sábado, 14 de março de 2015

Filosofia e Sociedade


Filosofia pode ser útil? Faz sentido falar a respeito de filosofia aplicada?

Em postagem recente fiz uma discussão preliminar sobre algumas das diferenças entre física e filosofia da física. Foi defendida a ideia de que a filosofia da ciência de hoje está perigosamente desatualizada sobre a prática científica, especialmente no caso da física teórica e experimental. Nesta postagem coloca-se uma perspectiva diferente.

Talvez o nome mais importante associado nos dias de hoje à filosofia aplicada seja o de Ayn Rand. Rand foi uma romancista, dramaturga e roteirista (de Hollywood), autora de obras de grande impacto (algumas traduzidas para o português). E no conjunto de seus escritos - os quais incluem não apenas ficção, mas também ensaios - Rand desenvolveu aquilo que hoje se conhece como Objetivismo. Esta linha de pensamento filosófico é reconhecida e discutida detalhadamente, por exemplo, na Stanford Encyclopedia of Philosophy, onde até mesmo uma entrevista à revista Playboy é citada. 

Quando se fala a respeito de aplicações da filosofia nos dias de hoje, normalmente se pensa sobre Ética. Códigos de ética são exemplos muito conhecidos de aplicações da filosofia, pois permitem estabelecer normas de conduta, por exemplo, para profissionais de diferentes áreas. Neste sentido, questões éticas são inevitáveis na visão de Rand sobre política, sociedade e indivíduo. No entanto, a filosofia de Rand trata também das origens metafísicas e epistemológicas de fenômenos sociais como o racismo, a dicotomia entre liberdade pessoal e econômica e visões compartimentalizadas que levam ao dualismo mente-corpo. Rand demonstrava uma forte aversão à compartimentalização do conhecimento, principalmente no que se refere ao desenvolvimento intelectual do indivíduo (outra aplicação!). 

Preciso deixar claro que não estou aqui defendendo qualquer postura filosófica de Rand. Apenas coloco o fato de que, através de obras ficcionais e ensaios, ela conseguiu provocar um impacto social e filosófico inegável em diferentes partes do mundo. Até mesmo um partido político foi concebido nos Estados Unidos, por iniciativa de admiradores. E hoje existe o periódico The Journal of Ayn Rand Studies, publicado pela Pennsylvania State University Press.

Mas o exemplo de Rand e discípulos não é isolado. O periódico Journal of Applied Philosophy, publicado pela Wiley, conta com um fator de impacto de 0,551. Entre as publicações mais recentes encontramos discussões extremamente pertinentes sobre ética e responsabilidade no emprego de robôs na guerra, bem como a atitude comumente justificada em favor da tortura para obter informações que previnam ataques terroristas. O Journal of Applied Philosophy chega a oferecer um prêmio de mil libras esterlinas para o melhor artigo publicado naquele veículo em cada ano. Esta é uma iniciativa muito rara entre periódicos acadêmicos, evidenciando um movimento que busca, com certa urgência, vencer o preconceito de que a filosofia é um ramo do conhecimento não compromissado com aplicações relevantes à sociedade.

Os exemplos históricos do impacto social da filosofia são inúmeros. Na área de ciências, por exemplo, o mais conhecido é a Royal Society. Fundada em 1660, a Royal Society é a mais antiga sociedade científica interdisciplinar ainda em atividade e é conhecida como a instituição que marcou o nascimento da ciência moderna. Concebida a partir dos preceitos filosóficos de Francis Bacon, esta iniciativa estabeleceu a língua inglesa como principal idioma para comunicações científicas e criou os critérios editoriais até hoje empregados por periódicos especializados do mundo todo. Isaac Newton foi um dos presidentes da Royal Society. E isso, por si só, já diz muito.

Portanto, a influência da filosofia sobre a própria ciência tem se demonstrado perene. O que resta, agora, é avaliar como a filosofia pode se manter ainda impactante, sob o ponto de vista social. Não é apenas com os louros do passado que a prática filosófica se manterá viva e relevante. 

