quarta-feira, 28 de março de 2012
Sem Fronteiras?
Por que publico as ideias aqui presentes na forma de postagens em blog e não em veículos da mídia impressa? São duas as justificativas:
1) Blogs têm alcance maior e mais democrático, em comparação com a maioria dos veículos impressos.
2) É praticamente impossível publicar sobre certos temas na mídia impressa.
Quando a revista Sem Fronteiras da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do Paraná me convidou para escrever um artigo para o segundo volume daquele periódico, redigi um texto de crítica ao sistema de ensino. Isso porque encontro sérias dificuldades para conceber ciência e tecnologia de qualidade sem educação competitiva diante da realidade internacional. Como resposta, uma editora assistente da revista me disse que aquele conteúdo poderia causar problemas de natureza política, os quais deveriam ser evitados.
Não culpo a editora assistente, pois imagino que o emprego dela depende de boas relações com sua chefia imediata, a qual também precisa garantir sua posição diante de superiores. Mas o fato é que há um medo inerente de conflitos entre diferentes setores da vida pública. Além disso, não há interesse de governos em expor suas graves falhas ao público. Ou seja, existem fronteiras na revista Sem Fronteiras.
Fiquei chateado com a decisão do corpo editorial, mas acabei me comportando como um bom e comportado escravo do sistema. Escrevi outro artigo, de crítica aos filósofos da ciência em geral, os quais têm se afastado cada vez mais dos avanços científicos contemporâneos. Tal texto não causou preocupação e foi até citado no editorial não assinado daquela publicação. Ou seja, apontar as mazelas da educação não pode. Mas criticar filósofos, isso sim vale a pena. Afinal, quem se importa com filósofos?
Meu texto original estava em melhor sintonia com o público-alvo da revista do que um artigo sobre o incipiente papel dos filósofos de hoje no desenvolvimento da ciência. Mas isso não parece ser importante para os editores da Sem Fronteiras. Será este episódio um sintoma das políticas da SETI?
Este evento não foi um caso isolado. Pelo contrário, ele ilustra de forma emblemática a absoluta falta de auto-crítica em inúmeros setores da sociedade brasileira, com especial ênfase àqueles ligados à educação. E quando falo de educação, estou me referindo a todos os níveis, da pré-escola à pós-graduação, e aos setores público e privado.
O curioso é que professores criticam constantemente alunos, através de processos de avaliação que definem o futuro e até a auto-estima desses jovens. Mas quem critica os professores? E ainda que professores fossem institucionalmente criticados por discentes, qual seria o efeito prático disso? Docentes de universidades públicas não podem ser demitidos se suas aulas forem incompetentes. Mas alunos podem ser reprovados se suas provas demonstrarem suposta incompetência intelectual. Isso é justo?
No caso do ensino superior, vestibular também é um concurso público. Por que isso não garante a estabilidade para discentes de instituições públicas? Ou seja, uma vez que professores das instituições federais de ensino superior estão acima da crítica (por serem concursados), alunos aprovados por vestibular deveriam ter o mesmo tratamento. Em um ambiente onde todos os professores são brilhantes, não vejo motivo para não ver os alunos da mesma forma.
Quantos são os casos de docentes que ministram aulas sob o efeito de drogas e álcool? Conheço vários na UFPR e em outras universidades públicas. Quantos são os professores que cumprem as ementas em suas aulas? Garanto que não são todos. Quantos são os supostos mestres que realizam avaliações compatíveis com essas aulas? Testemunhei colegas que sentem um prazer orgástico em redigir questões de prova que não podem ser resolvidas a partir dos conteúdos abordados em aula. Quantos são os professores que não cometem erros graves durante a exposição da matéria? Em matemática, pouquíssimos. Até hoje, por exemplo, vejo o péssimo livro de Boldrini sendo usado em aulas de álgebra linear. Quantos que são assíduos? Bem, curiosamente não conheço um único docente da UFPR que tenha alguma falta registrada pela chefia de seu departamento. Quantos que cometem assédio moral ou sexual sobre os pupilos? Já vi vários processos internos de assédio. Mas nenhum deles resultou em penalidade alguma que pudesse causar preocupação sobre o professor. E que diferença faz colocar essas perguntas, se nenhum desses docentes pode ser demitido por incompetência, sistemáticas faltas, assédio ou mesmo agressão? Sim. Casos de agressão verbal não são raros na UFPR. Em suma, professores das universidades federais são intocáveis. Mas ninguém discute seriamente a respeito do tema.
