar algumas pérolas que ouvi em sala de aula que me fizeram levantar e sair. Eis os diálogos.
Aula de eletromagnetismo
Depois de discutirmos por causa de alguns problemas conceituais relacionados a algumas aproximações em fórmulas, o professor, já um pouco irritado comigo, tenta envolver um objeto infinito em uma superfície gaussiana.
-- Professor, essa superfície gaussiana não se estenderia até o infinito?
-- Sim, e daí?
-- Você não pode fazer isso.
-- Isso é porque você não sabe o que é o infinito. O objeto é infinito, mas eu posso ir um pouco além, que ainda é infinito, e envolver o objeto! Não há problema com isso.
-- Não professor, o problema é que este objeto não é integrável.
-- Esta é a diferença entre física e matemática! Isso aqui é física, não matemática!
-- Desculpe professor, mas para mim esta é a diferença entre certo e errado. Isto que está aí está errado.
-- Se você tivesse estudado física básica lá no livro do Halliday, saberia como fazer essa conta.
-- Eu estudei física básica professor, mas não por este livro, justamente por estar cheio de erros grosseiros como este.
-- Por qual livro estudou?! Todos os livros fazem as contas deste jeito.
-- O Curso de Berkeley não.
-- [Risos, em tom de chacota] Se você estudou mesmo pelo curso de Berkeley, não quer vir aqui e dar aula no meu lugar? [Mais risos]
-- Não sou pago para isso. [Levanto, pego minhas coisas e saio]
Reprovei nesta disciplina.
Aula de física moderna
Professor divagando sobre um sistema com um só átomo. Cabe ressaltar que já havíamos discutido nesta aula e ambos, eu e professor, já estávamos bastante irritados um com o outro.
-- E este seria o comportamento se fosse possível baixar a temperatura do átomo a zero absoluto.
-- Professor, o que exatamente você quer dizer com "temperatura do átomo"?
-- Como assim? É a temperatura! Você deve saber o que é temperatura, está no terceiro ano de um curso de física!
-- É que o sistema tem um único átomo, professor!
-- E daí?
-- É que... Quer saber, deixa pra lá. [Levanto e saio]
Também reprovei nesta disciplina.
Aula de introdução à relatividade restrita
Eu poderia escrever um livro com esta. Era uma disciplina optativa, dada por um professor absolutamente inepto, que insistia em ministrá-la. Eu não compreendo. Há professores capazes de ministrar esta disciplina. Mas aparentemente se calavam sobre a capacidade daquele indivíduo. Se a universidade pública brasileira fosse um ambiente sério de trabalho, este cidadão estaria certamente na rua. Mas professores universitários são intocáveis.
Eis alguns diálogos.
-- Assim, a velocidade da luz é sempre "c", independentemente do referencial ou do meio em que se propaga.
[Um colega, mais novo no curso e excelente aluno, pede a palavra e pergunta de modo polido]
-- Mas a velocidade da luz não é diferente em diferentes meios?
-- Não, não é não. A luz sempre se propaga no vácuo, mesmo dentro de meios materiais, porque a matéria é um grande vazio.
[Eu, sentindo um grande vazio por dentro, resolvo intervir -- uma vez que meu colega me lançou um olhar de "eu ouvi mesmo isso?"]
-- Professor, desculpe, mas a luz se propaga em diferentes meios com velocidades diferentes. Isso depende inclusive da frequência da luz.
-- Se você leu este absurdo em algum lugar, pode jogar o livro fora!
-- [Eu, já irritado] Próxima aula eu trago um prisma para cá. Assim, quem sabe, podemos reescrever o livro que você usa para sustentar essa bobagem.
-- Antes de você se dirigir a mim neste tom, resolva as equações de Maxwell em um meio material. Enquanto você não souber fazer isso, fique quieto e veja se aprende alguma coisa.
[Eu levanto e saio -- e vários colegas me acompanharam]
No dia seguinte, fiz questão de ir à sala deste professor com cinco folhas manuscritas que continham a solução da referida equação de ondas. Ele olhou a solução e começou a falar sobre o tempo em que esteve no Caltech... Ele nunca se retratou perante a sala.
Algumas aulas depois.
-- (...) E fica evidente que a massa de repouso do fóton é zero.
-- [Eu, já irritado] Professor, para testar experimentalmente esta afirmação, como fazemos para medir a massa do fóton no referencial em que ele está em repouso?
-- Não pode! Um fóton nunca está em repouso!
-- Se um fóton nunca está em repouso, então não faz sentido falar em "massa de repouso".
-- Isso é uma abstração! É a massa que o fóton percebe em seu referencial próprio!
-- Professor, não existe referencial próprio de nada que esteja com a velocidade da luz...
-- "Tá aqui"! No referencial de repouso a massa é zero! Qual a dificuldade de entender isso?!
-- Realmente professor, isso me escapa à compreensão. [Levanto e saio.]
Eu poderia comentar sobre sua exposição a respeito do paradoxo dos gêmeos, mas como quase ninguém formula isso adequadamente (uma vez que, adequadamente formulado, não é um paradoxo), não seria tão representativo. Curiosamente, nesta disciplina eu passei.
Fim da aula.
Na metade deste ano, eu tive mais um colapso nervoso. Porém, agora eu havia conseguido convencer minha família de que precisava de um psiquiatra. Comento isso porque alguém poderia argumentar que eu já era adulto e não precisava da aprovação da minha família para mais nada. A verdade é que não se consegue atendimento na rede pública de saúde para isso. Muitos alunos têm problemas com estafa, depressão, ou mesmo apenas precisam de um apoio psicológico para enfrentar as drásticas mudanças que ocorreram em sua vida neste período de ingresso na universidade. Nem mesmo a universidade é sensível a isto. Por parte da universidade, nunca tive qualquer tipo de atendimento ou apoio. A UFPR é um grande colégio em que os alunos passam parte do dia para conseguir um papel. A diferença é que a merenda é paga.
O diagnóstico que recebi foi o de depressão. Passei a tomar antidepressivos que rapidamente me levaram a um surto psicótico (dado que não era este o problema). Abandonei o curso e o boato que corria no departamento era de que eu estava tendo problemas com drogas (tecnicamente é uma versão adequada, mas não com a conotação que isto carregava).
Quarto ano. As primeiras aulas de "Métodos Matemáticos em Física Teórica" (acho criminoso permitirem que físicos ministrem esta disciplina). Reprovei ao todo cinco vezes nesta disciplina. Esta era minha segunda tentativa.
-- Definimos então um número racional como sendo um número na forma p/q.
[Eu penso: você define, eu não -- mas eu não vou falar nada, eu não vou falar nada...]
-- Para definir os números reais, fazemos assim: tomamos os números racionais e fazemos a união com os irracionais que são definidos como sendo elementos do conjunto [e escreve na lousa] {x | x diferente de p/q} [Eu penso: legal, uma bicicleta é um número real. Eu não vou falar nada, eu não vou falar nada, eu...]
Um pouco depois:
-- Tem gente que diz que números complexos são um espaço vetorial. Mas isso não é verdade porque eles são números!
Eu solto um -- "Aí não dá!" -- infelizmente em voz alta, e saio da sala.
Outra tentativa nesta disciplina. Em uma avaliação, em uma das questões, pedia-se a solução de uma equação diferencial ordinária. Eu não resolvi a questão. O diálogo ocorreu no dia em que a prova foi entregue, supostamente corrigida.
-- [Eu, de modo polido e cauteloso] Professor, não entendi muito bem esta questão. A condição inicial fornecida está em um ponto de singularidade da equação.
-- Todo mundo resolveu a equação, menos você.
-- Sei, mas a condição inicial está em um ponto de singularidade. Pode me explicar como esta informação pode ser propagada pelo sistema, uma vez que se encontra em um ponto de singularidade?
-- [O professor, visivelmente alterado, subindo seu tom de voz]
Olha aqui, não é culpa minha se você não sabe cálculo!
Entreguei a prova e saí sem dar uma palavra.
Na mesma tentativa, no final da disciplina. O assunto era teoria de grupos.
-- Na física lidamos com grupos contínuos e discretos. Vou falar só sobre os discretos porque os contínuos não têm muita aplicação em física.
-- [Eu não me contive] Professor, grupos de Lie não têm muita aplicação em teorias de calibre, por exemplo? [Era uma pergunta válida porque se ele ia descartar um tópico da ementa, eu queria saber o motivo]
-- Não,... Não tem, não.
-- Mas eles não são usados para descrever as simetrias dos problemas?
-- É, mas isso é a parte matemática. Na hora de fazer as contas a gente não usa nada disso.
[Ok, prometi a mim mesmo que ia ficar quieto]
Depois de um tempo, na mesma aula.
-- Então, os grupos discretos são aqueles que contém um número finito de elementos. Chamamos de grupos contínuos aqueles que não são discretos.
-- [Eu TINHA prometido que iria ficar quieto] Professor, há um problema aqui, porque grupos discretos podem ser vistos como "contínuos", em um sentido apropriado; e há grupos que não são discretos que são descontínuos... [tudo bem, no meio da frase me passou pela cabeça que talvez ele nunca tivesse ouvido falar em topologia, mas eu tinha que dizer isso]
-- Qual é o seu problema? Tente imaginar o que eu estou dizendo! Ou uma coisa é discreta, ou é contínua! Não pode ser tão difícil para alguém entender isso!
[Como sou idiota! Não mereço estar nesta aula. Levantei e saí]
Estes são apenas alguns dos diálogos surreais dos quais participei. As características da minha memória me impedem de esquecer o lamaçal de desgosto que foi meu curso.
Nesse ínterim, tive um problema sério em um joelho. Passei um ano e meio sem conseguir dobrar minha perna direita. Andava com muita dificuldade e o atendimento na rede pública de saúde não chegou antes que eu tivesse uma atrofia muscular séria. Abandonei o curso. E o problema (no joelho) foi resolvido, por um ortopedista particular que se condoeu, assumindo boa parte do custo da medicação, em vinte minutos. Comecei a ter dúvidas sobre o que minha pátria realmente esperava de mim (ou do que eu poderia esperar dela).
Depois de algum tempo, fiz meu reingresso no curso prestando um novo vestibular. Muita gente reprova este tipo de atitude, defendendo uma política rígida com relação a jubilamento, argumentando que pessoas assim tiram a vaga de alguém que realmente quer estudar. A estas pessoas eu respondo que, com minha nota no vestibular, poucos eram os cursos em que eu não entraria na primeira chamada. E doze anos separavam a conclusão do meu ensino médio do meu vestibular.
Ao concluir o curso, oito anos após seu início, ficou claro que eu jamais seria aceito em um mestrado naquele departamento. Minha carreira acadêmica estava virtualmente encerrada. Durante a graduação, realizei dois estágios. Um em produção de software para química experimental e outro em produção de software para bancos de dados geográficos. Nunca tive oportunidade de trabalhar com física. A única vez que isso ameaçou acontecer (em uma iniciação científica), ficou claro que as metodologias de orientador e orientando eram incompatíveis. Não durou três meses.
No âmbito pessoal o panorama era mais ou menos este. Depois de seis assaltos (quatro à mão armada -- em um deles, um dos indivíduos que não estava com a pistola me deu uma facada -- a faca estava meio cega e o estrago não foi grande, mas fui deixado semi-nu) e três agressões por gangues (minha mãe morava em um bairro controlado por uma gangue, eu em outro. Os integrantes de uma gangue sempre achavam que eu era da outra e estavam ali para urinar nas árvores deles -- contei apenas as agressões sérias -- as intimidações foram incontáveis) eu comecei a apresentar um comportamento similar ao dos veteranos de guerra. Até hoje é assim quando ando na rua. Acho natural a semelhança, uma vez que a situação aqui no Brasil é de uma guerrilha urbana. A diferença para outros casos de guerra civil é que, aqui, apenas um dos lados possui armas. O "Estado" nunca me ofereceu segurança ou apoio psicológico. (Aos que achem que talvez seja eu o culpado, por andar em lugares perigosos, ressalto que tudo ocorreu entre 11:00h da manhã e 21:00h -- geralmente em lugares de grande circulação de pessoas).
A esta altura já tinha desistido de um tratamento psiquiátrico. Em um ano, percebi que não conseguiria trabalhar em um emprego regular. E meu diploma de nada ajudava. Foi quando minha então namorada (agora esposa) me disse que eu não deveria desistir e que, se os físicos não me quisessem, deveria procurar um mestrado em outra área. Optei por matemática. Eu quase não consegui as cartas de recomendação necessárias. Eu tinha um professor de física experimental com o qual podia contar. Outros professores simplesmente se recusaram. Até mesmo um professor com o qual eu havia feito cinco disciplinas, obtido as melhores notas entre os estudantes (em todas elas) e inclusive sugerido uma modificação em uma dada abordagem a um dado problema que, confessou-me, havia acabado de submeter em um artigo. Sua explicação foi que "não conhecia minha capacidade de trabalho". O que é necessário para conhecer a capacidade de trabalho de um aluno que quer fazer um mestrado? Eu tive que apelar para meu padrasto, que é professor do departamento de química e conhece minha "capacidade de trabalho".
Logo no início do mestrado, minha esposa identificou uma medicação que poderia me ajudar. Voltamos ao meu psiquiatra que, um pouco a contragosto, receitou o remédio. Não esqueço sua frase: bem, não faz muito sentido, mas foi a única coisa que nunca tentamos. Em três dias eu estava completamente estável. Terminei meu mestrado com notas bastante razoáveis e uma boa dissertação. Fui aceito no programa de doutorado em matemática aplicada do Instituto de Matemática e Estatística (IME), na Universidade de São Paulo. E o fantasma da cidade pairava novamente. Foi acertado que eu moraria em Campinas e viajaria sempre a São Paulo. Razoável, desde que eu não tenha que pôr os pés fora da cidade universitária.
Continuar o tratamento foi outra história. A referida medicação é usada em pacientes (crianças) que apresentam o chamado transtorno de déficit de atenção com (ou sem) hiperatividade. É usada também como estimulante por indivíduos irresponsáveis, que não têm problema algum, para virar a noite acordado (estudando ou dirigindo caminhões). E novamente o estigma do sujeito drogado batia à minha porta (tecnicamente, bem, vale o mesmo comentário anterior).
O psiquiatra do Hospital Universitário não acreditou muito na minha história e disse que não concordaria com o tratamento. Meu diagnóstico era de depressão e assim eu deveria ser tratado (lembre que foi este tratamento que me levou a um surto psicótico). Concordou em continuar provisoriamente o tratamento depois que elaborei um texto com toda a medicação e posologia que tomei, e quais foram os efeitos, durante nove anos de tratamento (sim, eu tinha tudo anotado). Foi então que me encaminhou para um neuro-psicólogo para que eu fizesse uma avaliação. E aos trinta e quatro anos de idade tive o diagnóstico correto. Nunca mais consegui uma consulta com um psicólogo. Continuo pegando as receitas no HU, mas não sei se posso chamar aquilo de consulta -- são dez minutos a cada três meses. Quando tentei obter um atendimento em Campinas, depois de muita espera por um psiquiatra, sou novamente tratado como drogado. A psiquiatra disse que "não acreditava nesta medicação". Nem mesmo em distúrbios de atenção: "este problema não existe". Quanto mais aprovaria o uso em alguém cujo problema é outro.