Outros exemplos poderiam ser citados, como as concepções filosóficas que deram origem a diferentes formas de governo, incluindo a democracia, a república, o comunismo e a monarquia. As teorias filosóficas do Estado de Platão, Hobbes, Locke e Rousseau, bem como suas repercussões práticas, são bem conhecidas. No entanto, exemplos como o de Ayn Rand devem ser avaliados com especial atenção, principalmente nos dias de hoje. Esta mulher representou um contato direto entre filosofia e sociedade. E o fato é que existe particularmente em nosso país uma mentalidade de que filosofia é a mera exegese de obras consagradas ou a irresponsável reflexão baseada em senso comum e pouca informação. Como o Brasil definitivamente não tem tradição filosófica alguma, precisamos reconhecer com urgência nossos erros e decidir se queremos realmente filosofar em nossas terras ou se apenas queremos posar como pensadores que, na prática, não somos perante o mundo.

Assim como tento promover neste blog discussões sobre matemática e ciência perante a sociedade, por que não encontramos fórum parecido que promova discussões sobre filosofia e sociedade? 

O que encontro em sala de aula são alunos com visão completamente fragmentada de mundo. Lecionar na Universidade Federal do Paraná, por exemplo, é como executar a música Quadros de uma Exposição, de Modest Mussorgsky, para um público cego, incapaz de ver os quadros de Viktor Hartmann. É essa compartimentalização de conhecimentos que está envenenando a capacidade de pensar de nossos jovens, os quais compartimentalizam até mesmo disciplinas muito específicas, como cálculo diferencial e integral: limite é uma coisa e derivada é outra.

38 comentários:

  1. Adonai que bela comparação entre o ensino e a obra de Mussorgsky e Hartmann, me lembrou de uma discussão no post sobre a entrevista do Artur no Jô.

    Mas tenho uma consideração a fazer, pois vejo exatamente essa falha na formação dos professores das universidade que convivi e sua consequente falta de preparo para ministrar as aulas e incentivar os alunos a racionar, criar e filosofar. Não se cobra do aluno o raciocínio mas a capacidade de resolver probleminhas, aplicar técnicas e efetuar demonstrações. Não se incentiva o aluno ao questionamento e a investigação, mas se “vomita” uma série de demonstrações (as quais em muitos casos o professor usa um papelzinho para reproduzir o que ele ainda não aprendeu).

    Pouco posso falar sobre a filosofia e sua correlação com a sociedade de modo geral., mas posso relatar o que aconteceu no meu departamento quando recebi a primeira vez a disciplina de fundamentos (filosofia) da matemática. Quando questionei sobre o programa me disseram que não tinha muita importância como eu iria ministrar pois no DM poucos professores gostam ou se interessam por essa disciplina.

    Por outro lado, concordo contigo com a compartimentalização entre os estudantes, principalmente entre os de matemática. Por exemplo, a maioria dos alunos de fundamentos não sabem o que é geometria analítica. Na verdade, os livros e os professores, que aliás considero os maiores culpados, não tem um domínio sobre o assunto. Cada vez mais são abordadas uma série de técnicas sem nenhuma conexão. Não me conforme ao ver uma série de fórmulas nos livros, por exemplo para uma reta. Um absurdo total! Os livros, principalmente os que seguem a péssima didática americana são cada vez maiores e repletos de coisas desnecessárias, sendo que muitas vezes chegam ao absurdo de ter quadrinhos que ressaltam o principal para a memorização! Não existe uma sistematização e a dispersão é enorme, exercícios mal formulados onde não se premia o aprendizado. Sendo que o professor não exerce o seu papel principal, esquecendo que os seus alunos serão professores até de seus filhos e netos.

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    1. Mariia

      De fato, não tenho o que acrescentar no que diz. Concordo plenamente contigo.

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  2. Caro Adonai.
    Incrível! Hoje mesmo estava comentando com meu filho que gostaria de desenvolver um Blog sobre filosofia e educação. Entretanto, por hora não disponho de tempo para trabalhar neste projeto, mas quem sabe num futuro próxiomo.
    Um abraço.
    Gilson

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    1. Gilson

      Você seria uma pessoa realmente indicada para um projeto desses. Espero que um dia consiga realizá-lo.

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  3. Prof. Adonai,
    Na área do direito é pouco usual o estudo de filósofos. E quando isso ocorre, trata-se mais de se filiar a alguma tradição filosófica (Kant, Platão, Karl Marx, Rosseau, Hans Kelsen etc.) do que desenvolver um caminho filosófico próprio e original do fenômeno jurídico. São pouquíssimos os juristas brasileiros têm essa qualidade. Quem se pensa original, se preocupa mais em buscar algum argumento na doutrina estrangeira, de preferência portuguesa (você sabe, né?) , para interpretar algum artigo de lei.
    Acho que isso é um pouco o exemplo do que você menciona neste post, né?