Reconheço que há muitos docentes de universidades federais genuinamente dedicados e competentes, ainda que tenham plena consciência da garantia da estabilidade. Mas eles fazem isso por escolha, por amor à profissão. Muitos deles chegam a afirmar que têm o melhor emprego do mundo, mas o pior trabalho. Já os demais se acomodaram com a estabilidade que até hoje é veementemente defendida por execráveis associações de professores e sindicatos.
Essa maldita estabilidade de emprego para todos os professores concursados das instituições federais de ensino superior tem que acabar de uma vez por todas. Isso necessariamente produz ambientes decadentes, doentes, medíocres, amargos e retrógrados. Por que se critica apenas a mamata dos parlamentares de Brasília? E quanto aos funcionários públicos em geral? Especialmente professores universitários deveriam ser exemplos de conduta íntegra. No entanto, a pornográfica estabilidade de emprego entre docentes das instituições federais de ensino superior vai em absoluto desencontro ao progresso. Ou seja, essa estabilidade é anti-patriótica.
Brasil é brasa. Chega disso! Precisamos brilhar como chama e não como uma eterna promessa de país do futuro.
Por isso faço um apelo aos leitores deste blog. Criem veículos próprios de divulgação e crítica às mazelas de nossa educação e ciência. Precisamos unir esforços para construir um país melhor. Nada mudará se poucos se manifestarem. Se estes veículos forem concebidos por alunos, professores e pais e amigos de estudantes e docentes, poderemos efetivamente ser ouvidos em algum momento.
Se não querem criar veículos, divulguem este blog! Sugiram temas! Participem com comentários!
Faço este apelo como efetiva crítica à maioria dos leitores. Afinal, ontem este blog teve 673 visualizações. E ainda assim pouquíssimos votaram na enquete. A enquete no topo da página e sua respectiva postagem fazem parte de um importante projeto. Nada aqui é gratuito.
Em postagem futura apresentarei sugestões de ações efetivas que professores e alunos possam executar, além da veiculação de denúncias e críticas.
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Professor,
ResponderExcluirConcordo plenamente com a idéia de que a estabilidade dos servidores públicos é algo a ser mudado. E isso não só potencializa atuação profissional passiva das autarquias ligadas ao ensino como também em toda a administração pública, inclusive nos outros dois poderes. As denúncias do professor encontram paralelos em qualquer instituição pública. Além de parlamentares e professores, temos os magistrados cuja conduta avocadora de benesses injustificadas é altamente questionável. Parece que os profissionais estatutários e estáveis querem compensações por atuarem junto ao poder público, uma vez que iniciativa privada é que detém os profissionais mais bem sucedidos financeiramente. Creio ser remota a chance de qualquer projeto de lei que aborde o assunto receba apoio no congresso. Serio como lidar com um vespeiro.
Saudações,
Lucas
Lucas
ExcluirPor que você acha que estou pedindo ajuda aos leitores? Em breve, como já mencionado, encaminharei outras sugestões, além de denúncias e críticas. Você pode escolher: nada faz e inevitavelmente afunda junto com o restante do país ou declara guerra contra os medíocres. Pode crer numa coisa: os funcionários públicos são minoria no âmbito da população brasileira.
Professor,
ResponderExcluirO Sr. fez referência ao livro do Boldrini. Lamentavelmente foi com esta obra que tive contato com Algebra Linear. Gostaria de pedir ao professor pelo menos duas boas referências de boa qualidade sobre AL para estudo autodidata.
Lucas
Lucas
ExcluirEu também tive meu primeiro contato com álgebra linear através do livro de Boldrini. Fui aprovado na disciplina sem ter a menor ideia do que trata essa área do conhecimento.
