James R. Flynn foi pioneiro no estudo da evolução de certos aspectos da inteligência humana em diferentes partes do mundo. O impacto de seu trabalho tem sido tão profundo que há algum tempo se usa o termo "efeito Flynn" para designar o considerável aumento de inteligência da população de países desenvolvidos entre as décadas de 1930 e 1980. Tanto Japão quanto Dinamarca, por exemplo, experimentaram no período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial um considerável melhoramento em resultados de testes de inteligência realizados em suas populações.
No entanto, testes recentes de QI (quociente de inteligência) usados pelo governo dinamarquês para determinar quais homens estão aptos para serviços militares revelam uma queda de um ponto e meio desde 1998. E este fenômeno não ocorre apenas na Dinamarca, segundo a reportagem indicada no link acima, mas também nos Estados Unidos e na Austrália.
Um artigo recente de Gerald Crabtree (Stanford University) sugere que a perda de inteligência da humanidade é um processo que está ocorrendo há milhares de anos, por conta do processo de socialização. A criação da agricultura e de cidades tornou, com o tempo, cada vez menos necessárias certas habilidades cognitivas para construir abrigos e caçar. É a dependência que a espécie humana tem dela própria que estaria sendo responsável pelo declínio de inteligência. O efeito Flynn, segundo ele, representou um aumento repentino de níveis de inteligência por conta de repentinas mudanças na oferta de melhores condições de saúde, alimentação e educação em inúmeras sociedades. Mas nos últimos dez anos a tendência natural de declínio intelectual está voltando a ser percebida.
Por que escrevo sobre este tema aqui? Por dois motivos:
1) Por um lado, tenho percebido pessoalmente em sala de aula um declínio não apenas intelectual, mas também de motivação entre alunos. E este declínio tem sido muito marcante especialmente nos últimos dez anos. E, segundo alguns pesquisadores, a inteligência humana atingiu seu ápice cerca de dez anos atrás. É claro que há quem conteste isso. Mas, levando em conta que já existem até mesmo físicos renomados que contestam a necessidade de verificação experimental para validar teorias, fico pensando se os contestadores não estão apenas menos inteligentes.
2) Dois dias atrás publiquei neste blog uma postagem que bateu vários recordes de visualizações neste blog. É uma postagem sobre a dominante preguiça intelectual que impera nas universidades brasileiras. Recebi algumas dezenas de comentários, mensagens e e-mails sobre esta postagem, que foi responsável por mais de sete mil visualizações em dois dias. Mas o melhor comentário que li até agora veio de um importante matemático que, neste momento, está escrevendo uma resposta ao meu texto para fins de publicação neste blog. Resumidamente, ele afirma que meu texto é superficial. E, de fato, é superficial. Tenho respondido a praticamente todos os comentários veiculados aqui, com o objetivo de qualificar detalhadamente a tese central de que existe muita preguiça e até desonestidade intelectual em nossas universidades. No entanto, há neste blog dezenas de postagens que abordam temas semelhantes e correlatos de forma muito mais aprofundada. Porém, tais postagens não tiveram tanta repercussão. Por quê? Será que é porque o brasileiro também está ficando mais estúpido? Estamos tão confiantes na estrutura social construída ao nosso redor a ponto de simplesmente não nos importarmos mais com o futuro?
Dias atrás escrevi um texto que eu planejava veicular apenas no primeiro dia de 2015, como mensagem de Ano Novo. Mas agora decidi veicular este texto neste momento, pois o julgo oportuno diante dos últimos eventos ocorridos neste blog. É um texto inspirado em um recente monólogo de um artista muito conhecido da indústria fonográfica. E, enquanto aguardamos as novas postagens para 2015 (convidei muitas pessoas para contribuírem por aqui e que têm de fato algo importante para dizer), peço que o leitor reflita com cuidado sobre o que se segue. Pode parecer piegas, mas é de coração.
Desejo a todos um Feliz Ano Novo. Até 2015.
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Por que você faz o que faz?
Por que você lê esta postagem? A resposta é óbvia, direta e dolorida. Porque você não tem nada melhor para fazer.
