sábado, 25 de abril de 2015

Racionalidade, emoção e educação


Como bem coloca Ronald de Souza, racionalidade é definida por coerência e consistência no âmbito das crenças, e otimização de resultados no âmbito das ações. No entanto, racionalidade é insuficiente para definir as ações de um organismo. Levando em conta a existência de infinitas possíveis metas, infinitas possíveis estratégias e infinitas possíveis consequências para cada ato (a menos de casos muito particulares que imponham restrições), emoções desempenham papel fundamental na tomada de decisões de, por exemplo, pessoas. 

Após milhares de anos de estudos e considerações, filósofos e psicólogos finalmente conseguiram chegar a vários pontos de convergência, quando o assunto é "emoções". E um dos pontos de convergência é o seguinte: "Nenhum aspecto da mente humana é mais importante para a qualidade e o significado de nossa existência do que emoções."

Agora somemos a este consenso os seguintes fatos compartilhados na literatura de filosofia e psicologia:

1) Emoções são tipicamente fenômenos conscientes; mas a tendência de manifestar certas emoções é, em geral, inconsciente.

2) Emoções não podem ser discriminadas apenas por conta de aspectos fisiológicos.

3) Emoções são tipicamente manifestadas na forma de desejos, apesar de nem sempre ser o caso.

4) Emoções não podem ser confundidas com bom ou mal humor, apesar de poderem ser afetadas por humor.

5) Emoções antagonizam racionalidade.

6) Emoções executam um papel crucial na vida social, na educação moral e na vida moral.

Todos esses fatos concatenados levam a algumas conclusões um tanto perturbadoras. Uma delas é a seguinte: A vida nas sociedades humanas é definida por aspectos mentais individuais que não são conscientemente controlados. 

TMI é uma empresa de consultoria e treinamento no mundo dos negócios. De acordo com esta empresa, valor emocional é "o valor econômico dos sentimentos do cliente, quando este tem uma experiência positiva sobre produtos e serviços." Apesar desta visão sobre valor emocional não estar bem qualificada, ela reflete um fenômeno social muito real: a quantificação monetária de emoções. 

Vejamos o exemplo de ativos negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Todo especulador ou investidor experiente conhece o fundamental peso de emoções sobre o mercado financeiro. Quando circulou a notícia de que a candidata à Presidência da República Marina Silva daria um salto na última corrida presidencial, a Bovespa registrou altas em preços de ações da Petrobras e do Banco do Brasil, entre outros ativos associados a estatais. Espero que leitor perceba que não estou avaliando eventuais méritos ou deméritos de Marina Silva ou sua concorrente, Dilma Rousseff. Estou apenas considerando o peso de emoções no mercado financeiro. Cotações de ações ou até mesmo de moedas estrangeiras são fortemente influenciados por emoções, como euforia e medo. Os valores nominais atribuídos a ativos não deixam de espelhar simples valores emocionais. 

Quando o músico norte-americano Jack White comprou a primeira gravação de Elvis Presley por trezentos mil dólares, alguns comentaristas afirmaram que nenhuma peça de vinil vale tanto, alegando que o disco em questão estava em mal estado. No entanto, esses mesmos comentaristas demonstram claramente que não entendem o conceito de valor de mercado. O disco de Presley vale sim trezentos mil dólares simplesmente porque alguém o comprou, pagando esta cifra. O valor de um bem ou serviço é determinado naturalmente, pelas relações entre vendedor e comprador.

No Brasil, por exemplo, professores comumente reclamam que são mal pagos, principalmente quando trabalham para o governo federal ou para governos estaduais e municipais. No entanto, são mal pagos simplesmente porque aceitam serem mal pagos. Se um professor sentisse que seu trabalho vale mais, não se submeteria a um salário inferior. 

O fato é que educação não é considerada prioridade no Brasil. Por mais discursos supostamente racionais que existam a favor da valorização da educação, não é este o sentimento que domina a nossa sociedade. E, entre emoção e razão, é sempre a primeira que fala mais alto. Mesmo instituições privadas de ensino, em geral, pagam pouco pela hora-aula lecionada. 

Recentemente um colega meu pediu para que eu o ajudasse a encontrar um professor de matemática para uma escola privada de ensino médio. Trata-se de uma escola diferenciada, com aulas ministradas em inglês. Um dos objetivos desta instituição de ensino é preparar seus alunos para ingressarem em universidades de elite, espalhadas nos Estados Unidos e Europa. O salário oferecido ao professor: cinco mil reais brutos, por vinte horas semanais. 