Uma excelente referência em português para iniciar os estudos de álgebra linear é a obra Espaços Vetoriais de Dimensão Finita, de Paul Halmos.
ADONAI, SEU TEXTO E SUA IMAGEM ME FIZERAM LEMBRAR DE OUTRO TEXTO QUE GOSTO DE CITAR:
ResponderExcluirO mundo
Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem
queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.
Eduardo Galeano
ESPERO QUE SEU FOGO POSSA ACENDER NOVOS FOGOS, E QUE CADA UM DE NÓS POSSA REPRODUZIR, ATÉ FAZER DO BRASIL UM VERDADEIRO BRASEIRO!!
Susan
ExcluirHistória curiosa. Mas imagine agora as pessoas que jamais acendem, a matéria escura da humanidade. Ninguém as vê, mas estão lá. E fogo sempre pode ser apagado.
VERDADE... Mais um cuidado que devemos ter... iluminar as trevas e cuidar para que nossa chama não seja apagada... a vantagem é que o fogo não diminui se dividido em outras velas...
ExcluirOlá professor. Gostei muito deste artigo e merece de fato ser divulgado. Como articulador da UBM, publiquei na íntegra o seu post. Veja o link
ResponderExcluirhttp://ubmatematica.blogspot.com.br/2012/03/sem-fronteiras.html
Att.
Prof. Paulo Sérgio
Articulador dos blogs Fatos Matemáticos e UBM
Professor Paulo Sérgio
ExcluirEste tipo de apoio é fundamental, ainda mais vindo de um site que se caracteriza como uma ideia sensacional: congregar e divulgar blogs de matemática. Sinto-me honrado.
Caro Adonai,
ResponderExcluirsou bastante contra o fim da estabilidade do servidor público. É-se preciso ter em mente várias coisas:
1º: apenas o servido público ESTATUTÁRIO (regido pela lei 8.112) é que ganha estabilidade. Quem é empregado público (ou seja, quem trabalha no Banco do Brasil, na Petrobrás, etc, que é regido pela CLT) NÃO GANHA ESTABILIDADE.
2º: o servidor público estatutário só fica estável APÓS 3 ANOS DE EFETIVO EXERCÍCIO(antes eram 2 anos), e passará pelo crivo de uma comissão avaliadora 4 meses antes do fim do estágio probatório, a qual avaliará sua produtividade, responsabilidade, capacidade de iniciativa, assiduidade etc.
3º: MESMO após estável, ele pode perder a estabilidade de 4 formas:
– Processo Administrativo Disciplinar com Ampla Defesa
– Excesso de Gastos (Lei de Resp. Fiscal)
– Sentença Judicial + Transitado em Julgado
– Avaliação Periódica de Desempenho
4º: o servidor público, caso demitido, NÃO RECEBE FGTS. A estabilidade é justamente a garantia que ele recebeu em troca desse direito.
5º: a estabilidade É IMPRESCINDÍVEL ao servidor público, e por um motivo importantíssimo: se o seu CHEFE te mandar fazer uma coisa ILEGAL, a ESTABILIDADE é o que permitirá ao servidor NÃO REALIZAR esse ato ilegal. Sem a estabilidade, o chefe corrupto diria simplesmente: "ou vc faz isso ou eu te mando embora". COM a estabilidade, o servidor pode dizer: "eu não vou fazer isso porque é ilegal".
6º: a estabilidade NÃO É um mal. É previsto o servidor público estatutário ser demitido por insuficiência de desempenho. É isso que a avaliação periódica busca detectar. Só que ela não está regulamentada. Esse é o problema, não a estabilidade.
Em vez de lutar pelo fim da estabilidade - a qual o funcionalismo público PRECISA - lute pela regulamentalização da Avaliação Periódica de Desempenho. Aí sim você estará contribuindo para a melhoria do setor público.
