quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Afinal, você é negro ou bonito?



Os programas de cotas nos vestibulares brasileiros são um exemplo claro do despreparo de nossa sociedade para lidar com desigualdades sociais. Ao invés de investirmos seriamente em um país com menos injustiça, criamos programas de cotas para negros e alunos de escolas públicas. Os programas de cotas são apenas uma institucionalização oficial das diferenças sociais que não conseguimos encarar de frente e de maneira responsável. É o reconhecimento de que ainda precisamos dividir as pessoas em classes, a saber, alunos de escolas públicas e alunos de escolas privadas. É a afirmação universitária e governamental de que devemos segregar nosso povo em negros e pardos e o resto. Tal segregação racial é mais grave do que normalmente se julga. Afinal, sempre houve a mentalidade popular de que japoneses e seus descendentes têm desempenho superior nos estudos. Será que não seria então o caso de dificultar o ingresso dessa etnia em nossas universidades públicas? Afinal, os brancos e os negros podem se sentir ameaçados por essa concorrência desleal, dado o desempenho escolar superior de isseis, nisseis, sanseis e yonseis. 

E quanto aos descendentes de italianos? Alguém já fez algum estudo sobre a discriminação contra eles? Descendentes de italianos têm oportunidades melhores ou piores do que aqueles que têm origem alemã? E quanto às loiras? Não são constantemente chamadas de burras? Não deveria haver programas da cotas para loiras? E por que discriminação religiosa não conta? Afinal, existem aqueles que são chamados de islâmicos intolerantes e fanáticos, porcos judeus, católicos sem graça, crentes ignorantes, agnósticos desalmados etc. Há também a discriminação estética. Tanto pessoas bonitas quanto feias são diariamente discriminadas no mercado de trabalho. Não são raros aqueles que creem que mulheres bonitas não precisam estudar, pois podem conquistar maridos ricos. E quanto aos feios, nada mais precisa ser dito. Afinal, são feios.

Em parte, os programas de cotas se devem ao fato de que apenas uma minoria tem direito ao famoso ensino público e gratuito das instituições de ensino superior federais e estaduais. O sistema de vestibulares em si é uma violência ao bom senso e a qualquer sentido equilibrado de justiça. O ingresso a universidades é tratado como uma corrida de cães. Não vence o cão que sabe correr. Vence o cão mais veloz. Uma simples gripe pode ser suficiente para prejudicar o desempenho de um vestibulando e atrasar seus estudos pelo período de um ano, ainda que ele tenha estudado com profundo afinco a vida toda. A recente decisão do Governo Federal de substituir o vestibular pelo novo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em centenas de universidades não muda o quadro para melhor. Apesar do discurso oficial de que o ENEM deve privilegiar raciocínio sobre simples memorização, o estado atual da educação em nosso país está longe de sequer compreender o que é raciocínio. Por isso, não me importa se o exame seletivo para ingresso em universidades se chama de vestibular ou ENEM; continuo a usar o termo vestibular para designar esta perversão que agora pretende ser mais centralizada, fortalecendo mais do que nunca a forte influência do Governo Federal sobre seus subalternos: os alegados cidadãos.

O que significa a reprovação de um jovem em um concorrido vestibular? Significa que ele não está apto para realizar estudos universitários? Os critérios dos vestibulares são formativos ou seletivos? A pergunta é obviamente retórica. Mas como encarar a inconsistência entre doze anos de estudos formativos e dois ou três dias de avaliação seletiva? Não há interesse em se discutir sobre a diferença entre tais critérios e seu impacto sobre a sociedade e sobre os cidadãos? Uma pessoa pode ser julgada incapaz de realizar uma tarefa (um curso superior) sem ter tido a chance de sequer iniciá-la? É justo que tenhamos escolas públicas ruins? É justo que tratemos negros de maneira diferenciada? Afinal, o que são negros em um país tão miscigenado como o Brasil? Há uma definição de caráter genético para negros? Há algum critério objetivo para a discriminação racial promovida por governos? É justo que não existam vagas universitárias para todos os jovens que sonham com um futuro melhor? É justo que autoridades nos deem migalhas e que ainda tenhamos que agradecer pelo pouco que recebemos, brigando entre nós por uma vaga na universidade? É por isso que nossos filhos se sujam em trotes de vestibular, por viverem em um sistema imundo? 

