domingo, 21 de dezembro de 2014

Podemos confiar em cientistas? Como diferenciar fatos de teorias?


Cibele Sidney é uma colaboradora deste site, responsável por uma das postagens mais visualizadas aqui desde 2009, ano em que foi criado o blog Matemática e Sociedade. Sua contribuição foi uma denúncia contra o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). Ela é também a administradora do excelente blog Física Sem Educação.

Recentemente, porém, recebi desta extraordinária professora uma mensagem via Facebook, beirando o desespero. Sua preocupação? Marcos Eberlin. 

Marcos Nogueira Eberlin é Professor Titular do Departamento de Química da Unicamp, Pesquisador Nível 1A do CNPq, Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, Comendador da Ordem do Mérito Científico, autor de centenas de artigos científicos publicados em periódicos internacionais, com milhares de citações na literatura especializada. E é também um defensor do Design Inteligente. 

Não quero desperdiçar o tempo do leitor com detalhes sobre o Design Inteligente. Para os propósitos desta postagem, basta dizer que o Design Inteligente (DI) é uma tentativa de conferir cientificidade ao Criacionismo, em detrimento à Teoria da Evolução das Espécies. Os adeptos do DI defendem que pelo menos certas características do universo e dos seres vivos somente podem ser explicadas pela interferência de uma inteligência, algo que poderíamos eventualmente chamar de Deus. Ironicamente está despertando considerável atenção um recente artigo de Jeremy England no qual se sugere um modelo que descreve a inevitabilidade do surgimento de vida como consequência natural de leis físicas bem conhecidas

Na mensagem que recebi de Cibele Sidney, ela encaminhou um vídeo disponível no YouTube. Neste vídeo há uma palestra de Eberlin sobre o Dilúvio e a Arca de Noé. O vídeo foi postado pelo próprio palestrante e está bloqueado para comentários, algo que evidencia uma tendência pessoal a ignorar críticas. 

Eberlin defende que a história bíblica da Arca de Noé não é um boato (termo extremamente vulgar, neste contexto, porém usado pelo próprio Eberlin!), mas um fato. E, pior, ele afirma que conhece evidências que confirmam este alegado fato. Para justificar, por exemplo, como todos os animais puderam embarcar na Arca de Noé (estou assumindo que o leitor está familiarizado com a Bíblia Sagrada) o palestrante apela para Pangea. Desta forma animais não precisariam cruzar oceanos para alcançar Noé e sua monumental embarcação. 

É sabido que cerca de trezentos milhões de anos atrás havia um único continente em nosso planeta, chamado Pangea. E, segundo Eberlin, foi antes da ruptura de Pangea que Noé embarcou todos os animais da Terra em seu navio. Ou seja, Eberlin usa conceitos científicos quando acha conveniente (como o passado remoto de Pangea), enquanto ignora outras teorias científicas (como a evolução da espécie humana que, trezentos milhões de anos atrás, se reduzia a meros tetrápodes). Vale lembrar que mamíferos somente surgiram na Terra quando Pangea começou a romper, por conta da deriva continental. Isso foi duzentos milhões de anos antes do surgimento dos primeiros hominídeos. 

Procurando mais informações sobre o tema acabei descobrindo que este profundo embaraço provocado por Eberlin não é novidade. Em 2010, por exemplo, o blog da revista Unesp Ciência já publicava postagens que denunciavam seu escandaloso analfabetismo científico.

Mas, novamente, não quero desperdiçar o tempo do leitor com argumentos naturais contra a insana e alarmante irracionalidade e ignorância de um "respeitado" membro da Academia Brasileira de Ciências. O que realmente quero é alertar o leitor para jamais confiar em credenciais acadêmicas quando o assunto é ciência. Afinal, no que depender de autoridade acadêmica, o amalucado Marcos Eberlin conta com vasto material. Mas ele demonstra alguma racionalidade em seus discursos a favor de DI? Não. Simplesmente não.

Eberlin se confunde de maneira primária com conceitos científicos fundamentais e estratégicos, como "fato", "teoria", "probabilidade", entre outros. E ao acompanhar a sua palestra acabei lembrando que muitas pessoas se confundem gravemente com as diferenças entre teorias e fatos. Uma das confusões mais comuns é a seguinte: teorias são contestáveis e fatos são inquestionáveis.