Uma universidade norte-americana ou europeia de elite é uma instituição que prepara futuras lideranças profissionais que certamente conquistarão rendas muito superiores a cinco mil reais mensais. Então, por que um professor bem qualificado aceitaria trabalhar em uma instituição como esta escola de ensino médio? Simplesmente porque mesmo este professor qualificado sente que este é o valor de seu trabalho. 

Na atividade científica mundial ocorre fenômeno parecido. Cientistas e pesquisadores frequentemente são procurados por editores de periódicos científicos para escreverem pareceres técnicos a respeito de artigos submetidos para publicação. E estes pareceres são invariavelmente feitos sem pagamento algum. Quantos são os advogados, médicos, arquitetos, músicos, psicólogos, engenheiros e administradores que emitem pareceres profissionais sem jamais cobrarem um único centavo? Difícil lembrar de alguém que faça isso. Mas quantos são os cientistas que emitem pareceres técnicos sem cobrarem algo em troca? Bem, todos.

Ciência e educação não estão entre as prioridades sociais da maioria das nações. No Brasil, claro, educação parece valer menos do que na Finlândia, um país socialmente atípico.

Mas se pode existir uma nação atípica como a Finlândia, por que o Brasil não pode ser igualmente atípico? Afinal, emoções comumente se manifestam na forma de desejos, como bem sabem psicólogos e filósofos. E o que desejam nossos professores?

37 comentários:

  1. Boa noite, professor.

    Não sei se conhece, mas há um livro do historiador Niall Ferguson, chamado The Ascent of Money: virou um documentário apresentado por ele mesmo. Mas enquanto lia o seu texto, não pude deixar de lembrar dessa frase : "what the Spaniards had failed to understand is that the value of precious metal is not absolute. Money is worth only what someone else is willing to give you for it.". Talvez isso justifique ainda mais tanto a alta das ações na época da possível ascensão eleitoral da Marina Silva e na compra da gravação por Jack White, quanto a valorização do próprio trabalho educacional.

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    1. Joseph

      É exatamente este o ponto. Entre colecionadores de vinis, selos, moedas, obras de arte, sempre se sabe da existência de itens raros que, nem por isso, são valiosos. Não basta algo ser raro para ter valor. É necessário que o item seja cobiçado, desejado. Sem emoção, não há valor. O preço de diamantes, por exemplo, não se justifica pela raridade da pedra. Pelo contrário, diamantes não são tão raros. Mas são caros. Simplesmente porque são desejados.

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  2. Como já fui professor do ensino básico sei que, pelo menos os professores do ensino básico, em sua maioria não querem porra nenhuma com nada.

    E se você trabalha está destoando do "conjunto" e passa a ser mal visto pelos próprios, pois os alunos percebem a diferença, apesar de muitos destes não gostarem também, por já estarem acostumados à preguiça... (comportamento muito semelhante àquele texto do Theodore Dalrymple que lhe envie, não?)

    Como o Sr. sabe, não é lá muito diferente no ensino superior...

    Frase marcante que ouvi na graduação (licenciatura em Física) de um colega enquanto cursávamos a disciplina de Análise Matemática: a matemática do ensino médio se entende, essa daqui é muito viajada.

    E não era só ele que pensava assim...

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    1. Krishnamurti

      "a matemática do ensino médio se entende, essa daqui é muito viajada." Muito bem sintetizada a visão usual de nossos lamentáveis estudantes e profissionais. No entanto, peço que no futuro evite vocabulário inadequado. É um ponto no qual tenho insistido por aqui.

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    2. Krishnamurti

      No problemo. Aos poucos acabo ficando mais flexível. Meu receio é apenas com abusos. É difícil, para a maioria das pessoas, a capacidade de discernimento.

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    3. Kynismós!

      Vc é o mesmo Krishnamurti que participava ativamente também da comunidade "Física" do Orkut, aquela com mais de 40 mil membros, não é mesmo????

      Pergunto porque Krishnamurti não deve ser um nome tão comum assim entre brasileiros, além de que um Krishnamurti que seja físico, participe de rede social e conhece também virtualmente o Rafael Sá deve restringir ainda mais as possibilidades.

      Por fim, um físico chamado Krishnamurti, que conhece virtualmente o Rafael Sá e que apresenta este estilo único de escrita e esta idiossincrasia em específico, parece altamente improvável.....

