Tenho publicado menos textos neste blog por conta de um projeto que estou desenvolvendo em parceria com o meu filho e uma produtora de cinema no Rio de Janeiro. O tema do projeto é, naturalmente, educação (com foco em matemática). E sobre isso pretendo discutir abertamente quando a hora certa chegar. Além disso, nos últimos meses estou dando preferência à publicação de certas postagens mais especializadas, que exponham fatos pouco conhecidos e raramente discutidos de forma crítica. O presente texto é mais um exemplo das novas tendências deste site.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é um dos principais órgãos federais de fomento à pesquisa no Brasil. No entanto, já está bastante claro que a ciência brasileira passa por um período de grave crise, com periódicos especializados sendo citados na revista britânica Nature por fraude, número de citações a pesquisadores brasileiros caindo no mundo inteiro, crescente desinteresse dos jovens por ciências exatas e biológicas, entre outros exemplos. Portanto, acredito que seja importante promover uma análise sobre o complexo perfil de órgãos como o CNPq. Afinal, quando o CNPq avalia o mérito de uma proposta de desenvolvimento científico e tecnológico, o que exatamente é levado em consideração?
Para aqueles que não sabem, o CNPq oferece bolsas de produtividade em pesquisa para profissionais do mundo acadêmico brasileiro (o que naturalmente inclui a concessão de bolsas para estrangeiros). Isso significa que todos nós pagamos, através de impostos, para que certas pessoas façam avançar o conhecimento científico e tecnológico de nossa nação e do mundo. No entanto, no site do CNPq não há informações detalhadas sobre o destino dessas verbas federais. Quem recebe essas bolsas? Por que alguns recebem este tipo de apoio e outros não? Quais são os critérios usados para a concessão de bolsas?
Importante também frisar que a concessão de bolsas não tem reflexos apenas sobre os cofres públicos e o bolso de quem recebe. Bolsas para pesquisadores apresentam reflexos muito visíveis em instituições nas quais estão lotados os pesquisadores, bem como em grupos de pesquisa.
Sozinho, não tenho condições de avaliar bolsistas do CNPq em todas as áreas e modalidades. Os motivos são dois: 1) Não tenho em mãos todas as informações necessárias e 2) Não tenho condições de processar todas essas informações sem ajuda.
Por isso escolhi, por enquanto, uma única área do conhecimento para promover uma primeira análise: filosofia.
Tenho comigo a lista de todos os bolsistas de produtividade em pesquisa na área de filosofia, em nosso país. São, no total, cento e quarenta. Algumas dessas bolsas encerram no início de 2014 e outras em 2017. Para esta postagem decidi analisar prioritariamente os treze bolsistas nível 1A em filosofia. 1A é o nível mais elevado das bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq. E a questão que levanto é a seguinte: Existe sintonia entre as exigências do CNPq para a concessão de bolsas de pesquisa e as demandas da comunidade acadêmica internacional? Se houver tal sintonia, parabéns ao CNPq! Afinal, ciência e filosofia são edificantes quando não estão sujeitas a fronteiras ditadas por divisões políticas, crenças pessoais, linguagem ou outros fatores sociais produzidos pela arbitrariedade humana. No entanto, encontrei fortes evidências de que o CNPq sustenta parte significativa de suas políticas de apoio à pesquisa em bases que pouco têm a ver com as tendências acadêmicas em escala global.
Como fiz a análise? Simplesmente comparei informações fornecidas pelos próprios pesquisadores na Plataforma Lattes (também de responsabilidade do CNPq!) com informações disponíveis em Web of Knowledge. Web of Knowledge (que abrevio como WoK) é um site de acesso restrito no qual consta a verdadeira produção científica relevante de todos os pesquisadores do mundo. Neste momento, portanto, convém que eu qualifique dois adjetivos:
1) Afirmo que as informações disponíveis em WoK são verdadeiras no sentido de serem obtidas diretamente a partir dos periódicos especializados que publicam resultados de pesquisas. Como a Plataforma Lattes está vergonhosamente infestada de mentiras (titulações falsas, publicações que nunca aconteceram, entre outras), a comparação entre essas duas fontes é fundamental para apurar fatos.
2) Afirmo que a produção científica e tecnológica reportada em WoK é relevante no sentido de espelhar a produção que atende a parâmetros mínimos de qualidade editorial acadêmica. É claro que existem periódicos especializados importantes ainda não indexados em WoK, assim como existem periódicos de qualidade questionável que estão indexados. No entanto, WoK ainda é a fonte mais confiável para uma primeira avaliação, tanto de produção científica e tecnológica quanto de impacto de pesquisas.
Vale observar ainda que, usualmente, produção científica original e relevante se faz através da publicação de artigos em periódicos especializados de circulação internacional, com corpo editorial e sistema de referees. E filosofia, no âmbito internacional, não é exceção. Espero não ter que discutir sobre este ponto com eventuais críticos pré-programados com discursos vazios, repetitivos e sem sintonia com a realidade mundial.
Pois bem. Aqui estão os treze bolsistas de produtividade em pesquisa nível 1A do CNPq, na área de filosofia.