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    1. Anônimo

      Bem colocado. Há neste blog uma postagem escrita por um advogado que aborda um pouco do que você critica.

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2014/05/o-estado-da-educacao-nas-faculdades-de_8.html

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    2. Prof. Adonai,
      Grato pela dica de leitura.
      Apenas para ressaltar: não sou contra as tradições filosóficas e os grandes pensadores.
      Eu mesmo sou adepto de uma grande tradição filosófica, na qual me encontrei academicamente e que me abriu uma infinidade de possibilidades; nela, creio, posso contribuir minimamente com uma reflexão original sobre o direito.
      Também não sou contra o dogmatismo e o positivismo, que têm lugar importante no direito.
      Apenas me surpreendo com a baixa capacidade dos juristas brasileiros em possuir um pensamento jurídico autenticamente (e não bizarramente) brasileiro, com caminho próprio e inovador na interpretação do direito.
      Isso é especialmente vergonhoso se considerar a enormidade de faculdades de direito e o número elevados de programas de mestrado e doutorado no país. Mal comparando, com essa quantidade de gente, éramos para ser no direito o que somos para o futebol. Por que não somos?
      Abraço a todos.

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    3. Anônimo

      Minha experiência pessoal com jovens estudantes de direito é muito estimulante. Os jovens mais inteligentes e intelectualmente abertos que conheci são geralmente alunos de direito. No entanto, algo acontece quando eles se formam. Algo os transforma. E não sei dizer o que é.

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    4. Prof. Adonai,
      Creio que há bons alunos nas faculdades de direito, em especial nas públicas. Mas com o fim do curso, por conta dos concursos públicos e exames da OAB, há uma mediocrizarão dessa gente, uma vez que essas provas cobram mais o conhecimento da lei do que a formação humanística do operador do direito. Isso impacta diretamente na qualidade profissional desse pessoal, que tende, na pós-graduação, apenas a análise da lei.
      Acredite, Adonai, profissionais do direito, no geral, não sabem lidar minimamente com a realidade; e a profundidade cultural deles é da profundidade de um pires.

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    5. Anônimo

      Fico pasmado com o que você afirma. Esse é o tipo de coisa que me desanima e muito. Desperdiçamos muitas oportunidades neste país.

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  4. Uma sociedade sem cultura em filosofia dificilmente perceberia a aplicação da mesma. Ao meu ver a filosofia altera a percepção de mundo e, por vezes, nos dá uma visão mais clara sobre o ambiente que nos cerca; logo, é preciso aceitar a mudança e o desconhecido. Não percebo isso nos indivíduos que tenho contato.
    Me parece curioso o entendimento comum que matemática e filosofia são distintas, mas em minha ótica essa relação parece ser bem íntima; aliás, acredito que deveria ser explorada.
    O último trecho me remeteu a uma aula de cálculo em que um professor surpreendentemente soltou uma pérola afirmando que "limites e derivadas são praticamente a mesma coisa" e todos os alunos aceitaram como um ensinamento bíblico (o que me causa espanto).
    Confesso que fiquei impressionado em ver como o meio acadêmico é tradicionalista e monótomo, posso estar errado, mas, arrisco dizer a busca pelo conhecimento tem tornado-se cada vez mais um camafeu no currículo lattes e cada vez menos um objetivo a ser alcançado.

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  5. Adonai

    Realmente, no Brasil, as pessoas têm em mente a visão do filósofo como aquela pessoa que apenas leciona e passa boa parte do tempo sem fazer nada e "viajando na maionese".

    Inclusive, tenho um sobrinho que afirma jamais querer fazer um curso como Filosofia porque, segundo ele, "Filosofia não dá dinheiro e o sujeito fica pirando em ideias abstratas e que não resolvem nada".

    Não sei se falarei besteira. Então me corrija se eu estiver errado.

    Já ouvi dizer, por exemplo, que em alguns países desenvolvidos empresas contratam filósofos para cargos de conselheiros com o intuito de maximizar a eficiência e eficácia das atividades, principalmente em pontos de vista conflitantes entre diferentes áreas técnicas das empresas, buscando um bom diálogo e comunicação entre diferentes setores internos.