      Portanto, ou vc é aquele Krishnamurti da comunidade "Física" do Orkut, ou é muitíssima coincidência hehehehehe

      :)

      Faz algum tempo que eu estava para te perguntar isto........

      Se vc for realmente aquele Krishna, é um prazer revê-lo por aqui......

      :)

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    4. Leandro

      Antes que Krishnamurti responda, já vou me intrometer por aqui. Sim, é a mesma pessoa. Krishnamurti é a personalidade mais curiosa que já conheci via internet. Ele é simplesmente onipresente e onisciente.

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  3. "... No entanto, são mal pagos simplesmente porque aceitam serem mal pagos. Se um professor sentisse que seu trabalho vale mais, não se submeteria a um salário inferior. "

    Professor Adonai de que forma um professor se recusaria ser mal pago? Fazendo greves? Mas o governo não se importa, chegando a agredir com violência física os próprios professores, e a mídia noticia de forma deturpada estes movimentos. O sr mesmo já manifestou repudio a estas greves, dizendo que os professores são egoístas ao pensarem no próprio bolso.

    Deixar o magistério seria uma forma? Eu creio que não, pois profissionais de baixa qualidade, como disse o Kynismós, continuariam dando aulas e perpetuariam o nivel baixo.

    Na minha modesta opinião, faltou participação dos senhores, professores dos cursos de Licenciatura na luta por salários melhores aos do ensino básico. No alto de seus pedestais não moveram uma palha sequer contra esta desvalorização. Agora estão sofrendo as consequências com o nível rasteiro dos alunos que ingressam em seu cursos. Além disso muito cursos estão quase fechando por desinteresse dos jovens o que fez com acordassem pro problema, porém tarde demais.

    Problemas na universidade brasileiras precisam ser resolvidos. Contudo o buraco é muito mais embaixo na educação básica.

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    1. Hugo

      Não vejo mais solução. Nem governo, nem professores, nem alunos, nem famílias e nem a sociedade em geral está interessada em educação. Você afirma que "profissionais de baixa qualidade, como disse o Kynismós, continuariam dando aulas e perpetuariam o nivel baixo." Mas isso já está acontecendo há muito tempo.

      Greve de professores é sinônimo de mendicância, neste país. Nada além disso.

      Você culpa professores de cursos de licenciatura. Bem, certamente são culpados, assim como você, eu e todos os demais. Ninguém é inocente. Todos erramos. E todos pagaremos o preço.

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  4. "No entanto, [professores] são mal pagos simplesmente porque aceitam serem mal pagos. Se um professor sentisse que seu trabalho vale mais, não se submeteria a um salário inferior."

    Talvez aja como embasar melhor a afirmação acima mas, como está, me parece quase tão absurda quanto afirmar que "Pessoas morrem, porque aceitam morrer. Se uma pessoa sentisse que sua vida vale mais, não se submeteria à morte."

    Afinal, obviamente, na realidade ou o indivíduo aceita os salários de mercado, ou desiste da profissão. Se eu, como indivíduo, me candidatar a empregos de professor do ensino médio exigindo um salário de 10 mil por mês, jamais serei contratado.

    Talvez fosse até possível fazer esse tipo de exigência se todos os professores do país paralisassem suas atividades e jamais voltassem sem que esse salário fosse pago. Mas essa é uma possibilidade pouco realista. E também não é o que foi necessário na Finlândia ou Coreia do Sul - não adianta os professores se darem o maior valor do mundo se o resto da sociedade não concordar.

    O mesmo vale para o caso dos cientistas: dão seus pareceres de graça por acreditarem que o sistema beneficia a ciência (e por temerem eventuais represálias caso se recusem a colaborar com as revistas), não por não darem valor ao seu trabalho.

    Mas isso tudo também é óbvio pra ti, Adonai, então eu agradeceria se você pudesse elaborar um pouco mais essa afirmação.

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    1. Stafusa

      Bem, a sustentação para a minha afirmação está no corpo do texto. Mas vejamos os exemplos pontuais que você cita.