Enfant Terrible
ExcluirÉ incrível como ainda existem aqueles que usam esses velhos e ingênuos argumentos em favor da estabilidade do servidor público. Ouço isso desde garoto e você me conta como se fosse alguma novidade. É esse tipo de argumento, extremamente batido entre a maioria, que me faz pensar se realmente vale a pena insistir com um blog como este. A população daqui, acostumada a se beneficiar do desenvolvimento científico e tecnológico de outras nações, simplesmente não tem ideia do que é civilização. O que você não percebe é a realidade em nossas instituições públicas. Ou seja, não consegue compreender o conteúdo das últimas postagens. Não consegue perceber no que essa indecente estabilidade se transformou. Pode investir o quanto quiser em regulamentação da Avaliação Periódica de Desempenho. Jamais funcionará na prática, simplesmente porque o Brasil já está acomodado com sua pobre, local e medíocre realidade. O fim da estabilidade seria uma forma de exercer forte pressão para que a Justiça operasse decentemente. Mas isso jamais acontecerá, porque a própria Justiça é regida por um Poder Público de cargos estáveis.
Seu discurso é idêntico àqueles que ouço e leio na UFPR, vindos dos mesmos que rejeitaram o pedido de afastamento do casal de estatísticos que recentemente discuti aqui.
Entendo que você honestamente queira o melhor para o nosso país. Mas essa crença em regras e leis é absolutamente ingênua.
Professor,
ResponderExcluirSou contra o regime estatutário e apoio sua iniciativa. Tendo em vista que o professor mencionou conhecer instituições de outras nações, principalmente americanas, eu gostaria que o professor explicasse (se possível) como funciona o ingresso, a avaliação de desempenho em instituições de ensino do EUA por meio de uma comparação com o nosso patético sistema. Além disso, saberia o professor me dizer se há estabilidade em repartições públicas em outros países ?
Saudações,
Lucas
Lucas
ExcluirSua questão sobre ingresso em instituições de ensino superior nos países desenvolvidos é excelente. Mas prefiro responder na forma de postagem futura, pois a resposta é extensa. Apenas adianto uma diferença fundamental: enquanto no Brasil o jovem ingressa em um curso específico de uma dada universidade, nos EUA o estudante ingressa na universidade. A partir de lá ele define o que pretende estudar.
Com relação a funcionalismo público de outras nações, prefiro nada escrever sobre o tema. É assunto extremamente complexo e que demandaria estudos que não estou disposto a realizar. Mas o fato é que nos EUA inúmeros cargos públicos estratégicos são definidos por voto popular. E tais cargos não são garantidos por estabilidade.
Caro Adonai,
ResponderExcluirum texto que destaca a importância da estabilidade:
"A estabilidade é o instituto que garante e concretiza a imparcialidade do servidor público, vez que, mesmo sofrendo pressões dos interesses particulares ou quando for alvo destas forças privadas, terá ele a certeza de que não passará por retaliações ou ameaças de ser despojado de seu vínculo com a Administração Pública.
Desta forma, nota-se que, sem a estabilidade de seus agentes, a Administração Pública não realizaria seus propósitos e finalidades, pois, certamente estaria fadada à histeria dos desmandos de maus gestores e às perseguições dos servidores públicos.
Não se pode esquecer, por exemplo, da época em que cada vez que se iniciava a gestão de um novo Presidente da República, Governador ou Prefeito, estes, ao entrarem em exercício, tomavam como primeira medida a demissão em massa dos servidores da gestão sucedida e a imediata nomeação de seus aliados políticos.
Esta prática não se restringia ao Poder Executivo, sendo que se manifestava, em certa medida, também no Legislativo e Judiciário."
Fonte: http://jus.com.br/revista/texto/12218/acesso-a-cargos-e-carreiras-via-estabilidade-excepcional#ixzz1qbbvr59B
Então, meu caro Adonai, sem a estabilidade, aí é que o serviço público não andaria.