Há quilos de artigos em universidades estadunidenses sobre o uso desta medicação, inclusive casos de sucesso em portadores da síndrome de Asperger (meu caso). Segundo ela, nos Estados Unidos há uma pressão grande dos laboratórios para inventar-se problemas. Com muito custo, consegui convencê-la de que eu era a prova viva de que estes problemas não eram inventados e que a medicação não era inócua. Então ela disse que meu caso deveria ser alvo de pesquisa médica. Ótimo! Era tudo o que eu queria! Há um grupo de pesquisa no assunto no Hospital das Clínicas, na Unicamp. Eu tenho quilos de dados meticulosamente anotados sobre minha vida inteira. Estou muito ansioso para compartilhá-los. Porém, espero há dois anos por um contato com quem quer que seja no setor de psiquiatria daquele hospital. É simplesmente impossível vencer a burocracia para sequer conversar com um pesquisador, ainda que no corredor do hospital.
Eu sou um cientista que não consegue acesso a nenhum pesquisador da área médica. Que raio de ambiente acadêmico é este? Como alguém pode falar em dar satisfação à sociedade, se nem mesmo nós, pesquisadores, temos acesso uns aos outros? Eu não sou ignorante em neurofisiologia, foi uma das primeiras coisas que estudei na vida. Eu posso contribuir, sim.
Quero dizer que foi difícil escrever este texto. Não pelas memórias que me traz (dado que tenho um distanciamento emocional natural destas coisas), mas pelo fato de que, em fevereiro de 2011, contraí uma inflamação no túnel do carpo (na mão direita) por excesso de esforço repetitivo (escrita, no caso). Desde então tenho dores terríveis ao movimentar minha mão.
Consegui atendimento (com muito custo) no HU, em São Paulo, mas para a cirurgia necessária não me garantiram nenhum atendimento pós-operatório.
Tenho muito receio de contrair uma infecção e ter sequelas graves na minha mão, que é meu instrumento de trabalho. Não teria tais receios, não fosse o fato de que agora a apresentação de uma receita médica é indispensável na compra de um antibiótico. Conheço patologia o suficiente para tomar uma decisão mais acertada com respeito à utilização de qual tipo de antibiótico para qual tipo de infecção do que um médico mediano. Mas eu não tenho um papel que diga que não sou idiota. A proibição foi necessária, segundo a Anvisa, porque todo mundo é ignorante (por favor, leia nas entrelinhas da decisão -- foi exatamente isso que eles disseram). Inclusive, quando comecei a fisioterapia (na rede pública de saúde de Campinas), tive uma piora absurda. A dor hoje só é suportável porque estudei o necessário de anatomia e fisiologia para perceber que o tratamento estava errado e aprendi os exercícios corretos. Em muitos lugares, se meu emprego fosse formal, minha condição seria caracterizada como acidente de trabalho.
Mas eu não trabalho. Fico o tempo todo estudando.
Estudei durante três anos em uma escola particular, nas quinta, sexta e sétima séries do ensino fundamental. Quando ouço que a educação privada é melhor que pública, acho graça. Estão comparando coisas que não existem. É interessante ressaltar que aquele episódio que narro no início deste texto envolvendo a professora de ciências ocorreu em uma escola particular -- considerada então a melhor de minha cidade natal. Foi o ambiente que mais me foi hostil. Minha experiência com escolas públicas e privadas me permite dizer que a escola privada interfere mais na educação de uma pessoa. E a interferência da escola na educação de alguém sempre me pareceu deletéria.
Quando me dizem que o sistema universitário nos moldes do ensino privado (ou mesmo do modelo estadunidense) possui menos vícios que o público, rio por tal ingenuidade (um riso um tanto nervoso, contudo). Justifico esta afirmação com mais uma página de meus dias. Eu já havia concluído minha graduação e procurava desesperadamente por um trabalho. Apareceu então a oportunidade de substituir um professor em uma instituição de ensino privada. Eram duas aulas em cada uma de duas turmas de um curso universitário tecnológico -- cálculo e pré-cálculo (seja lá o que isso signifique). A oportunidade era boa pois, apesar de não possuir o título de mestre, não podendo portanto lecionar para cursos superiores, a instituição também mantinha cursos técnicos em nível médio, nos quais não haveria impedimentos burocráticos a uma possível contratação. Para a turma de cálculo, eu deveria "passar" alguns exercícios sobre máximos e mínimos. Tarefa difícil, dado que a turma não sabia o que era um limite. Respirei fundo e comecei a ementa do princípio, discutindo as principais ideias. Ao final das duas aulas, a maioria dos estudantes era capaz de resolver quase que imediatamente os até então impossíveis exercícios e todos afirmavam ter finalmente compreendido a matéria (e pude cumprir o que me havia sido proposto). Não esqueço de um aluno que me disse algo como -- "nosso professor fazia isso parecer impossível de aprender, e é tão simples". Com relação à outra turma, de pré-cálculo, eles inicialmente estavam (muito) agressivos. Foi necessária meia hora de aula para que compreendessem que não havia motivo para agressões e que o aprendizado daquele conteúdo era importante e que poderia ser divertido. Ao final das duas aulas, eu tinha em minhas mãos uma sala de alunos bastante interessados, alguns até mesmo empolgados. Chegou aos meus ouvidos que, na semana seguinte, os alunos de ambas as turmas fizeram um levante para "tirar" seu antigo professor. Tolinhos. Ele era um dos sócios da instituição. Não preciso dizer que nunca mais tive oportunidade de trabalhar em qualquer faculdade privada em Curitiba.
Meu ponto é que em todo lugar há incompetentes espertos. O problema não está nos modelos seguidos, está nos valores que nossa aglomeração de nascidos no Brasil exalta. No português brasileiro, um possível sinônimo para honrado, digno, honesto e culto é trouxa.
Não quero com isso defender o modelo atual de universidade pública. Acho inclusive que o modelo, tal como está, parece ter sido elaborado com a única finalidade de premiar a incompetência e a mediocridade e promover a subversão da cultura científica em uma espécie de culto politeísta, em detrimento de tudo que pareça razoável. A ideia parece ser a de punir qualquer um que possa produzir qualquer avanço.
O que quero argumentar é que os problemas na educação brasileira são apenas um reflexo, um sintoma, de um país doente. Não se cura uma doença apenas tratando sintomas. Temos que tentar avaliar as causas e, a partir disto, tentar um processo de cura. O grande problema aqui é que o paciente não quer ser tratado. Afinal, o Brasil é um dos melhores países para se viver, uma das maiores economias do mundo. Para quê estragar isso? Se alguém tentar dizer que o brasileiro não preza mais sua honra, não valoriza dignidade, não cultiva mais a honestidade (pessoa honesta hoje vira notícia no jornal) e assassinou a erudição, vai receber a resposta -- sim, brasileiro não é trouxa não.
Para você que chegou até aqui, eu pergunto: qual o setor da "sociedade brasileira" que me forneceu algum tipo de atendimento? Qual fato mostra que a "constituição brasileira" (que me "garante" certos direitos) não é apenas mais um papel? Meu país não me abandonou -- só se abandona aquilo que se tem.
"Sociedade brasileira" é uma expressão que não tem sentido. Nós somos uma aglomeração de pessoas que nasceram no Brasil.
___________
Nota do Administrador deste blog: o autor deste depoimento concluiu seu doutorado em matemática aplicada em 2014. Conheço pessoalmente o orientador. É um dos mais brilhantes matemáticos residentes no Brasil e é um pesquisador extraordinariamente exigente.
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Professor, por ser 5hs, não li todo o texto mas "acho" que entendi, e me identifiquei. No ensino fundamental adorava e tinha facilidade com Matematica e por diversas vezes fui zoado por professores(de Matematica) dentro da sala de aula, o q me levou a abandonar os estudos por um tempo e a odiar a escola pelo resto de minha vida! Na graduação vi professores falarem e fazerem escatologias, ex um professor começou a falar sobre psicologia, funcionamento do cerebro humano, aprendizagem, e, numa das frases disse disse que só podíamos fazer uma "coisa", só podíamos ser bons em única coisa! Mas pelo pouco que li vários cientistas afirmam que temos a capacidade fazermos o q quisermos, nada nos impede! Na mesma aula, eu, já aborrecido, perguntei ao professor se psicologia comportamental tinha a ver com behaviorismo, pois, em momento algum ele falou em psicologia comportamental, ele ficou branco, sutilmente perdeu a pose por alguns segundo, como se não soubesse responder depois ignorou minha pergunta e continuo a falar aleatoriamente. Até hoje não sei se psicologia comportamental tem a ver com Behaviorismo! Ele disse muitas outras besteiras e pior é que todos os alunos o aplaudiram de pé, ou eles estavam fingindo ou eram realmente desprovidos de conhecimento! Fora essa, aconteceram varias outras escatologias que me levaram a abandonar o curso de licenciatura em ciências! Como por exemplo professres chingando acadêmicos e etc
ResponderExcluirAnônimo
ExcluirBehaviorismo é um pequeno ramo da psicologia comportamental. Trata especificamente de um ramo menor ainda da teoria do aprendizado.
Já percebi que existe em nosso país um movimento não organizado e silencioso de grandes levas de jovens talentosos que têm se afastado das instituições de ensino em praticamente todos os níveis. Preciso pensar em alguma forma de medir este fenômeno social, com o propósito de divulgá-lo.
Na verdade, psicologia comportamental se refere à análise do comportamento, que é uma das abordagens terapêuticas e de pesquisa em psicologia. O behaviorismo é a filosofia que essa abordagem adota.
ExcluirNão exatamente, Anônimo. A rigor não existe uma definição clara para behaviorismo, uma vez que este rótulo tem sido usado em trabalhos tanto de caráter filosófico quanto teórico e experimental. Por isso mesmo existe o behaviorismo psicológico, o qual é, de fato, um ramo da psicologia. Para detalhes ver
Excluirhttp://plato.stanford.edu/entries/behaviorism/
Sei que essa discussão não tem nada a ver com o assunto do post, mas acho que vale a curiosidade. Conheci seu blog hoje por acaso e estou há 6h30 lendo sem parar (já até me inscrevi no Feed). Não quero ser chato insistindo nessa questão, mas esse provavelmente é o único assunto que devo conhecer mais que você, então quero aproveitar o momento.
ExcluirEm psicologia, embora você possa encontrar significados diferentes para a palavra behaviorismo, isso se deve principalmente a teóricos de outras abordagens que a utilizam de modo inapropriado, contudo, há uma definição clara sim.
Como disse anteriormente, ela é a filosofia por trás do método/abordagem Análise do Comportamento (também conhecida como "psicologia comportamental"). Muitos usam esses dois termos como sinônimos, mas não são (como pode-se constatar em qualquer uma de todas as obras de B F Skinner).
E por último: sim, o behaviorismo é um ramo da psicologia, mas não da "psicologia comportamental", como dito anteriormente.
Anônimo
ExcluirBem-vindo a este fórum. Fiquei impressionado diante de seu entusiasmo com o blog. Contamos com a sua participação.
A palavra BEHAVIOR, em inglês, significa exatamente COMPORTAMENTO.
ExcluirBehaviorismo é o estudo do comportamento ! Simples assim.
Apenas parece haver uma certa divergência conceitual entre os fundamentos de validade doutrinária ora mencionados (até porque caso lidos, se verificaram divergentes), tanto quanto a conclusão e apud a bibliografia mencionada pelo artigo científico mencionado pelo professor, como quanto ao entendimento consagrado pelo autor mencionado pelo anônimo.
Excluir...
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No mais, aproveito para informar se tratar a presente postagem de um dos textos mais intrigantes e satisfatórios, a título de especificidade dos assuntos abordados, que já li em toda minha vida.
Compartilho talvez um pouco de seus sentimentos, professor; Tive os mesmos problemas em todas as coletividades de frequência coercitiva que, por convenção social (ou completa idiotisse...) também tive que enfrentar, desde a escola, ao colégio, a academia militar e a faculdade.
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Talvez tendo o mesmo princípio deste autismo, sinto como é lamentável ter tanto a desejar oferecer (como sofro até hoje no âmbito jurídico...) em relação ao nada que posso ter interesse ao que desejamos oferecer.
* Também larguei meu MBA em especialização na área tributária ("tax compliance"). Não aguentei e também "levantei e sai".
Curioso como em referenciais de tempo, espaço e experiência pessoal indivíduos chegam à idênticas conclusões no Brasil >> http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:vQOaeT9E_XkJ:clubjus.com.br/%3Fartigos%26ver%3D2.33219+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
ExcluirOlá, professor Adonai!!!!
ResponderExcluirE eu pensava que tinha sofrido muito, nas mãos dos professores nas escolas em que estudei, universidade também, mas... lendo isso aqui, posso garantir que... reclamava "barriga cheia"!!!!! Ôpssss!!!! Ainda sou chamado de "doido varrido", devido ser um pouco observador, criativo e/ou contestador sobre os conceitos e ensinamentos que certas "autoridades", certos professores que não aceitam argumentos, sugestões e ideias, querem apenas que aceitemos tudo o que eles "dizem" e, nós os seus alunos, dizendo um... "AMÉMMMMM"!!!! Há muitos absurdos ainda ocorrendo por aí, por parte dessas "sumidades" dos... "conhecimentos imexíveis" (ou seriam... esquecidos???), por exemplo: de certa feita, um professor me deu nota "zero" em um trabalho sobre funções trigonométricas, porque eu teria criado o termo... "ciclo trigonométrico"!!!! Claro, que eu protestei na hora e exigi a reparação da nota nula e ele, à frente da classe ainda me perguntou... "ciclo trigonométrico???? O que é isso"???? Eu então respondi... "trata-se de uma circunferência orientada"!!!! Olha, posso afirmar que vi em seu olhar o reflexo de um... "PQP!!!!!!!! Como pude me esquecer disso"???? E... pensa que ele não tentou... "contornar" a situação e, teimando, de modos que parecesse que ele estivesse com a razão de que, esse... "ciclo trigonométrico" era invenção minha???? Precisou que eu dissesse que tomara conhecimento desse termo, em obras escrita por diversos autores e entre outros, citei o nome do professor Ari Quintela!!!! Resultado: o professor se viu obrigado a pontuar o meu trabalho com a devida nota e (ato contínuo), a exemplo do aluno "superdotado" da sua postagem, saí dali e... tranquei (perdi um semestre) a matrícula da disciplina ministrada por aquela figura "autoritária"!!!! Achei melhor tentar a "sorte" mais adiante e com um outro... professor!!!! Fiz bem????
Um abraço!!!!!
Francisco
ExcluirAcredito que a única pessoa que possa responder de forma sensata se você fez bem é você mesmo. O que posso dizer é que sempre agi de forma diferente de você e do autor do texto acima. Tive muitos professores que falavam loucuras, tanto no ensino básico quanto na graduação e na pós. Até mesmo em Stanford conheci algumas figuras (uma delas um pesquisador do acelerador de partículas de lá) que defendiam teses completamente estapafúrdias. Mas nunca contestei essa gente. Não é de minha natureza discutir por tempo prolongado com pessoas dominadas por certezas, sejam quais forem essas certezas. E é na certeza que comumente se evidencia a ignorância. Sempre preferi pessoas que perguntam. É uma limitação psicológica minha.
Professor Adonai, há controvérsias se isso é uma "limitação" rsrsrs.