      1) "Pessoas morrem, porque aceitam morrer. Se uma pessoa sentisse que sua vida vale mais, não se submeteria à morte." Podemos encarar a morte de, pelo menos, duas formas: (i) morte física e (ii) morte de influência. A morte física, por enquanto, é inevitável (apesar de existirem pesquisadores querendo mudar essa realidade). No entanto, as escolhas feitas em vida são geralmente evitáveis. E nesta postagem faço referência a escolhas feitas em vida. Portanto, não cabe a analogia. Já a morte de influência de uma pessoa pode sim ser evitada. Parafraseando o velho ditado, aquele que jamais escreveu um livro, plantou uma árvore ou teve um filho, morrerá de forma definitiva quando seu corpo deixar de funcionar. Mas aquele que plantou algo neste mundo, ainda exercerá influência mesmo após o fim de seu corpo. Você, por exemplo, é uma pessoa que planta. E certamente colherá frutos inimagináveis.

      2) "Se eu, como indivíduo, me candidatar a empregos de professor do ensino médio exigindo um salário de 10 mil por mês, jamais serei contratado." Ora, existem professores de ensino médio em nosso país que ganham salários muito maiores do que dez mil reais ao mês. Portanto, seu exemplo também não procede. Mas, se não consegue se adaptar a cursos preparatórios para vestibular ou demais concursos públicos e se ainda deseja ganhar dez mil reais por mês lecionando no ensino médio, então é melhor mesmo mudar de carreira.

      3) "Talvez fosse até possível fazer esse tipo de exigência se todos os professores do país paralisassem suas atividades e jamais voltassem sem que esse salário fosse pago. Mas essa é uma possibilidade pouco realista. E também não é o que foi necessário na Finlândia ou Coreia do Sul - não adianta os professores se darem o maior valor do mundo se o resto da sociedade não concordar." Bem, aqui você está concordando com o conteúdo da postagem. Por isso, não creio que eu precise elaborar mais.

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    2. Vejo como contradição ao texto da postagem: "se ainda deseja ganhar dez mil reais por mês lecionando no ensino médio [e não cursinho], então é melhor mesmo mudar de carreira".
      Porque, se o professor tem que deixar o magistério caso não queira ser mal pago, então receber um mau salário não é uma escolha, nem significa que ele não sente que seu trabalho vale mais. Ser professor pode ser uma escolha, o salário tipicamente não o é.

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    3. Muito simples, abra sua própria escola.

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    4. Stafusa

      Ainda que vejamos como contradição, esta é uma oportunidade para exercer a criatividade. Gosto da visão de que criativo é aquele que aprende a lidar com contradições. Professores, em geral, não são criativos. Vivem em uma sociedade que não prioriza educação e ainda reclamam. Eu mesmo sou um exemplo vivo disso, como você bem sabe. Estou tentando caminhos diferentes. Mas se eu falhar, será por responsabilidade inteiramente minha.

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    5. Não, não será só sua responsabilidade, talvez inclusive nada sua.

      Se todo mundo tivesse responsabilidade por tudo, o conceito seria inútil.
      Odeio ser a voz do senso comum mas, aqui vai:

      Primeiro: só se pode atribuir responsabilidade para aquilo que está sob o controle da pessoa. Um jato de raios gama atinge a Terra amanhã pulverizando sua superfície? Ninguém no planeta é culpado.

      Segundo: responsabilidade deve ser atribuída de forma gradual - a pessoa que se alimenta mal pode ser em parte responsável pelo seu ataque cardíaco, aquela que também não se exercita e fuma tem uma provável parcela de culpa maior. Quem ganha na loteria tem pouca responsabilidade pelo seu ganho, mas não zero, porque decidiu jogar.

      Terceiro: escolha não implica responsabilidade. As consequências das escolhas são em algum grau imprevisíveis. Se eu decido convencer um amigo a ir ao cinema e ele decide aceitar mas morre atropelado no caminho, a responsabilidade pela morte não é nem minha e nem dele. Talvez você prefira sustentar que a culpa, além provavelmente do motorista, é sim minha, e do amigo, e das autoridades de trânsito, e do governo que as instituiu, e da sociedade que os suporta e do mundo que resulta nessa sociedade - mas essa é uma descrição que pouco contribui para a compreensão da situação.

      Assim, se você falhar, a responsabilidade será sua apenas no grau em que você se sabotar, por decisão própria, e apenas se as circunstâncias que te levarem a isso estiverem sob seu controle.

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    6. Temos visões diferentes sobre responsabilidade.

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    7. Este comentário foi removido pelo autor.

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    8. Concordo com o que o Stafusa disse

      Na minha opinião professor Adonai, quem está nos píncaros de uma determinada categoria é que o maior responsável pelo problema. Porém professores universitários são de classe média-alta e não estão nem aí pra classe média baixas dos professores do ensino básico. Aí depois reclamam do nível dos alunos que ingressam na universidade.