Aqueles que vetaram o afastamento do casal de estatísticos fingiram desconhecer a lei 8.112, que permitia o afastamento. O casal poderia ter recorrido a um nível administrativo superior ou entrado em contato com a Consultoria Jurídica que fatalmente teria revertido a situação, já que a motivação do ato não correspondia com a realidade. A Teoria dos Motivos Determinantes afirma que a motivação do ato determina sua validade. E quase todo ato precisa ser motivado, com exceção de atos discricionários. Mas se mesmo estes atos forem motivados, então a justificativa precisa ser válida. E a que deram para a rejeição não era.
Enfant Terrible
ExcluirRemeto-o à postagem de 31 de março de 2012.
Professor,
ResponderExcluirRelendo meu comentário vi que esqueci de mencionar que a pergunta que fiz se refere ao docente (seleção, ingresso e avaliação de desempenho dos docentes em instituições americanas).
Aguardarei pela referida postagem.
Saudações,
Lucas
Olá Prof. Adonai.
ResponderExcluirNeste post o sr. diz "Até hoje, por exemplo, vejo o péssimo livro de Boldrini sendo usado em aulas de álgebra linear". Eu gostaria de saber por qual motivo o referido livro é péssimo.
Que fique claro: eu acredito que é péssimo (não há dúvidas sobre a veracidade da sua afirmação envolvidas na minha pergunta). Gostaria de saber alguns motivos só para ter uma noção já que, na graduação, ele foi uma das referências do meu curso de álgebra linear. O que ele tem que o classifica como péssimo? A didática, os exemplos, as definições o conteúdo ou o quê?
AAnooniimoo
AAnooniimoo
ExcluirVocê não é o primeiro a demonstrar preocupação com esta questão. Então planejo escrever uma postagem especificamente sobre álgebra linear, criticado detalhadamente livros como o de Boldrini. Neste momento, porém, estou ocupado com minha primeira postagem feita em parceria. Só espero poder cumprir com os inúmeros compromissos de textos futuros que já assumi. Não são poucos.
Adonai, muito bom seu texto. Postei integralmente no meu blog, Hipocrisia Acadêmica e incluí um link para seu blog no meu. Parabéns pela coragem em expor os bastidores reais das universidades!
ResponderExcluirSergio
ExcluirEu não conhecia seu blog. Gostei muito e acabo de incluí-lo na minha lista de links recomendáveis. São poucos os que conseguem criticar a vida acadêmica brasileira com sobriedade. E você demonstra ser um desses poucos.
Olá, professor!
ResponderExcluirLendo sua postagem deduzi que ainda estamos vivendo sob censura. Pelo menos foi o que pensei ao ver que a revista não publicou seu artigo para não "causar problemas de natureza política".
Mas lendo alguns comentários me lembrei que quase sempre que quiz conversar sobre assuntos polêmicos ou que criticam o sistema (de governo, da instituição que citei no momento, religioso, da cultura da nossa sociedade, etc.) fui interrompida no meio da frase ou simplesmente foi desviado o assunto. Tenho a impressão de que há um certo preconceito cravado na mente das pessoas afirmando que "tampar o sol com a peneira" é o mesmo que ser patriota. Aliás, a poucos dias atrás, estava comentando com meu namorado que ao ler, na internet, a opinião de brasileiros sobre o prêmio do filme "Quem Quer ser Milionário?", vários exaltaram o fato dos EUA "darem" um prêmio a um filme não-americano para que possam perceber que não são "os únicos bons", quase com essas palavras; mas quando falamos que devemos nos espelhar em sistemas de outros países para mudarmos, ou seja, melhorarmos o nosso sistema, muitos destes brasileiros criticam negativamente nossas palavras e até usam argumentos incoerentes para reafirmar a negação. Isso é o que acreditam ser patriotismo?
Julgo, então, que a censura não está apenas na mídia. Ela se revela também na nossa própria educação, a qual afirma que tudo aquilo que se mostra contrário ao que fomos ensinados a obedecer deve ser evitado, como se fosse um suspeito amedrontador andando na nossa direção, no mesmo lado da calçada, à noite, afirmando que é melhor atravessarmos a rua.