    Não sei se isto procede, mas com certeza no Brasil o filósofo é visto como um ser que não serve para nada. Como diz um amigo meu: "isto é coisa de país subdesenvolvido".

    Sabe dizer se este "uso" de filósofos como conselheiros em países desenvolvidos procede????

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    1. Leandro

      Realmente empresas têm contratado cada vez mais filósofos, fora de nosso país. Um bom curso de filosofia confere um perfil profissional muito cobiçado em diferentes áreas da iniciativa privada. Ver, por exemplo, a reportagem abaixo.

      http://www.onedayonejob.com/majors/philosophy/

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    2. Fiquei curioso. Lerei a reportagem.

      Grato pela indicação.

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  6. Quanto a esta visão fragmentada do conhecimento, recentemente notei um caso bastante triste e deplorável de como isto acontece.

    Assistindo ao programa "Eureka" que passa no canal da UFPR (um programa que afirma buscar ajudar a jovens estudantes a ingressar na universidade, "preparando-os" para o vestibular), em um dado momento estavam reunidos no mesmo programa um professor de Física, um de Matemática e outro de Química.

    Nesta edição em específico do programa, os professores estavam resolvendo e comentando questões da prova do último Enem, além de falar e enfatizar sobre interdisciplinaridade de uma maneira bastante risível, a meu ver.

    Isto porque a visão que demonstraram sobre a suposta interdisciplinaridade manifestou-se da seguinte maneira: a questão é considerada interdisciplinar quando o enunciado claramente e abertamente fala sobre, por exemplo, Química e Matemática. Neste sentido, a questão só era considerada interdisciplinar se, por exemplo, abordasse uma dada equação logarítmica e o enunciado pedisse para calcular algum parâmetro como concentração, pressão osmótica ou qualquer outro por meio da reles substituição de valores numéricos na equação.

    Ironicamente, quando o professor de química foi resolver um problema de estequiometria, ressaltou a importância, a facilidade e o valor de se resolver problemas de cálculo estequiométrico por meio de regras de três, hábito este infelizmente difundido por parcela significativa dos professores de química. Digo ironicamente porque imediatamente antes do professor de química, o professor de matemática havia resolvido um exercício de Álgebra que claramente não poderia ser resolvido por regra de três em hipótese alguma.

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    1. Leandro

      Este programa de TV está disponível em alguma mídia?

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    2. Então, tentei procurar por um site em específico, mas não encontrei.

      Entretanto, pelo Google, digitando "programa eureka", aparecem algumas sugestões de sites.

      O referido programa é aquele que aparece com um tipo de emblema do IFPR (Instituto Federal do Paraná) nos vídeos intitulados "Ciências Humanas e suas Tecnologias" e "29/03 - Programa Eureka - Matemática e suas Tecnologias".

      Não sei se nestes vídeos em específico são comentados absurdos que beiram ao escandalizante, mas se vc acompanhasse as várias edições do programa, não tardaria aparecer absurdos de arrepiar os cabelos......

      Esse professor que comanda e apresenta o programa é um professor de português chamado Marlus Geronasso.

      Embora ele seja de outra área (diferente de Química, Física e Matemática), frequentemente alguns de seus comentários e opiniões sobre o direito de acesso às universidades públicas e o modelo de ensino defendido, comumente me causam bastante coceira e alergia.

      Bom, pelo menos para mim.

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    3. Leandro

      Grato pelas informações. Se puder, examinarei o programa.

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  7. Ou seja, neste referido programa exibido pelo canal da UFPR defende-se e fala-se muito sobre interdisciplinaridade, mas ignora-se completamente a limitação de técnicas como a regra de três, além de ser ressaltado um suposto grande valor desta técnica, como se fosse algo quase perfeito.

    Como se não bastasse o professor de química ressaltar o uso irrestrito e até irracional da regra de três (ignorando completamente suas limitações e restrições), para piorar, o professor de matemática agiu como se estivesse tudo bem e não houvesse problema nenhum nisso sendo que, imediatamente antes, o próprio havia resolvido um problema no qual regra de três não se aplica.

    E ainda teimam em falar que defendem fortemente a interdisciplinaridade.

    Que interdisciplinaridade é esta que ignora as limitações do uso da regra de três e, ao contrário, reforça-se o uso da mesma como se fosse um método quase perfeito????