Por que teorias são contestáveis? Eu poderia apresentar ao leitor uma vasta (porém infindável) discussão filosófica para justificar a contestabilidade de teorias científicas. Mas prefiro seguir um atalho que me parece bastante eficaz e convincente. Teorias científicas são concebidas e sustentadas pela mente humana. E como a experiência vem demonstrando ao longo de milhares de anos, humanos podem errar e muito frequentemente o fazem. Portanto, teorias podem ser contestadas justamente por serem criadas por seres humanos. E quem as contesta? Por enquanto, apenas a nossa espécie. Ou seja, assim como é humano errar, também é humano contestar.

Mas e fatos? Fatos podem ser questionados? Para responder a esta questão precisamos primeiramente saber o que é um fato. 

Na filosofia especulativa há inúmeras visões divergentes entre si sobre o que é, de fato, um fato. Por exemplo, na visão funtorial sobre fatos admite-se que a sentença "É um fato que" funciona como um operador que age sobre outras sentenças. No entanto, enquanto alguns filósofos assumem que fatos funtoriais podem ser contingentes (É fato que João está triste) e outros não (É fato que 2 + 2 = 4), grandes nomes da filosofia como Wittgenstein consideram que todo fato funtorial é contingente. Confuso? Então apelemos à matemática.

Entre as teorias formais de fatos, apesar da literatura ser escassa, também existem significativas divergências. Algumas das teorias formais de fatos mais conhecidas foram edificadas por pensadores com Roman Suszko (1968), Bas Van Fraassen (1969) e Edward Zalta (1991). No entanto, essas teorias diferem muito em pelo menos dois aspectos: as linguagens empregadas para fins de formalização (o que compromete a expressabilidade de cada teoria) e o suposto domínio de aplicação (de acordo com os interesses específicos de cada teórico). Portanto, nem mesmo do ponto de vista formal axiomático existe ainda uma visão unificada e suficientemente convincente para qualificar o que, afinal de contas, é um fato. Isso porque a própria noção de "fato" tem um caráter teórico, algo que parece ser inevitável na espécie humana. Afinal, assim como é humano contestar, também é humano teorizar e especular.

Uma rara visão que parece ser comum a todos os filósofos é que o conceito de "fato" está estreitamente ligado ao conceito de "linguagem". Isso porque tanto a filosofia especulativa quanto a filosofia sustentada por métodos formais da lógica-matemática qualificam e classificam fatos no contexto de alguma linguagem, seja natural ou formal. E como linguagens humanas limitam a expressabilidade de teorias ou até mesmo de visões meramente intuitivas, não há evidências de que tão cedo a espécie humana consiga entender o que é um fato. Logo, fatos são questionáveis. 

Quando um cientista defende uma teoria, ele se submete a críticas e revisões. E quando um cientista apresenta fatos, apenas expressa uma visão de aparente senso comum, nada além disso. 

Se uma pessoa pega uma pedra do chão e afirma que é um fato que ela tem uma pedra em sua mão, está apenas expressando linguisticamente uma experiência sensorial que eventualmente pode ser compartilhada com outras pessoas. Mas se ela apertar essa pedra com a própria mão, pode eventualmente perceber que aquele objeto não era de fato uma pedra, mas apenas esterco seco. Neste momento a pedra se esfarela.

Portanto, sempre tome muito cuidado com aqueles que fazem afirmações de forma convicta (por exemplo, "O que digo é um fato!"), especialmente quando demonstram aversão a críticas. Comumente são pessoas não confiáveis. Mas esta não confiabilidade radica principalmente na indisposição para o debate sério. Os cientistas mais confiáveis são aqueles que duvidam até de si mesmos. 

Ciência não é a busca pelo conforto da resposta, mas a insaciável sede pelo mundo das ideias. Se alguém tiver uma ideia melhor, que dê um passo à frente e fale. As comunidades científica e filosófica estão sedentas por ideias. 
___________
Observação: Acabo de saber que hoje mesmo foi publicada reportagem de Maurício Tuffani, no blog da Folha de São Paulo, sobre Design Inteligente no Brasil. Para acessar basta clicar aqui

35 comentários:

  1. Pau é pau. Pedra é pedra. E madeira petrificada?

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  2. Apesar de ser um ignorante no assunto,achei a postagem muito oportuna.Dito isso,gostaria de pedir o seguinte: Caro Prof. Adonai,o senhor poderia indicar alguns livros introdutórios sobre os temas tratados nesta postagem (terminologia científico-filosófica,distinção entre fato e teoria,o problema da "definição" na filosofia da ciência etc.) ?