Anos atrás realizei um trabalho voluntário e individual em uma escola pública estadual de Curitiba. Foi um fracasso. Não consegui vencer a barreira da crença cega daqueles alunos de que jamais poderão ingressar em uma universidade. Afinal, para ingressar em uma universidade pública eles não têm conhecimento o suficiente para enfrentar os jovens que têm acesso a cursinhos pré-vestibulares. E para cursar uma universidade privada, não há dinheiro que pague as mensalidades. Iniciei minhas atividades, a contragosto da descrente diretora da escola, com cerca de trinta alunos. Após duas ou três semanas, cheguei em um sábado pela manhã e não encontrei um único estudante. A quem se deve o fracasso? Talvez a mim mesmo. Mas o fato é que, entre os trinta alunos, apenas um admitia a possibilidade de pensar a respeito de vestibular.

Um país com responsabilidade social deve garantir acesso ao ensino superior para todos que assim o desejarem e que demonstrarem desempenho satisfatório em um processo de constante acompanhamento, feito por profissionais da educação da reconhecida competência.

Houve época em minha vida na qual colaborei com a aplicação de provas do vestibular na Universidade Federal do Paraná. Quando percebi que as condições não eram as mesmas para todos os candidatos, tentei fazer algo a respeito, mas a resposta de meus superiores foi a mais estúpida possível: intransigência absoluta. Sequer vale a pena pensar sobre o assunto.

Em geral, os envolvidos na aplicação de provas vestibulares são boçais e ignorantes. Há aplicadores de provas que conversam enquanto os alunos tentam responder a questões, e há uns poucos que conseguem ficar em silêncio durante o mesmo período. Há aplicadores que dão orientações erradas aos candidatos e outros que não fornecem orientação alguma. Há aplicadores que não conferem tempo extra após o término das provas, e há os que agem de maneira oposta. Há até mesmo aplicadores de provas que conseguem fazer comentários perturbadores aos próprios candidatos de suas turmas, provocando desnecessário estresse emocional (complementar). Sabendo que o sucesso ou fracasso no vestibular pode ser determinado por uma única questão, e tendo em mente que mínimos distúrbios de concentração podem ser suficientes para justificar um erro na resposta a uma questão, onde está a justiça deste sádico processo de seleção? Somos criaturas que discriminam até mesmo sob o hipócrita manto da igualdade? 

São animais os que aplicam vestibulares e são tratados como animais os que se submetem a isso. E não é minha pretensão ofender os animais. Mas somos verdadeiros porcos mentais.

Ainda que o problema de número de vagas seja difícil de resolver a curto prazo, por que colocar os jovens na corda bamba? Por que o desempenho escolar ao longo de anos não pode contar como crédito? E por que não pensar em termos de entrevistas, cartas de recomendação e avaliação de atividades extra-curriculares realizadas ao longo da vida escolar? Se um jovem brasileiro sonha em realizar estudos universitários, o único período escolar que interessa é o último? E o mais incrível é que a maioria parece encarar isso com naturalidade. Novamente temos o problema cultural de mentalidade porca.

Quem pode ser insano ou estúpido o suficiente para acreditar que doze anos de estudos, do primário ao ensino médio, podem ser avaliados em dois ou três dias, com um grau de sensibilidade que pode depender de uma só questão entre dezenas? A resposta é simples: nossos "professores universitários". 

Os "professores universitários" deste país sempre souberam gritar alto quando o assunto é salário. Greve! Greve! Greve! O medíocre e hipócrita discurso da universidade pública, gratuita e autônoma sempre foi afogado com simples aumentos salariais durante os períodos de greve. Os "professores universitários" brasileiros, enquanto classe profissional, demonstram estupidez, insensibilidade, egoísmo e falta de visão. Chegam a reivindicar progressão funcional baseada apenas em tempo de serviço, o que garantiria ascensão de carreira até mesmo para aposentados. Com a estabilidade de emprego garantida, todos teriam progressão garantida. Isso é demonstração de inteligência ou justiça? Se nosso futuro depender do atual sistema de ensino universitário público, não há nada além de miséria adiante.