Marilena de Souza Chauí (USP). Existem seis publicações de Chauí em periódicos indexados em WoK, no período de 1983 a 2012. O número total de citações a essas seis publicações, neste índice, é zero. Porém, de acordo com a Plataforma Lattes (última atualização em 02/09/2013), Chauí publicou quarenta e um artigos em periódicos supostamente especializados, trinta e cinco livros, sessenta e oito capítulos de livros e duzentos e sessenta e um textos em jornais e revistas não especializados, entre outros. Esses números evidenciam um perfil claro. O impacto internacional da produção acadêmica original de Chauí é muito pequeno. Ela privilegia, em suas publicações, mídias locais (de circulação nacional). Entre os trabalhos que ela mesma aponta na Plataforma Lattes como os mais relevantes, está um artigo em Revue des Sciences Philosophiques et Theologiques (sem citações registradas em WoK), um artigo na revista carioca Analytica (não indexada em WoK) e um artigo publicado em 1990 na Folha de São Paulo. Correndo o risco de subestimar o leitor, devo salientar que Folha de São Paulo não é uma publicação especializada em filosofia. É claro que não podemos ignorar honrarias internacionais feitas a Chauí, incluindo o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Université de Paris VIII. No entanto, como até mesmo o falecido cantor pop Michael Jackson e o ator hollywoodiano Ben Afleck já receberam títulos de Doutor Honoris Causa de prestigiadas instituições, eu gostaria de saber onde exatamente está a linha que separa mérito acadêmico de manobra política.
Guido Antonio de Almeida (UFRJ). De acordo com a Plataforma Lattes (última atualização feita em 29/06/2010), Almeida é editor da revista carioca Analytica (não indexada em WoK). Na mesma base de dados são informados dois artigos publicados em Kriterion e três publicações em Revue Philosophique de Louvain. ambos indexados em WoK. No entanto, de acordo com o próprio autor, das três publicações em Revue Philosophique de Louvain, duas são resenhas. São resenhas que estão listadas no campo designado para artigos completos publicados em periódicos especializados. Redundante dizer que resenhas não são artigos completos! Portanto, as informações prestadas por Almeida na Plataforma Lattes são, no mínimo, contraditórias. Quanto aos demais artigos declarados, são todos em periódicos de circulação local e não indexados em WoK. Também é estranho perceber que Almeida afirma que Revue Philosophique de Louvain é uma publicação de Belo Horizonte, sendo que se trata de um periódico belga. E apesar de Kriterion e Revue Philosophique de Louvain estarem indexados em WoK, neste banco de dados não consta uma única dessas publicações. As informações sobre Kriterion ainda estão sendo alimentadas em WoK, o que justificaria a falta de dados. No entanto, Almeida declara uma publicação no volume 20 de Revue Philosophique de Louvain, em 1993. E vale observar que em 1993 a Revue Philosophique de Louvain estava no volume 91. Portanto, mais uma inconsistência. Almeida ainda destaca entre suas publicações mais relevantes quatro capítulos de livros e um trabalho completo publicado em anais de congresso. O que transparece nas informações prestadas por Almeida é que ele atribui uma importância secundária a seus artigos. Este, aliás, é um comportamento comum no Brasil. São muitos os pesquisadores que preferem publicar seus trabalhos em anais ou livros obscuros. Isso porque tais obras têm circulação extremamente limitada. Pouca gente lê, mesmo entre especialistas.
Itala Maria Loffredo D'Ottaviano (Unicamp). Há treze artigos de D'Ottaviano em periódicos indexados em WoK. Um desses artigos tem 22 citações (já excluídas as auto-citações), o que é um ótimo resultado. De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 20/08/2013), D'Ottaviano publica predominantemente em veículos de circulação nacional. Mas ela destaca como produções mais relevantes quatro artigos em periódicos especializados de circulação internacional e indexados, bem como um livro publicado em 2000 pela editora Kluwer. Ou seja, D'Ottaviano transparece clara sintonia com a realidade mundial do que se entende por produção acadêmica. O único ponto que gera dúvidas em seu perfil é que ela acumula uma bolsa nível 1A do CNPq com o cargo de pró-reitora de pós-graduação na Unicamp. Compatibilizar um cargo burocrático com atividades de pesquisa é certamente um desafio.
Ivan Domingues (UFMG). Domingues conta com sete publicações em periódico indexado em WoK, apesar de apenas uma aparecer. Isso porque todas essas sete publicações são na revista Kriterion, cujos dados ainda estão sendo inseridos naquele site. Os demais artigos foram publicados em periódicos de circulação local. De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 14/03/2013) as publicações mais relevantes de Domingues são quatro livros (um pela L'Harmattan, França, e três pela Edições Loyola, Brasil) e a sua tese de professor titular. Ou seja, mais um exemplo de alguém que não percebe a fundamental importância da publicação de artigos originais em periódicos importantes. Vale observar também que diversidade de veículos é fundamental em produção acadêmica. A revista Kriterion não é o único periódico de filosofia indexado em WoK.
Luiz Henrique Lopes dos Santos (USP). De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 08/05/2013), Santos tem treze artigos completos publicados em periódicos. Falso! Ele inclui entre os artigos um texto publicado no jornal O Estado de São Paulo, demonstrando uma clara dificuldade para distinguir produção especializada do restante. Entre os demais artigos, há um em Cahiers de Philosophie du Langage (Paris). Os demais são locais. Mas nenhuma de suas publicações ocorreu em periódico indexado em WoK. Outro exemplo de falta de sintonia com o que se entende por produção filosófica em escala internacional.