      Eu tomei a decisão de abandonar o ensino devidos aos baixos salários. Isto pode ter interpretado tanto como uma fuga quanto como uma valorização do meu trabalho. Mas de qualquer modo tomei uma atitude.

      Dou muito valor a sua luta pela educação prof Adonai, porém os problemas na universidade são apenas uma ponta do iceberg. Ou se melhora o ensino básico, ou nada mudará.

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    9. Com relação aos 10 mil por mês para professores de ensino médio, achei patético. Isso é uma exceção, um ponto fora da curva, assim como pode haver uma costureira, uma pedreiro ou pintor que possa ganhar 10 mil por mês.

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    10. Stafusa

      Sua noção de responsabilidade depende de um suposto controle que uma pessoa teria. Não deposito muita fé em controle. Neste sentido, meu modo de ver responsabilidade é diferente daquele que você sugere. Se raios gama atingem a Terra (usando seu exemplo) e destroem aquilo que quero manter, tenho sim responsabilidade. Isso porque não fui hábil o bastante para antecipar o imprevisível. Frequentemente se usa a desculpa da imprevisibilidade para isentar responsabilidades. E isso tem sido cada vez mais comum nesta nova ordem social que enaltece direitos. Nunca gostei disso. Mas esta é apenas uma postura pessoal.

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    11. Hugo

      Concordo com você. No entanto, já tomei várias iniciativas para colaborar com professores e alunos de ensino básico (cursos, trabalhos voluntários, projetos). Nunca funcionou. Mas ainda tento. Por isso estou investindo nos vídeos que produzo neste exato momento.

      Existe uma inércia social gigantesca neste país. E esta inércia opera literalmente como uma rede que gruda e vence pelo cansaço.

      Só por curiosidade, poderia dizer com o que trabalha hoje?

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    12. Eu abandonei o ensino não foi devido aos salários irrisórios, que é assim pelo menos pras turmas de escolas "normais", e sim pela falta de contrapartida dos alunos, que mais pareciam javalis ou bichos-preguiças...

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    13. E também não me disponho a esse tipo de coisa: youtu.be/CDjpex8vPuc

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    14. Ah, e muito cuidado ao definir classe média alta, pode contrariar os governistas:

      Caso 1: Uma pessoa que vive sozinha e recebe apenas quatro salários mínimos (R$2.896,00), estaria na faixa Baixa Classe Alta.

      Caso 2: Um casal, sem filhos, que recebe conjuntamente R$2.000, possui renda familiar per capita de R$1.000. Portanto, estaria na faixa Alta Classe Média.

      Caso 3: Um casal, com um filho, que recebe conjuntamente o equivalente a três salários mínimos (R$2.172), possui renda familiar per capita de R$724,00. Portanto, estaria na faixa Média Classe Média.

      Caso 4: Uma pessoa solteira, sem filhos, que recebe um salário mínimo (R$724), sem benefícios (13º, férias, etc.) estaria na Média Classe Média.

      Caso 5: Um casal, com dois filhos, que recebe conjuntamente R$1.660, possui renda familiar per capita de R$415,00. Portanto, estaria na faixa Baixa Classe Média.

      Caso 6: Um casal, sem filhos, que recebe conjuntamente R$500, possui renda familiar per capita de R$250. Portanto, estaria na faixa Vulnerável.

      http://www.canaldootario.com.br/blog/classe-media-brasil-tem-renda-entre-291-e-1019/

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    15. Atualmente trabalho em um banco público professor. Estou concluindo meu mestrado no PROFMAT e no futuro pretendo voltar a dar aulas particulares ou voluntárias. Infelizmente o banco não permite que eu lecione no ensino público.

      Suas iniciativas são dignas e louváveis professor, mas a grande maioria dos professores universitários são omissos com relação ao ensino básico. No fim todos sofrem as consequência desta omissão.

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    16. Kynismós

      A falta de condições de trabalho também pesou na minha decisão de abandonar o ensino público.

      Também não sou nenhum picareta que quer dar aulas como se fosse um palhaço de circo (professor funkeiro)

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    17. Adonai,

      percebo que você enquadra nossas divergências nesse assunto como questão de opinião ou de postura. Respeitarei isso e não promoverei um embate de ideias - mas considero a maneira como você dissocia o poder da responsabilidade muito preocupante e acho válido expor um pouco mais da minha posição.