É claro que em discursos individuais, conheço muitos professores universitários que são contra o vestibular. Mas algo é feito para mudar? Mesmo instituições privadas de ensino superior, que também poderiam insistir por métodos mais justos do que vestibulares, continuam a perpetuar esse massacre social. Há universidades privadas que encaram o fato de que o número de candidatos inscritos em vestibular é praticamente igual ao de vagas. E ainda assim insistem no concurso vestibular. Ou seja, o vestibular é um fenômeno cultural praticamente acima de suspeitas no Brasil. Não há movimentos articulados contrários a ele. Ficamos acostumados, acomodados.

Sempre critico a estabilidade dos professores universitários, a qual forma sistematicamente profissionais amorfos, preguiçosos. Mas será que esse comodismo não é uma característica inerente do povo brasileiro? E, além disso, agora estamos fortalecendo a discriminação? No que exatamente estamos nos transformando?

19 comentários:

  1. Mestre, sobre a questão das cotas, creio que as "raciais" se justificam, pois basta pensar em qual etnia foi escravizada em nossa história. E se a balança então pende pra o lado de todos os demais, cedo ou tarde a sociedade tem de ser aparentemente discriminatória e dar uma chance a mais aos negros, pois estão à margem da sociedade, tanto em valores médios quanto em absolutos. Se não concorda, pegue o carro e saia para passear nas vilas e favelas mais humildes da grande Curitiba, saberá do que chamo de margem. Vale lembrar também que o descendente indígena tem suas facilidades no ingresso ao curso superior, sou a favor disso pelos mesmos motivos e é bacana de ver alguns dos projetos que são por eles desenvolvidos em suas comunidades (que não aconteceriam se não existisse o favorecimento no ingresso).
    Acho que um conceito equivocado que têns é que a universidade é um espaço somente para os melhores. Digo isso pois acompanho em silêncio muitos de seus post's. Bom, talvez na hora de investir na pós graduação, ou na hora de selecionar um professor-pesquisador esta deve ser a diretriz: escolher os melhores! Mas ao menos na graduação, nos projetos de extensão, e mesmo na hora de se fazer pesquisa, a universidade tem um compromisso social, em sentido amplo. Isto, ao meu ver, justifica por si o esquema de cotas sociais, e "raciais".
    Por isso também deve se ter cuidado com as parcerias público-privadas que a universidade faz na hora de arrecadar fundos e financiamentos pra pesquisa. Afinal de contas, se este processo for desenfreado, em breve a coca-cola, a michelan, a new holland ou qualquer outra gigante da indústria fecha as portas do campus para usa-lo só pra si.
    Sobre a greve, veja que os docentes não pedem apenas aumento de salário, mas mesmo isso por si seria justificável, uma vez que a maioria tem o salário defasado em comparação com outros servidores federais com igual ou menor grau de formação. Temos que levar em conta a questão da desorganização do plano de carreira, medidas para o aumento das hora/aula/semana dos professores, o que os tirariam da pesquisa e extensão. Sobre a questão da estabilidade, até isso é discutível, pois numa situação em que o governo lidasse com descaso ou com medidas abusivas contra os servidores, e estes entrassem em greve, poderia acontecer uma demissão em massa, então a legislação tem de amparar o lado mais fraco na relação, no caso o funcionário. PORÉM, concordo contigo, por experiência própria, que isso dá margem a pessoas de má fé para usarem sua estabilidade para vagabundear, com o perdão do termo.
    Mas isso é somente a minha opnião.

    Abraços!

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    1. Lucas Lima

      Seu comentário merece uma resposta muito mais detalhada do que aqui forneço. Mas tentarei abordar alguns pontos que julgo essenciais:

      1) Se formos buscar por justificativas para as cotas raciais, daremos precedentes para justificativas para outras minorias no futuro. O tempo provará esta tese. Os programas de cotas mascaram o fato de que o Governo Federal investe pouco no ensino público superior.