    Lucas

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    1. Lucas

      Além dos links colocados na própria postagem, considero recomendáveis os livros citados no endereço abaixo.

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2013/03/apenas-alguns-livros-parte-i.html

      Há pouca literatura de boa qualidade sobre os temas acima em língua portuguesa. Espero ter ajudado.

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    2. Quanto a escassez de livros em português,já estava ciente sobre esse problema.Infelizmente,a pobreza da literatura sobre estes e outros temas relevantes é uma constante no nosso país.Basta ver o desinteresse das editoras em traduzir livros científicos (seja de matemática,filosofia,física etc) sob o argumento tacanho de que "quem tem interesse nesses assuntos já lê em inglês,francês etc".Tal postura só contribui para o desprestígio da língua portuguesa,visto que outras culturas (a exemplo dos falantes de espanhol e francês) dispõem de um amplo acervo de obras disponíveis em seus próprios idiomas sobre os mais variados assuntos.Por essas e outras,o Brasil permanece afastado dos polos geradores de inovação ao redor do mundo.No meu caso,no entanto,a barreira do idioma não é um problema,pois posso ler em inglês e espanhol.De todo modo,fico muito grato ao professor pelas valiosas informações ofertadas.

      P.S: Não sou um acadêmico,sou só mais um curioso.Ademais,parabéns pelo blog,não o conhecia e fiquei com ótima impressão.Espero poder ler as restantes postagens assim que possível.


      Lucas

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    3. Grato pelo apoio, Lucas. Sinta-se livre para questionar qualquer tema abordado neste blog.

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    4. Prof. Adonai, vi que o senhor publicou um livro chamado "O que é uma definição" pela editora Manole;no entanto,descobri que a obra se encontra esgotada.Posto isso,o preclaro amigo poder-me-ia enviar,se possível, o pdf do livro por email?

      P.S: Caso o senhor tenha condições de me mandar o arquivo,entro em contato com o professor a fim de remunerá-lo pelo valioso material.

      Lucas

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    5. Lucas

      Neste momento estou com acesso restrito à internet. Mas basta mandar e-mail para adonai@ufpr.br. Em, no máximo, três ou quatro dias envio o arquivo pdf que você solicita. Não há necessidade de pagamento. É sempre um prazer compartilhar ideias com aqueles que se interessam por matemática ou ciências.

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    6. Acabei de enviar e-mail da conta do meu irmão no Yahoo.

      Lucas

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    7. Recebeu o e-mail,professor?

      Lucas

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    8. Oi, Lucas

      Acabo de enviar o livro para o e-mail de seu irmão. Peço desculpas pela demora.

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    9. Olá Professor

      Desculpe abusar de sua bondade, mas também gostaria de um exemplar, mesmo que seja pago. Grato.

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    10. Aliás professor existe um livro que aborda este tema, chamado "O Problema das Definições Em Matemática". Conhece?

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    11. Hugo

      Graças à diversidade de opções que existe neste mundo, jamais precisei trabalhar como vendedor. Se eu tivesse que viver por conta de vendas, já teria morrido de fome há muito tempo. Basta enviar e-mail para adonai@ufpr.br e remeto os arquivos de dois livros meus sem cobrar coisa alguma. Aliás, você tem ideia de como disponibilizar arquivos pdf para download a partir do blogger? Se não souber, há como indicar alguém que saiba como resolver este problema? Meu objetivo é disponibilizar alguns textos para download gratuito.

      Com relação à sua última pergunta, lamentavelmente a literatura sobre definições em matemática é muito escassa ou exageradamente técnica. O melhor que posso fazer é indicar a literatura que já está presente na lista de referências que aparece em meu livro.

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    12. Obrigado Professor

      Peço perdão pois não tive intenção de ofendê-lo quando disse que poderia pagar, pois trata-se de uma excelente obra e eu sou apenas um reles estudante, apaixonado pela Matemática.

      Com relação à disponibilização de arquivos em PDF, não sei se possível diretamente do blogger; creio que somente por meio de sites de hospedagem:

      http://conectadosnosaber.blogspot.com.br/2012/10/inserir-arquivos-em-pdf-no-blog-blogger.html

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    13. Hugo

      Fica tranquilo. É claro que não me ofendi. Vi que já enviou o e-mail. Nas próximas horas enviarei os arquivos. Grato pela dica sobre sites de hospedagem.