      Antes de mais nada, um detalhe: essa dicotomia entre direitos e deveres não se sustenta muito bem e a valorização de um sobre o outro é, portanto, sem sentido. São dois lados da mesma moeda: o direito das crianças à educação é o dever dos pais e da sociedade de provê-la. O direito à vida é o dever de todos de respeitá-la. Direitos e deveres têm o mesmo valor também no contexto social - onde a única justificativa para limitar o direito/liberdade de um é a satisfação do direito/liberdade do outro.

      A Declaração dos Direitos Humanos, por exemplo, é um marco a ser enaltecido (e apreciado): e pode ser lida como a Declaração do Dever Humano: o dever de respeitar outros humanos. É lamentável ver a conquista que é a enaltação desses direitos sendo rejeitada.

      Também não tenho ilusões de controle, muito pelo contrário: e esse na verdade é um grande argumento a se dar _menos_ peso à 'responsabilidade', não mais.

      A noção de responsabilidade irrestrita que você defende também é muito sujeita a abusos: especialmente por aqueles com interesse em culpar a vítima; em evitar o cumprimento da justiça, a observação de direitos em geral e, acima de tudo, em desviar a atenção de sua própria culpabilidade. A mulher estuprada que falhou em não ser mais recatada, os judeus que não tentaram se defender das forças nazistas, os escravos que não resistiram aos mestres... a lista é infindável. E quase sempre que se deposita sobre as vítimas alguma parcela de responsabilidade, isso é feito com o intuito de denegri-las, de violentá-las uma vez mais e de minimizar o crime, o que é feito muitas vezes por mera falta de empatia, muitas outras, para ajudar o perpetrador a escapar da punição.

      Sem poder não pode haver responsabilidade. Me espanta que isso não seja patente a todos. Sem esse princípio eu posso ser preso como cúmplice do assassinato de John Kennedy - afinal, se deixa de ser relevante eu poder ou não fazer algo a respeito, a verdade é que não consegui impedir o crime.

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    18. A arte imita a vida, ou seria a vida imita a arte?, nem sei mais...

      youtu.be/8XZEySzPZYw

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    19. Parece inspirado no filme alemão Funny Games.

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  5. Bem, vamos aos fatos. Os professores das universidades públicas deste país "deram as costas" para os professores dos ensinos fundamental, básico e médio já de longa data. Essa falta de sintonia da categoria é uma sinalização clara da concepção de ensino que reina por aqui, ou seja, ela reflete de alguma forma a falta de visão de nossa sociedade para com o ato de "ensinar". Mas não pára por aí... Os baixos salários dos professores (em geral) são sintomas de uma obra construída por todos nós e cuja consequência reflete aquilo que somos: uma sociedade mediocre e ignorante, com lampejos de sobriedade. Enfim, modificar tal estrutura reflete, do ponto de vista social, em modificar a forma como uma sociedade pensa sobre si mesma, tarefa essa árdua e herculea, a qual certamente não estaremos vivos para vê-la surtir algum efeito. Nesse interim, com passos de formiga, vamos carregando o peso de nossas escolhas...

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    1. "Enquanto as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai resistir. Agora me responda uma coisa, quem você acha que sustenta tudo isso? É… E custa caro. Muito caro. O sistema é muito maior do que eu pensava.[...] Pra mudar as coisas vai demorar muito tempo. O sistema é foda." (Nascimento, 2010)

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    2. Daniel

      Complementando a fala de Nascimento: "Nunca serão."

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  6. Adonai

    O que quer dizer com "Emoções não podem ser discriminadas apenas por conta de aspectos fisiológicos."?

    A um mesmo estado físico (um dado arranjo de substâncias) no interior do cérebro, podem corresponder estados psicológicos diferentes? Me parece absurdo.

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    1. Abdias

      Apesar de estados fisiológicos poderem induzir emoções, eles não permitem estabelecer uma distinção clara entre elas, pelo menos segundo a visão atual sobre o tema. Isso porque há a interferência de aspectos cognitivos. Pessoas com percepções cognitivas distintas respondem de maneira diferente aos mesmos estímulos fisiológicos.

      Você poderia argumentar, por exemplo, que percepções cognitivas distintas imediatamente definem fisiologias diferentes. Mas esta não é a visão atual sobre o tema. É claro que psicólogos e filósofos podem estar enganados sobre essa questão. Por isso foquei em relatar aquilo que hoje se assume como consenso entre especialistas.

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