      2) Não defendo que a universidade é um espaço apenas para os melhores. Defendo que a universidade deve se tornar um espaço para todos os interessados. Mas isso não pode acontecer com a atual estrutura administrativa e política das universidades públicas em geral.

      3) Seu medo de empresas como Coca Cola estranhamente não se estende para o medo de o Governo Federal estar direcionando o destino das universidades federais para seu próprio benefício. Por que?

      4) O que os professores pedem em greves não está em acordo com aquilo que basta para fazê-los se calar. É fato que basta dar aumento salarial para fazê-los desistir de greve.

      5) Justificar aumento salarial para professores com base em comparação com demais servidores públicos é insensato. Estamos simplesmente andando em círculos com isso. Por isso defendo a adoção de meritocracia. Se um encanador é mais competente realizando seu trabalho do que um pesquisador universitário, não vejo motivo para ele ganhar menos. Mas esta é apenas uma visão pessoal, nada mais.

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    2. Adonai.

      Li duas vezes a sua postagem, tinha várias dúvidas, mas vou me deter a questionar a sua resposta no item 2 acima. Se vc considera que "a universidade deve se tornar um espaço para todos os interessados, mas isso não pode acontecer agora, com a atual estrutura administrativa e política", eu pergunto: então, quando??

      Num país de tantas desigualdades, onde a imensa maioria dos que tinham acesso a cursos "superiores" em universidades públicas eram aqueles cujos pais podiam pagar pelo ensino privado, vc não acha que pedir aos "desvalidos" para "aguardar" um tempo em que as tais "estruturas políticas e administrativas" sejam as mais adequadas, seja pedir demais? Talvez eu tenha entendido de forma errônea seu pensamento a respeito, e agradeceria se pudesse esclarecer;

      No mais, enquanto esse não for um país/governo que promova a igualdade a permitir chances iguais para todos, sou totalmente favorável ao sistema de cotas;

      Abraços!

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    3. Oi, Julio

      O problema é exatamente este: o contentamento com as migalhas oferecidas pelo Governo Federal. Se existem países que conseguem oferecer educação de qualidade para praticamente todo o seu povo (como a Finlândia), por que não podemos fazer o mesmo por aqui? Discutir se somos a favor ou contra cotas é perda de tempo. É uma cortina de fumaça. Precisamos exigir um investimento maciço, permanente, competitivo e estratégico em educação, seja superior, básica ou técnica. Mas, pelo que percebo, só consigo me fazer entender entre os que já perceberam isso por conta própria.

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    4. Olá Adonai.

      Não digo que devemos nos contentar com migalhas, venham de governos (qq. esfera), organizações sociais, empresas, etc, mas acho que sistemas de inclusão social como esse, de cotas, trazem mais benefícios do que os eventuais males que possam causar. Na verdade, a gênese dos nossos problemas está na extrema desigualdade social, no abismo que separa os que podem tudo, mesmo que não queiram, e os que nada podem, independetemente de desejo e/ou disposição pessoal para lutar por um lugar ao sol;

      Mesmo nos EUA, numa sociedade de competição extrema, em que se premia o mérito, muitos estudantes só conseguem ter acesso ao ensino superior de excelência das mais renomadas universidades quando são atletas capazes e que portanto, podem "dar algo em troca" para essas mesmas universidades;

      Não concordo com idéia de que somos um país onde "inexiste o racismo", face a miscigenação. Para entender o quanto "somos racistas", basta ir a qq. universidade pública ou privada, e ver a quantidade de negros nos cursos de medicina, odontologia, engenharia civil, etc, etc, em especial, nos cursos no período diurno;

      Quanto a exigir investimentos, eu concordo contigo, mas, bem mais que o "quanto", me preocupo com o "como" e o "onde" esses recursos serão aplicados, com a qualidade do investimento, pois torrar dinheiro público parece ser uma obsessão para qq. governante, não importa a cor partidária, ideologia, etc, afinal de contas, o "dinheiro não é deles";

      Ainda sobre a questão do investimento, pergunto o que vc acha do programa "ciência sem fronteiras", do governo federal? É um caminho para aprimorar nosso sistema de ensino?