ExcluirEu também passei por algumas dessas; entrei na faculdade sonhando com pesquisa, queria muito ser microbiologista e poder estudar as bases genéticas codificadoras dos mecanismos de resistência bacteriana. Depois de seis anos de medicina eu não conseguia mais suportar a ideia de permanecer dentro de uma faculdade - nem a famosa residência médica eu fui capaz de fazer, embora tenha passado em dois processos seletivos! Fui trabalhar, lutando contra várias das coisas terríveis que o colega comentou: a "sociedade brasileira" (siiiiim querido, 99% da população dessa coisa chamada país é burra demais para entender como usar um antibiótico! eu trabalhei com veterinários que não entendiam a diferença entre um antibiótico e um corticóide). A burrice extrema dos colegas de profissão. A burrice + incompetência + bossalidade + tudo de ruim no mundo de prefeitos e secretários de saúde pelo país inteiro. A precariedade absoluta do que se chama "sistema" único de """saúde""". Enfim... Mas de fato professor Adonai, nunca, em nenhum momento da minha vida acadêmica, criei ânimo para discutir com os mestres... pra quê? Talvez meus pais tenham sido visionários, mas foi desde a quarta série do primário, quando perceberam que eu passaria minhas horas de aula fazendo tutoria para os colegas, que eles tem me dito sistematicamente: aguente firme, desse povo você só precisa do diploma. Mas é terrivelmente solitário perceber que se existe em um limbo entre a burrice dos que realmente não estudam e a mediocridade dos que se dizem mestres. E que aqui onde estamos, não há a menor possibilidade de encontrarmos nossas vocações realizadas...
Ligia
ExcluirAlgo em que sempre insisto: precisamos encontrar os membros de nossa tribo. Enquanto não encontramos a tribo na qual nos sintamos bem e produtivos, é porque nossas estratégias de busca precisam ser revisadas.
"Toda criança começa como um cientista nato. Nós é que retiramos isso delas. Só umas poucas passam pelo sistema com sua admiração e entusiasmo pela ciência intactos." Carl Sagan
ExcluirAdonai lembra do Gabriel Gulak Maia q fez um trabalho com vc em teoria da linguagem? Qnd chegou na Unicamp ficou sem orientador e vários professores riram e falaram da inutilidade do trabalho que ele tinha feito com vc...É muito triste ver esse tipo de ignorância vindo de professores e pesquisadores...
ResponderExcluirNossa, Bárbara
ExcluirEu não sabia disso. Na época até conversei com o Gabriel a respeito dessa possível reação de físicos. Mas não imaginei que a reação seria tão contrária. Muito estranho, pois teoria da linguagem é objeto de interesse de linguistas, matemáticos, físicos, engenheiros e filósofos, dado seu caráter altamente interdisciplinar. Os físicos que conheci não tinham a mente tão fechada.
Puxa vida. Essa realmente me deixou chateado.
Acontece muito coisas assim, as pessoas não avaliam suas habilidades e sim se vc puxa o saco o suficiente. Já estamos acostumados a isso, já aconteceu tantas vezes, já tinha ocorrido algo assim no departamento de física antes, então não foi mta surpresa. A gente acaba se acostumando a encarar gente assim.
ExcluirNão se chateie professor. Ele gostou mto de trabalhar com o senhor, gosta mto dessa área, e apesar da demora em encontrar um orientador qnd encontrou fez um trabalho excelente como sempre.
Ótima notícia esta. Estou devendo resposta a um email recente dele. De qualquer forma, Gabriel está de parabéns. É a única forma de se erguer neste país: puxando os próprios cabelos.
ExcluirQuando o distanciamento emocional não é o bastante, o que nos resta? Qual o último recurso? Fuga? Adaptação (conformismo)? Tive experiências altamente desagradáveis nos ensinos fundamental, médio e superior. Quanto maior era a sede pela produção e pelo conhecimento, menos a luta fazia sentido.
ResponderExcluirAfastado do mundo acadêmico, ainda sinto a mesma irritação e perturbação quando ouço da boca de um professor "quem é você pra questionar isso?", principalmente pois, durante meu breve contato com a ciência, realmente acreditava que o problema estava apenas comigo. Como pode um único estudante se perturbar e manifestar tanto desgosto, ver tanta ignorância e estar completamente sozinho? Fui criado no país da brasa, minhas experiências todas se resumem a nossa terra natal. O que tenho em mim que não me permite ficar satisfeito ou contente com os supostos mestres à nossa frente?
Foi saindo da universidade que me deparei com poucos outros que compartilhavam de meu verdadeiro asco. Os poucos que não estão dispostos a sacrificar o pouco de vida que temos nessas instituições fracas, corruptas e ignorantes.
Procuro aqui a manifestação de outros descontentes, então. Esse depoimento me deu uma breve esperança de que, talvez, nossos números não sejam pequenos demais pra fazer alguma diferença. Tal convite já foi feito antes nesse mesmo blog, mas a resposta foi magra demais. Talvez a questão levantada seja de que o autor seja um lobo solitário, mas a quantia de "casos isolados" que é apresentada aqui está crescendo!
Talvez exista algo melhor pra ser feito do que trabalhar e cuidar apenas das próprias vidas. Mas não é o silêncio que vai mudar qualquer coisa.
Sabe que conheço muito bem o seu caso. Na falta de movimentos sociais relevantes contra este sistema, minha percepção é que pelo menos você está seguindo o caminho certo. Está investindo naquilo que lhe desperta paixão e criando um novo círculo social de pessoas que compartilham ideias fundamentais em comum. Danem-se os imbecis! O que interessa são as pessoas que dividem os mesmos sonhos e ideais.
ExcluirQual seria a causa desse fenômeno? Os professores q muitas vezes parecem apenas fingir sabermó conteudo que estão ensinando?
ResponderExcluirAnônimo
ExcluirA causa é difícil de determinar sem um estudo social sério. Mas fortemente acredito que a adoção de uma política meritocrática séria em nossas instituições de ensino minimizariam drasticamente este fenômeno. Como sempre tenho insistido, a estabilidade das instituições públicas cria profissionais acomodados.
Desculpe pelo comentário mal escrito!
ResponderExcluirLi o texto todo e me comovi. A pessoa que o escreveu deve ser interessantíssima e com certeza o mundo perdeu boa parte da sua capacidade.
ResponderExcluirMas, lendo o texto, me parece que certos fatos da vida dessa pessoa são interpretados de modo não adaptativo, senão distorcidos (há sempre vários modos de se interpretar um acontecimento). Ele deve ter sofrido muitas injustiças, mas quem não sofre? O que quero dizer é que nossa conduta frente a esse tipo de coisa pode potencializar futuras injustiças ou minimizá-las ou até esquivar-se delas. Não sei se está ficando claro o que estou dizendo, mas acho que um acompanhamento psicoterapêutico ajudaria muito esse indivíduo. Muita coisa boa ainda tem pra sair dali... Antes tarde do que nunca, né?
Olá Anônimo. Sou o autor do depoimento. Concordo com parte de sua análise. Escrever um depoimento desta natureza não se faz sem uma boa dose de parcialidade. Porém, procurei manter o foco em relatos sobre acontecimentos. Não sei o que quis dizer com "interpretação distorcida", mas acho que todos temos uma versão distinta da realidade e é esta versão que nos molda como indivíduos. Um dos objetivos do texto é observar que todos sofremos "injustiças"; o que fiz foi relatar as que conheço melhor. O que quero como resultado é que trabalhemos para que outras pessoas não passem por situações parecidas. As aspas em "injustiças", na frase anterior, são necessárias porque não tenho uma boa definição de justiça e não sei se uma definição precisa é possível. Mas sei quais comportamentos coletivos não são adequados para garantir a felicidade dos indivíduos. Sonho com um mundo onde não seja frequente que uma pessoa tenha que se esquivar ou mesmo minimizar injustiças. Quanto às interpretações não serem adaptativas, esta é uma característica do autismo que adoraria que fosse trabalhada por um profissional. Em outros tempos, eu jamais teria escrito qualquer coisa a respeito. Por mais incrível que pareça, se hoje escrevi e enviei um depoimento a alguém é porque tenho uma vida feliz. Antigamente, jamais teria estabilidade o suficiente para relatar qualquer coisa a quem quer que seja. Meu apelo a você é que não tome como comum uma pessoa sofrer uma injustiça. É nossa indignação que pode fazer a diferença.
ExcluirSociedade é um conceito muito frágil, retire as leis que a regem, o resultado é previsível, o domínio absoluto das poucas cabeças pensantes controlando a maioria, é só retroagir no tempo ou observar outras culturas, os casos mais emblemáticos ou atuais, no meu ponto de vista, seriam países Africanos, Oriente Médio etc.
ExcluirO conceito atual de democracia e direitos humanos são consequências de traumas de guerras, nos tornamos + ou - sociáveis ao longo dos séculos ao custo de muito sangue, e óbvio graças à ciência e ao capitalismo, pessoas que seriam inúteis ou descartáveis no passado hoje tem pencas de benefícios legais/sociais, ocupações compatíveis com suas habilidades, isto uma minoria da minoria, a maioria sobrevive as expensas do estado, as minorias não sobreviveriam em sistemas políticos da antiguidade, os recursos eram escassos e as leis adaptadas ao período.
Não havia recursos materiais nem necessidade moral de acolher minorias na sociedade, seriam inúteis e custosos demais à época.
Do ponto de vista histórico, a moral e a justiça são relativos, tempo e culturas diferentes modificam toda a equação filosófica, vendo desta ótica os conceitos morais não são inerentes a nós, são impostos pelas leis e pela cultura vigente, não importa o lugar.
Os ditos psicopatas reinariam absolutos, são mais aptos a sobrevivência em qualquer época e cultura, se adaptam com facilidade, tem inteligência acima da média e frieza suficiente para impor sua vontade sobre a maioria.
Como disse no início do texto, eliminem as leis que regem a sociedade atual.
O resultado é previsível, vide a Venezuela, Cuba, Oriente Médio etc.
Ficaria bastante semelhante a uma sociedade feudal, uma minoria pensante controlando um rebanho de incultos sem direitos civis ou justiça do ponto de vista ocidental.
Enfim, justiça social do ponto de vista prático só é funcional quando se tem recursos e a minoria pensante concorda por motivos políticos e financeiros, o resto é filosofia ou abstrações de quem não se adapta a realidade nua e crua.
Compreendi o propósito do texto: descrever o quão difícil é a vida de alguém que "ousa" ser melhor que a maioria no Brasil. O que digo é que, em primeiro lugar, o que li foi um relato sobre como é ruim ser arrogante no Brasil. Sinto dizer que o Brasil não é singular nesse aspecto. Em segundo lugar, apesar de ter que concordar que os medíocres realmente costumam dificultar o sucesso dos mais aptos, seja com zombaria e desdém, seja prejudicando mais diretamente seu trabalho, também não posso dizer que isso seja exclusividade brasileira. O fato é que isso não deveria acontecer dentro de um ambiente acadêmico.
ResponderExcluirEm particular, gostaria de informar que há sim físicos perfeitamente capazes de ministrar uma disciplina de "métodos matemáticos" ou "física matemática". O texto passa a impressão de que a situação do lugar onde o autor estudou não possui exceções. Talvez, se ele tivesse escolhido a instituição pelo "ranking", não tivesse que passar pelas situações descritas. Entretanto, isso não diminui o problema relatado: de fato, a situação do curso de física dessa universidade é preocupante. O ideal seria que isso não ocorresse em lugar nenhum do país.
Por fim, a conclusão de que não existe sociedade brasileira é um absurdo que parece servir mais como uma hipérbole. Mesmo assim, pareceu-me que ideia dessa figura de linguagem é que deveríamos reconhecer que tudo no nosso país está errado, postura que se opõe ao otimismo "governista" sobre a situação do Brasil. Falácia. Ambas as posições extremistas estão erradas. O Brasil está sim cheio de problemas, mas já esteve pior, diferente do que diz o reacionarismo presente na entrelinhas do texto. Tampouco está tudo indo de vento em popa. É preciso sim iniciativas que mudem o que tem de errado e isso faz parte da evolução da nossa sociedade (Sim, ela existe!).
Olá Leonardo Medeiros. Sou o autor do depoimento. Talvez eu não tenha me expressado bem em alguns pontos. Se aceitar minhas desculpas, por favor leve em consideração algumas justificativas. Há professores excelentes onde fiz minha graduação. Como exemplo, cito que há professores (plenamente) capazes de ministrar a disciplina de relatividade restrita. Na época, era ministrada por um inepto, como pode atestar pelo diálogo em sala. Já com a física-matemática acontece uma espécie de reverso. Há poucos bons professores e a maioria não sabe do que fala. Fui aluno de um desses bons professores. Quando digo que acho criminoso que a disciplina seja dada por físicos, é porque os aptos são exceção. Com relação a isto, também acho que disciplinas relativas à biologia sejam ministradas por biólogos, etc. Como pode atestar pelos diálogos, a postura destes indivíduos é extremamente nociva ao aprendizado. Eu nunca disse que sou melhor do que outras pessoas. Inclusive não concordo com o rótulo de "superdotado" do título. Porém, acho que algumas pessoas têm mais aptidão para determinados assuntos do que outras e que mesmo a falta de aptidão pode ser superada com o devido esforço. A arrogância que por vezes demonstro vem da dificuldade que tenho em expressar uma postura filosófica: a de que toda autoridade é nociva, sendo a autoridade científica o ápice da conduta contraditória. Portanto, se acha minha postura reacionária (no sentido que esta palavra ganhou nos anos de chumbo), realmente falhei em comunicar minhas ideias. Por fim, eu apresentei relatos sobre o descaso do Estado. Eu não sou o único. Enquanto esperei um ano por uma consulta em um ortopedista, eu me perguntava quantos casos mais graves estavam nesta fila. Alia-se a este argumento o fato de que, na presente data, inúmeras categorias trabalhistas se queixam de que o governo simplesmente não se dá ao trabalho de negociar melhores condições. Acredita mesmo que temos algum amparo por parte do Estado? Acredita mesmo que as pessoas são educadas ao tomar um ônibus? Você já leu a constituição federal? Caso sim, você acredita que seus direitos lá presentes são respeitados? Você acha que temos educação em níveis fundamental e médio em um patamar adequado, ao considerarmos que somos a sexta maior economia do mundo? Concordo que a conclusão de que não existe uma sociedade brasileira é absurda. O que me levou a escrever este texto foi minha indignação ao percebê-la como fato.
ExcluirUm esclarecimento importante!
ExcluirQuem definiu o título da postagem fui eu, o administrador do blog.
Talvez seja interessante insistir que concordo plenamente com a conclusão do autor do depoimento. Não vejo evidências claras de que exista alguma sociedade brasileira. Somos sim apenas um agregado de pessoas e instituições. Sociedades se caracterizam por articulações entre diferentes segmentos. E tais articulações, no Brasil, são inexistentes ou frágeis e perecíveis.
ExcluirOlá, Anônimo. Confesso que identifiquei um discurso reacionário (no sentido de desejo de volta a uma situação passada), por exemplo, no trecho: "[...] o brasileiro não preza mais sua honra, não valoriza dignidade, não cultiva mais a honestidade [...] e assassinou a erudição [...]". Pensei que isso implicaria a necessidade do retorno aos tempos em que honra, dignidade, honestidade e erudição tinham valor, o que se encaixaria na minha definição de pensamento reacionário: desprezar os valores do tempo atual e desejar uma volta aos valores de outrora. O ponto é que talvez o culto dessas qualidades não tenha mudado tanto assim com o tempo, tampouco necessariamente para pior. É possível que o brasileiro hoje seja realmente mais preguiçoso, desonesto e corrupto que há 50 anos, mas eu não posso dizer que isso é fato baseado apenas no fato de que eu acho que era. Eu, por exemplo, creio que as coisas estão num processo de melhora constante, embora lento; muito por causa do estabelecimento de uma democracia sólida. Se você pegar nossa situação de 1988 para cá, é possível perceber que, entre erros e acertos, o saldo é positivo. A saúde pública no país, por exemplo, é horrível, mas antes era inexistente, e a pressão popular deve implicar uma lenta melhora. Nossa democracia só tem 24 anos e esse tempo me deu evidências suficientes para ser otimista, se as coisas continuarem evoluindo do jeito que estão. Isso não quer dizer que minha posição seja de conformismo. Como disse antes, em meu cenário otimista a pressão popular se faz extremamente necessária. Com isso eu quero dizer a ação de pessoas indignadas com os absurdos que se processam; pessoas como você, eu e muitos outros por aí.