    Se até mesmo em estequiometria existem algumas situações melhor elaboradas nas quais não se aplica a regra de três, que sentido tem defendê-la irrestritamente???? Só para facilitar a vida do aluno????

    Pessoalmente, penso que seria muito melhor (e interdisciplinar verdadeiramente) se o professor de química passasse a resolver os problemas de estequiometria usando sistemas de equações e Álgebra (técnicas muito mais abrangentes e eficazes) do que teimar na regra de três. Aí sim ele estaria valorizando a interdisciplinaridade, pois estaria usando um método matemático mais abrangente para resolver problemas de Química.

    Aliás, o uso de sistemas de equações e de álgebra elementar quando se generaliza a Lei de Conservação das Massas, de Lavoisier, para quantidades de matéria (em mol), permite a resolução de problemas de estequiometria sem mesmo balancear previamente uma equação química. Basta saber em que proporção os átomos aparecem em cada tipo de molécula e aplicar um pouco de álgebra.

    Adonai, não sei se vc conhece o programa "Eureka" mas, pessoalmente, tenho muitas críticas a este, pois além de defenderem uma visão muito superficial da interdisciplinaridade, também defendem ideias absurdas ao meu ver, como uma suposta impossibilidade dos professores errarem em suas aulas (já tiveram programas em que alunos questionaram professores de redação, por exemplo, e foram severamente rechaçados e criticados pelo professor de português que apresenta o programa, como se professores fossem imunes ao erro), além da defesa absurda que já fizeram sobre o sistema de cotas raciais (alegando que se a lei instituiu isso é porque deve ser assim) e que a universidade deve ser para todos, ou seja, um direito de todos.

    Acompanho este programa já faz alguns anos e, ano após ano, decepciono-me cada vez mais.

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    1. Leandro

      Não conheço o programa Eureka. Desde 2003 não vejo TV. Mas vou procurar. Grato pela recomendação.

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    2. Leandro

      Já vi alguns desses programas e também vi diversas barbaridades. Certa vez um professor de matemática estava ensinando inequações do segundo grau, utilizando macetes como "meintra" e "meextra" pra indicar os sinais da função entre os zeros ou abaixo ou acima delas. Depois os alunos não gostam de matemática e não sabemos o porquê...

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    3. Adonai

      Como o projeto dessa versão do programa Eureka iniciou em 2005, é provável que vc não conhecesse, já que não assiste TV desde 2003.

      É um programa voltado, teoricamente, para ajudar pessoas de menor renda a ingressar na universidade pública, partindo do princípio de que o direito de acesso ao ensino superior público deve estar ao alcance de todas as classes sociais, sem distinção.

      Até aí, compreensível, no sentido de que existe gente boa também em classes economicamente menos favorecidas.

      O problema, ao meu ver, é que o programa (direta ou indiretamente) procura despertar o sonho de todos das classes econômicas menos favorecidas para o acesso à universidade pública, dando a entender fortemente que o ensino superior público é direito de todos.

      O pior é que em algumas edições do programa, tal intuito é defendido abertamente e sem restrição.

      Como o objetivo é o de ajudar a todos a passar no vestibular, o programa segue os moldes de aulas de cursinho, com resoluções de exercícios do Enem e da UFPR.

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    4. Hugo

      Em química a situação é ainda pior, com muitos professores adotarem estratégias esdrúxulas e fora de contexto, como por exemplo induzir que os alunos decorem sequências de grupos de elementos químicos da Tabela Periódica e, pior ainda, usando macetes, frases e musiquinhas estúpidas para isto, como por exemplo:

      "LIsandro NAmorou Kátia ReceBendo CorteSia de FRancismara"

      para a sequência de elementos do grupo 1 da Tabela Periódica (Li, Na, K, Rb, Cs, Fr - lítio, sódio, potássio, rubídio, césio e frâncio).

      Ao invés disso, seria muito mais produtivo (e principalmente digno) se os professores usassem as configurações eletrônicas de Pauling para ensinar aos alunos como localizar os elementos em um esboço da Tabela Periódica, mostrando como se pode deduzir a posição exata dos elementos na Tabela, bem como a lógica da periodicidade e agrupamento dos elementos em termos de suas características estruturais.

      Com o tempo, exercícios e treinamento, a posição e sequência dos elementos tornaria-se algo natural e automático aos estudantes, sem precisar decorar nada.