      Abraços!

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    5. Sobre o comentário do Lucas: "...creio que as "raciais" se justificam, pois basta pensar em qual etnia foi escravizada em nossa história. E se a balança então pende pra o lado de todos os demais, cedo ou tarde a sociedade tem de ser aparentemente discriminatória e dar uma chance a mais aos negros, pois estão à margem da sociedade, tanto em valores médios quanto em absolutos. Se não concorda, pegue o carro e saia para passear nas vilas e favelas mais humildes da grande Curitiba, saberá do que chamo de margem..."

      Cotas não vai tirar essas pessoas da miséria. Mudar a realidade dessas pessoas é muito mais complexo do que apenas dispor algumas vagas nas universidades. O que tem que mudar é a forma como são encarados os problemas nesse país, tal como, vamos acabar com a pobreza! com o Bolsa Família; vamos melhorar a segurança da cidade com lâmpadas que iluminam melhor! essa é uma proposta de um dos candidatos à prefeitura de Curitiba; e as pessoas que estudaram em escolas públicas ou as negras, ou os dois, vamos dar cotas nas universidades!

      Cara, a escravidão não acabou! A sociedade é escrava, então vamos dar cotas a todos! Isso vai resolver o problema?

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    6. Julio

      Observe que eu jamais disse que não somos um povo racista. Apenas afirmei que somos um povo com misturas de raças (se é que raças existem em nossa espécie, pelo menos do ponto de vista genético). Se o programa de cotas trará mais vantagens do que desvantagens, somente o tempo responderá. Em conversas pessoais com vários cotistas, porém, já observei que a maioria afirma ser contra o sistema. No entanto, aproveitaram a oportunidade como qualquer um de nós aproveitaria.

      Um dos pontos que me preocupa nos programas de cotas é que instituições de ensino superior estão criando critérios arbitrários para separar raças com fins seletivos. Isso definitivamente é discriminação racial. Abre um precedente social e juridicamente perigoso.

      Com relação ao programa Ciência sem Fronteiras, tive pouco contato com ele. O pouco que vi eu não gostei. Até relatei sobre isso na postagem "Sem Fronteiras?".

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  2. Muito bom o texto que nos faz refletir sobre a nossa situação não só como aluno ou professor mas como cidadão brasileiro. Infelizmente nosso sistema de ensino afugenta os jovens da escola que veem o estudo e a educação apenas como uma obrigação imposta pela sociedade. Não estudam pelo prazer de novas descobertas e de novas realizações. Voltando a questão das cotas e discriminação, agora que cheguei aos 40 anos percebo outro preconceito agora com relação a idade me perguntam se eu não enjoo de estudar como se estudar tivesse idade certa para parar ou começar.Eu não desisto, estudo por prazer.

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    1. E eu me pergunto até quando insistirei na educação.

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    2. Concordo plenamente com o autor do comentario, nosso sistema de ensino nao ensina as pessoas a aprenderem por prazer, mas sim por obrigação, um sistema que busca quantitizar conhecimento, e distinguir com um vestibular os 'bons' e os 'ruins', como se conhecimento pudesse ser medido, como que se apenas os que passam no vestibular tivessem a chance e a capacidade de aprender, engraçado é o fato de que muitos dos que nao passam no vestibular tem tenta ou talvez mais capacidade dos ditos 'bons' que passam no vestibular. E com esse sistema de cotas criam outros preconceitos de que quem estuda em colegio publico, ou se adequam em algumas das ditas 'raças', sao menos capazes, como se 'raça' definisse potencial. Mas infelizmente é assim né Brasil, sabemos como é.

      Infelizmente

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  3. Adonai


    Além de todas as injustiças que vc bem menciona, ainda existe o aspecto da frustração gerada pelo Sistema até mesmo sobre pessoas que foram "coroadas" por este mesmo Sistema como "as melhores e potencialmente mais capazes e aptas", a "nata da Sociedade" que deve ter "a palavra final" sobre determinados assuntos.