ExcluirQuanto à inexistência da sociedade, como nenhum de nós definiu sobre o que falamos quando mencionamos a "sociedade brasileira", creio que nossa discordância decorra do fato de estarmos nos referindo a coisas diferentes. Acontece. O conceito de sociedade que geralmente uso quando me comunico parece ser muito mais amplo que o seu (e do professor Adonai, que concorda com você), apesar de não saber se é o mesmo que se usa no discurso científico. Não creio que elaborar uma definição precisa seja possível aqui, mas uma tentativa da minha parte seria "qualquer conjunto de pessoas que interagem costumeira e moralmente entre si". Daí eu tenho que dizer o que seria uma "interação moral" para completar a definição, mas isso faria eu me estender muito sobre filigranas, além de ser possível que o resultado não seja exatamente o que pretendo. De qualquer forma, tomando esse significado mais ou menos intuitivo, certamente não bate com o que você quer dizer por "sociedade".
No fim das contas, concordo com suas críticas, mas não concordo com seu pessimismo.
Olá Leonardo Medeiros. Sou o autor do depoimento. Acho seu comentário importante. Quando defendo os valores de outrora, certamente não defendo a forma de governo de outrora. A ditadura militar brasileira teve mais consequências ruins do que alguém poderia relatar ao tempo de uma vida. Meu pai era músico na época. Minha família perdeu amigos "desaparecidos". Também perdemos amigos para o MR8. Porém, um efeito nocivo que provavelmente se estenderá por gerações é o de ter criado um povo avesso ao patriotismo e à civilidade. Não é necessário darmos as costas aos valores de outros tempos apenas por não concordarmos com uma forma de governo. Tampouco defendo todos os valores. Acho, por exemplo, que a tradição é o antônimo de evolução, tenho um conceito realmente distinto de família do atualmente empregado e, para mim, a propriedade é uma espécie de roubo. Também não acho que hoje vivamos uma democracia sólida. Veja, república é bem diferente de democracia. Poucas vezes a vontade popular consegue gerar um projeto de lei e, quando consegue, este só é aprovado após ter se tornado praticamente irreconhecível. O sistema político brasileiro é rígido e estável. Sofre dos mesmos males da autoproteção, que acomete várias outras entidades brasileiras. Analise nossa forma de governo. Hoje, temos uma chefe de Estado, indicada pelo governo anterior, que exerce seu poder por medidas provisórias, que apenas têm efeito quando a base governista a apoia, ou seja, a coalizão governista. O cargo de presidente parece estar desocupado. Logo, somos uma anarquia parlamentarista. Sobre a conclusão, peço que por favor leia um comentário posterior que farei. Tenha em mente que ficarei muito feliz se você me convencer de seu ponto de vista.
ExcluirOlá novamente, Anônimo. Challenge accepted. Tentarei convencê-lo do meu ponto de vista.
ExcluirFuçando a internet atrás de dados sobre o estado da democracia no Brasil, descobri a existência de um "índice de democracia" calculado pela "Economist Intelligence Unit", uma subsidiária do grupo "The Enconomist". Não posso saber se esse índice é confiável, portanto tenho que advertir que este é um argumento de autoridade. Se você julga confiáveis os trabalhos desse grupo (que eu particularmente desconheço), então aproximo-me mais do êxito nesta minha tentativa. Cito agora um trecho da Wikipédia em português sobre a classificação do Brasil (índice geral 7,12 de 10 em 2011) tirado do endereço "http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Democracia":
"A The Economist avalia os países em cinco critérios (processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades civis), com notas que vão de 0 à 10. No critério "processo eleitoral e pluralismo" e "liberdades civis", as notas do Brasil de 9,58 e 9,12, respectivamente, foram semelhantes à de países classificados como "democracias plenas", como Suécia, Áustria e Alemanha. No critério 'funcionamento do governo', o Brasil foi classificado com a nota 7,5, igual a dos Estados Unidos, o 19.ª colocado. Entretanto, o país teve notas muito ruins em critérios que dependem mais da sociedade civil do que do Estado. A nota do país em 'participação política' foi 5, inferior a de países como Bangladesh, Etiópia, que estão em classificações piores. Por fim, em 'cultura política' o índice do Brasil foi de 4,38, menor que a de vários países com 'regimes autoritários', como Bahrein e Guiné Equatorial."
Interpreto o texto acima como dizendo que, de acordo com o estudo, o calcanhar de Aquiles da nossa democracia é nossa população não conhecer sua força política e não ter o hábito de tomar uma postura mais ativa em relação à fiscalização dos atos dos governantes. Isso não vem de hoje. As rupturas ocorridas na história política brasileira sempre vieram de cima, desde nossa independência, passando pela implantação da república e pelos golpes de Vargas e dos militares em 64. A população sempre assistiu passivamente esses episódios.
No entanto, nossas liberdades civis vão muito bem e nossas instituições não vão tão mal. É essa percepção que me deixa otimista, pois certamente esses itens melhoraram muito desde 1988 e, creio, alavancarão paulatinamente os outros. Explico por quê. Numa democracia plena, os políticos têm responsabilidade com o povo, que poderá reelegê-lo ou não, dependendo de seu desempenho no poder. No entanto, isso não acontece em nosso país na mesma medida que em democracias mais desenvolvidas: é lugar comum, por exemplo, dizer que o eleitor brasileiro tem memória curta. Isso acontece pelos mesmos motivos, creio, que abaixam nosso índice de democracia. Todavia, coisas como a que aconteceu nas eleições de 2002, por exemplo, em que se retirou do poder um partido que, no entendimento da maioria, não teve bom desempenho no poder naquele período, fazem-me crer que isso começa já mudou no que se refere a eleições para cargos executivos, apesar de a situação não ter melhorado quando se fala em eleições parlamentares. O instrumento por excelência para mudar essa situação é a educação de qualidade, a que a maioria infelizmente não tem acesso. Contudo, posso perceber que já existe a percepção entre as pessoas da importância da educação, apesar de esse reconhecimento estar voltado unicamente à obtenção do diploma, o que já é uma evolução. Aos poucos se percebe também a necessidade de uma formação qualificada. Isso quer dizer que os governantes provavelmente terão algum estímulo para melhorar a educação pública nos próximos anos. Além disso, recentemente as informações sobre o funcionamento da máquina estatal tornaram-se de acesso público. Assim, tornou-se mais difícil alguma "escorregada" passar despercebida.
Claro que nem tudo são flores. O brasileiro médio ainda não percebeu a importância de pensar suas ações de modo a conviver harmonicamente em sociedade (creio que seja essa o fato a que você se refere quando diz que não existe "sociedade brasileira"). Basta observar o desprezo aos diretos do outro que vemos todos os dias por aí, um mal que acomete pessoas de todas as camadas da sociedade. Nossa polícia ainda não saiu da ditadura militar, os bandidos ridicularizam o estado e se matam a uma taxa genocida, as pessoas se tornam verdadeiras bestas feras no trânsito e também morrem aos borbotões, nossa elite intelectual é acostumada com a irrelevância e a mediocridade disfarçadas por uma extrema arrogância. No entanto, sou otimista. Identificar o problema é o primeiro passo da solução.
ExcluirOlá Leonardo Medeiros. Sou o autor do depoimento. Sinto que esta discussão irá muito longe. Acho mais interessante continuá-la de modo reservado, pois talvez os leitores deste blog não se beneficiem com algo tão prolongado e a paciência do administrador deste blog já foi suficientemente testada ao mantê-la até aqui. Podemos pensar em alguma maneira de nos colocarmos diretamente em contato. O fato é que nossa discussão desviou-se um pouco do objetivo do depoimento. Você fala em democracia sólida. Não era este o objetivo. O objetivo era apontar a falência de todas as grandes instituições nacionais. Quando você diz que as instituições não vão tão mal, eu não sei o que quer dizer. Não temos ensino, não temos saúde, não temos segurança, não temos previdência... Não acredite nos números do governo ou na imprensa. Saia de casa e veja. Conheço um indivíduo que passou em um vestibular sem saber resolver uma equação do primeiro grau (a saber, 3t=15). E estudou a vida toda em escolas particulares. Antigamente, músicas de sucesso tinham letras de Chico Buarque de Holanda, por exemplo. Hoje, os sons de sucesso têm letras com quatro palavras, duas das quais são onomatopeias. Se isto não é indício de degradação cultural, então também não sei o que é cultura. A discussão sobre termos ou não uma democracia pode não ser relevante para esta postagem, por isso peço que nossa discussão seja reservada. A esta altura, deve ter percebido que também não morro de amores pela interpretação atual do que é democracia. Do modo como está, é simplesmente a tirania de uma maioria sobre minorias oprimidas (posso dar alguns exemplos de direitos civis violados contra ateus - aqui você pode ser negro, pode até ser gay, mas ateu não). Não sei qual o seu contato com minorias. Mas quem faz parte de algumas delas certamente não é tão otimista quanto ao respeito de direitos civis. Também posso dar exemplos que evidenciam que não temos uma democracia. Nada de pesquisas em revistas internacionais. Situações palpáveis geradas pelas leis do código eleitoral e questões constitucionais que deixam uma parcela da população sem capacidade de representação. Mas concordo com você que identificar o problema é o primeiro passo para uma solução. O ponto é que não podemos nos ater a este primeiro passo. A segunda parte do seu último comentário contém a essência de tudo o que eu gostaria de dizer, exceto o otimismo. Porém, não ser otimista não significa que não estou disposto ao trabalho e sim que tenho de trabalhar mais duro. Significa que acredito que o Brasil precisa de pessoas como nós mais do que nunca. Gostaria de sugestões do professor Adonai sobre como prosseguir com esta discussão e agradecer sua gentileza.
ExcluirLeonardo Medeiros
ExcluirO autor do texto se colocou a disposição para um contato mais direto. Posso intermediar isso. Basta mandar e-mail para adonai@ufpr.br, solicitando o endereço eletrônico do autor.
Ok. Enviei email para o referido endereço.
ExcluirConcordo com o Leonardo Medeiros sobre a competência de físicos para ministrar a disciplina de física matemática, aliás, quem tem essa competência é quem trabalha nessa área. E se formos estudar um pouco da história da matemática uma boa parte, ou talvez até a maior parte, dessa foi criada e desenvolvida por pessoas que são físicos matemáticos, e que de forma engraçada numa boa parte dos livros de história da matemática aparecem como matemáticos somente... Por outro lado hoje em dia se colocam textos onde matemáticos são ditos como físicos matemáticos e ou são apenas pessoas que trabalham em determinadas áreas da matemática aplicada ou não se reconhecem como tal. Um exemplo é o matemático Yakov G. Sinai laureado com o premio Abel 2014, que no próprio anuncio do premio assim é designado, mas reconhece ser só matemático no artigo: “Mathematicians and Physicists = Cats and Dogs?
Excluirhttp://www.ams.org/journals/bull/2006-43-04/S0273-0979-06-01127-X/S0273-0979-06-01127-X.pdf
Leonardo Medeiros
ExcluirSou "testemunha" (tenho a síndrome de Asperger e formada na área de saúde) de que o rapaz, cujo nome e pessoa gostaria MUITO de conhecer, não é arrogante, apenas tem a sinceridade típica da nossa condição. É muito difícil explicar isso aqui a você, nem eu pretendo entrar em discussões desgastantes consigo. Mas você não está sozinho. Há quem diga que pessoas aspergers são "pedantes", pelo modo como se expressam. Mas eu lhe garanto que nem de longe essa é a intenção, e sim, somente a verdade, coisa inerente aos aspergers. O que ocorre, muitas vezes, é que as pessoas típicas (em oposição às pessoas autistas) têm outro modo de ver o mundo e de funcionar. Em geral, as pessoas típicas costumam mentir (isso é hábito, não tenha como ofensa), dissimular, dourar a pílula quando se expressam - e por isso aspergers são vistos por pessoas típicas como inadequados, quando o que ocorre é que cada um funciona de um jeito.
Agora, também com calma, vou dizer uma coisa. Pesquiso a nossa própria condição de asperger há anos, inclusive com aspergers lá de fora que são PhD em várias áreas. E uma coisa que as pessoas não-autistas, ou típicas têm, e que estou cogitando se coloco ou não no novo livro que estou escrevendo, é o que eu chamei de "ejaculação mental precoce". Ou seja, mal leem um texto, pensam que já conhecem BEM o autor, ou mal falam com uma pessoa e logo têm uma resposta, normalmente contrária, sem muito refletir.
Por isso, sei que pouco adianta, e não li ainda todos os posts e nem a continuação desse seu discurso, sua conclusão, sobre o rapaz ser arrogante (NÃO É!), li apenas o primeiro, mas vou convidá-lo a dar o melhor de si, pois acredito que tenha capacidade para parar e pensar, se quiser. É o melhor que terá a fazer a si mesmo e é totalmente sem ironia que eu falo. Um abraço
Olá, Anônima.
ExcluirTalvez eu mesmo tenha tido essa "ejaculação mental precoce" de que fala. Talvez também eu tenha Asperger, mas nunca fui ao médico para descobrir. Minha mulher vive dizendo que tem certeza de que eu tenho, mas ela não é médica. Eu já pareci arrogante sem querer também. O texto dele me deu a impressão de arrogância, mas já não tenho tanta certeza de seja o caso. Talvez ele tenha se expressado mal, ou eu entendido mal.
Abraço
Eu imagino quem seja este superdotado. As poucas conversas que tivemos mostraram o seu descontentamento com a realidade dentro da sala de aula. É lamentável que existam professores que não aguentam questionamentos dos alunos, principalmente quando fica evidente que eles mesmos não sabem o que estão dizendo nas aulas. Que bom seria se esses professores tivessem uma turma inteira que os questionassem como nosso nobre colega superdotado? Será que reprovariam a turma inteira? Parece que isso seria fácil acontecer. Fico triste ainda que nosso colega foi retratado como incapaz, ignorante em cálculo, entre outras coisas. Pelo que conheço dele, ele tem bagagem intelectual suficiente para ensinar a esses professores e não o contrário.
ResponderExcluirNão sou versado em Sociologia, mas tenho certeza de que o conceito de sociedade é muito mais abrangente do que o que o texto atesta inexistência. Não estou negando a precariedade da saúde ou do ensino - só acho que deveríamos tratar dos assuntos humanos com o mesmo rigor científico com o qual tratamos biologia, matemática ou física. Também é um pouco "criminoso" falar sobre Estado, sociedade, pedagogia ou ensino sem ter como base as ciências humanas; é muito provável que se termine num tipo de relato pessoal ou achismo igualmente perigoso; ainda que suas constatações estejam corretas, não há desenvolvimento lógico da idéia, e, portanto, a conclusão não é logicamente válida.
ResponderExcluirRayk
ExcluirExcelente colocação! Excelente crítica! Veremos se consigo a colaboração de um sociólogo reconhecidamente competente para o blog. No entanto, não esqueça que rigor científico não implica necessariamente em revelação da verdade. E a fundamentação científica das ciências humanas é muito mais complicada do que a das ciências exatas e biológicas.