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  3. Prof. Adonai,

    Semelhante ao Lucas, também sou ignorante no assunto e confesso que tenho uma tendência a acreditar no criacionismo. Sei que a teoria mais aceita entre os cientistas é a do Big Bang e imagino que deve conhecer bastante a respeito da teoria. Na verdade, minha grande dúvida quanto a essa teoria é: se ocorreu uma explosão cósmica, como surgiram/se formaram essas partículas subatômicas? É essa ideia de origem que não entra na minha cabeça... sei que o mesmo questionamento pode ser feito a respeito do criacionismo...Poderia comentar mais a respeito?

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    1. Cadu

      Antes de mais nada, preciso dizer que não tenho absolutamente nada contra aqueles que acreditam no Criacionismo. Mas quem abraça o Criacionismo, que o faça direito. Existe uma sustentação filosófica muito ampla e bonita para inúmeros preceitos do Cristianismo, bem como de outras religiões. Autores como São Tomás de Aquino e Blaise Pascal escreveram tratados belíssimos sobre esses temas. Ou seja, o genuíno cristão jamais pode se limitar à leitura da Bíblia. Precisa conhecer de forma crítica as crenças que abraça. Caso contrário, será um mero papagaio acéfalo. É claro que a racionalidade empregada em teologia tem uma natureza completamente diferente daquela empregada em ciências reais e formais. Ou seja, no meu caso prefiro as racionalidades da ciência. Mas faço isso por conta de uma tendência natural minha, assim como você admite que tem uma tendência natural a acreditar no Criacionismo.

      O erro mais grave que essa turma do Design Inteligente comete é a confusão que fazem entre racionalidades teológicas (se me permite usar este termo) e racionalidades científicas. Essas duas formas de pensamento simplesmente não combinam. Pascal foi um grande pensador que compreendeu isso muito bem.

      Com relação à sua questão sobre a formação de partículas subatômicas na origem do universo, esta ainda é uma questão em aberto. A bem da verdade não se sabe ao certo se houve mesmo um Big Bang. Há pesquisas muito recentes sobre buracos negros que têm colocado em xeque a tese do Big Bang. E uma teoria física que explicasse a formação de partículas subatômicas logo após o Big Bang deveria ser uma teoria que combinasse conhecimentos de diferentes áreas do saber, como teorias quânticas de campos, teorias gravitacionais e até mesmo mecânica quântica. Isso ainda não existe.

      Ciência é uma aventura. E nossas civilizações estão ainda engatinhando em termos de conhecimento científico. Há muitas questões que precisam ser respondidas.

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    2. Complementando...

      Se você deseja abraçar a proposta criacionista, que o faça de maneira honesta. Não seja como a maioria, que abre mão do livre pensamento se transformando em patéticos zumbis. É possível sim ter uma mentalidade religiosa sem se tornar um tolo, mas um genuíno pensador. Fortemente recomendo o livro Pensamentos, de Pascal. Leia, reflita e discuta com aqueles que têm a mesma disposição. Mas, se algum dia sentir que talvez você devesse seguir um caminho diferente, que também o faça. Mas jamais faça isso maldizendo suas escolhas do passado. A vida é um constante processo de aprendizado, seja científico, religioso, cultural, histórico ou artístico.

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    3. Obrigado pelos comentários e sugestão dos livros, venho tentando seguir esse processo de constante aprendizado e não me tornar extremista em minhas convicções, que como você bem colocou, podem ser transitórias. Embora escreva sobre outras questões, gosto bastante das ideias de Stuart Hall, quando aponta o caráter fluído, cambiante e contraditório da identidade.

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    4. Uma outra questão: em vez de tendência natural (que pare remeter a uma essência), não seria mais interessante pensar em tendência contextual ou cultural, isto é, talvez se eu nascesse em um país budista e minha família e amigos fossem budistas, possivelmente eu também seria budista...

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    5. Cadu

      Seu último comentário também é uma questão em discussão. Existem sim influências sócio-culturais sobre cada um de nós. Mas existem também tendências individuais. Você, por exemplo, vive em um país cuja cultura dominante praticamente despreza o diálogo sensato. No entanto, você não demonstra este aspecto do espírito brasileiro.

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  4. Novamente agradeço pelos comentários e aproveito para perguntar se conhece algum autor que estude essas questões de tendências individuais. Pretendo iniciar a leitura da chamada última fase de Foucault, em que o autor passa a considerar a produção da subjetividade, mas já adianto que não tenho ideia dos apontamentos do filósofo.