    Recentemente, passei por uma situação altamente embaraçosa e que me deixou com vontade de rasgar, picotar e queimar meu diploma universitário e me fazer trocar de lugar com a pessoa que bem realizou a observação que descreverei a seguir.

    Eu tinha ido num shopping aqui em Curitiba fazer compras e, ao passar no caixa, havia duas moças do caixa fazendo um esforço enorme para separar dois recipientes de vidro "entalados" um no outro (imagino que por atrito, diferença de pressão e por estarem hermeticamente conectados).

    Na mesma ocasião, lembrei de uma situação parecida no laboratório onde fiz meu mestrado em Química, no qual a porta de madeira estava entalada por atrito junto ao encosto também de madeira.

    Na época, um colega mestrando sugeriu usar um pouco de água para "lubrificar" a junção.

    Como as moléculas de água interagem entre si por "forças atrativas" conhecidas como "pontes de hidrogênio" e estas são energeticamente mais suscetíveis de serem "desfeitas" do que a forte interação de superfície entre a celulose e outros componentes dos pedaços de madeira envolvidos, a adição de água nas juntas das portas parecia ser uma excelente ideia para reduzir o atrito entre as partes de madeira e fazer a porta abrir.

    CONTINUA

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  4. Dito e feito, o resultado não poderia ter sido diferente. A porta abriu com uma facilidade estrondosa.

    Depois de lembrar desta passagem, resolvi usar o mesmo raciocínio para os recipientes de vidro e sugeri que as moças colocassem um pouco de água na junta dos potes de vidro.

    Enquanto uma delas aceitou a ideia sem pestanejar, a outra se desesperou, dizendo que a ideia era péssima, pois "a pressão da água sobre o vidro faria os potes trincarem e quase quebrarem, perdendo ambos os potes" (nestas últimas aspas, palavras da moça).

    Em princípio, não entendi e até ignorei o comentário desta última e insisti na adição de água.

    Esta última moça ainda alertou a amiga que, se ela fizesse aquilo e os potes quebrassem, haveria uma punição sobre ela por parte da gerência.

    Entretanto, a primeira moça optou por seguir meu conselho e adicionou um pouco de água aos potes.

    Com a mesma facilidade que a porta de madeira se abriu no caso do laboratório na universidade, os potes de vidro trincaram e quebraram......

    A moça que seguiu meu conselho entrou em desespero (com razão) pois sabia que levaria uma enorme bronca. A segunda moça (que se opôs à ideia) olhou para mim com um certo ar de "viu o que vc fez?", registrou minhas compras, terminou de me atender e continuou com outros clientes.

    CONTINUA

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  5. Quanto a mim, o primeiro pensamento que me passou pela cabeça após o ocorrido foi: "de que adiantou todas aquelas notas elevadas do tempo de faculdade e de escola, o vestibular, as conquistas em provas, as várias e intensas horas dedicadas ao estudo e leitura na área técnica, as conversas e discussões sobre Física e Química com colegas e professores, se sequer eu consegui prever o que aconteceria ao adicionar água nas junções de vidro, fazendo-os quebrar?????? Estudei tanto para não conseguir prever um evento tão simples quanto esse??????"

    Em seguida, pensei: "e esta segunda moça do caixa, que me alertou sobre a possibilidade dos potes quebrarem, será que alguma vez teve a chance de expor suas ideias e percepções da natureza, tendo a chance de ser ouvida e levada a sério alguma vez na vida????? Ou será que, por alguma razão qualquer, seus professores e pessoas que a cercaram simplesmente acharam (por razões estúpidas e mesquinhas) que ela não tinha potencial para ser nada além de uma funcionária do mais baixo escalão de um mercado, ou qualquer outro serviço de simplicidade parecida?????"

    Por várias semanas, me passou pela cabeça que o correto seria eu estar no lugar dela (como caixa) e ela estar no meu lugar (como mestre em Química)......

    Fiquei dias pensando no porquê do uso de água ter dado tão errado com os potes de vidro e não ter falhado com a porta de madeira.