Ler um clássico da literatura? Não. Agora não.
Compreender aquele teorema cuja demonstração ocupa apenas meia página, mas que apresenta uns detalhes realmente intrincados? Não. De que forma esses detalhes ajudarão a entender a vastidão da matemática? Aliás, o que há de melhor na matemática do que esta postagem que você lê?
Dialogar com quem você ama, para ajudar esta pessoa a lidar com os seus problemas? Não. Você já tem os seus próprios problemas para se preocupar.
Ver um vídeo no YouTube que mostra cambaleantes elefantes bêbados por conta da ingestão de amarula fermentada? Talvez. Talvez seja melhor do que ler um texto que o intima a refletir sobre o que você tem de melhor para fazer.
Você tem algo melhor para fazer do que navegar no Facebook? Você tem algo melhor para fazer do que ler postagens publicadas em blogs? Você tem algo melhor para fazer do que se sentir pior consigo mesmo ao ler este texto que questiona "você não tem nada melhor para fazer"? Se tivesse algo melhor para fazer, estaria aqui? Afinal, você está aqui porque não tem absolutamente nada melhor para fazer. E isso é você, na plenitude de sua vida, no auge de suas capacidades, no ápice de seus prazeres, no cume de sua curiosidade a respeito de si mesmo e do mundo que o abriga.
Por que Albert Einstein criou a teoria da relatividade? Simples. Porque ele não tinha nada melhor para fazer. E, para o bem da humanidade e até mesmo para o bem do sistema GPS que você usa em seu celular, ainda bem que ele não tinha nada melhor para fazer. Imagine se o melhor que Einstein tivesse para fazer fosse tocar violino. O mundo teria sido temporariamente apenas mais ruidoso.
Por que Beethoven compôs a sua Nona Sinfonia? Por que ele simplesmente não tinha nada melhor para fazer. E por que tantas pessoas ouvem a Nona de Beethoven? Porque graciosamente não têm nada melhor para fazer.
Por que um alcoólatra bebe? Porque ele não tem absolutamente nada melhor para fazer. É o que lhe faz realmente bem! E nada melhor do que bebida alcoólica para entorpecer a mente de quem não quer pensar sobre o que há de melhor para fazer. É por isso que tantas pessoas gostam de elefantes bêbados? É uma identificação pessoal?
Por que escrevi este texto? Simplesmente porque eu não tinha nada, absolutamente nada, melhor para fazer. E você, leitor, entende o que isso significa aqui, neste momento, neste blog? Consegue fazer melhor do que simplesmente ler? Consegue fazer melhor do que julgar a partir de seus próprios parâmetros? Consegue ler entrelinhas? Consegue parar de ler?
Consegue se sentir melhor em relação a todos os momentos de sua vida, após a leitura deste texto? Consegue se sentir bem consigo mesmo por tudo o que já fez e o que não fez, simplesmente porque não havia nada melhor para fazer?
Por que você vai ignorar este texto após a sua leitura? Porque certamente tem algo muito melhor para fazer. E por que você vai compartilhar esta discussão, para que outros também pensem sobre o que estão fazendo de melhor? Porque você não tem nada melhor para fazer.
Quer saber quem você realmente é? Então faça um relato diário de suas escolhas, de suas atividades e, após um tempo, leia este relato.
O que você tem de melhor para fazer é somente aquilo que o beneficia? Ou você pode fazer melhor do que isso? Até onde vai a sua vida? Até o momento de sua morte? Ou ela vai um pouco mais longe?
Einstein vive. Elvis vive. Beethoven vive. Mas perfis não vivem. Um perfil é apenas uma silhueta, algo que pode ser deletado. Perfis não constroem, não edificam, não inspiram.
E agora? O que você fará agora? Seja o que for, revelará o que você tem de melhor para fazer. E este é você, independentemente do julgamento de quem quer que seja. Você é o que faz, seja consigo ou com outro, seja por si ou por outros. Você é o que faz de melhor. E fortemente recomendo que preste muita atenção em sua próxima escolha.