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    1. Cadu

      Passei os últimos dias em período de festas. Daí a demora para responder. Infelizmente jamais estudei sistematicamente este tema. Se eu fosse recomendar algo seria por consulta rápida à internet. E não acho isso aconselhável. Mas peço que avalie também a leitura de Foucault. É sempre fundamental conhecer as obras dos grandes pensadores do passado. Mas não esqueça que todos os ramos do conhecimento têm evoluído de maneira assombrosa. E é importante também lembrar que a internet oferece uma pequena parcela do conhecimento científico e filosófico hoje existente. Fortemente recomendo que procure contato com especialistas sobre os temas que você deseja conhecer.

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  5. Eduardo Silva

    Os defensores do criacionismo e do d.i. utilizam, basicamente, o apelo à ignorância: há lacunas (como talvez em todas as teorias científicas) na teoria evolutiva através de seleção natural e na teoria do Universo inflacionário; portanto há uma inteligência que criou e que rege tudo -- a essa inteligência definimos como Deus (esse é o famigerado "god of the gaps").

    Parece-me que há dois problemas aí: um, semântico (o que é "inteligência" nesse contexto? O que é "Deus"? A definição clássica e originária é a do teísmo judaico-cristão -- todos as outras definições derivam dela; o panteísmo é o mais explícito na questão semântica: substitue-se o termo "Universo" por "Deus", mas o que isso muda para além da percepção subjetiva? O outro é a crença, consciente ou não, na inerrância absoluta da Bíblia.

    Prof., na postagem sobre a improbabilidade de Deus você escreveu que os ateus são "pessoas ingênuas"; se puder, pois a frase me chamou a atenção, gostaria que v. a explanasse melhor.

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    1. Eduardo

      Quando digo que ateus são ingênuos, coloco apenas uma opinião. Isso porque ateus são crentes. Creem na inexistência de Deus. E não vejo vantagem na troca de uma crença por outra. Prefiro a postura dos agnósticos, pois eles reconhecem racionalmente a limitação humana para lidar com a noção de Deus.

      A propósito, gostei muito do que escreveu acima. Grato pela colaboração.

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    2. Eduardo Silva

      Prof. Adonai, obrigado pelo esclarecimento. Sua posição me parece similar à do Neil deGrasse:

      https://www.youtube.com/watch?v=CzSMC5rWvos

      Penso que rótulos (e me desculpem o(s) leitor(es) deste comentário, pelo vocabulário vulgar)... rótulos são como biquínis: chamam a atenção mas não cobrem tudo.

      Indo mais no propósito da postagem, qualquer mente um pouco mais lúcida perceberá na vida acadêmica que muitos especialistas, mesmo os mais competentes, costumam errar. Às vezes, muito. O brilhante Feynman chegou a dizer: "The first principle is that you must not fool yourself -- and you are the easiest person to fool", além de "Science is the belief in the ignorance of experts". Mas talvez ele estivesse errado...

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    3. Mas a maioria dos ateus (pelo menos aqueles que o são por possuírem uma mente científica) são o que consideras agnóstico. O próprio Dawkins, um "neo-ateu" famoso diz que é impossível afirmar a não existência de Deus. Negar a idéia é sim possível, dado que não há evidência alguma para esta idéia, tornando-a tão fraca quanto fadas e unicórnios (mas os cristãos insistem nela por conforto).

      Em suma, sou ateu, mas se uma prova de Deus aparecer, passo a acreditar em sua existência (afinal isso não é questão escolha, pelo menos para os sãos). Contudo isso é diferente de seguir seus preceitos, mesmo ele sendo "O Criador".

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  6. Olá prof. Adonai

    Conheci o D.I. através de um artigo do prof. Marcos Eberlin. A princípio achei muito interessante, algo que esta muito claro pra mim é a teoria da evolução de Darwin. O prof. Eberlin me fez pensar e pesquisar muito a respeito. Lembrei dos pesquisadores que escreveram um artigo considerando o universo como uma simulação numérica ( http://arxiv.org/abs/1210.1847 ) entre outras teorias que consegui achar na internet.
    Porém, foi decepcionante a conclusão que cheguei sobre esse pessoal que defende o D.I. Eles não fazem ciência. O próprio Eberlin afirma que todo cientista ao tentar explicar um fenômeno ele deve considerar duas possíveis explicações, ação da natureza ou ação inteligente. Só que tem um problema, ele nunca definiu o que é um ou outro.
    Seria realmente incrível se os defensores do D.I. tivessem pensamento sério.