Boa noite a todos! Gostaria de parabenizar o autor superdotado pela coragem de expor suas entranhas. Precisamos encontrar nossas tribos e ler suas palavras foi como água para minha sede de compreensão. Eu fui uma criança precoce, hoje considerado como criança "portadora de altas habilidades". No início apanhei muito nas escolas por saber mais do que meus colegas.Depois passei a simular uma ignorância forçada no intuito de me adaptar e ser aceita. Na pós-graduação tive um trabalho roubado por uma professora de ética.Entendo como ninguém a frustração do autor desse depoimento. E admiro sua superação.Indicarei um livro para todos que gostaram do que foi explicitado aqui e tiveram paciência de ler todos os detalhes.Peço desculpas pela escrita embolada porque estou escrevendo na minha televisão e não consigo colocar parágrafos. O nome do livro é "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", de um autor polêmico chamado Olavo de Carvalho. Recomendo igualmente a leitura de um texto no site do Mídia sem Máscara sobre "PNE: autismo ideológico da pedagoga confunde superdotado com deficiente mental". Bom proveito a todos! Adorei o blog!
ExcluirOlá, sou o autor do depoimento. Em consideração aos comentários de Leonardo Medeiros, Rayk e professor Adonai, acho que devo uma explicação de qual conceito de sociedade nacional utilizei para chegar à minha conclusão. Quero ressaltar que não sou profissional da área de Humanas e que não devem tomar estas definições como as usuais desta área. Minha intensão é apenas mostrar que minha conclusão não é leviana (ao menos não intencionalmente). Sociedade é um conceito muito geral, sim. Mas, para mim, uma sociedade nacional é o conjunto das instituições de uma dada nação, articuladas para proteger e garantir o bem-estar de seus cidadãos. Uma instituição nacional é uma organização de indivíduos capaz de transferir os produtos coletivos, sejam materiais ou intelectuais, às gerações futuras. Permitam-me recolocar estas definições dentro de minha argumentação. Eu sempre recebi ajuda de inúmeras pessoas em tudo que realizei. Nós somos um povo solidário. Se tivesse mencionado a ajuda de outras pessoas em pontos do meu depoimento, certamente este teria várias vezes o seu presente tamanho. Não é deste tipo de sociedade que estou falando. Tento usar passagens de minha vida para argumentar que, em geral, as entidades ligadas ao Estado estão desorganizadas demais para produzir o que quer que seja, sequer têm a capacidade de reunir o que produzimos de maneira duradoura. Nosso ambiente de convívio degrada-se a cada geração. Assim, argumento que tais entidades não se caracterizam como instituições. Ainda que se caracterizassem, a desarticulação destas entidades, presente em todos os níveis, as impede de cumprir o objetivo maior de uma sociedade nacional -- proteger e promover o bem-estar de seus cidadãos. Foi devido a isto que, em comentários anteriores, citei o descaso do governo com relação aos direitos "assegurados" pela constituição federal. E quando digo governo, isso inclui o Supremo Tribunal de Justiça, que em recente decisão decidiu ignorar parágrafos da constituição federal em prol da "governabilidade" do país. Minha pergunta então é a seguinte: se o STJ ignora a constituição federal, você se sente protegido por alguma instituição? Sempre que recorri a alguma entidade ligada ao Estado fiquei com a impressão de que a pilha de papéis à frente do funcionário era mais importante do que o meu bem-estar. É sempre a mesma coisa: "Entendo seu problema, mas não posso resolver: É contra o regulamento, está bem aqui, pode ver. Ordens são ordens." (Metrópole - Legião Urbana)
ResponderExcluir(O autor do depoimento). Uma correção. A decisão inconstitucional que mencionei foi do Supremo Tribunal Federal (STF) e não do STJ. Desculpem.
ResponderExcluirUma boa leitura para qualquer um seria a Pedagogia do Oprimido (Paulo Freire).
ResponderExcluirEis algumas das conclusões a que chegaram, por experiência, os colaboradores e admiradores do sr. Freire:
Excluir“Não há originalidade no que ele diz, é a mesma conversa de sempre. Sua alternativa à perspectiva global é retórica bolorenta. Ele é um teórico político e ideológico, não um educador.” (John Egerton, “Searching for Freire”, Saturday Review of Education, Abril de 1973.)
“Ele deixa questões básicas sem resposta. Não poderia a ‘conscientização’ ser um outro modo de anestesiar e manipular as massas? Que novos controles sociais, fora os simples verbalismos, serão usados para implementar sua política social? Como Freire concilia a sua ideologia humanista e libertadora com a conclusão lógica da sua pedagogia, a violência da mudança revolucionária?” (David M. Fetterman, “Review of The Politics of Education”, American Anthropologist, Março 1986.)
“[No livro de Freire] não chegamos nem perto dos tais oprimidos. Quem são eles? A definição de Freire parece ser ‘qualquer um que não seja um opressor’. Vagueza, redundâncias, tautologias, repetições sem fim provocam o tédio, não a ação.” (Rozanne Knudson, Resenha da Pedagogy of the Oppressed; Library Journal, Abril, 1971.)
“A ‘conscientização’ é um projeto de indivíduos de classe alta dirigido à população de classe baixa. Somada a essa arrogância vem a irritação recorrente com ‘aquelas pessoas’ que teimosamente recusam a salvação tão benevolentemente oferecida: ‘Como podem ser tão cegas?’” (Peter L. Berger, Pyramids of Sacrifice, Basic Books, 1974.)
“Alguns vêem a ‘conscientização’ quase como uma nova religião e Paulo Freire como o seu sumo sacerdote. Outros a vêem como puro vazio e Paulo Freire como o principal saco de vento.” (David Millwood, “Conscientization and What It's All About”, New Internationalist, Junho de 1974.)
“A Pedagogia do Oprimido não ajuda a entender nem as revoluções nem a educação em geral.” (Wayne J. Urban, “Comments on Paulo Freire”, comunicação apresentada à American Educational Studies Association em Chicago, 23 de Fevereiro de 1972.)
“Sua aparente inabilidade de dar um passo atrás e deixar o estudante vivenciar a intuição crítica nos seus próprios termos reduziu Freire ao papel de um guru ideológico flutuando acima da prática.” (Rolland G. Paulston, “Ways of Seeing Education and Social Change in Latin America”, Latin American Research Review. Vol. 27, No. 3, 1992.)
“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.)
Outros julgamentos do mesmo teor encontram-se na página de John Ohliger, um dos muitos devotos desiludidos (http://www.bmartin.cc/dissent/documents/Facundo/Ohliger1.html#I).
Não há ai uma única crítica assinada por direitista ou por pessoa alheia às práticas de Freire. Só julgamentos de quem concedeu anos de vida a seguir os ensinamentos da criatura, e viu com seus próprios olhos que a pedagogia do oprimido não passava, no fim das contas, de uma opressão da pedagogia.
Meu caso foi parecido, porém muito mais curto e sem o autismo. Tenho um irmão mais velho, e era extremamente prazeroso fazer suas lições, ainda que fáceis, muito melhores que as atividades passadas para os garotos da minha idade. Não fiquei em nenhuma escola por mais que 2 anos, em algumas não fiquei mais que 2 semanas, infelizmente no meu caso não foi possível ir além do ensino fundamental. Pois as instituições de ensino não estão preparadas para qualquer "desvio" do padrão.
ResponderExcluirHoje me pergunto quanto de minha alma eu negociei para chegar aonde cheguei.
ExcluirTenho que concordar com o unknown e dizer q minha historia e meio semelhante, tirando o fato da permanencia escolar. O ensino em modo geral no nosso país e acredito que em boa parte do mundo é voltado pra que vc aprenda do jeito que o professor ensina e responda questoes do jeito do professor (pensamento convergente, que diga-se de passagem é extremamente comum nos professores em geral), facilmente vemos alunos brilhantes(a maioria e quanto mais brilhantes maior esse numero) que por nao se adequar ao 'padrao'(possuirem um pensamento divergente) da maioria dos professores acabam reprovados, ou taxados como 'inuteis' ou mal alunos. De qualquer forma segue a maxima das relaçoes sociais, se vc pensa diferente do senso comum vc é que está errado, infelizmente nossa sociedade nao ta pronta pra entender ideias diferentes do habitual. Desculpe-me se ficou dubio ;s
Excluiro meu caso pode-se dizer que bem parecido c o seu, a diferença é o fato de nao ter largado a escola, e tenho que concordar com vc, o nosso ensino e acredito que em todo o mundo nao está pronto para lidar com pensamentos divergentes, o ensino em sua maioria é generalizando uma forma de aprender como o professor ensina e responder questoes da forma que o professor resolveria ou semelhante (pensamento convergente), facilmente vemos alunos brilhantes (a maioria dos, e quanto mais brilhante mais se aproximam da totalidade) sendo reprovados ou taxados de 'mal alunos, incompetentes ou burros' por nao seguirem o 'padrao' que os professores querem (pensamento divergente). Infelizmente a nossa sociedade é assim e aqueles que nao se adequam ao 'padrao' so conseguem chegar a algum lugar com muito, muito esforço ou ate com o sacrificio de ideais para chegar a algum lugar. Desculpe-me se o comentario ficou meio dubio.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom dia. Sou jurista e passei por muitas frustrações como as do relatadas pelo autor. Em razão delas, faltei aulas do ensino médio e da faculdade para estudar por conta própria e abandonei um emprego com boas perspectivas por me recusar a aceitar certas irracionalidades. Posso afirmar que o ensino das ciências humanas sofre dos mesmos problemas, os quais tem consequências muito mais graves nessas áreas.
ResponderExcluirÉ interessante notar que Richard Feynman alertou para essa deficiência do nosso sistema de ensino ainda na década de 50, quando, ao discorrer sobre o período em que lecionou no Rio de Janeiro, afirmou que não havia ensino científico no Brasil, apenas uma espécie de faz de conta.
Tenho certeza de que não avançamos desde então.
Para quem estiver interessado, o relato do Professor Feynman pode ser lido aqui: http://www.uel.br/cce/fisica/pet/EnsinoRichardFeynman.pdf
Thiago
ExcluirSeja muito bem-vindo a este fórum. Conheço bem o relato de Feynman. É realmente sensacional. Você tem razão. De lá para cá, praticamente nada mudou. Mas em breve veicularei boas novas por aqui, as quais podem sinalizar pelo menos discussões mais responsáveis em âmbito nacional.
Para mudar esse quadro, devemos formar e unir o maior número possível de pessoas "sensíveis" a toda essa problemática e prepará-las para o ingresso nas instituições de formação. Isso não é tarefa fácil: a grande maioria dos concursos para professor é tendenciosa e dirigida. Na melhor das hipóteses, a banca é desqualificada (burra).
ExcluirEsta é uma questão sobre a qual sempre tenho insistido há muito tempo. Existe muita gente realmente boa neste Brasil. Mas, na maioria dos casos, falta articulação entre essas pessoas.
ExcluirProf. Adonai, agradeço por abrir esse canal democrático o que contribui muito para melhoria do ensino superior no pais.
ResponderExcluirEu tive muitas experiências negativas e positivas durante os cursos de graduação e pós, só que por sempre planejar a minha aprendizagem antes de entrar nesses cursos, meus resultados sempre foram efetivos, independente da qualidade das aulas. Por ter grande habilidade para relacionar qualquer conteúdo com as disciplinas, nunca deixei de aprender o que era importante para mim. Só que eu tive que certificar a qualidade da minha aprendizagem através de cursos moocs em boas universidades (e.g. Stanford), comprar livros e discutir com pesquisadores renomados.
Sabemos que nem todos os professores desejam dar aulas depois do doutorado, muitos até decretam o fim das suas carreiras de pesquisa, também já passei por situações de perseguição, onde o meu desempenho foi visto como uma ameaça por estudar e compreender profundamente os temas que meus professores explicavam de forma "rasa" nas suas aulas. Acho que nem todos os professores pensam de forma transversal, até porque o natural é se tornarem especialistas em temas cada vez mais estritos ao longo dos estudos (graduação, especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado) o que os impedem de pensar os vários conteúdos possíveis a partir de novas visões interdisciplinares.
Uma vez fui ao encontro de um pesquisador em um instituto de pesquisa e ao ler sobre sua pesquisa de doutorado disse que tinha uma idéia melhor, isso ameaçou a sua figura no instituto, imagine alguém que não possuía nem o mestrado dar idéias concretas para resolver grandes problemas de uma linha de pesquisa. Já recebi vários sermões por isso, embora tenha visto diversos plágios dos meus trabalhos.
A academia possui certos dogmas, um deles com certeza é o de que uma pessoa de ensino inferior é sempre ignorante diante de um doutor. O grande perigo em tentar "formar" pessoas com o conhecimento forjado por esse tipo de professor é a repetição das mesmas visões, o que será uma grande barreira para a inovação. No ano de 2012 criei uma taxonomia das principais descobertas de uma linha de pesquisa e a quantidade de artigos que repetem as mesmas pesquisas impressiona realmente!!. Pior que eventos de boas qualidades nacionais e internacionais (por terem as mesmas pessoas no comitê com as mesmas visões) já possuem uma certa restrição para temas novos e ousados.
Agora uma vez eu fiz algo realmente engraçado. Uma profa arrogante que chegara recém-doutora da França pegou meu trabalho de programação distribuída e começou a ler teoria de formação de acordes e escalas musicais. Bom, claro que ela não entendeu nada do trabalho, embora eu tenha aplicado os conceitos da disciplina que ela ministrava. Imagine um aluno apresentar um trabalho de sistemas distribuídos com a ajuda de um violão?.
Acho que isso é o natural, aplicamos conhecimento adquirido na aula para o que achamos útil não para repetir o que os professores fizeram. Tenho esperança que a minha geração será mais inteligente e sairá da zona de repetição para aplicação, o que promoverá um verdadeiro aprendizado.
Jaguaraci
ExcluirOs problemas que você aponta não são exclusivos das universidades brasileiras. É nestas horas que precisamos lembrar que o ser humano é um animal político.
Identifiquei-me no relato do anônimo e talvez eu também pontue no espectro de coeficiente autista (AQ). Os complexos de superioridade que existem em todas as esferas de atuação, pública e privada, fazem com que os indivíduos criem hierarquias que resistem à mudanças, se auto-protegem, e aplicam critérios de avaliação irracionais e contraprodutivos que custam a se adaptarem. Uma das primeiras medidas para evitar esse tipo de fenômeno emergente de professores arrogante e de baixa cultura científica e empática, seria acabar com a maior parte das aulas presenciais. Aulas sob demanda com videos (como existem em muitos cursos online como Khan Academy, Coursera, Udacity), progressão assíncrona de currículo através de testes gerados proceduralmente, enfase em monitorias. A primeira fase seria de desestruturação e desprogramação de boa parte das atividades escolares e universitárias. Deixar com que as pessoas procurem mais o seu ritmo natural do que serem forçadas à fazer parte de todas as exigências que as prisões universitárias e escolares estabelecem. Isso acabaria com boa parte da burocracia. A outra parte seria estabelecer uma cultura e sistema meritocrático forte ao mesmo tempo que estabelece uma forte rede de apoio social e psicológico. Mais ou menos como funcionam os países nórdicos, que mais parecem utopias perto de outros países e sociedades incivilizadas: muita competição e livres-mercados e muito investimento e proteção social ao mesmo tempo.
ResponderExcluirboboniboni
ExcluirGostei muito de seu comentário. Usualmente sou contrário ao ensino à distância. Mas a proposta que você apresenta parece interessante. Pensarei a respeito.
Incrível como eu consegui identificar praticamente todos os professores citados, a partir dos seus comentários.
ResponderExcluirNão vou dar nome aos bois, mas acho que todos que cursaram Física na UFPR vão conseguir identificar.
É triste mas é a verdade!
Att.
Marcos.
Esse tipo de professor forma uma "classe de equivalência". Ele pode ser encontrado em todas as instituições Federais.