Nelson Gonçalves Gomes (UNB). De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 03/07/2013), Gomes tem considerável experiência internacional. No entanto, entre os treze artigos declarados, apenas um (outro brasileiro publicando em Kriterion!) aparece em WoK. Novamente zero é o número total de citações. As publicações que ele considera mais relevantes são predominantemente livros ou capítulos de livros, deixando espaço para um único artigo veiculado pela carioca (e não indexada) Analytica.
Newton Carneiro Affonso da Costa (UFSC). da Costa comete algumas imprecisões na declaração de sua volumosa produção na Plataforma Lattes. Porém, de acordo com WoK, este pesquisador conta com noventa e seis publicações (muito mais do que os demais doze pesquisadores nível 1A somados). Todas as cinco publicações marcadas pelo autor como as mais relevantes são artigos em periódicos especializados indexados em WoK. Isso apesar de da Costa ter livros publicados em diversos países.
Oswaldo Chateaubriand Filho (PUC-Rio). De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 25/08/2013), Chateaubriand tem cinquenta e três artigos completos publicados em periódicos. Falso! Várias das referências naquela lista são resenhas e não artigos. Aparentemente esta é uma confusão comum em nosso país. Além disso, vinte e um dos artigos estão concentradas no mesmo periódico (o não-indexado Manuscrito) e no mesmo ano (2008). Um fenômeno realmente bizarro! No total, Chateaubriand conta com apenas três publicações em veículos indexados em WoK, das quais somente duas aparecem naquela base de dados. Zero citações em WoK.
Paulo Eduardo Arantes (USP). De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 27/08/2013), Arantes é autor de sessenta e cinco artigos completos publicados em periódicos. Deste total, apenas três foram publicados em periódicos indexados em WoK; foram nos veículos Tempo Social (USP), Trans/form/ação (Unesp) e Cultural Critique (Un. Minnesota Press). Novamente zero citações em WoK. Entre as publicações marcadas por Arantes como as mais relevantes de sua carreira estão três livros publicados no Brasil. Ou seja, Arantes também não prioriza artigos publicados em periódicos especializados. Mais um exemplo de isolamento em relação ao mundo.
Raul Ferreira Landim Filho (UFRJ). De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 05/11/2012), Landim é autor de trinta artigos completos em periódicos especializados. Apenas dois foram veiculados por periódico indexado em WoK (novamente na revista Kriterion, como tantos outros do Brasil). E novamente esses dados não puderam ser confirmados em WoK. Pelo menos Landim destaca quatro artigos entre suas cinco publicações mais relevantes.
Renato Janine Ribeiro (USP). De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 30/07/2013), Ribeiro é autor de setenta e quatro artigos completos em periódicos especializados. Deste total, três foram veiculados em periódicos indexados em WoK. Apesar disso, há algumas publicações em periódicos estrangeiros, o que pelo menos demonstra uma diversidade de publicações maior do que a média dos pesquisadores nível 1A em filosofia. No entanto, Ribeiro também confere maior valor a livros do que artigos. Entre as cinco publicações destacadas pelo autor, apenas uma é artigo em periódico especializado. O restante são quatro livros publicados no Brasil. Zero citações em WoK e umas poucas citações em outros bancos de dados.
Ricardo Ribeiro Terra (USP). De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 02/09/2013), Terra é autor de quinze artigos completos em periódicos especializados. Apesar de algumas publicações no exterior, nenhuma delas foi em veículo indexado em WoK. Entre suas publicações mais relevantes, Terra destaca um livro organizado e publicado na Alemanha, dois livros escritos e publicados no Brasil e uma conferência plenária.
Roberto Cabral de Melo Machado (UFRJ). De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 04/09/2013), Machado é autor de oito artigos completos publicados em periódicos especializados. Quatro foram em periódicos indexados em WoK, apesar de apenas um aparecer. Isso porque temos novamente um autor que prefere publicar em Kriterion. Entre suas publicações mais relevantes, Machado destaca cinco livros veiculados no Brasil.
Em suma, salvo raríssimas exceções, os pesquisadores nível 1A do CNPq em filosofia estão isolados demais do mundo. Isso, na prática, reflete em isolamento do Brasil. Afinal, essa gente exerce considerável influência sobre jovens universitários.
Espero que o exemplo aqui dado seja seguido por outros. A academia brasileira está doente. Precisamos tratá-la, antes que seja tarde demais.
Para acompanhar algumas críticas a esta postagem, clique aqui.
Esse resultado não é surpreendente. De fato em muitas áreas (incluindo as Ciências Biológicas onde participo e sou bolsista de produvidade), os pesquisadores do que deveria ser o Nível Top (1A) do sistema aprensentam individualmente e em conjunto, uma coleção de produções muitas vezes inferior aos seus colegas dos níveis 1C, 1D, e até 2 (o quinto nível de baixo para cima). Explicação para isso: Um sistema pouco transparente, onde estes pesquisadores mais antigos, conseguiram se perpetuar nos níveis mais altos através de intenso corporativismo, e seguem ocupando as vagas e impedindo que pesquisadores dos níveis inferiores muito mais produtivos do ponto de vista internacional possam chegar no topo. A diretoria científica do CNPq é conivente, e como tudo nesse país, só deve tomar alguma providência no dia em que o Fantástico declarar isso um caso de polícia no domingo à noite. Já repararam que nunca se resolve nada nesse país se não sair no fantástico... O sistema de Bolsas de Produvitidade do CNPq em praticamente todas as áreas é um ninho de corporativismo, falta de transparência, apadrinhamentos. Os pesquisadores 1A (há exceções) se organizam em uma espécie de quadrilha para não perder seu status, que não pode ser comprovado por qualquer um que analise seus currículos com algum critério, mas sem muito esforço (não é preciso muita perspicácia para perceber os absurdos evidentes).