    Após um bom tempo pensando, levantei algumas hipóteses envolvendo taxa de escoamento de fluídos, tensão superficial, as próprias "pontes de hidrogênio" envolvendo as moléculas de água, as possíveis interações entre as moléculas de água e os silicatos, óxidos e carbonatos que compõem o vidro, etc.

    Não sei dizer quais seriam os fatores preponderantes e decisivos para o que aconteceu, mas quaisquer que sejam eles, todos depõem em favor do que a moça disse (ingenuamente ou não) sobre "a pressão da água aumentar" no local de contato entre os vidros, forçando-os a se romper e trincar, quebrando em seguida a ambos e resultando na bronca que a primeira moça levaria por quebrar dois objetos de vidro não tão baratos,,,,,,,

    Este fato, ao meu ver, serve para ilustrar e corroborar o exposto aqui.

    Passei por outro embaraço, em uma circunstância completamente diferente e bem menos grave do que esta, mas que comentarei em uma outra ocasião......

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  6. Gostei dos comentários,isso sim e democracia,Adonai Parabéns pelo texto!


    "Quem nasce para ser prego nunca será um martelo"

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  7. Gostei deste texto:
    http://xadrezverbal.com/2013/11/21/dia-da-consciencia-negra-cotas-para-que/
    Ele contrapõe alguma de suas ideias.

    E este daqui é uma "expansão" do primeiro:
    http://xadrezverbal.com/2014/02/28/escravos-africanos-e-o-trafico-atlantico-historia-politicamente-incorreta/

    Renato

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    1. Renato

      Os textos indicados são excelentes e realmente informativos. Agradeço pelas referências. No entanto, ainda não justificam a maioria das políticas atuais de combate ao racismo. As relações de tensão e até conflito entre diferentes raças, ao meu ver, precisam ser compreendidas do ponto de vista de ecossistemas. Você bem deve saber que a interferência humana para restaurar ecossistemas frequentemente piorou a situação. Isso aconteceu por falta de uma compreensão maior sobre tais sistemas de relações entre espécies e ambiente. Algo semelhante acontece no combate ao racismo: políticas são adotadas antes que algum segmento social sensato tenha segurança sobre a chance de sucesso de tais políticas. O que é um segmento social sensato? É uma comunidade de pesquisadores que consiga apresentar modelos devidamente validados para descrever a dinâmica de relações raciais.

      Para ilustrar sobre o que estou falando, recomendo o texto abaixo:

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2014/04/modelo-matematico-para-o-futuro-da.html

      Certamente atitudes precisam ser tomadas para minimizar o câncer social do racismo. Digo "minimizar" porque sempre haverá algum paspalho racista neste mundo maluco nosso. Mas atitudes tão significativas como programas de cotas são perigosamente artificiais e impensadas. Mais parecem atitudes desesperadas.

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  8. Logo quando saiu esse negócio de cotas me disseram para eu aproveitar, já que tenho "traços negróides" apesar da pele clara. Diante desse termo tosco (negróide) não me senti nem preto, nem bonito, mas um alienígena.

    Sebastião

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  9. Pra que serve o vestibular, pra começo de conversa? Pra selecionar o aluno mais inteligente? Se fosse, deveriam fazer um teste de QI ao invés. Pra selecionar o aluno que quer mais aquilo? Então deveria é se ter um teste psicológico (muito complicado de fazer). Ou é pra selecionar o que sabe mais? Atualmente, o vestibular e ENEM servem é pra essa última sugestão. Mas, pra quê selecionar os alunos que sabem mais sobre alguma coisa de ensino médio que muito provavelmente não será usada no curso? É justo dar vaga pra um que sabe mais sobre algum assunto, mesmo que ele tenha menos vocação para aquele curso? Deveríamos ter um teste de aptidão vocacional, é claro que é muito complicado, mas é a única coisa que faz sentido pra selecionar uma pessoa pra ter uma vaga em vez de outra.

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    1. Todo vestibular deve ter como objetivo selecionar as pessoas mais inteligentes na área em que vai cursar. Por exemplo se o aluno vai ser matemático então o vestibular deve selecionar aquele que tem mais habilidade em demonstrar teoremas.

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