segunda-feira, 27 de abril de 2015

Como aumentar a sua inteligência


Esta postagem se refere àquilo que psicólogos cognitivos chamam de inteligência fluida, a capacidade de aprender novas informações, mantê-las em nossos cérebros e usar este novo conhecimento para resolver problemas e desenvolver novas habilidades.

O texto que segue abaixo é baseado em uma palestra ministrada por Andrea Kuszewski, na Universidade Harvard, em 2010. Uma versão escrita e detalhada desta palestra se encontra neste site.

Andrea Kuszewski é terapeuta e consultora, especializada em autismo. As técnicas relatadas em sua palestra permitiram, entre outros resultados, aumentar o QI de uma criança autista, de 80 para 100 pontos, em três anos. Por conta de uma propriedade cerebral chamada de neuroplasticidade, é possível sim aumentar significativamente a inteligência fluida de qualquer pessoa.

Aqui estão as atividades que Kuszewski aponta como fundamentais para o crescimento da inteligência fluida. Todas as atividades devem ser executadas permanente e concomitantemente. 

1) Buscar novidades. Os grandes gênios da ciência sempre tiveram múltiplos interesses intelectuais. Estagnar o cérebro em uma única área do conhecimento ou atividade intelectual é uma péssima ideia. É fundamental a abertura para novas experiências. Aquilo que é novo para o seu cérebro, desencadeia novas conexões sinápticas, aumentando a atividade neuronal. Além disso, novidades ativam a dopamina, um neurotransmissor que, entre outras coisas, aumenta a motivação. Ou seja, a busca por novidades estimula a própria busca por novidades. Por isso, se sua área de interesse é matemática, certamente a apreciação de boa música, o estudo de história e o aprendizado de pintura são algumas opções para melhorar seu desempenho matemático. Conhecimentos estreitos conduzem a visões estreitas.

2) Enfrentar desafios. Existe vasta literatura sobre o papel de jogos, como Sudoku e Tetris, para melhorar a inteligência de pessoas. No entanto, em geral, esta literatura carece de fundamentação científica. Jogar Tetris pode melhorar temporariamente certas habilidades cognitivas. Mas uma vez que o jogador domine o jogo, persistir com Tetris inevitavelmente resultará em queda de atividade cerebral. Desafios precisam ser renovados. Ou seja, deve haver uma incessante busca por problemas. Quanto mais difíceis de serem resolvidos, melhor. Um matemático, por exemplo, que domine técnicas de demonstração e resolução de problemas em topologia, deve buscar por desafios completamente novos. Caso contrário, sua atividade cerebral diminuirá e sua inteligência será comprometida. Eficiência não é amiga sua, no que se refere a crescimento cognitivo.

3) Pensar de maneira criativa. Ao contrário do que diz a crença popular, criatividade envolve ambos os hemisférios do cérebro humano, e não apenas o direito. E pensamento criativo, neste contexto, nada tem a ver com produção artística, mas com cognição criativa. Cognição criativa envolve a associação entre ideias aparentemente distantes, intercâmbio entre formas tradicionais e formas atípicas de pensamento, e a geração de ideias originais que sejam adequadas para as atividades que você exerce. Resolver problemas de matemática, por exemplo, apelando apenas para analogias com o mundo real, é o mesmo que matar a criatividade. Além disso, problemas não podem ser resolvidos de uma única forma. Criatividade deve ser estimulada e não enterrada. 

4) Seguir o caminho mais difícil. A tecnologia tem tornado o mundo mais eficiente, permitindo que as pessoas tenham mais tempo para se concentrar naquilo que é realmente importante. Certo? Errado. O emprego sistemático de GPS, por exemplo, piora a noção de localização espacial de pessoas. Como já foi indicado, eficiência é um inimigo do cérebro. Nem todas as novas tecnologias são nocivas para o intelecto humano. Mas compensações são necessárias. Faça contas sem usar calculadoras. Siga para um destino desconhecido sem usar GPS. Escreva textos impecáveis sem usar corretores ortográficos; e reescreva esses textos, para que fiquem realmente atraentes. Leia textos em idiomas estrangeiros, sem usar tradutores. Faça sua própria comida. John F. Kennedy disse, no mais belo discurso que já ouvi: "Nós iremos para a Lua não porque é fácil, mas porque é difícil." Em nosso país reina a tradição do caminho mais fácil. Isso deve mudar.

5) Formar redes sociais. Não importa se suas redes sociais operam via Facebook, Twitter ou contato pessoal. O fato é que a condição humana é de caráter social. Coloque a cara para bater. Exponha suas ideias. Mantenha contato com quem sabe muito mais do que você; é preciso aprender. Mantenha contato com quem sabe muito menos do que você; é preciso ensinar. Mantenha contato com aqueles que pensam como você, mas também com aqueles que pensam diferente. Troque ideias sobre ciência, educação, música, cinema, teatro, história, religião, vida. Uma vida social rica é fonte de novidades, é a oportunidade de encontrar desafios, é a inspiração para soluções criativas, e é o mais difícil caminho de todos. Mas vida social rica não se traduz na forma de quantia de pessoas, porém na forma de diversidade de visões. 

Seja bem-vindo à espécie humana.

5 comentários:

  1. Excelente texto!

    As vezes me pergunto se determinada pessoa gosta de várias áreas do conhecimento porque é mais inteligente ou é mais inteligente porque procura aprender coisas diversas.

    ResponderExcluir
  2. Caro Professor Adonai,

    bem sei que este não é o espaço correto para tal pedido mas gostaria de fato que comentasse os fatos ocorridos ontem com os professores estaduais de seu estado e a truculência com que foram tratados pelos policiais. Acho o momento oportuno para se discutir como os politicos tratam a educação nesse país num momento econômico tão incerto quanto este que vivemos. Grato.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anônimo

      Este é sim o espaço correto para o seu pedido. Desde que isso tudo começou, estou bastante perturbado com os últimos eventos. Estou tentando escrever uma postagem sobre o tema. O problema é se conseguirei deixar a emoção de lado.

      Excluir
  3. Prof. Adonai,

    Qual a sua opinião sobre cursos de introdução ao pensamento matemático?

    Tenho percebido que esses cursos estão em alta em diferentes plataformas MOOC (Massive Open Online Courses). Como por exemplo:

    https://pt.coursera.org/course/maththink



    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anônimo

      Conheço muito pouco sobre plataformas MOOC. Mas o que vi, não gostei nem um pouco. São vídeos feitos com muita preguiça, que não passam de gravações de aulas normais. O único futuro que vejo para um ensino a distância que realmente funcione reside em interatividade. Os recursos tecnológicos hoje existentes estão aí para serem usados em função do que têm de melhor a oferecer e não para viabilizarem meras mímicas daquilo que se faz em sala de aula há séculos. Os vídeos que estou preparando (quatro deles já estão quase prontos, faltando apenas a música de abertura), constituem um primeiro passo para aquilo que realmente pretendo fazer: softwares que permitem interação entre aluno e instrumento de aprendizado. Não sei se serei bem sucedido com esta meta, mas é o que pretendo. O fato é que os vídeos que preparo contam com uma estrutura bastante diferente do que vi até agora sobre ensino a distância. Quando eu finalmente colocá-los a disposição, escreverei uma série de postagens aqui, com detalhes a respeito da proposta.

      Excluir

Respostas a comentários dirigidos ao Administrador demoram usualmente até três dias.