      Os professores até ensinam parcialmente como interpretar a Tabela Periódica ao ensinar conteúdos como Eletronegatividade, Afinidade Eletrônica, Raio Atômico e Raio Iônico. Entretanto, isto ocorre de modo fragmentado, como comentado pelo Adonai para a matemática e filosofia.

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    5. Prezado Leandro Martins,

      Você poderia indicar bons livros de Química destinados a jovens que acabam de ingressar no ensino médio?

      P.S: Também aceito sugestões de livros de Biologia,Física e Matemática adequados a esse nível.

      Att.,

      Luiz

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    6. Luiz

      Desconheço bons livros para o ensino médio, principalmente de autores nacionais (que, por sinal, são as obras adotadas pela grande maioria das escolas no Brasil).

      Talvez existam boas obras em língua inglesa para o ensino médio ("high school"), mas não sei recomendar alguma obra em específico.

      Em português, com autores nacionais, existem obras, digamos, "menos sofríveis" que vc pode, eventualmente, encontrar em bibliotecas públicas e talvez na biblioteca de sua escola.

      No entanto, nunca é uma boa ideia estudar por meio de uma única obra.

      É sempre bom variar e buscar também por textos em língua inglesa, pois além de melhores textos, vc aprende desde cedo a lidar com materiais em inglês, o que certamente irá impulsionar sua carreira no futuro, já que a língua inglesa é fundamental para qualquer área do conhecimento que vc escolher para o futuro.

      Dentre os autores de livros nacionais de Química que conheço, a obra "Química Moderna" de Geraldo Camargo de Carvalho é a que possui um texto "menos sofrível".

      Pessoalmente, não gosto da obra do badalado Ricardo Feltre, pois o texto dele contém muitas imprecisões técnicas, além de passar a impressão de que todos os conceitos abordados estão devidamente estabelecidos e usar máximas e frases de efeito como quando afirma que "grandeza é tudo aquilo que pode ser medido" e ponto final, por exemplo.

      Já os livros de Usberco e Salvador, Tito e outros abordam os conceitos de modo muito resumido e restrito, sem detalhar como e de onde surgiram as ideias que foram transformando a Química ao longo dos anos.

      A obra do Geraldo de Carvalho também não é boa, mas pelo menos não se prende a frases de efeito e superficialidade como na obra do Feltre e não é tão resumido quanto as demais obras de autores nacionais.

      Entretanto, não basta ficar restrito à obra de Geraldo, pois peca em detalhar alguns tópicos e não apresenta bons exercícios para treinar.

      Neste sentido, vale a pena consultar alguns livros de Química Geral de autores internacionais como John B. Russell, James Brady e Gerard Humiston (texto razoável, porém com exercícios de ótimo nível para pôr a cuca para funcionar, com alguns exercícios de nível similar a de provas antigas do ITA) e Bruce Mahan (obras muito boas para iniciantes em Química, mas que exigem um nível um pouco mais alto e por isso recomenda-se seus usos a partir do último ano do ensino médio).

      Vc pode encontrar todas estas obras (e outras) em bibliotecas públicas ou até mesmo em bibliotecas de universidade. Se não me engano, na biblioteca do Centro Politécnico da UFPR, por exemplo, é possível para pessoas não-vinculadas à universidade realizar empréstimos de livros sob certas circunstâncias. Vc pode verificar isto onde vc mora.

      Como todas as obras custam muito caro, penso que vale mais a pena tomar emprestado, ler e devolver, nem que tenha que emprestar novamente. A menos, é claro, que esteja considerando seguir por alguma área neste sentido, profissionalmente.

      De qualquer forma, procure sempre variar sua leitura sem se prender a uma única obra e procure sempre que possível buscar por obras em língua inglesa, geralmente melhores e mais completas.

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    7. Quanto às demais áreas, não sou a melhor pessoa para recomendar obras.

      Há quem diga, por exemplo, que a coleção do Gelson Iezzi para a Matemática a nível de ensino médio seja razoavelmente boa. Honestamente, não sei dizer.

      Até porque, durante todo o meu ensino básico, as obras adotadas foram coleções do fraco Edwaldo Bianchini e dos sofríveis Bonjorno.

      Estes dois últimos certamente eu não recomendaria.

