terça-feira, 4 de maio de 2010

Carta Aberta aos Alunos do Curso de Física da UFPR



Apesar de as críticas abaixo serem específicas a um curso, elas certamente se aplicam a inúmeros outros, de diversas instituições brasileiras de ensino superior.


Leciono para o Curso de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR) há quase duas décadas. E tenho observado uma série de problemas graves, tanto na formação matemática de nossos alunos, quanto em sua cultura científica, e até mesmo na estrutura do próprio curso. Usualmente questões dessa natureza são discutidas no âmbito do Colegiado. No entanto, como há uma tradicional omissão dos representantes discentes deste órgão e uma falta de sensibilidade tanto de discentes quanto docentes, coloco aqui uma série de impressões pessoais que talvez possam ajudar a alavancar um futuro melhor. Meu objetivo não é esgotar os temas abordados, mas tentar iniciar uma discussão construtiva.


1) Falta, à maioria dos envolvidos, espírito de independência. Física é ciência. Ciência exige independência de pensamento. Se alunos ou professores se escravizam a definições e teoremas de livros-texto, sem sequer saberem qual é a diferença entre um teorema e uma definição, passam a ser meros repetidores de conteúdos comumente equivocados, irresponsáveis. Nossos alunos têm que se acostumar à ideia de que a física deve ser estudada criticamente e não dogmaticamente como forma ditada a partir das palavras de algum autor ou professor. Nossos alunos devem passar por um processo de formação que os permita não apenas fazer contas e experimentos, mas também avaliar criticamente tais contas e experimentos. Exemplo 1: o aluno que acredita que seno de um ângulo agudo, por definição, é a razão entre um cateto de um triângulo retângulo e sua hipotenusa (ou, equivalentemente, uma determinada projeção no círculo trigonométrico), demonstra preocupante falta de senso crítico. Basta perguntar a esse aluno, como se calcula o seno de um radiano a partir dessa alegada definição, e ficará patente que ele jamais pensou sobre a questão. Em geral, tais alunos sentem-se perdidos, sem saberem o quê fazer, quando colocados diante desse problema. Exemplo 2: O aluno que acredita que a Lei da Gravitação Universal estabelece que os corpos se atraem na razão inversa do quadrado da distância que os separa, também demonstra lamentável falta de senso crítico. A Lei da Gravitação Universal refere-se a um princípio de ação a distância. Portanto, não há meio material entre os corpos, que justifique qualquer afirmação de que os corpos efetivamente se atraem. Uma qualificação mais adequada estabelece que tudo se passa como se os corpos se atraíssem. Mas afirmar que efetivamente se atraem é uma afronta ao tirocínio crítico. Se físicos do século 19 discutiram exaustivamente essa questão, por que ainda se insiste nisso nos dias de hoje? Não se nutre espírito de independência de pensamento sem conhecimento de história, fundamentos e filosofia da física.

2) Falta, à maioria dos envolvidos, conteúdo matemático básico. Não são raros aqueles que desconhecem matemática do ensino médio e fundamental. Não sabem o que são conjuntos, funções, números reais, números racionais, funções circulares, funções logarítmicas, probabilidades, a diferença entre equações e funções etc. Na verdade, muitos (muitos mesmo!) sequer sabem somar. Se uma pessoa só sabe somar em base decimal, apenas domina um procedimento mecânico sem entender o quê de fato está fazendo. Saber somar exige no mínimo o domínio do conceito de soma, independente da base na qual se representa os números sob operação. Ou seja, não se pode confundir conceito com notação. E a matemática básica que se enfatiza e pratica é sustentada em vagas lembranças de procedimentos aplicados a meras notações, sem qualquer noção a respeito dos conceitos envolvidos.