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    1. Felipe

      Entendo o que coloca. Mas peço que tome cuidado com a sua visão sobre a teoria da evolução. Sempre desconfie de "visões claras". Existem tratamentos axiomáticos para a teoria da evolução que ajudam a levantar muitas questões pertinentes. O tema é realmente complicado.

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  7. Sobre a questão Design Inteligente (ou Criacionismo) ou Teoria da Evolução me parece que a disputa pela vitória de uma ou outra teoria é pura perda de tempo. Creio que vale analisar com acuidade ambas. Não existe nenhuma necessidade de haver vencedor. Aquele que conseguir estudar as duas teorias, de forma livre, sem julgar e/ou discriminar uma ou outra, terá a sua verdade resolvida. Ponto final. Ambas teorias, apesar de antagônicas, não subsistem separadamente. Elimine uma delas e a que sobrar não poderá mais ser compreendida. Uma é totalmente dependente da outra para fazer sentido. Assim como se eliminássemos a ideia de positivo, como iríamos entender o negativo. Pode parecer um pensamento tolo, mas tente entender a ideia.
    Portanto hoje, e reforço o hoje, compreendo desta forma. Para mim a ideia de 'Fé" não me faz bem. Ter fé me deixa sempre uma lacuna. É como se faltasse algo, não preenche e não satisfaz a minha mente. Penso que este é o caso da questão posta: duas crenças antagônicas em disputa. Teoria é teoria. Os argumentos dão a consistência.
    Toda a questão se resume em consciência. Se não houvesse consciência a polêmica não existiria. Se a consciência pode ser controlada, caso que penso ser pertinente ao criacionismo, o livre arbítrio desaparece, e portanto é inútil resistir. Tenhamos fé que é mais fácil! Se não puder ser controlada, caso pertinente à evolução, cada um de nós pode criar o seu Universo, e ai o criacionismo joga ao nosso favor, ou seja, somos o criador e não a criatura. Foi possível entender a lógica?
    Deixar as duas teorias existirem me parece o mais sensato, caso contrário a ciência já estaria pronta e bastaria decorar. Exercitar a razão faz bem à saúde, mesmo aquele exercício que não concordamos. Se quisermos um Universo diferente, devemos construir e não destruir os já existentes.

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    1. João Luiz

      Um projeto que estou desenvolvendo tem forte relação com a sua visão. Espero poder discutir sobre isso o quanto antes na forma de uma detalhada postagem.

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  8. Dei uma olhada no currículo Lattes do camarada e achei interessante a contagem nos dois primeiros artigos que ele publicou, os de número 797 e 798. Não tenho saco de ficar procurando se isso aconteceu em outros casos mas me parece estranho.

    Mais sério e estranho que isso foi a pesquisa que fiz na sequência. Procurei no Science Direct o número de publicações de Isamu Akasaki, que de 1985 a 2014 (mesmo período de publicação que o camarada aí) publicou uns 80 artigos. Que contribuição este camarada deu em cada um destes artigos?

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    1. Douglas

      Interessante notar também que Eberlin cita no Currículo Lattes um artigo na revista Nature que jamais foi publicado em Nature.

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  9. Putz, acabei de ler esta postagem.

    Como químico de formação e adepto do aprendizado interdisciplinar verdadeiro com áreas paralelas, sinto-me profundamente envergonhado e profissionalmente ofendido com a postura daquele que deveria ser um genuíno e exemplar colega de profissão.

    =(

    A Química já enfrenta o terrível (porém compreensível) estigma de ser considerada o "patinho feio" das ditas Ciências "Exatas"/Naturais e, como se não bastasse, ainda precisa lidar com figurões como este aí.

    Espero que os leitores consigam discernir que os escritos de Eberlin representam meramente A OPINIÃO DELE, e não algo que químicos defendam no geral.

    Quanto a mim, posso apenas lamentar o comportamento desse "colega" e pedir que os leitores considerem este como um ponto de vista que representa apenas Eberlin, e não a classe dos químicos como um todo.

    Infelizmente ainda existem pessoas no mundo acadêmico que acreditam cegamente em ideias absurdas, ou mesmo que misturam crenças com teorias e fatos de natureza técnica de forma aleatória e indiscriminada, além daqueles que ainda defendem pseudo-ciências como a homeopatia, por exemplo, como se já tivessem adquirido o devido reconhecimento da comunidade científica.

    Muito triste.

    =(

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