ResponderExcluirCássio
ExcluirNeste caso, recomendo que encaminhe esta postagem para o Fantástico. Sem lobby, jamais será quebrado esse corporativismo.
Agora me pergunto porque dois pesos duas medidas no CNPq?
ExcluirFantástico! Maurício Rocha editor da Clinics foi apenas a ponta do iceberg.
ResponderExcluirPrezado Professor Adonai
ResponderExcluirFico feliz de voltar a publicar no blog.
Quando iniciei meu mestrado no PROFMAT este ano, ouvi o seguinte do coordenador do curso: "o Brasil é o 15° em produção científica no mundo. Agora e momento de investir na Matemática Básica do país"
Fico imaginando como deve ser a qualidade desta volumosa produção!
Os professores da universidade estão praticamente envolvidos somente com Olimpíadas de Matemática. Parecem não se moverem mais para a pesquisa relevante em Matemática.
Até que ponto prof. o Sr. acha este caminho de só investir em Olimpíadas certo?
Para finalizar o sr. já leu o que esta Neurocientista escreveu? Casa muito com o que o sr. defende.
http://www.suzanaherculanohouzel.com/journal/2012/9/27/voce-quer-mesmo-ser-cientista.html
Hugo
ExcluirDe fato a produção científica brasileira é volumosa. Mas há dados concretos que apontam para o fato de que as citações a pesquisadores de nosso país estão caindo. Isso reflete queda de qualidade.
O investimento em olimpíadas é importante, mas pontual. Investimento relevante é aquele que apresenta reflexos a médio e longo prazo. Ou seja, precisamos investir em carreiras e não apenas prêmios que são rapidamente esquecidos.
Eu já conhecia o texto de Houzel. Conversei com ela algumas vezes. Mas, aparentemente, o interesse dela é outro.
Prezado Professor Adonai
ResponderExcluirFico feliz de voltar a publicar no blog.
Quando iniciei meu mestrado no PROFMAT este ano, ouvi o seguinte do coordenador do curso: "o Brasil é o 15° em produção científica no mundo. Agora e momento de investir na Matemática Básica do país"
Fico imaginando como deve ser a qualidade desta volumosa produção!
Os professores da universidade estão praticamente envolvidos somente com Olimpíadas de Matemática. Parecem não se moverem mais para a pesquisa relevante em Matemática.
Até que ponto prof. o Sr. acha este caminho de só investir em Olimpíadas certo?
Para finalizar o sr. já leu o que esta Neurocientista escreveu? Casa muito com o que o sr. defende.
http://www.suzanaherculanohouzel.com/journal/2012/9/27/voce-quer-mesmo-ser-cientista.html
Parabéns pelo texto e pela coragem. Estamos junto professor!
ResponderExcluirOla prof. Adonai,
ResponderExcluirSensacional seu levantamento de dados. Realmente, alguns pesquisadores mantêm bolsas 1A porque 'um dia foram bonitos', o que impede muita gente boa de chegar lá em cima...
Meu curriculum é mínimo: estou ainda fazendo o doutorado, mas gostaria de comentar sobre essa questão que o senhor colocou de reviews estarem listados nos curricula como "artigos completos publicados em periódicos".
Tenho dois reviews publicados, e no meu curriculum os coloquei também como artigo. Concordo que isso não é 'honesto', por assim dizer: review não é artigo. Mas o que acontece é que no curriculum lattes simplesmente não existe um lugar específico para se colocar reviews!!
Conversei com alguns colegas sobre como eles faziam neste caso, e eles me falaram que também faziam assim (listar como um artigo).
No Lattes, até existe uma entrada "Outra publicação bibliográfica", e até pensei em inserir esses reviews nesta opção, mas sinceramente fiquei com medo dessas entradas ficarem situadas num 'canto obscuro' do meu curriculum, e que talvez as pessoas quando olhassem nem dessem algum valor (exatamente por ser a última opção de entrada). Além disso, acho que reviews são muito mais importantes que um "Texto em jornal ou revista", ou mesmo uma simples "Tradução", que são opções que existem na plataforma... As vezes, só podemos andar pelas estradas que já estão desenhadas...
Jaison
ExcluirRichard Dawkins dá um conselho que considero sensacional: jamais aceite o argumento sustentado pela autoridade, tradição ou revelação. Inserir resenhas como artigos completos tem sido uma tradição brasileira. Isso tem que acabar. Se eu fizesse isso, teria mais de duzentos artigos completos na Plataforma Lattes, a qual não atualizo há anos. Mas observe que não estou falando de toda e qualquer publicação comumente categorizada como review. Se o texto publicado é um review sobre uma área específica do conhecimento, não há problema algum em listar como artigo completo. Não se trata de artigo original, só isso. Mas existem os reviews que são meras resenhas de livros e artigos. Estes certamente não são artigos completos.