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    8. No mais, as recomendações gerais do Adonai sobre leituras variadas e conversas com pessoas "de peso" de cada área devem ser fortemente consideradas, pois podem fazer um grande diferencial para vc no futuro.

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    9. Anônimo

      Com relação a Matemática, recomendo um livro antigo, (de 1993) mas muito bom que é o Matemática e Vida dos autores: Bongiovanni, Vissoto e Laureano., de preferência os três volumes. Embora antigo, é o que aborda a matemática menos decoreba e muito mais crítica. Não é um livro perfeito, mas comparado aos livros atuais é uma excelente obra.

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    10. Tem também a coleção "Fundamentos de Matemática Elementar" (10 volumes), ela pode te fornecer uma base boa (alguns colegas meus tinham estudado todos esses volumes antes de ingressar na universidade, e para eles as disciplinas de matemática foram fáceis). Os livros da SBM são em geral bons ( http://loja.sbm.org.br ). Se você mora em cidade grande, dê uma garimpada em sebos, que você pode achar livros muito bons com preços amigáveis.

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    11. Caros Leandro Martins,Hugo Delatorre e Anônimo: grato pelas recomendações.

      Att.,

      Luiz

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    12. Nossa. Isso sim foi algo bacana de ver. Agradeço a Leandro, Hugo e Anônimo pela excelente discussão. Construir é sempre melhor (e mais difícil) do que criticar.

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    13. Anônimo

      Quanto ao sebo, hoje em dia não precisa morar em cidade grande, existe o site Estante Virtual e a da Traça Livraria e Sebo, de ambos sou cliente.

      O primeiro, o da Estante Virtual, gerencia mais de mil sebos de todo o Brasil, eles procuram sempre acompanhar cada entrega, e depois pedem para qualificar o sebo. Até hoje recebi só um livro com problemas e fui ressarcida. Acredito que já compramos mais de 500 comprados de matemática, literatura infanto-juvenil, física, filosofia, historia, pedagogia etc.. Tem como comparar diferentes preços, ano de publicação, estado do livro...

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  8. Adonai

    Quanto ao tema Filosofia, teria como pedir para um filósofo escrever aqui uma postagem sobre o conhecimento, ressaltando diferenças entre as acepções relativas aos termos "episteme", "noesis" e "gnosis"????

    Sugiro isto porque todos estes termos significam "conhecimento" em algum contexto. Entretanto, a diferenciação de contextos apontaria para o uso de um ou outro termo.......

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    1. Leandro

      Pensarei a respeito do que pede. No entanto, preciso ressaltar que evito publicação de postagens que tenham conteúdos usuais. Verei o que posso fazer.

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    2. Grato por considerar.

      Em minha época de estudante, nunca tive nenhuma disciplina de Filosofia, nem mesmo na faculdade.

      Meu interesse por Filosofia surgiu de conversas que tive com um capelão do Hospital Cajuru, que mostrou-me como a visão que eu mesmo tinha sobre Ciência era ingênua e bastante limitada. Na época ele me falou sobre a importância de estudos sérios em Filosofia e como esta poderia servir de suporte para conhecimentos bastante distintos como Ciências e Teologia, por exemplo.

      Desde então me interessei por Filosofia, porém nunca tive um estudo formal sobre esta, de modo que o pouco que sei infelizmente é fragmentado e pouco preciso.

      E se for para aprender algo, que seja no rumo certo, para evitar desserviços.

      Daí meu interesse por uma postagem específica sobre o tema "conhecimento" de um modo geral.

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  9. Esses dois textos abordam o tema do tópico:

    a) http://universoracionalista.org/os-fisicos-devem-parar-de-dizer-bobagens-sobre-filosofia/

    b) http://universoracionalista.org/por-que-falar-de-filosofos/

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    1. Enfant Terrible

      Excelentes recomendações! Divulgarei na página Facebook do blog. Grato.

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  10. Sempre me perguntei se a preocupação excessiva com reputação acovardasse os filósofos...Talvez por isso os "pré-socráticos" tenham ido tão longe numa época dominada por misticismo, não tinham esse tipo de preocupação...
    Talvez esse questionamento não tenha fundamento, seja fruto de mera impressão pessoal,já que cresci num meio onde questionar a existência de Deus é considerada uma bobagem sem tamanho, só um idiota duvidaria de algo tão óbvio.

    Sebastião

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