3) Falta, à maioria dos alunos, motivação e, conseqüentemente, cultura. Nossos discentes não conhecem revistas como Scientific American, Scientific American Brasil, Nature, Pesquisa FAPESP, Physics Today, Notices of the American Mathematical Society, entre outras publicações não-técnicas. Também desconhecem autores consagrados na divulgação das ciências como Richard Feynman, Murray Guell-Mann, Carl Sagan, Albert Einstein, Henri Poincaré, Werner Heisenberg, Ian Stewart, Niels Bohr, Richard Dawkins, entre outros. Além disso, nossos alunos freqüentemente estudam apenas quando há avaliação agendada. Falta a cultura do trabalho constante, algo fácil para o indivíduo motivado.

4) Falta, ao Curso de Física, Memória. Qual o destino de nossos egressos? Eles exercem atividades profissionais compatíveis com a formação? São felizes com o que fazem? Pessoalmente, acompanho o destino profissional e acadêmico de diversos ex-alunos. E posso garantir que muitos deles enfrentam grandes dificuldades profissionais, mesmo entre os mais talentosos. Se a instituição não oferece uma radiografia daqueles que já se formaram, como nossos atuais estudantes podem avaliar o mercado que os aguarda? É imperativa a criação de uma associação de alumni. Um curso superior não se faz pensando-se apenas na colação de grau. A universidade deve estender seus braços para o passado, para que tenha condições de evitar erros no futuro. O fato de nossos calouros imediatamente se jogarem à lama, como forma de celebração pelo ingresso na UFPR, não deve se caracterizar como antecipação de cena sobre seus futuros profissionais.

5) Falta, ao Curso de Física, consistência nos ensinamentos de sala de aula. Se professores do Departamento de Física ensinam a modelar fenômenos físicos a partir de infinitésimos, estão em franco desacordo com o cálculo diferencial e integral lecionado pelo Departamento de Matemática. No cálculo diferencial e integral usual não há infinitésimos. Infinitésimos são um conceito que se encontra muito bem fundamentado na análise não-standard, na qual derivadas e integrais não são definidas a partir de limites. Ou seja: ou aqueles que lecionam física adaptam seu discurso para o cálculo diferencial e integral lecionado pelo Departamento de Matemática, ou o Curso de Física solicita ao DMAT para que o cálculo diferencial e integral seja adaptado para uma abordagem via análise não-standard. Essa falta de consistência apenas alimenta a visão de arbitrariedade que critico no item 1. E tal arbitrariedade está em desacordo com o espírito crítico que sustenta a atividade científica. Outra inconsistência é a insistente afirmação de que vetores são entes ou trecos que têm módulo, direção e sentido. Alguns ainda afirmam que vetores têm também unidade, algo mais difícil de entender. O tal do módulo (ou norma) somente existe nos espaços vetoriais normados ou munidos de produto interno. Não se pode associar a todo e qualquer vetor uma norma ou módulo. Não é assim que se define vetores. Algo análogo se aplica às tais “direção” e “sentido”. Já a “unidade” é falta de qualificação mesmo. Vetores são elementos de espaços vetoriais, os quais são estruturas matemáticas definidas axiomaticamente. Mesmo em física, o discurso do módulo-direção-sentido não se mostra coerente. No caso da mecânica quântica, por exemplo, o formalismo canônico se faz via casos especiais de espaços de Hilbert, os quais são espaços vetoriais complexos de funções. Qual é a direção e o sentido de uma função-de-onda que descreve o estado de um sistema quântico? Qual o significado físico disso? Tais considerações são usualmente feitas?

6) Falta, ao Curso de Física, consistência entre a ciência lecionada e a prática de sala de aula. Tema obrigatório para qualquer físico é a teoria dos erros, a qual estabelece bases metodológicas e epistemológicas para processos de mensuração. No entanto, quando um docente avalia um aluno, em geral ignora o fato de que tal processo de avaliação é também um processo de medição; medição de conhecimento. Isso se reflete na prática da reprovação por décimos de pontos. Físicos, mais do que qualquer um, deveriam determinar a margem de erro em suas avaliações. Se não o fazem e reprovam alunos sem o uso desse fundamental critério, estão simplesmente dizendo que ciência é algo bonito no papel, mas não realizável na prática. Isso apenas estimula uma visão idealista e dogmática que acaba por se afastar da atividade científica.