Ao meu ver, a preferência pela publicação nacional vem não para causar impacto no âmbito de pesquisa, mas apenas para somar volume em suas publicações (em algum momento, quantidade de artigos, mesmo que vazios se tornou importante). Creio que a academia tenha perdido o foco do avanço, e agora serve apenas para fomentar ganhos pessoais de certos pesquisadores, por isso o cálculo do fator de impacto das publicações se tornou necessário.
ResponderExcluirPrezado professor Adonai, como poderia eu pesquisar a respeito de minhas publicações no Web Of Knowledge?
ResponderExcluirAtenciosamente,flavio bartoszeck.
Flavio
ExcluirBasta acessar um computador credenciado. Você os encontra em universidades federais e estaduais e algumas privadas.
Quando comecei a me interessar um pouco por filosofia, percebi exatamente isso que o artigo descreve: a completa irrelevância da filosofia que se produz no Brasil, coisa que talvez ainda se estenda à maior parte da produção em ciências humanas. Creio que o único desvio desse paradigma, apontado no texto, seja o Newton da Costa, que sempre pensei estar vinculado à matemática, e não à filosofia.
ResponderExcluirLeonardo
ExcluirExiste, entre matemáticos brasileiros, um preconceito ridículo com relação a lógica. É a nossa realidade.
Àqueles que, como eu, tiveram suas dúvidas sobre produção em filosofia realmente ser preferencialmente publicada em artigos ao invés de livros, vale conferir:
ResponderExcluirhttp://en.wikipedia.org/wiki/Contemporary_philosophy#The_professionalization_of_philosophy
Isso me faz lembrar dos tempos em que ingressei no Curso de Química da UFPR, em 2001. Na época, no auge de meus 16 anos, eu entrei super animado, curioso, radiante de vontade e sede de aprender. Parecia uma criança faminta e feliz por ter descoberto o mais delicioso dos doces. Afinal de contas, pensava eu, entrei numa universidade, num universo completamente novo, diferente e mágico, onde encontra-se a verdadeira nata da sociedade......
ResponderExcluirNa época, jurei a mim mesmo me entregar de corpo e alma àquela maravilha de ambiente, apesar da infraestrutura degradante e deprimente......
Com exceção de alguns poucos professores (que entendiam meu ânimo e me estimulavam a alimentar meus sonhos), uma grande parcela deles respondiam a mim e falavam comigo como se tudo fosse difícil de se fazer, de se calcular e de se aplicar na prática. Respostas como "ah, mas para fazer isso precisaríamos calcular as integrais `de não sei das quantas` e determinar `não sei mais o que` e isso é difícil de conseguir na prática, sendo praticamente inviável aqui para nós" eram bastante comuns entre a maioria dos professores.......
Passei boa parte da minha graduação ouvindo coisas desse tipo e, naturalmente, fui perdendo aquele brilho, aquela vontade e aquele furor todo que tinha quando ingressei no curso. Para piorar, meus colegas de graduação constantemente me censuravam e me taxavam de pentelho, puxa saco de professor, egocêntrico e anti-social (talvez por interagir bem menos com eles do que com os professores, que eu acreditava, ingenuamente, valerem muito mais a pena conviver com, do que com os próprios colegas já que estes últimos pouco interesse demonstravam em procurar saber bem mais do que apenas aquilo que era dado em sala de aula)......
Adicionalmente, comecei a ver colegas meus (muitos deles que não tinham sequer 1/10 do interesse e curiosidades que eu tinha) serem aceitos largamente por aqueles que são considerados bons professores e pesquisadores do departamento, sendo que eu era rejeitado por muitos desses mesmos professores (segundo um dos professores que se dava bem comigo, eu era muito "expansivo" do ponto de vista daqueles professores que me rejeitaram, usando as palavras dele)......
ResponderExcluirIsso fez despencar substancialmente meu interesse pela pesquisa de um modo geral e pelo próprio curso oferecido. Além do mais, tamanha rejeição me fez duvidar de minhas próprias capacidades como indivíduo e se eu realmente teria condições de ser ou não pesquisador. Talvez daí tenha vindo a minha fase de autoestima cada vez menor. Afinal, por que eu era tão rejeitado????? Eu era tão ruim assim que não servia para porcaria nenhuma????? Comecei a acreditar que sim, que eu era um inútil que não merecia estar ali.......
Hoje sei que pensei de forma relativamente equivocada, mas no auge dos 18 anos de idade na época, esse tipo de dúvida acerca de nós mesmos e falta de experiência de vida parece ter um efeito especialmente desastroso, dado o grau de influência a que costumeiramente estamos expostos......
Quando ingressei na UFPR pela primeira vez, eu era uma pessoa que os psicólogos chamam e classificam como "assertivo ativo". Ao término do curso, além de desanimado e desestimulado, eu havia me tornado um misto de "assertivo passivo" com "assertivo agressivo"......
ResponderExcluirRecentemente, tive que fazer um tratamento psicológico comportamental para voltar a ser "assertivo ativo"......
Claro que não posso deixar de mencionar que alguns poucos professores me estimularam e não me deixaram desestimular ainda mais e devo muito disso a eles. Mas infelizmente meus interesses de linha de pesquisa que eu queria seguir não eram compatíveis com os ótimos professores que tive......