ExcluirNa verdade, ele é uma relação de equivalência, dessa classe de equivalência.
ExcluirIsso me lembrou um trecho do fantástico livro "A Revolta de Atlas", de Ayn Rand:
ResponderExcluir"Ou então, se optassem por pensar, perguntem a si próprios quanto suas mentes seriam capazes de descobrir. Perguntem quantas conclusões chegaram por seus próprios meios durante toda a vida e quanto tempo passaram repetindo lições aprendidas com outros." (...) "O eu que vocês traíram é a sua mente; amor-próprio é confiar na capacidade própria de pensar. O eu que buscam, aquele eu essencial que não podem exprimir nem definir, não consiste nas suas emoções nem nos seus sonhos desconexos(...) Vocês ainda guardam uma vaga ideia - não nítida como uma lembrança, e sim difusa, como a dor de uma saudade sem esperanças - de que em algum momento da sua primeira infância, antes de aprenderem a se submeter, a abosrver o terror do irracional e quetionar o valor de sua mente, conheceram um estado radiante de existência, a independência de uma consciência racional encarando um universo aberto. Esse é o paraíso que vocês perderam e que buscam - que pode ser seu quando quiserem."
Me identifiquei muito com o autor do texto.Tenho 18 anos e atrasei meu ensino médio em 2 anos por abandonar o colégio,mudar de país e etc.Me perguntam...mas por que ?Visto que nunca precisei ''largar os estudos'' para trabalhar e contribuir com a renda familiar.Porém o ambiente escolar era e é INSUPORTÁVEL como bem colocado pelo autor.Só eu sei o quanto sofri e ainda sofro no colégio por ter interesse em coisas que não fazem parte dos interesses dos demais e segundo meus professores não faz parte do curriculum da escola ensinar ao aluno.
ResponderExcluirCompartilharei com vocês um fato recente.
O ultimo episodio das minhas peripécias escolares aconteceu há alguns meses atras na aula de matemática,agendada para realização da prova bimestral no valor de 5,0 pontos;o professor distribuiu as provas e a metade da sala colocou suas provas de lado e começaram a conversar e fazer imitações e indagações sobre um certo programa de péssimo gosto (Panico na TV) juntamente com o PROFESSOR DE MATEMÁTICA...sim vocês leram PROFESSOR DE MATEMÁTICA pois ele também participou da roda amigável de conversas e piadas,o que não me afetaria em nada se não fosse uma aula dedicada a realização de uma PROVA.Tentei fazer a prova com muito sacrifício pois não consigo me concentrar com muitas pessoas rindo e conversando.
Na aula seguinte o professor entra na sala e se diz muito decepcionado com nosso desempenho na prova,eu não podendo me conter com o maior decoro e civilidade disse a ele que talvez se a aula agendada para a realização da prova tivesse sido respeitada ao menos se fazendo silêncio; aqueles que haviam estudado para a realização da prova teriam atingindo rendimento adequado. RESULTADO: Fui convidada a mudar de sala.Porém isso não traria SOLUÇÃO alguma visto que o problema é o professor que não respeitou nem os alunos que estavam tentando resolver a prova e da aulas de matemática em todas as outras classes .E assim vou...caminhando para meu destino,desde a infância sendo chacota de colegas de sala,professores de má índole que me faziam ser vista como alguém que ''se achava melhor que os demais'' prejudicando minha dinâmica com coleguinhas de classe.
O que mais me doí é ver meu irmão com 9 anos passando por tudo que já passei no âmbito escolar .Porem fico feliz por ele ter nascido e morar em outro país que pelo menos possui uma ''sociedade'' que o apoia e o auxilia.
Não entendi " bicicleta é um número real."
ResponderExcluirO da "temperatura em um único átomo", seria por que temperatura tem haver com energia cinética movimentação de vários átomos.
Henrique
ExcluirO professor havia definido número irracional como algo diferente de p/q. Como uma bicicleta é diferente de p/q, logo é um número irracional. Ou seja, o professor, de acordo com o depoimento dado acima, não tinha ideia do que são números irracionais. Com relação à outra questão, vale observar que temperatura está associada a propriedades físicas de sistemas com muitas partículas em interação.
Oi Adonai. Nao me leave a mal, mas preciso saber se o "superdotado" e' o proprio Adonai. Obrigado.
ResponderExcluirAnônimo
ExcluirPergunta estranha. Não, claro que não. É um rapaz que conheci anos atrás, mas que prefere permanecer no anonimato. Não foi aluno meu, mas sua namorada teve aulas comigo.
Há alguns anos, deparei-me com a seguinte frase em uma parede da Universidade de Brasília (UnB):
ResponderExcluir"Não deixe a universidade atrapalhar seus estudos."
Esta frase marca minha experiência universitária até hoje.
Que depoimento impressionante!!! Acho que eu nunca mais vou esquecer disto na minha vida.
ResponderExcluirAdonai,
ResponderExcluirPor favor, se possível, e se julgar que há interesse para o seu amigo, faça chegar a informação a ele de que eu tratei o Síndrome do Túnel Cárpico (fui diagnosticada em ambas mãos) com chi kung. Os médicos queriam me operar, mas eu não quis. E eu estava querendo fazer tai chi. Na época, vivia em São Paulo, e achei uma escola de pakua que tem umas aulas que são um misto de chi kung com tai chi. O alívio das dores é imediato.
Um abraço, obrigada por fazer chegar este texto. Compartilhei no meu mural do Facebook. Fiquei bastante tocada com a história da vida dele.
Oi, JCRodrigues
ExcluirInfelizmente perdi o contato com ele e até mesmo com a namorada dele. Mesmo assim tentarei. Grato pela informação e pelo apoio ao blog.
Li cada pedacinho, cada vírgula, podendo até sentir o gosto de cada momento relatado. Mas, escrevo não com os olhos da profissão que um dia há de ser apenas referencia, mas com a que serei a vida toda: mãe. A delicada clareza com que narrou sua história abriu meus olhos. Você não imagina o tanto! Agora sei por onde começar a andar.
ResponderExcluirQuanto ao Brasil e os meandros da educação... Desses, entendo muito bem o que você passou. Só me resta pedir que seguisse mostrando que a educação pode ser tratada com mais sabedoria e menos arrogância. Afinal, estamos todos aprendendo uns com os outros.
Assim, deixo meu comentário em forma de agradecimento: cuide-se bem!
Valéria
ExcluirPudera o Brasil tivesse mais mães como você. Faz falta, muita falta. Grato pela sensível manifestação. Espero que o autor deste texto possa ler as suas palavras.
História incrível, também me senti correspondido como os outros.
ResponderExcluirSe a universidade merece essa visão, imagine a escola! Um bando de candangos igualmente politeístas, que dependem de métodos mnemônicos para ter ciência. O pensamento próprio é totalmente tolhido mesmo nos colégios mais renomados e acaba por ser 100% destruído com a introdução de uma "nova escola" hipócrita. O que falta neste país e no mundo todo é que pessoas mais sensíveis consigam acessar cargos de chefia, para deixar fluir os talentos de seus empregados e alunos. Acontece que a dignidade dessas pessoas não as deixa cair nos jogos de retórica e engano que tanto permeiam o poder, principalmente a ilusão da "gestão de pessoas".
Abraços a todos,
Allan.
Allan
ExcluirPermita-me questionar a sua visão. Pessoas mais sensíveis em cargos de chefia tem significado, na prática, pessoas mais estressadas e até destruídas em cargos de chefia. Sua ideia funcionaria melhor a partir de uma massa crítica dessas pessoas mais sensibilizadas com educação e sociedade. E para atingir essa massa crítica, precisamos de uma estratégica articulação entre aqueles que querem um Brasil melhor.
Eu realmente me identifiquei com algumas partes do texto. Não sou nenhum superdotado, mas desde que me lembro por gente, rebato e não aceito a educação que recebo nas escolas. Só estudei em escolas públicas, péssimo ensino, e pouco que aprendi foi só decoreba.
ResponderExcluirAo concluir o ensino médio entrei em um curso da USP que é uma mistura da área de exatas/computação e biológicas, e já presenciei muitas coisas absurdas também, nem preciso comentar dos professores inúteis que não sabem dar aula, e acham que quantidade de reprovação nas matérias é algo bonito, muitas vezes dá até desânimo de estudar, por isso logo coloquei o foco em me formar e partir pra área de trabalho, porque a acadêmica está cheia de idiotas.
Diante de tudo isso só consigo pensar na frase de Bertrand Russell:
"O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas..."
Desejo o melhor.
Abraços.
Olá!, gostaria de saber sua opinião sobre a homeschooling. Obrigado.
ResponderExcluirAnônimo
ExcluirNunca estudei muito a respeito de ensino doméstico. Mas, como qualquer processo educacional, precisa ser feito com muito cuidado. Isso porque a essência da boa educação reside, entre outras coisas, na diversidade de ideias. Ou seja, se o ensino doméstico puder contar com o acesso a outras fontes de aprendizado, além do que pais ou responsáveis possam oferecer diretamente, pode ser que seja uma excelente alternativa educacional. Mas a verdade é que sempre desconfio de visões tendenciosas em pessoas, as quais são simplesmente inevitáveis. Este blog mesmo é um tremendo desafio. Por isso de tempos em tempos convido colaboradores para escreverem por aqui. O objetivo é diversificar visões.
A legislação brasileira só permite o homeschooling como complementação. Crianças e adolescentes em idade regular devem estar matriculadas em escolas, sob risco de multa para os pais de 3 a 20 salários mínimos pelo ECA, e até detenção segundo o código penal
ExcluirAdonai, a homeschooling possibilita essa diversidade de ideias, mas não muito fácil. É necessário muita dedicação dos pais, os quais devem se propor a isso ou aceitar o lixo de educação ofertada nas escolas. E Rodrigo, você está bem informado, e sugiro a leitura deste parecer jurídico para esclarece ainda mais sobre o assunto http://www.aned.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=9.
ExcluirAmigo, leio seu depoimento e me identifico com ele de imediato! Não sou superdotado mas tive enormes problemas com socialização, escola, universidade e trabalho pois sou portador da Síndrome de Tourette, o que só foi descoberto quando eu tinha... 42 anos de idade (há 8 anos), já morando desde os 38 anos bem longe do Brasil, no Japão! Até hoje ao repassar na memória os problemas que vivi na infância e juventude por conta dessa síndrome não conscientizada, me sinto perplexo como alguém que acabou de apreender a verdade das verdades que paira acima de todas as verdades.
ResponderExcluirConselho, se é que posso dá-lo a um superdotado... Saia do Brasil para um país civilizado e tudo melhorará bastante. Direcione todos os seus esforços para sair daí.
Força, fé e boa sorte!
O problema do ensino de matemática sobretudo como quase todos os outros que eu reitaradamente venho afirmando é a precariedade ou ausência de uma boa metodologia didática que que apresente de forma inteligível a correspondência das representações enunciativas a um modelo empírico ou hipotético tangível de modo que não pareça absolutamente desconexa da realidade ou de um referencial apreensível. A natureza do problema torna-se ininteligível. Não há uma definição clara o suficiente de um modelo fenomenológico. Um outro problema é a dessuetude quanto a codificação das representações de competência específica em enunciados.
ResponderExcluirMeu êxito em matemática era irregular mas era muito bom em Lógica
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLi até o final e aceito a conclusão a que chegou o autor. Não sei de onde vêm essa fama de brasileiro ser um povo simpático, hospitaleiro, gentil e que esta sempre aberto para fazer amizades e ajudar... Deve ter comprado! A elite é esnobe, gosta de humilhar o povo a quem despreza, é burra. Dá assim a corda para o comunismo vir a vingar no pais. O povo é extremamente invejoso, quando você vê dois brasileiros no maior papo, grandes amigos, pode ter a certeza que são comparsas, alcolismo e outras drogas beira a um terço do povo... Não vejo solução possivel... Somente um "recall". Voltando atrás se vir a vingar tomara que vá primeiro a elite esnobe e burra e a ralé completamente inútil ambas sem o menor pudor e carater... Deve sobrar uns 60 milhões... (Nem tudo está perdido) Aprenderemos a dura custas ser um país, um povo e poderemos voltar a civilização ocidental, no futuro... Nem tudo está perdido em Sodoma e Gomorra... Até em uma sala de aula para se aprender inglês, todos torcem para aprender "primeiro" e torcem para que o outro nunca aprenda... Fica evidente isto em todos os campos...
ResponderExcluirOlá Adonai,
ResponderExcluirApesar de não ser "super dotada" me identifiquei muito com seu relato. Tenho o mesmo sentimento pelo país e o culpo por hoje eu me sentir uma pessoa "que vive com a sensação de que é burra", "ignorante", apesar de sabe que não sou. EStudo muito mas sinto tantas lacunas vazias que as coisas não se encaixam muito pra mim, hoje aos 40 anos, curso matematica em um site americano começando do pré-kindergarten, estudo inglês na mesma ferramenta. Sinto como se tivessem me deixado de lado em todas as escolas que passei. Detalhe, hoje sou formada até, mas não sinto consistência, não tenho alicerce... me esforço muito para "crescer intelectualmente" mas ... para abandonar o país. Faço Homeschooling com meus filhos, não os quero mais dentro destes antros chamado escola.
Abraços e sucesso,
Eli Regina
Que alívio eu senti ao ler esse depoimento. Eu já estava me considerando louca, pois tal qual a experiência do autor, eu vivo na atual conjectura muitos dissabores no curso de Física. Chega ser desesperador, é como se a morte a cada fim dos semestres estivesse mais próxima (e de fato está,rs). A sensação é que não chegarei a lugar algum, mesmo com toda bagagem que já acumulei nesses ultimos anos. Enfim, no curso já recebi elogios como: aluna medíocre, cognição sob a pesrpectiva do senso comum... Elogios por eu ter questionado meus professores, por eu ter escolhi outros caminhos p discorrer sobre a física, por eu ter estudado muito sobre o assunto.
ResponderExcluirE essa dificuldade toda direcionou-me a um projeto de pesquisa (solo) sobre a evasão nas IES e pude verificar que há uma grande deficiência em pesquisas qualitativas na área, a maioria das pesquisas são de cunho quantitativo, onde o principal objetivo é enumerar as causas (multifatorias) da evasão. E outro fato tbm curioso, é que o foco nessas pesquisas é a não titulação, sendo que há muitos profissionais evadidos, como cita o próprio autor ao retratar seus professores. O que eu quero dizer, é que o fato de uns terem evadido um curso universitário no segundo período, não assegura que os demais que não "abandonaram" o curso não se encontrem tbm vulneráveis (em relação ao ensino-aprendizagem) do período em questão.
[...]
Autor, quero que saiba que Vc me inspirou a continuar minha luta dentro da universidade. Obrigada por ter compatilhado a sua Luta.
Concordo com tudo. E vejo o Brasil da mesma forma. Obrigado pelo texto.
ResponderExcluirParabéns por sua lucidez e coerência. Infelizmente, tenho que concordar com quase tudo que diz.
ResponderExcluirEu, como voce, sempre briguei muito com meus professores. Já fiz inúmeros teste respondendo aquilo que o professor queria ''ouvir' e não o correto, isto para obter boas notas. A prepotência aliada a ignorância da maioria dos nossos professores, fazem desse país, principalmente no meio acadêmico, um ambiente mais preocupado em disseminar ideologias, ao invés de conhecimento. Hoje há em curso uma integração de ideias e ideologias, que desprezam o contraditório e o conhecimento. Isso é, e será, de resultados cada vez mais nefastos.