7) Falta formação matemática no Curso de Física. Quatro horas semanais de cálculo é pouco. Na verdade, é indecentemente pouco. Não há a possibilidade de os alunos amadurecerem ideias. Também não é possível demonstrar uma série de teoremas, por conta do pouco tempo disponível. No que se refere à álgebra linear (que os discentes carinhosa, mas equivocadamente, chamam de álgebra), a Coordenação deve exigir pelo menos o domínio do teorema espectral, tão fundamental em mecânica quântica. Para isso, uma carga horária maior também se faz necessária. Já o cálculo numérico deve contemplar métodos de integração que se referem a soluções aproximadas de equações diferenciais, algo que na prática não acontece. Não acredito que exista algum físico que discorde dessa necessidade. Mas a grande surpresa na formação matemática dos alunos do Curso de Física é a falta de uma disciplina obrigatória sobre teoria de grupos. Eu gostaria de saber como é possível uma visão abrangente e madura sobre física teórica, sem o reconhecimento do emprego de teoria de grupos. Este tópico não deveria ser optativo, mas obrigatório. Afinal, como comparar os princípios de invariância de teorias relativísticas (como o eletromagnetismo) com as não-relativísticas (como a mecânica clássica)? A base de tapa?

Os temas brevemente tratados acima são por demais extensos para serem discutidos em um só documento por uma só pessoa. Por isso espero suscitar a necessidade de discussões sérias para o melhoramento deste curso, cuja taxa de evasão já se tornou uma tradição que não se questiona mais. No entanto, jamais fez parte do espírito científico a credibilidade ao argumento da tradição. Citando Dawkins, recuso-me a aceitar argumentos sustentados na tradição, autoridade e revelação. Se aceitamos a tradição da reprovação em massa, não estamos adotando espírito científico. Se aceitamos a autoridade daquele que impõe sua formação como argumento, não estamos adotando espírito científico. Se aceitamos a revelação de ideias novas, sem bases diagnósticas e racionais, certamente não merecemos ser chamados de universitários.

26 comentários:

  1. Adriano de Castro Benatto Paul7 de maio de 2010 às 11:24

    Bom dia Prof. Meu comentario é sobre outro assunto na verdade. Para saciar sua curiosidade sobre a beatificação de Faá Di Bruno, transcrevo parte do que consta na Enciclopedia Catolica:

    He founded the Society of St. Zita for maids and domestic servants, later expanding it to include unmarried mothers, among others. He helped establish hostels for the elderly and poor. He even oversaw the construction of a church in Turin that was dedicated to the memory of Italian soldiers who had lost their lives in the struggle over the unification of Italy.

    Wishing to broaden and deepen his commitment to the poor, Francis, then well into adulthood, studied for the priesthood. But first he had to obtain the support of Pope Pius IX to counteract the opposition to his own archbishop's difficulty with late vocations. Francis was ordained at the age of 51.

    As a priest, he continued his good works, sharing his inheritance as well as his energy. He established yet another hostel, this time for prostitutes. He died in Turin on March 27, 1888, and was beatified 100 years later.

    Mais em:
    http://www.americancatholic.org/Features/Saints/saint.aspx?id=1335

    Bosco was made a Saint on 1 April 1934. Already by this time there was a movement to canonise Faà di Bruno and in 1955 the Sacred Congregation of Rites officially accepted the claim for Faà di Bruno to be canonised. Faà di Bruno was declared a Saint by Pope John Paul II in St. Peter's Square in Rome on 25 September 1988.

    http://www-groups.dcs.st-and.ac.uk/~history/Biographies/Faa_di_Bruno.html

    Adriano Paul

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  2. Muito interessante os seus argumentos expostos de uma forma crítica e com muita sabedoria.

    Acredito que o primeiro passo para a mudança é perceber que o estado atual precisa de mudança. Este é um tema delicado onde a razão nem sempre reina, por isso, desejo-lhe sucesso. Aliás, com toda sua experiência, que tal escrever um livro?