Adonai, fico feliz e bastante realizado com esta postagem sua, pois mostra realmente em que pé anda o impacto da nossa pesquisa e o nível dos nossos pesquisadores de um modo geral.....
Tinha um tempo atrás que eu entrava na Plataforma Lattes, via o currículo de muitos pesquisadores, toda aquela suposta "maravilha" realizada por eles e não conseguia entender como conseguiam tanto, se mesmo no cotidiano deles e em sala de aula, tudo era tão diferente e de bem mais baixo nível do que aquilo que era declarado por eles na Lattes e que era supostamente verdadeiro......
Na minha opinião, é de longe a melhor e mais esclarecedora postagem não-técnica sua aqui no blog......
Realmente excelente e capaz de me fazer recuperar parte importante da minha então reduzida autoestima......
Muito obrigado, de coração, por mostrar as podridões do nosso sistema de pesquisa e de salientar os bons exemplos a serem seguidos.....
:)
Leandro
ExcluirGrato pelo apoio. Não tem sido fácil conduzir este blog.
http://www.radicalphilosophy.com/web/radical-philosophy-conference-2011
ResponderExcluirhttp://philosophy.tamu.edu/~sdaniel/daniel-calendar.html
Caro Adonai e colegas:
ResponderExcluirSeria interessante comparar a filosofia brasileira com a de outros países no Web of Knowledge. Em sua grande maioria as revistas de filosofia, brasileiras ou de outras nacionalidades, tem baixos índices de impacto (abaixo de 1), o que não significa que os artigos não tenham qualidade. Por outro lado, durante muitos anos houve sim favorecimento no comitê de filosofia do CNPQ, o que me parece que foi parcialmente corrigido nos últimos anos; por exemplo, a Professora ítala não era bolsista e agora é 1A (muito merecidamente, diga-se de passagem).
Exemplificando com um refugo do sistema que tem certo alcance internacional, um convite à leitura: http://www.cambridge.org/us/academic/subjects/psychology/cognition/unity-mind-brain-and-world-current-perspectives-science-consciousness
Abraços
Alfredo Pereira Jr.
Prezado professor, que bom ter voltado. Eu e muitos sentimos sua falta em textos publicados, pela sua moralidade e honestidade.
ResponderExcluirQuisera que no Brasil houvesse uma centena de homens assim. A nossa Educação estaria em um patamar bem mais elevado.
Parabéns por suas posições coerentes e honestas, mostrando-nos as falcatruas existentes nesta área.
Infelizmente, apesar de otimista, acredito que não verei, nesta minha geração, um país que galgue o pódio das grandes nações.
Reitero também o meu apoio e grande estima por este seu trabalho incansável em busca da verdade.
Aceite meu humilde apoio.
Paulo Martins Tosta
Bancário
Meu pai também tem seguido o blog já faz algum tempo........
ExcluirComo a conta dele no Google andou dando problema, liberei ele para se manifestar usando a minha conta........
Sendo assim, não se trata de má-fé minha para publicar mensagens por meio de uma mesma conta como se fossem duas pessoas......
De fato, são duas pessoas......
De uns tempos para cá, ora ele usa a conta, ora eu uso........
Mas, em geral, uso muito mais do que ele......
Só isto que queria esclarecer.
:)
Excelente texto! Parabéns!
ResponderExcluirPrezado Professor,
ResponderExcluirachei interessante seu levantamento mas acho que um título mais adequado seria
O que é um pesquisador do CNPq recomendado pelo CA da Filosofia?
Sou professor voluntário do Departamento de Matemática da UFSCar com bolsa de produtividade do CNPq (CA da Matemática) e não me reconheci na descrição do que seria "um pesquisador do CNPq". Considerando que a Matemática é um dos interesses declarados do blog, sugiro que faça uma pesquisa análoga na área de Matemática e Probabilidade e Estatística. Uma excelente base de dados para publicações em matemática é o MathSciNet da AMS. Aposto que encontrará um panorama muito diferente.
Prezado Jorge
ExcluirMinha intenção inicial era promover uma comparação entre bolsistas de filosofia e bolsistas de matemática. Mas os fatos revelados em filosofia mostraram que tal comparação era desnecessária. Filósofos em geral, em nosso país, simplesmente não produzem. Conheço bem o perfil dos bolsistas de produtividade tanto em matemática quanto em física. Há sim irregularidades. Mas não se comparam com áreas como filosofia, educação, teologia, entre outras. De qualquer modo agradeço pela importante observação.
Muito bom!!! Parabéns pelo trabalho. Essas bolsas foram concedidas em grande parte por ideologia e proteção política. Meritocracia acadêmica passou longe do CNPq.
ResponderExcluirUm comentário que recebi de um colega, Adonai: Me desculpe mas o referido professor talvez desse uma contribuição menos tendenciosa se analisasse a própria área em que atua, e mesmo assim, com enormes restrições.
ResponderExcluirLembro que as áreas são diferentes em termos de veículos de publicação, e os tão glorificados fatores de impacto, por mais que possam dar suas contribuições, apenas contam a história do ponto de vista de editoras comerciais, que mantém as respectivas bases de dados, ou da popularidade na web.
Um capítulo de livro, ou mesmo um livro, não conta, pois não está em tal base. É o caso de desqualificar a Profa. Chauí, por ter um artigo na Folha de São Paulo, ou esquecer que Newton da Costa é matemático, por exemplo. Santa ingenuidade!