Elisa
ExcluirVocê conseguiu compreender rapidamente alguns dos pontos mais centrais que venho defendendo há anos: sim, ainda existe censura (ela só está brilhantemente velada); sim, as noções de patriotismo em nosso país são incrivelmente distorcidas. Apenas lamento que a maioria esmagadora dos professores e alunos de nossas universidades é absolutamente cega e ingênua com relação aos problemas reais de nosso país.
O problema no discurso deste professor é o fato de ele desconsiderar que a docência não se conquista de uma hora pra outra em um concurso. Quando se passa em um concurso, todo docente deve ser avaliado por três anos para se efetivar, o chamado estágio probatório. Sabemos que quando se ensina se aprende também e na pŕatica docente é que aprendemos e aperfeiçoamos nossa didática. Isso faz parte do processo, talvez seja um póuco prejudicial aos estudantes, mas do meu ponto de vista isso é inevitável e faz parte da construção da educação de qualidade, se tem professores que não se esforçam para aperfeiçoar sua didática o problema é da falta de fiscalização do departamento ou da reitoria. Além disso, para um professor adjunto IV é muito fácilo falar, pois ele tem tanta experiência na vida acadêmica que certamente ele não é alvo de críticas ou de avaliação. Agora ele quer que todo docente tenha o mesmo perfil dele? Isso é impossível! A menos de 5 anos atrás os docentes nem eram avaliados e progrediam na carreira sem publicação ou projetos de pesquisa, como é o caso dele que deve ter mais de 10 anos de docência em ensino superior. Somente hoje que essa política está vigorando um pouco mais em muitas universidades. Aposto que o Prof. Adonai nunca foi avaliado! Eu acabei de ingressar na docência no ensino superior e sou constantemente avaliado por estudantes e pelo departamento, e já tive uma avaliação oficial por parte do departamento.
ResponderExcluirEdson Oliver
ExcluirAté entendo a sua mentalidade. Simplesmente está acostumado com essa realidade brasileira de ausência de meritocracia. Mas seria interessante descobrir quantos dos nossos professores universitários sobreviveriam em uma realidade competitiva como a norte-americana, a européia ou a asiática.
Sua aposta de que nunca fui avaliado é muito mal qualificada. Permita-me ajudá-lo. É claro que já fui avaliado, na época em que eu era estudante! Mas não passo por qualquer avaliação contínua enquanto professor, assim como o mesmo ocorre com todos os demais docentes das instituições federais de ensino superior. Quem quiser me avaliar, sinta-se livre.
Extraordinário Blog Professor Adonai. Parabéns pela iniciativa e coragem.
ResponderExcluirImposturas e mais imposturas. Segue endereço com um caso recente na área da Física (SBF: Sociedade Brasileira de Física) (texto na integra):
"Carta de demissão Profa. Maria Cristina Batoni Abdalla Ribeiro
São Paulo, 28 de Outubro de 2012
Aos membros da diretoria da SBF e da Comissão de Gênero
Em abril próximo passado a SBF incumbiu a Comissão de Gênero a indicar uma física brasileira para o premio Loreal. Na época eu estava em licença premio por três meses na França para o nascimento do meu neto, depois iria à Oxford, Inglaterra, festejar a colação de grau de doutorado (adiada por 6 anos pois ele havia defendido o doutorado em 2006) de meu filho Filipe Batoni Abdalla, atualmente Prof. permanente da UCL, Londres. A ideia era comemorar em grande estilo a carreira do Filipe.
A Comissão trocou e-mails, reuniu-se por Skype e dentre as físicas classificadas pelo CNPq como 1A indicou por unanimidade a competentíssima Profa. Alinka Lépine-Szily do IFUSP. Todos da Comissão sabiam que grande parte do tempo eu estaria sem comunicação. Mesmo assim eu e a Profa. Renata Zukanovich Funchal do IFUSP, que na época estava e ainda esta em Paris, produzimos boa parte do dossiê necessário e enviamos para a Comissão. Confiei que as pessoas no Brasil providenciassem o dossiê completo da indicada, incluindo as cartas de apoio. Recebi e-mail falando sobre as cartas de apoio um dia antes do deadline sendo que, de fato, o li pelo Iphone em um lugarejo na estrada que tinha WIFI apenas no dia seguinte.