    Gostei também do blog. Parabéns!

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  3. De fato já escrevi um livro sobre temas correlatos. Estou apenas aguardando o momento adequado para publicá-lo. Ele faz parte de um projeto muito maior que, se tudo der certo, deve ter uma certa repercussão dentro de dois ou três anos. Só espero não estar sonhando de forma exagerada ou esquizofrênica.

    Agradeço o apoio.

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  4. Que triste... Mas é fato... Não discordo em nenhum ponto... E o pior é que eu tenho a impressão que vai piorar ainda mais.

    Legal seu texto professor!
    Eu fui uma aluna ciente de que o meu ensino recebido era fraco...

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  5. Concordo. O conceitos relacionados ao Ensino devem ser revisados. Tanto o Básico quanto o Superior.
    Acredito que, assim como o Curso de Física da UFPR, muitos outros deixam a desejar.
    Sei também que nós, alunos do curso de Física, nem sempre fazemos nossa parte. Assim como os professores, tanto do nosso departamento como de todos os outros departamentos, que lecionam no nosso curso.
    Mas o grande problema é que isso vem da base do Ensino, da pré-escola, da má formação de professores do ensino básico, da falta de motivação pela parte dos pais, entre outros problemas. Me parece que essa carência é gerada por vários fatores.
    Meu ensino médio, principalmente, foi uma porcaria. Sempre muito fácil e chato. Inclusive matemática e física. (Até hoje eu me pergunto como vim parar aqui...)
    Quando entrei no Curso não uma tinha base matemática sólida, nem nas coisas mais simples. E hoje percebo que não sei praticamente nada de muitas disciplinas que já cursei, por erro meu, mas também por falta do professor. A carga horária é pequena, a ementa grande, o acumulo de matérias... acabamos sempre tendendo a um lado, e deixando de lado matérias que são mais 'fáceis' ou 'menos importantes'.

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  6. Oi...

    Devemos tomar cuidado para não transformar esse discurso todo em justificativa para jogar a toalha. Tenhamos em mente que, por mais problemas que existam, há como usar o nosso sistema de ensino para alavancar carreiras brilhantes. Não há como ignorar os exemplos de Cesar Lattes, Newton da Costa, Celso Grebogi, Newton Freire Maia, entre tantos outros. Em breve postarei algo a respeito disso.

    Abraços

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  7. Adonai,

    Embora não tenha minha formação em Física, conhecendo-o como meu ex-professor de Cálculo, só posso fazer cumprimentá-lo pela brilhante análise. Hoje, distante do curso de física, entendo com singular clareza o que você tão bem colocou no texto.

    forte abraço

    Alan Carlos Ghedini
    Professor e Historiador

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  8. Grande Alan Guedini

    É claro que gostei de seu texto acima e agradeço. Mas o que mais apreciei é saber que você é hoje historiador e professor. É incrível como o tempo passa. Lembro quando você ainda cursava História na UFSC. E lembro também que você foi um dos alunos expoentes da melhor turma que tive até hoje na UFPR. Se a Física não saiu ganhando com sua atuação profissional, que pelo menos a História mostre que você seguiu o caminho certo.

    Grande abraço

    Adonai

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  9. Salve, Adonai!

    Grato pelas palavras! :) Bem, de fato o tempo não passa, voa. Aliás, o tempo é uma constante na minha vida, afinal, se antes o estudava do plano físico, agora o trabalho dentro da historiografia.

    Também sinto saudades daquela turma que, realmente, foi memorável. Havia algo de especial, uma visão crítica e mesmo uma decência de atitude entre os membros daquele grupo que, certamente, vale ser lembrado.

    grande abraço

    Alan.