Na lógica subjacente assumida, poderíamos desqualificar Platão e Aristóteles, tal qual o autor descarta pensadores e pensadoras importantes do cenário nacional sem pestanejar, afinal em que periódicos eles publicaram, onde está o Lattes que morde deles, o Quantus?
Quando isto é extrapolado para outras dimensões da produção do conhecimento, fica claro que a crítica não tem base concreta e é totalmente descontextualizada. Mas isto esconde formas de precarização da profissão docente que nem todos/as querem discutir ou enxergar. É o dito forro de vidro. Uma vez acima, não se enxergam as dificuldades para transpô-lo.
Ou seja, não importa o nosso contexto, as pessoas em si, mas apenas os dito índice. A lógica é a mesma que favorece o centro e não a periferia, os países já ricos e não o resto, etc.
Não estou defendendo o equilíbrio, a parcimônia e a equidade desta atual distribuição destas boslas 1A na área de filosofia, mas questiono a escolha desta área por um matemático e o método empregado, que tem claros e já identificados problemas, principalmente nas ciências humanas, nas letras e nas artes. Não funciona, mas justifica a concentração de recursos para as áreas para os quais funcionam.
Entretanto, concordo que estas distribuições tem problemas, mas por bem diferentes razões.
Eu acho que na computação é muito parecido, pois eventos contam significativamente na produção, e isto, visto de fora, seria simplesmente descartado como irrelevante.
Mas, os veículos brasileiros são poucos, e estão sendo bombardeados por esta mesma lógica, ou estão sendo exportados para alhures.
Quanto mais adotarmos irrefletidamente tais axiologias, mais colonizados e subalternos permaneceremos.
Adolfo
ExcluirJá estou redigindo nova postagem para responder a esse questionamento. Peço apenas que aguarde uns dias.
Adolfo, um contraponto ao argumento de seu colega: se adotarmos o critério das citações, filósofos como Platão e Aristóteles seriam campeões inigualáveis do mundo acadêmico filosófico.
ExcluirMuito bom. Falta falar de alguns avestruzes da Física - que pousam como deuses mas que na verdade, suas pesquisas não pagam nem o papel higiênico que usam.
ResponderExcluirExcelente análise! Eu mesmo já escrevi sobre semelhante questão, analisando o índice h: http://racionalistasusp.wordpress.com/2011/01/11/o-atraso-das-ciencias-humanas-no-brasil/
ResponderExcluirO resultado que encontrei vai de encontro com o seu. As ciências humanas brasileiras estão particularmente atrasadas com relação a relevância internacional.
Andre
ExcluirLi alguns de seus textos. Divulgarei em breve. Há aspectos interessantes.
Prezado Adonai,
ResponderExcluirSua pesquisa, interessante e bem intencionada, apresenta contudo uma inconsistência grave: parte de uma falsa premissa ao assumir que a Web of Knowledge constitua uma referência fidedigna no que concerne às ciências humanas. Sendo da área, fiz uma busca de uma longa série de colegas, a maior parte deles europeus e de renome mundial, e os dados sobre eles eram pífios, não correspondendo em absoluto nem a sua produção científica, nem a sua reputação internacional, nem a seu estatuto em suas respectivas esferas de atuação. Constatação desagradável mas necessária: mesmo na Europa e Estados Unidos, os indexadores e parâmetros de avaliação da pesquisa científica são essencialmente concebidos a partir de modelos e valores das ciências exatas e biológicas - e não das ciências humanas. Assim, sugiro que retome seu olhar crítico para áreas, por exemplo, como genética ou engenharia de minas, antes de concluir, a meu ver precipitadamente (em termos de argumentação lógica e consistência, sem entrar no mérito de concordar ou não com a aferição de 1A aos pesquisadores supracitados), pela deficiência dos critérios de avaliação da instituição em questão. Abraços e boa sorte.
Oi, Ricardo
ExcluirAparentemente você não leu a postagem em sua íntegra. No texto está escrito: "Afirmo que a produção científica e tecnológica reportada em WoK é relevante no sentido de espelhar a produção que atende a parâmetros mínimos de qualidade editorial acadêmica. É claro que existem periódicos especializados importantes ainda não indexados em WoK, assim como existem periódicos de qualidade questionável que estão indexados. No entanto, WoK ainda é a fonte mais confiável para uma primeira avaliação, tanto de produção científica e tecnológica quanto de impacto de pesquisas." Ou seja, sua interpretação sobre a alegada falsa premissa carece de sentido. Além disso, ao final da postagem há um link que aponta para críticas semelhantes às suas. Repito aqui o endereço:
http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2013/09/a-filosofia-do-medo.html
Não sei quem são seus colegas, mas se eles têm alguma reputação séria, certamente aparecem em WoK.
Jamais afirmei ou insinuei que produção na área de ciências humanas têm que ser volumosa em WoK. Mas a partir do momento em que resultados tão minguados de produção filosófica citada em WoK estão associadas a pesquisadores nível 1A do CNPq é porque algo muito errado está acontecendo. No entanto, a essa altura já percebi que a academia brasileira vai demorar muito para entender o que é produção intelectual. As universidades brasileiras, em sua maioria, são meras extensões da mediocridade de um povo sem tradição na produção de ideias.