Não vejo perspectivas de melhoras, muito pelo contrário, o ruim ficará péssimo. Saber que, por exemplo, cerca de 60% dos alunos que estão ingressando em uma faculdade nesse semestre, por exemplo, sequer são capazes de compreender esse texto que nosso amigo tão bem escreveu.
Os professores que aqui comentaram, se não sofrerem da ''síndrome de avestruz'', pode concordar comigo. De quem é a culpa da qualidade da educação estar descendo ladeira abaixo? Não só, mas também, e principalmente, dos professores que tem uma grande responsabilidade nisso. Há exceções? Sim, claro que há, mas temo que dentro em breve, essas exceções, tornar-se-ão raridades.
O que está havendo com os professores dessa nação?
Caro professor Adonai,
ResponderExcluirFiquei quase literalmente preso ao seu texto. Digo "quase" porque realmente só faltaram as algemas. Não posso dizer que compartilho do quadro clínico ou que compreendo como as informações são interpretadas por você, mas certamente entendo e compartilho do flagelo que são os ambientes universitários e o mercado de trabalho.
Sou professor da rede pública estadual de São Paulo, e me efetivei após a conclusão de um mestrado, que para mim foi tanto a realização de um sonho, quanto a destruição total de paradigmas sobre a realidade acadêmica e social. O trabalho na rede pública é, no mínimo, massacrante, e já passei por problemas psicológicos sérios em decorrência de toda a questão. Recentemente, fui "agraciado" com a perda de designação para lecionar nas novas "Escolas de Ensino Integral" do estado por 5 anos, graças a redução do número de turmas para esse ano, a política educacional (que não educa ninguém), o absoluto desprezo dos colegas de trabalho, e um trabalho árduo para organizar turmas de ensino médio particularmente desinteressadas na realidade como um todo, a não ser a deles próprios. Como consequência deste "presente", me vi numa situação de absoluto desespero, pois me casei recentemente, e dada a redução salarial que sofrerei no próximo mês, tive que recorrer aos meus familiares para não perder o apartamento e o carro, ou melhor, a dívida do apartamento e do carro, adquiridas ano passado.
Curiosamente, lendo seu texto, não me vi mais sozinho na idéia de que a organização do país está errada, disfuncional, sem possibilidade de "acerto". "Está" para não dizer "é", "sempre foi". A ineptocracia instaurada e maquiada sob o jugo "jeitinho brasileiro", o desastre político e econômico que enfrentamos hoje, a péssima imagem internacional que o povo brasileiro tem (e cultivou durante anos, sejamos sinceros), mas acima de tudo, o completo descaso, a ojeriza que os governantes, escolhidos pelo povo, têm pelo próprio povo. Mas não por qualquer povo, somente pelos que desejam trabalhar buscando ideais éticos e de produção.
Também me chamou a atenção o trecho sobre análise de currículo nas empresas. Percebi que estou cometendo um erro crasso: tenho dito a mesma coisa que o senhor quando questionado "possui experiência em tal atividade". Sou contra mentir no ambiente profissional, mas vejo que, se quiser a oportunidade que desejo de mostrar minha capacidade de trabalho, não há outra saída. É um completo paradoxo exigir "experiência na função" considerando que a maioria dos "experientes" não está procurando emprego. São os que buscam novas oportunidades que procuram. Se não tem experiência, não tem emprego, e se não tem emprego, não há como obter experiência.
Gostaria de comentar tantas outras passagens do seu texto, mas acho que fica claro que concordo em absoluto com seu posicionamento e espero que, pelo menos em parte, tenha conseguido se livrar ou contornar algumas dessas maladias enraizadas no nosso dia-a-dia.
Só uma curiosidade: conheço o ambiente acadêmico de algumas cidades, Curitiba inclusive. Com a oportunidade de residir em Campinas, e suponho que também em outras cidades, por que permaneceu em Curitiba?
Rodrigo
ExcluirO depoimento de um superdotado não foi escrito por mim, mas por um colaborador anônimo.
este é o preço que pagamos pelo ego elevado de certas pessoas..
ResponderExcluirVejo muitas falhas nas universidades que realizam pesquisas.
Uma das principais é que queremos realizar pesquisas TOPs, à nível internacional. O motivo desta pesquisa ferrada: publicação em extratos elevados. Por fim concluímos com bons resultados. Um estadosuninense compra nossa ideia ganha dinheiro com isto.
Qual o motivo desta pesquisa afinal? alguma empresa brasileira esta financiando?
As empresas brasileiras não financiam pesquisas, não desenvolvem novas tecnologias, ficam a mercê de importação de tecnologia.
Devíamos ter feito igual a China, que importou tecnologia e com esta, impôs que viesse o conhecimento de como reproduzir esta tecnologia. Para assim, financiar pesquisas que tenham reais interesses para as indústrias chinesas. Ou melhor, financiamento particular ao invés de público (CAPES, CNpq e etc).
Por fim, os pesquisadores brasileros tornam-se arrogantes porque pesquisam as mesmas coisas que os estudunisenses ferrados estudam. Mas esquecem que o financiamento Lá existe. E pior, o entendimento do objeto de pesquisa não é completo. Como todos sabemos, experimentação leva a conhecimento. Ou será possível entender completamente como construir um satélite, sem nunca ter construído um?
Obrigado pelo seu desabafo, também sou indignado com o rumo das universidades.
Exato. Aqui é cheio de "doutor" na teoria, sem nunca ter construído algo significativo em sua área de expertise. E os mestrados? Tem gente que passa 2 anos para fazer uma "revisão bibliográfica" sobre um tema ultrapassado. Gente de TI que faz isso e nem implementa algo para fazer uma análise comparativa.
ExcluirEm suma, estamos perdidos como país.
Não sou gênio mas passei por problemas similares. A sorte dele é que ele é um gênio e o azar é que nasceu no Brasil. Eu tenho azar duplo: não sou gênio e nasci no Brasil.
ResponderExcluirIrmão, só acho que poderia ter mais fé no que não existe, observar as coisas como números, saber transitar de forma simples e fácil em meio ao mundo, enxergar as brechas (oportunidades), e ter fé sempre, estes incidentes na sua vida era Deus tentando se apresentar.
ResponderExcluirEntão Deus ou é sádico, ou é incompetente. Fico com a terceira opção: inexistência.
ExcluirSe o autor tivesse optado em estudar nas instituições militares de elite do Brasil como ITA e IME, acredito que as coisas teriam fluido de forma mais amigável na vida dele. Pois teria qualidade de ensino associado a tranquilidade do local, já que nos dois exemplos existem locais fechados para a instituição com toda a infraestrutura adequada para o aluno viver e evoluir no meio acadêmico. Me pergunto se você teve vontade de prestar vestibular para essas instituições.
ResponderExcluirCaro Nathan, você é aluno de alguma destas instituições?
ExcluirPois a situação nestes lugares, infelizmente, não é muito diferente...
E o questionamento? Imagino que seriam mais raras as oportunidades.
ExcluirNoto uma imensa dificuldade em se interpretar um simples pergunta feita aqui pelo Professor Olavo e consequentemente responder uma outra coisa não perguntada. A pergunte atine à impossibilidade de todos os momentos não estarem presentes na eternidade. A pergunta não coloca 'apenas' um ou mais tipos de momentos mas literalmente todos os tipos de momentos, objetivos ou subjetivos.
ResponderExcluirOlavo de Carvalho não é Professor, apenas um charlatão que fala sobre tudo o que não entende e reclama dos seus seguidores serem imbecis.
ExcluirGosto e concordo quando você diz que consegue conviver com pessoas cheias de certezas e verdades absolutas. De forma semelhante, sempre fui partidário da dúvida, de um certo ceticismo e da relativização. É uma pena mesmo sermos reféns - sobretudo em ambientes acadêmicos - de alguns incompetentes espertos que querem relacionar-se com o outro partindo do princípio da dominação.
ResponderExcluirGosto e concordo quando você diz que não consegue lidar com pessoas cheias de certezas e verdades absolutas. De forma semelhante, sempre fui partidário da dúvida, de um certo ceticismo e da relativização. É uma pena mesmo sermos reféns - sobretudo em ambientes acadêmicos - de alguns "incompetentes espertos" que querem se relacionar com o outro partindo do princípio da dominação.
ResponderExcluirAproveito para informar se tratar a presente postagem de um dos textos mais intrigantes e satisfatórios, a título de especificidade dos assuntos abordados, que já li em toda minha vida.
ResponderExcluirCompartilho talvez um pouco de seus sentimentos, professor; Tive os mesmos problemas em todas as coletividades de frequência coercitiva que, por convenção social (ou completa idiotisse...) também tive que enfrentar, desde a escola, ao colégio, a academia militar e a faculdade.
...
..
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Talvez tendo o mesmo princípio deste autismo, sinto como é lamentável ter tanto a desejar oferecer (como sofro até hoje no âmbito jurídico...) em relação ao nada que posso ter interesse ao que desejamos oferecer.
* Também larguei meu MBA em especialização na área tributária ("tax compliance"). Não aguentei e também "levantei e sai".
* possam
ExcluirSou um eterno (e desastrado...) "aluno" na arte de depreender a pendância adequada de minhas extensões estruturas na hora de enconstar no botam certo desses teclados virtuais, desses "smartphones"... Rsrsrs...
Lembro que na primeira serie era a única a saber ler e escrever, mas ainda não sabia certas palavras. Um dia, precisava escrever "passarinho", mas não lembrava como, porém me recordei de um livro que continha a história de um passarinho e resolvi abrí-lo para não escrever errado no ditado. Foi o dia mais humilhante da minha vida. A professora me acusou de desonesta, e que deveria escrever como eu me lembrasse, mesmo errado, não consultar um livro!
ResponderExcluirAnônima
ExcluirÉ aquela coisa. A educação brasileira se empenha fortemente para que alunos se sintam mal consigo mesmos. Meu ex-orientador de doutorado dizia para seus alunos: "Se vocês chegaram até aqui não foi por causa da escola, mas apesar dela."
Penso muitos já viveram situações análogas à descrita. Na Universidade, discuti, debati com professores, tirei dez em provas nas quais escrevi parágrafos ricos em idéias que jamais acreditei e que negaria e refutaria até o fim.
ResponderExcluirAprendi a lição: para ser bem sucedido nas provas o estudante precisa escrever aquilo que o professor que quer ler; o estudante livre, criativo e competente que deseja passar pelo curso sem ousar refutar os "mestres" acaba por desenvolver um duplipensar orwelliano. Depois de formado, diploma na mão, ele já pode viver a Revolta de Atlas à brasileira.
Muito boa analogia. =D
ExcluirQuando eu entrei na escola, os próprios alunos se encarregavam de destruir qualquer valor pelo saber. Quem estudava era um idiota.
ResponderExcluirIsso continua nas melhores universidades brasileiras.
ExcluirInteressante o texto e que, apesar dos dois anos de existência, continua atual. Eu tenho pensado no que o texto conclui há algum tempo. O Brasil é um país sem heróis, sem exemplos e sem valores que tragam resultados práticos (como a dedicação ao trabalho duro, comum na cultura norte americana). A que o brasileiro aspira? Quanto ele está disposto a se comprometer? Talvez isso seja, em parte, a causa da nossa inércia economica, tecnológica e cultural... Porém, eu acredito que parte da solução esteja em capacitar os tomadores de decisão de todas as esferas da sociedade em gestão: de pessoas; de projetos; de processos; de negócios.
ResponderExcluirVocê precisa entender que possui uma inteligência (clareza de percepção e raciocínio) bem superior aos demais. Pessoas como você sempre irão incomodar os medíocres. Temos que viver cientes dessa realidade, de que as instituições e pessoas estão adaptadas ao próprio meio. O problema é que nosso patamar já é baixíssimo e não precisa muito talento para destoar da média. O sucesso é reservado apenas aos medíocres e aos heróis.
ResponderExcluirEncontrei esse depoimento há poucos dias no Facebook, achei muito interessante, e acredito que cabe uma crítica ao autor do texto, apesar da postagem original ser de 3 anos atrás. Não vou defender a universidade pública brasileira aqui, pois cursei universidade pública no Brasil e sei como é. Tive vários professores péssimos e encontrei situações semelhantes às que ele descreve.
ResponderExcluirNo entanto, a atitude do rapaz é muito pedante. Não me refiro à forma de se expressar e sim às atitudes negativas que ele toma. Voltemos ao exemplo da temperatura do átomo. No sentido estrito da termodinâmica, temperatura é um conceito que só se aplica a sistemas com muitos átomos, pois se refere à energia média das partículas do sistema, então não faria sentido falar em temperatura de um átomo. Mas podemos definí-la por meio de uma analogia: medir a energia cinética média de um átomo no tempo, igualar a (3/2).k.T e assim definir a temperatura de um átomo. Não é 100% rigoroso mas também nenhum absurdo. Ele se revoltou e saiu da sala por causa disso?
Sinto dizer, o problema desse rapaz não é o Brasil. Dado que ele discute, se revolta, se levanta e sai da sala apenas porque o professor aplicou um conceito de forma imprecisa, com essa atitude ele não vai se dar bem em nenhum curso, em nenhuma universidade do mundo.
Outra coisa, ele diz que foi reprovado várias vezes em disciplinas e há uma insunuação de que merecia ter passado, mas foi reprovado por represália. Mas será que foi isso mesmo? Ou ele foi reprovado porque se recusou a dar as respostas esperadas, mesmo sabendo quais eram?
Certamente a Síndrome de Asperger dificulta a compreensão deste contexto social (não sei o quanto). Mas talvez tenha lhe faltado um mentor ou conselheiro que pudesse lhe dizer claramente o quanto as suas atitudes prejudicam a ele próprio.
Concordo, o cara tem um controle emocional muito ruim
ExcluirOlá, professor!
ResponderExcluirEu, como TDAH, compreendo perfeitamente as suas queixas quanto ao país. Levei 9 anos pra me formar em Engenharia Elétrica numa Federal, e sempre fui tido como "vagabundo", "impaciente" e "burro", por não aceitar certas coisas, questionar, e tal. E, claro, não conseguir me concentrar pra estudar e assistir a uma aula chatérrima de um "PhDeus" qualquer.
Só consegui estudar a contento quando comecei a resolver exercícios com colegas e sempre escrever no quadro, em pé! Assim, fui o melhor aluno numa disciplina em que havia reprovado 2 vezes.
E só consegui o diagnóstico de TDAH ano passado! Não foi fácil.
Semelhante com o que aconteceu ao Hindemburg Melão, http://www.saturnov.com/artigos/162-educacao-financeira-e-cientifica-no-brasil , mas este agora está rico (se inspirou no James Simons a usar seus conhecimentos de matemática para enriquecer -- e diz ele que também será bilionário em breve!) Ele é um pouco excêntrico e cheio de si ( http://www.sigmasociety.com/qi/sigma_qi.asp ), mas é uma pessoa do bem, haha, talvez poderia convidá-lo para postar no blog?
ResponderExcluirTodos adoramos superdotados, e a Vivi Fernantes também.
ResponderExcluirInteressante. O sujeito é contra a propriedade privada: '(...) e, para mim, a propriedade é uma espécie de roubo.'
ResponderExcluirSendo o próprio corpo e mente propriedades privadas e, diga-se de passagem, as propriedades privadas mais básicas de todas, certamente fico impressionado como algumas pessoas cultas e inteligentes deixam escapar tremendas besteiras. Destrua a propriedade privada e você destrói o indíviduo. Já vimos isso acontecer várias vezes na história, basta olhar o que aconteceu com o indivíduo na URSS, China, Alemanha Oriental, Coreia do Norte e afins. A ruína do Brasil é o pensamento coletivista/marxista que tomou posse de tudo e todos. A maioria dos brasileiros possui tendência marxista, mesmo sem saber e, assim como o marxismo, está fadada ao fracasso.