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  10. Professor,

    Me sinto muito triste em perceber que você tem toda a razão em seu texto, e que infelizmente faço parte da massa que tem as características citadas no texto. Todos os dias percebo que tenho um atraso imenso do conhecimento e raciocinio básico necessário para me tornar um estudante médiano, bem como tentar ser um futuro profissional de mérito.
    A falta de liberdade de raciocínio é uma constante e faz parte da maioria das cabeças dentro do curso de física. Todo mundo sabe leis e teoremas físicos de cor, mas aplicação prática...
    Estou amando acompanhar seu blog, e sinceramente está me fazendo rever meus conceitos sobre como estudar física. Não fui sua aluna, conheço-o apenas de "ouvir falar", tanto positivo quanto negativamente, mas acredito que suas aulas seriam uma aventura para meu cérebro lerdo.
    Obrigada.

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  11. Tatiana

    Seja muito bem-vinda neste fórum. Se serve de estímulo, das próximas três postagens, duas serão especificamente sobre física. Já estão escritas. Mas não sei ainda quando as colocarei por aqui, pois estou escrevendo outras para veiculação futura.

    Com relação ao seu alegado atraso de conhecimento e raciocínio, não acho que você seja a pessoa mais adequada para julgar isso. De qualquer forma sua postura é muito mais sensata (racionalmente falando) do que a convicção de que sabe alguma coisa relevante (como vejo muito por aí).

    Se seu raciocínio é lento isso não é obstáculo grave. David Hilbert, o maior matemático de seu tempo, era muito lento para aprender. E pouco conhecimento também não é problema, pois isso pode ser resolvido com estratégia adequada. O que realmente interessa é paixão. Se você realmente é apaixonada por física, então está no curso certo. Conhecimento pode ser adquirido, mas paixão não.

    Neste próximo semestre devo lecionar para duas turmas do Curso de Física. Se quiser conversar durante o período letivo, está convidada. Seria um prazer dar sugestões de encaminhamentos para o seu futuro profissional.

    Apesar do ensino de ciências exatas na UFPR deixar muito a desejar, ainda consegue funcionar como ponte para alavancar carreiras ótimas.

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    1. VERDADE!! "Conhecimento pode ser adquirido, mas paixão não." Lerdeza também faz parte de meu raciocínio.. ;)

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  12. Professor,

    Sem dúvida um texto cheio de lucidez, sabedoria e verdades.

    Sou aluno do departamento de Física da UFC, curso licenciatura a noite, devido ao trabalho, mas pretendo dar um jeito de continuar os estudos e chegar ao doutorado seguindo o caminho da pesquisa. Apesar dos 37 anos que tenho, tenho uma grande paixão pela pesquisa e tudo que se refere a Física e a Matemática. A nossa realidade econômica complica o caminho, mas vamos que vamos.

    Os professores do departamento são bem engajados, mas sinto em alguns uma falta de incentivo no entendimento e solidificação dos conceitos. Muitos dos alunos que entram, veem de escolas focadas em ensino para o vestibular, IME, ITA e afins. Eu brinco com alguns mais próximos que eles tem que deixar de ser apenas meros resolvedores de questões, rs.

    Um forte abraço e continue com esse excelente blog.

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  13. Elissandro

    Agradeço pelo fundamental apoio. Justamente por você ser mais velho, acaba percebendo uma graduação com mais seriedade. Uma pena que tal maturidade seja tão rara entre jovens.

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  14. Leciono para o Curso de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR) há quase duas décadas. E tenho observado uma série de problemas graves, tanto na formação matemática de nossos alunos, quanto em sua cultura científica, e até mesmo na estrutura do próprio curso.

    GRANDE PROFESSOR ADONAI, COM TODO RESPEITO PELO SEU IMENSO CONHECIMENTO EM MATEMÁTICA, FAÇO ALGUMAS HUMILDES CONSIDERAÇÕES:

    SSS HÁ PELO MENOS UMA DÉCADA, UM PROFESSOR UNIVERSITÁRIO TIVESSE OBSERVADO UMA SÉRIE DE PROBLEMAS GRAVES E FEITO UMA MOBILIZAÇÃO COM OS DOCENTES DE MATEMÁTICA E FÍSICA, SECRETARIA DA EDUCAÇÃO, ÓRGÃOS E PROFISSIONAIS RESPONSÁVEIS, PODERIAM TER MUDADO O CONTEÚDO DO ENSINO MÉDIO PARA ACESSO AO SUPERIOR. CERTAMENTE HOJE TERÍAMOS ALUNOS MAIS PREPARADOS PARA DESENVOLVER O CONTEÚDO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE FÍSICA E OUTRAS. NÃO BASTA OBSERVAR, É PRECISO AGIR.
    ABRAÇO..AA