Considero que o levantamento feito aqui é relevante. Todavia, há alguns pontos desconsiderados que influenciam - e muito - na avaliação. Em primeiro lugar, a maior parte da produção em Filosofia é editada em livros e capítulos de livros - e isso não apenas no Brasil, mas em países de tradição em estudos filosóficos como a França e a Alemanha. De fato, esta não é a tendência em outras áreas, como as ciências biológicas ou a matemática. Não é um exagero afirmar que todos os filósofos de repercussão mundial o são em função dos livros que publicaram - mesmo quando estes apenas reúnem os artigos que publicaram em revistas especializadas. Esta peculiaridade da produção em Filosofia é inclusive destacada no documento da área disponibilizado pela Capes. Logo,o fato de vários pesquisadores publicarem pouco em revistas especializadas no exterior não é, para a área, um sério problema - embora seria preferível que a produção também circulasse em artigos. Um segundo ponto é que as bolsas de produtividade 1A são "vitalícias" e todos os citados a receberam há, pelo menos, uma década. Portanto, aqueles - poucos - que hoje são Pqs 1A, adquiriam este status - para além das questões políticas envolvidas - já há bastante tempo e num contexto no qual a produção em Filosofia ainda estava em fase de consolidação. Uma avaliação diacrônica dos documentos de área da Capes mostram o quanto a situação da Filosofia no país é hoje distinta daquela de 10 ou 15 anos atrás. Aliás, alguns destes Pqs, com baixa produção bibliográfica, aparentemente foram assim contemplados pelo trabalho desenvolvido em orientações e consolidação de programas de pós-graduação. Enfim, concordo que, hoje, para alguém alcançar uma bolsa de produtividade 1A em Filosofia, faz-se necessário inserção internacional com artigos ou livros em inglês de circulação mundial. Mas é importante não homogeneizar critérios para áreas distintas e atentar não apenas sincronicamente para os bolsistas, mas também diacronicamente. No mais, ótimo trabalho.
ResponderExcluirOlá Adonai, gostaria que vc respondesse as interessantes colocações do Evaldo Sampaio. Um abraço.
ExcluirAnônimo
ExcluirMuito obrigado por chamar atenção sobre o comentário de Evaldo Sampaio. É incrível eu não o ter percebido na época. Normalmente sou muito cuidadoso para acompanhar novos comentários.
As críticas que ele faz são evidentemente interessantes. Mas muito do que diz se aplica à matemática também. As ideias matemáticas mais conhecidas (e consequentemente seus autores) são aquelas publicadas em livros. Portanto, filosofia não apresenta caráter diferente neste sentido. Além disso, filósofos de gerações mais antigas publicaram sim em excelentes periódicos (Wittgenstein, em Synthese; Popper, em Nature; entre outros). Para complementar, recomendo a postagem abaixo.
http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2013/09/a-filosofia-do-medo.html
Adonai, creio que parte do problema seja o fato de não se ensinar filosofia e sim ideologia política nas universidades publicas deste país, inclusive e principalmente na mais prestigiada delas, a USP.
ResponderExcluirSou leigo, de pouca cultura filosófica, adquirida pela leitura de alguns livros. Portanto, não sei se minha opinião faz algum sentido, pode ser só palpite.
Mas a impressão que tenho é que na USP se ensina uma espécie de escolasticismo marxista/de esquerda.
Note que não sou contra ler Karl Marx ou qualquer outro pensador de esquerda, sou sim contra enxergar toda a filosofia por esta lente ( e igualmente seria contra ve-la pela lente da direita, do centro ou do ponto de vista de qualquer religião).
A filosofia é bem mais que isso, que o diga o Newton da Costa!
Isso faz com que pessoas como eu, cujo interesse na filosofia não se centra na política, se sintam desanimadas em estudar filosofia nessas instituições. Sem elas o que sobra?
Anônimo
ExcluirSuas impressões pessoais são consistentes com a realidade de nosso país. Karl Marx escreveu uma obra monumental, digna de estudos sérios. Mas muitos outros autores também fizeram isso. Falta em nosso país maturidade acadêmica.
Como fica o caso daqueles pesquisadores de alto nível e produtividade, mas que não podem ter seus trabalhos divulgados (publicados em periódicos) por serem de importância estratégica para um país ou por questões contratuais? (me refiro aqueles caras que trabalham exclusivamente no setor privado ou com assuntos relacionados à segurança nacional, a indústria bélica ou farmacêutica, ou empresas de consultoria que mantem seus métodos de analise guardados a sete chaves, por exemplo) Como um profissional desse tipo conseguiria reputação junto a seus colegas que seguem uma carreira acadêmica “convencional”?
ResponderExcluirSebastião
Sebastião
ExcluirTodo segmento profissional consiste em um mundo não muito grande. Aqueles que realmente trabalham de forma original e relevante são inevitavelmente conhecidos por seus pares.
Acredito essa postagem ser um ataque pessoal a minha pessoa. Por que o nome de meu ex orientador Walter Carnielli pesquisador nível 1 do cnpq se bem como muitos outros pesquisadores não consta nessa lista ?
ResponderExcluirConforme explicitado no texto, constam aqui *todos* os bolsistas de produtividade nível 1A do CNPq, na área de filosofia, na data de publicação da postagem. Não houve ataque pessoal a quem quer que seja, mas apenas uma avaliação tornada pública.
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