Concordo em gênero, número e grau.
ExcluirTem um pouco de vitimismo e quem sabe um pouco de síndrome da pseudo-auto-suficiência-adquirida. kkk
ResponderExcluirDifícil é ser burra e limitada intelectualmente como eu.
Ok, refletindo se isso foi ironia ou não
ExcluirOi Adonai,
ResponderExcluirInteressante o depoimento, acho que toca em vários pontos importantes. Porém, é uma de inúmeras outras perspectivas. A posição de professor em uma universidade é complicada, pois os alunos, em geral, não querem emancipação intelectual, no fundo eles tem medo da tal emancipação. Há uma força misteriosa que move muitos dos alunos a desejarem um tipo de conhecimento enciclopédico e algorítmico, um conhecimento com regrinhas claras do que é certo e do que é errado, o que pode e o que não pode, o que deve-se fazer e o que não se deve, etc. Os alunos aprendem essas regrinhas, quando aprendem, e as repetem sem muito pensar.
Tem professores ruins mesmo, mas acredito que há também professores desmotivados com tantos alunos que nem imaginam o porquê estão ali, nem se mexem com as provocações, que são verdadeiros mortos vivos e que querem, na maioria das vezes, apenas um diploma. Quantos alunos de uma turma que realmente estão interessados? 0-5%? Destes, quantos criarão alguma ferramenta matemática ou científica? a grande maioria será escrava da repetição do mesmo, repetindo os mesmos princípios e valores. Depois, virando professores perpetuadores desse tipo de atitude reativa que de um certo sentido é combativa à inovação e a formas diferentes de pensar.
Um professor criado nesse sistema só pode ser um dogmático que acha que o que sabe é o "correto" e o "verdadeiro" e que um aluno questionador não tem capacidade de ver algo "novo". Temo que o rapaz que escreveu este depoimento, caso venha a passar em um concurso público, haja da mesma forma que estes outros professores boçais que acham que realmente sabem a verdade de alguma coisa. O conhecimento se modifica, novas formas de pensar vão surgindo: novos princípios podem ser incorporados ou removidos da lógica, o conceito de pertinência pode ser flexibilizado, uma teoria física em que o tempo emerge de processos físicos pode surgir, etc...
Quando uma mente se especializa demais em certas regrinhas prontas, temo que essa mente não seja capaz de perceber a importância dessas mudanças. O texto me entristeceu, porque vejo um possível dogmático perpetuador de certas verdades e que possivelmente se torne um castrador de novas ideias. Mas pode ser apenas uma impressão minha...
Abs
AnonimoP
haja -> aja
ExcluirAnonimoP
AnonimoP
ExcluirEntendo a sua preocupação e não me sinto qualificado para discordar de suas palavras. É a velha história: ninguém muda o Diabo, mas ele pode transformar qualquer pessoa. Não é fácil viver neste mundinho nosso.
AnonimoP, muito legal teu escrito. Senti isto na carne, e, mesmo fora da Universidade, ainda sinto hoje no mundo.
ExcluirNossa, este texto foi demais. Agora me sinto aliviado por ter nascido medíocre. Certamente, como dizem a ignorância é uma bênção. Com pouco estudo (faculdade de humanas levada na flauta), e pouca responsabilidade alcancei uma vida economicamente estável e uma família coesa, ao que dou a isso muito valor. O duro e ter conhecimento de sobra e tudo o resto de menos. Amigo, todo seu conhecimento vale pouco ou nada sem ações. Pare de se vitimizar, afinal vc ja é um veterano de guerra, arregace as mangas e ponha suas ideias em pratica - você vera a diferença que isso fará na sua vida.
ResponderExcluirAnônimo
ExcluirConheço pessoalmente o autor do texto. Ele vive bem, ao lado da esposa, a qual é igualmente brilhante. Acho que você não compreendeu bem o texto. Não existe vitimização em jogo, mas um depoimento sobre a mediocridade deste país.
Incrível!!!! me vi em cada uma das linhas...fiz química mas ainda estou a caminho da pós após duas graduações concluídas e outras tantas inciadas...e também sou autista SD/AH ...
ResponderExcluirRealmente impactante o depoimento desse indivíduo claramente com capacidade cognitiva bem acima da média e também com leve portador da síndrome de Asperge. Ele disse que viveu a infância e adolescência numa cidade bem pequena, com uma única biblioteca pública [há cidades pequenas, que não possui nem uma biblioteca pública]. E diz que lia livros universitários de anatomia e fisiologia humanas aos 6 anos. Foi nessa biblioteca que ele conseguiu tais livros? Porque uma cidade tão pequena não deve ter pólo universitário e portanto não tem como dar acesso a livros universitários. Daí a minha curiosidade. Sei que só ele pode responder a essa pergunta. Mas mesmo assim a deixo registrada aqui. Abraços. PS: Peço que envie o contato p/ fabiomdefreitas@yahoo.com.br Agradecido.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTenho a seguinte visão: Acho que quanto mais inteligente uma pessoa é, mais ela deve ajudar: ajudar os outros, ajudar a escola, ajudar a sociedade, (mesmo que ela ache que não existe sociedade) e parar de ficar choramingando e se queixando dos percalços que essa sociedade (inexistente) lhe apresenta. Em lugar de esperar que o sirvam, sirva.
ResponderExcluirBem, é exatamente isso o que autor tem feito há anos. Ele tem ajudado e muito. Este é um ponto difícil para a vasta maioria compreender, quando lê um texto como este: a diferença entre criticar e choramingar.
ExcluirFiquei curioso com o fato de que a "sociedade brasileira" não existe e que de fato não e uma sociedade. O que seria uma sociedade? Isso e um processo evolutivo? Então uma sociedade é a negação do que somos?
ResponderExcluirAdonai: O seu texto é bastante enigmático. Quem é o autor a que você se refere? E "texto como este" é o texto do super-dotado?
ResponderExcluirAnônimo: Pelo que eu entendi você é o super-dotado. Você não escreveu que "no Brasil não temos sociedade"? Você não se referiu ao "aglomerado de nascidos no Brasil"? Você, que escreveu isso, vem perguntar "o que seria uma sociedade?"? Espero que você entenda a razão dos dois pontos-de-interrogação tão próximos um do outro.
Eduardo
ExcluirNão sei se compreendi bem as suas questões. Mesmo assim tentarei responder.
O "texto como este" ao qual me refiro, em minha resposta acima, é o depoimento do superdotado (que, aliás, não gostou do título que dei para a postagem). Conheço o autor e sei que ele tem trabalhado de forma muito produtiva. É claro que há aqueles que apenas reclamam. Mas há também aqueles que produzem. O autor do depoimento desta postagem é alguém que tem produzido, apesar de nosso país não apreciar muito gente com este tipo de índole.
Não vejo como possa inferir que o comentarista anônimo de 15 de agosto de 2016 seja o autor da postagem.
Como saber o medicamento que ele tá usando? Eu me identifiquei muito com esse problema, seria a ritalina por acaso? Por favor, eu aguardo resposta, também já procurei especialistas e eles afirmam que é depressão, mas os medicamentos receitados não resolvem o problema.
ResponderExcluirAdonai: Os anônimos optam por ser indistinguíveis. Já que são indistintos não tem importância alguma a minha inacurácia ao indistinguir um de outro.
ResponderExcluirFaço uma consulta a você: No livro A Filosofia e seu Inverso, pág 137, Olavo de Carvalho, de maneira cômica zomba de um seu professor que ensinou "que um ponto não media nada e que uma reta se compunha de infinitos pontos". A o que ele, guri esperto, objetou: "Quer dizer então que somando infinitos nadas se obtém .... até uma coisa de tamanho ilimitado como uma linha reta?" Diz que o professor demonstrou por a + b que nunca tinha pensado no assunto. E diz mais: que só tirou zeros em geometria na esperança de que somados lhe dessem uma boa média final, expectativa geométrica que não se cumpriu.
Consulto: Como se responde a essa perplexidade? Sem zombaria, sem fazer pouco caso, porque outros haverá que tenham o mesmo desentendimento.
Desde já grato.
Eduardo
ExcluirAssumindo que a memória de Olavo de Carvalho capture fatos que realmente aconteceram, o que posso dizer inicialmente é que ele teve um péssimo professor de matemática.
Tentarei responder à excelente pergunta do, então garoto, Olavo de Carvalho.
Considere a reta dos números reais, ou seja, uma reta que permite associar biunivocamente cada um de seus pontos a um número real. Qual é o tamanho de um segmento de reta definido por dois pontos correspondentes aos números reais a e b? A medida canônica deste segmento é dada pelo valor absoluto da diferença entre a e b, ou seja, |a-b|. Mas e quanto ao caso em que a = b? Nesta situação |a-b| é zero! Este é o tamanho de um segmento de reta no qual um dos extremos coincide com o outro. É o tamanho de um ponto na reta dos reais, a saber, |a-a| = |b-b| = 0. No entanto, a reta em si tem um tamanho não cotado. Não importa o quão distantes estão os pontos a e b, sempre é possível escolher pontos c e d na reta dos reais, de tal modo que |c-d| é maior do que |a-b|. Esta é uma forma usual de afirmar que a reta tem comprimento infinito. Comprimento infinito, neste contexto, significa simplesmente que para qualquer segmento de reta escolhido, sempre é possível encontrar outro segmento maior na mesma reta.
O fato da intuição de uma criança (ou mesmo de um adulto) encontrar dificuldades para compreender as relações entre pontos de tamanho nulo e retas de tamanhos infinitos reside na falta de familiaridade com infinidades no mundo real. Isso porque infinidades não ocorrem no mundo real. Esta situação ilustra bem o fato de que a matemática não lida com conceitos reais, porém abstratos. Mas o mais surpreendente é que esses conceitos abstratos são aplicáveis ao mundo real. Números reais e retas da geometria são empregadas em inúmeros avanços tecnológicos. E o motivo para a matemática encontrar aplicabilidade no mundo real, apesar de lidar com conceitos que não se identifiquem com qualquer coisa real, é ainda um mistério.
No entanto, preciso fazer um alerta: desde 1899 que a geometria euclidiana não assume mais esta visão intuitiva de que pontos de uma reta têm tamanho nulo. A obra de David Hilbert, publicada no ano citado, deixa muito claro que pontos, retas e planos são conceitos meramente linguísticos, livres de interpretação. Para uma visão mais sensata sobre este ponto, recomendo o livro Fundamentos da Geometria, de Benedito Castrucci.
Recomendo também a postagem abaixo:
http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2012/09/qual-e-o-tamanho-de-um-ponto.html
Espero ter ajudado.
Caro Adonai: Muito obrigado pela atenção que você deu ao problema. Eu gostaria de saber se Olavo de Carvalho, filósofo, resolveu aquele problema, ou se convive com ele acumulando zeros em geometria ao longo da vida. Mas é claro que não estou indagando de você. Acho que ele teria a mesma dúvida se se tratasse não da reta, infinita, mas de segmento de reta, porque ele tem a ideia de que a linha é construída da "soma" de pontos. Não sei o que ele quer dizer com isso, mas suponho que seja a idéia de que ela é construída pela justaposição de pontos. Muito provavelmente, na mente de Olavo de Carvalho, Aquiles ainda não alcançou a tartaruga.
ResponderExcluirSeja como for, acho um preciosismo dos matemáticos o terem introduzido a idéia da reta como ilimitada. Bastaria estabelecer o que você explica naquela frase que começa por "Não importa o quão distantes estão os pontos a e b.... " que deixo de reproduzir porque não sei fazer aquela barrinhas. E acho uma pena a introdução do termo segmento de reta para ilustrar aquilo que todos na vida comum chamam de reta. Ninguém nunca viu o Galvão dizer: "O circuito de Shangai é o que tem o maior segmento de reta." E também ninguém viu um gaúcho dizer que ia para uma corrida em cancha "segmento de reta."
Tem um pdf dos Elementos. Dei uma olhada, sempre desconfiado da tradução, e agora que li a sua postagem sobre o tamanho do ponto, mais desconfiado ainda. Vou ver se consigo o livro do Castrucci. Por receio de perder o meu comentário não volto ao tamanho do ponto para confirmar que lá li que não tem importância desenhar um triângulo com linhas meio tortas. Acho interessante a diferenciação que você faz entre desenho e geometria. Sempre levei a sério o ensinamento de que se se quiser resolver um problema de geometria, um desenho bem feito é meio caminho andado. Bem, vivendo e aprendendo.
Vou pensar sobre tudo isso. Fico realmente muito grato por você ter usado o seu tempo para me dar uma resposta tão trabalhada, e talvez trabalhosa.
Eduardo
ResponderExcluirUm dos propósitos deste blog sempre foi a concepção e manutenção de um fórum de discussões. Dúvidas e críticas são sempre bem-vindas. Com relação à obra de Euclides, vale observar que o texto original foi perdido. O que se salvou foram traduções para o latim, as quais despertam desconfianças entre historiadores no que se refere à fidelidade ao texto original. Euclides lançou ideias. Mas dois milênios mudaram muita coisa na geometria.
Feynman, um dos maiores físicos do sec XX sabia ser esperto, pois em vez de buscar essa utopia de (sala de aula = ambiente de debate e busca da verdade) ele simplesmente buscava "pegar" o padrão de cobrança do professor e obter a melhor nota possível e no seu tempo vago buscava produzir a "sua física" como ele dizia. Acredito que posturas simples como esta, sem criar atritos, são mais produtivas pois não há desgaste emocional e sobra energia para produzir conhecimento. Eu defendo a classe do professor universitário pois as condições de trabalho nem sempre são favoráveis. O ideal seria a proporção de 2h de preparação de aula para uma hora de aula, acontece que isso não é possível quando se tem 15h(carga horária mínima para prof temporário) semanais de aulas e ainda por cima para disciplinas diferentes. A decisão de quais disciplinas a serem ministradas muitas vezes não é decidido pelo professor. Em suma, decisões unilaterais são feitas e o professor tem que dar conta. As aulas, no nível que eu gostaria de realizar, era impossível com a carga horária dada.
ResponderExcluirExcelente texto! Eu me comovi em diversas partes, indignei-me, entre outro "mix" de sentimentos variados, assim como identificação. Passei por muito disso apesar de minha pouca idade e experiência comparada com a do anônimo que escreveu o texto. Eu sempre fui um péssimo aluno, tirava sempre algo em torno do mínimo pra passar, mas porque eu não tinha o mínimo interesse de aprender aqui, o método utilizado no Brasil é tedioso e não incentiva ou premia a curiosidade, é algo tenebroso. Estou estudando diversos métodos de estudo e aprendizado, buscando englobá-los num sistema inovador de ensino e estudo! Espero concluí-lo logo pra começar a botar meus planos e projetos pra funcionar. Gostaria de conhecer alguns de vcs e conversar sobre, já que estão, assim como eu, indignados com nosso país vergonhoso!
ResponderExcluirPedro Ernesto
ExcluirEm qual cidade você vive?
Acabei de ler todo texto e me pergunto, após concluir em 2014 o mestrado em matemática, agora em 2024 como está sua saúde mental? E sua esposa que sempre o apoiou? Afinal 10 anos se passaram, fiquei curiosa em saber se você está bem, se conseguiu autoconhecer, afinal tudo é um processo, e estamos todos aqui para evoluir.
ResponderExcluirA sabedoria é transformar a dor busca de autoconhecimento, acredito que este é o propósito da vida.
É no desconforto que está o crescimento, quando evoluímos passam a olhar para frente e lembrar do passado como uma história, como algo que já foi, que fez parte para você chegar até onde chegou