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. AA

      Já chamei a atenção pessoalmente para os problemas apontados, inúmeras vezes. Fui um dos nomes indicados em uma comissão de reestruturação do Curso de Física da UFPR, anos atrás (quando eu fazia parte do Colegiado do Curso). Insisti em diversas mudanças para melhorar as disciplinas específicas de matemática. Mas infelizmente nenhuma das sugestões foi implementada. Pelo contrário, foram distorcidas. Por isso não se oferta mais a disciplina de geometria analítica no Curso de Física. Havia outros interesses pessoais em jogo. Também em outras instâncias sugeri programas como o de honors e o direcionamento integral de verbas de especialização para departamentos. Cheguei a dar um exemplo pessoal. Apesar de eu ser contra a existência de cursos de especialização, ministrei aulas em um deles e todo o dinheiro que ganhei foi revertido integralmente para o Departamento de Matemática. Mas o fato é que a maioria age como se nada tivesse acontecido.

      Como a prática da UFPR é a da omissão, decidi tornar alguns fatos públicos através deste blog. E garanto que estou omitindo os fatos mais sórdidos.

      No entanto, ainda estou aberto à discussão. Se quiser discutir seriamente sobre mudanças, sabe onde me encontrar. O mesmo não posso dizer a seu respeito, pois você se oculta no anonimato.

      Insisto nas instâncias universitárias porque são elas que se refletem no próprio ensino médio. Foi por conta de mudanças no vestibular promovido por universidades que o ensino de noções de cálculo foi eliminado do nível médio. Além disso, são nossas universidades que formam e deformam professores do ensino básico.

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    3. GRANDE PROFESSOR ADONAI, é jogando observações estigantes que se tem mais informações. Parabenizo-o pelos seus esforços em tentar melhorar a formação dos profissionais em nível universitário. Comparo seu desapontamento, com o dos alunos do curso de Física, que iniciam o curso universitário sem bases de conhecimento para introdução em funções, limites, derivadas. Ifelizmente, um total despreparo.Como diz uma mensagem "Nunca influenciaremos a todos, mas sempre influenciaremos alguns. Reflitamos no assunto, revendo o que transmitimos. A descrença suscita a descrença, o desânimo sugere o desânimo,mas a esperança acende a esperança, a motivação suscita a MOTIVAÇÃO..."
      De uma forma ou outra, lentamente o sistema vai se aprefeiçoando.Vemos vários pontos, talvez longe se serem perfeitos, apontados como metas no novo PNE:

      Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para cinquenta por cento e a taxa líquida para trinta e três por cento da população de dezoito a vinte e quatro anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, trinta por cento das matrículas, no segmento público.
      12.4) Fomentar a oferta de educação superior pública e gratuita prioritariamente para a formação de professores e professoras para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, bem como para atender ao déficit de profissionais em áreas específicas.
      14.10) Estimular a participação das mulheres nos cursos de pós-graduação stricto sensu, em particular aqueles ligados às áreas de engenharia, matemática, física, química, informática e outros no campo das ciências.
      Meta 15: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de um ano de vigência deste PNE, política nacional de formação e valorização dos profissionais da educação, assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.

      Aguardamos que os objetivos sejam alcançados.

      Nenhum esforço é em vão, sempre será aproveitado por alguém, fazendo parte de nossa evolução.