Recentemente fui surpreendida pelo fato de que isto não aconteceu, ou seja, fomos ligeiros com a Prof. Alinka que deve estar absolutamente decepcionada conosco. Melhor seria não tê-la indicado. Seu dossiê fora encaminhado incompleto.
Fica a imagem da Comissão ainda mais prejudicada uma vez que quem recebeu o premio Loreal (concorrendo por fora) foi a mesma pessoa que encaminhou o dossiê incompleto à SBF, ou seja, uma pesquisadora 1B. Sinto-me envergonhada pelo que passei. Peço aqui minhas desculpas publicamente à Profa. Alinka. Como não sei lidar com situações tão constrangedoras e comprometedoras estou me desligando da Comissão.
Peço à SBF ampla divulgação desta carta assim como esclarecimentos aos sócios.
Atenciosamente
Maria Cristina Batoni Abdalla Ribeiro "
Fonte:
- Carta de demissão Profa. Maria Cristina Batoni Abdalla Ribeiro
http://www.sbf1.sbfisica.org.br/boletim1/msg290.htm
Extraordinário Blog professor Adonai. Parabéns pela iniciativa e coragem.
ResponderExcluirImposturas e mais imposturas, são muitas no mundo acadêmico.
Segue um texto público da SFB (Sociedade Brasileira de Física) de um caso bem recente.
Texto na íntegra:
"Carta de demissão Profa. Maria Cristina Batoni Abdalla Ribeiro
São Paulo, 28 de Outubro de 2012
Aos membros da diretoria da SBF e da Comissão de Gênero
Em abril próximo passado a SBF incumbiu a Comissão de Gênero a indicar uma física brasileira para o premio Loreal. Na época eu estava em licença premio por três meses na França para o nascimento do meu neto, depois iria à Oxford, Inglaterra, festejar a colação de grau de doutorado (adiada por 6 anos pois ele havia defendido o doutorado em 2006) de meu filho Filipe Batoni Abdalla, atualmente Prof. permanente da UCL, Londres. A ideia era comemorar em grande estilo a carreira do Filipe.
A Comissão trocou e-mails, reuniu-se por Skype e dentre as físicas classificadas pelo CNPq como 1A indicou por unanimidade a competentíssima Profa. Alinka Lépine-Szily do IFUSP. Todos da Comissão sabiam que grande parte do tempo eu estaria sem comunicação. Mesmo assim eu e a Profa. Renata Zukanovich Funchal do IFUSP, que na época estava e ainda esta em Paris, produzimos boa parte do dossiê necessário e enviamos para a Comissão. Confiei que as pessoas no Brasil providenciassem o dossiê completo da indicada, incluindo as cartas de apoio. Recebi e-mail falando sobre as cartas de apoio um dia antes do deadline sendo que, de fato, o li pelo Iphone em um lugarejo na estrada que tinha WIFI apenas no dia seguinte.
Recentemente fui surpreendida pelo fato de que isto não aconteceu, ou seja, fomos ligeiros com a Prof. Alinka que deve estar absolutamente decepcionada conosco. Melhor seria não tê-la indicado. Seu dossiê fora encaminhado incompleto.
Fica a imagem da Comissão ainda mais prejudicada uma vez que quem recebeu o premio Loreal (concorrendo por fora) foi a mesma pessoa que encaminhou o dossiê incompleto à SBF, ou seja, uma pesquisadora 1B. Sinto-me envergonhada pelo que passei. Peço aqui minhas desculpas publicamente à Profa. Alinka. Como não sei lidar com situações tão constrangedoras e comprometedoras estou me desligando da Comissão.
Peço à SBF ampla divulgação desta carta assim como esclarecimentos aos sócios.
Atenciosamente
Maria Cristina Batoni Abdalla Ribeiro"
Fonte:
Carta de demissão Profa. Maria Cristina Batoni Abdalla Ribeiro
http://www.sbf1.sbfisica.org.br/boletim1/msg290.htm