      ABRAÇO..AA

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  15. Ola, eu como aluno do curso de física da UFPR, concordo com suas colocações sobre os problemas na grade curricular, que mesmo agora após uma reforma ainda tem La seus problemas. Sobre outros pontos não acho que eu tenha conteúdo para entrar no mérito.
    Gostaria de saber onde posso encontra-lo, para ter algumas orientações, pois sei que tenho uma grande defasagem do conteúdo de matemática (entre outras disciplinas) do ensino médio e mesmo de matérias que ja fiz durante o curso como calculo 1.
    Ainda não fui seu aluno, apenas fui a uma aula como ouvinte, mas pelo que sei do seu trabalho tenho muito respeito. Gostei muito do blog espero que continue com ele e se possível aumente o numero de posts...
    droid_s @ hotmail. com

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    1. Adriano

      Meu e-mail é adonai@ufpr.br. Normalmente marco encontros dessa natureza no Departamento de Matemática da UFPR.

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  16. Eu fiquei tentado a ouvir as perguntas, que costuma fazer, quando ouve seus alunos responderem, que "não tem mais nenhuma dúvida", mas sei que é assunto para mais de metro.

    Adoro este tipo de "expansão forçada" no modelo de mundo - algo que Nassim Nicholas Taleb chamava de "Dobra Platônica" - uma situação real que extrapola o que um mundo imaginário ("ideal") havia concebido.

    Ele comenta isso em seu livro "A Lógica do Cisne Negro", onde ele argumenta furiosamente contra modelos "perfeitinhos" de mundo, como os dos economistas, e suas curvas gaussianas, tentando explicar fenômenos logarítmicos (e por isso, falhando fragorosamente).

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    1. Lívio

      Na página de links recomendáveis há acesso ao site do físico espanhol Juan Miguel Campanario. Ele explora de maneira brilhante o uso inadequado de matemática em ciências humanas. É um dos críticos que mais admiro quando o tema é a vida acadêmica. Até mesmo a Nature foi obrigada a publicar uma nota de Campanario com críticas contra aquela revista.

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  17. Rapaz, esse tal de vestibular tá mal a muito tempo, mas para o curso de física não deveria existir. Deveriam selecionar os alunos em algumas instituições militares deste pais. A que mesmo se destina o curso de Física? O que socialmente se espera dele? Hoje a pessoa que tem as qualificações que almeja, peso, cometeria um grande erro em dedicar-se a física (na UFPR, talvez). Mesmo porque ela já seria um sucesso, no que bem escolhesse, INDEPENDENTE. Caso não vá paro o céu, a culpa foi sua por não ter rezado o suficiente! Onde esta a critica vinculada a intituição que não faz a angariação de alunos corretamente. INDEPENDENTE é o ser que hoje, de posse de um "link de internet", não precissa mais se vincular a nenhuma instituição. POR QUE não trabalhar com o que se tem? Indolencia dos docentes, para com a educação? Egos enormes, COMO SE, atraidos por um centro de massa infinito nos respectivos umbigos? (Materiais ou Metamateriais). Professor, professores, termos não definidos claramente.

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  18. Fui aluno do curso de Física noturno de 94 a 99, na época o Bacharelado também era ofertado no noturno, cursei ambas as modalidades em 11 semestres. Trabalhei durante todo o curso sem que isto tenha me prejudicado,muito podem perguntar como é possível, então eu explico: "passeando" pelos corredores de faculdades e universidades públicas e particulares há, de sobra, propagandas/convites para festas,cervejadas, jogatinas,"churras", trotes e outras intermináveis festas, as quais alunos que não trabalham e, também os que não trabalham desperdiçam precioso tempo. Assim, se é possível nas madrugadas de sexta e sábado "ficar na farra", por que não dedicar este período para estudar? Lembrando que estes eventos SÃO PAGOS e muitas vezes CAROS. Deixo isso bem em destaque pois quando o professor solicita a compra de um livro a choradeira com o preço é geral.pela minha experiência afirmo : substituam as horas de " farra e baderna" por horas de estudo e, o dinheiro gasto com isso em livros e então será possível manter cursos diurnos e noturnos com um ensino de qualidade.

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    1. Wilson

      De fato, você é exceção. Aparentemente você é pai. Espero que passe seu exemplo de dedicação e seriedade para as gerações futuras.

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