domingo, 13 de abril de 2014

Modelo Matemático Para o Futuro da Humanidade


Em postagem de janeiro de 2013, fiz uma breve discussão sobre o papel da educação no futuro da humanidade. Resumidamente, se as civilizações humanas permitirem o curso natural daquilo que foi criado por elas mesmas, sem periódicas revisões drásticas sobre os fundamentos de suas ações, o fim é simplesmente inevitável. Nos últimos cinco mil anos de história várias civilizações foram extintas. E é arrogância achar que as atuais sociedades são imunes à autodestruição. Neste cenário o único fator relevante de intervenção é a educação. E a educação matemática, em particular, desempenha papel central. Justifico a seguir esta tese.

Em 1925 Alfred Lotka e Vito Volterra desenvolveram independentemente um sistema de duas equações diferenciais acopladas para descrever dinâmicas populacionais do tipo presa-predador. Este resultado tornou-se célebre no mundo todo e até hoje é conhecimento obrigatório em cursos de biologia espalhados pelo globo. 

Foi só uma questão de tempo para que outros modelos dinâmicos (inspirados na obra de Lotka e Volterra) fossem elaborados para descrever fenômenos como o desenvolvimento e declínio de sociedades humanas inteiras. Um exemplo bem conhecido (entre dezenas) é o modelo de James Brander e Scott Taylor (publicado em 1998) para descrever a evolução sócio-econômica da Ilha da Páscoa. Para quem não lembra, uma sofisticada cultura humana foi inteiramente dizimada na Ilha da Páscoa (no Pacífico Sul) por responsabilidade inteiramente local. Ou seja, este extermínio ocorreu sem interferências externas, como invasões.

Pois bem. Recentemente foi aceito para publicação no periódico Ecological Economics um artigo que promete forte impacto. Safa Motesharrei e Eugenia Kalnay, da University of Maryland, e Jorge Rivas, da University of Minnesota, desenvolveram um modelo matemático (parcialmente financiado pela NASA) sustentado em quatro equações diferenciais, para antecipar dinâmicas populacionais humanas, levando em conta a evolução de elites sociais, classes sociais desprivilegiadas, recursos naturais e riqueza. Para o leitor acessar o artigo em sua íntegra clique aqui.

Apesar das equações diferenciais serem acopladas, um dos resultados mais surpreendentes (e assustadores) é que tanto a estratificação econômica quanto o abuso de recursos naturais podem conduzir, de forma independente, ao colapso de civilizações.

O modelo de Motesharrei e colaboradores, ironicamente batizado de HANDY (Human and Nature Dynamics), consegue reproduzir com precisão colapsos sociais que já ocorreram em civilizações do passado, o que demonstra a validação da proposta. 

De acordo com as equações de HANDY existe uma maneira de se evitar colapsos irreversíveis: o uso de recursos naturais a um patamar de sustentabilidade, simultaneamente com uma distribuição igualitária de tais recursos. 

É claro que, para que isso ocorra, revisões drásticas precisam ser feitas sobre políticas governamentais e até mesmo sobre a cultura inteira de massas populacionais.

Meu receio com um resultado como este é que ele possa ser facilmente interpretado para fins de propagandas políticas pró-comunismo ou pró-socialismo, algo muito fácil de ocorrer em épocas de vasta ignorância como aquela em que vivemos hoje. 

Para que seja bem compreendida a repercussão do modelo HANDY uma cultura matemática se mostra fundamental, independentemente de ideologias político-partidárias. 

Em um país como o Brasil, no qual praticamente não existe racionalidade em decisões sobre gerenciamento de recursos naturais e distribuição de riquezas, o último veneno que precisamos é o domínio de ideologias. Está na hora de reconhecermos o valor estratégico da racionalidade, para que possamos sobreviver como nação e até mesmo como espécie animal.

Afinal, historicamente falando, foi uma ideologia (de caráter religioso) que acelerou o processo de destruição na Ilha da Páscoa.

8 comentários:

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    1. O princípio da incerteza em mecânica quântica, em suas mais diversas formas, é escrito como uma desigualdade.

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    3. O princípio da incerteza é um dos resultados mais relevantes da história da ciência, revelando seus efeitos até mesmo no mundo macroscópico dos fenômenos visíveis a olho nu.

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  2. De acordo com este artigo o que faz uma sociedade colapsar é a economia, as formas de trocas dos recursos escassos, as divisões de trabalho e propriedade privada, quando esses fatores estão de alguma forma servindo de motivos para conflitos. Essas ideias estão muito próximas às apresentadas pela ONU, em que o cataclisma global causado pelo aquecimento global antropogênico decorre desses aspectos econômicos de concentração de riqueza em poucas mãos e consumo desenfreado de recursos naturais (com muitos desperdícios), o que está servindo de munição para políticas públicas que potencializam o poder estatal no controle de recursos escassos, como água, alimentos e conbustíveis, o Brasil está sentindo os efeitos desse controle, com crise energéca, racionamento de água em grandes regiões populacionais e aumentos dos preços, o horizonte se apresenta vermelho ao Brasil.

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    1. Anônimo

      Um estudo quantitativo seria necessário, pela aplicação do modelo matemático proposto. Mas não creio que sua avaliação preliminar esteja distante da realidade.

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    2. Professor Adonai,
      Se for possível gostaria de saber a opinição do senhor a respeito do aquecimento global causado por intervenção humana, ainda mais por que essa ideia é ensinada como absoluta verdade nas escolas, divulgada na mídia, e está influenciando as intervenções dos governos no modo de vida ocidental. A opinião de um acadêmico sensato será muito útil.

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    3. Anônimo

      Assumindo que eu seja um acadêmico sensato, como você afirma, não tenho opinião definitiva sobre o aquecimento global provocado por intervenção humana. Isso porque não tenho suficiente familiaridade com o tema. Neste momento só consigo concordar com Bertrand Russell, que dizia que o ser humano não se destruiu ainda por pura incompetência. Além disso, vivemos em um mundo com múltiplas ameaças de destruição global, que vão desde corpos celestes que passam pela vizinhança de nosso planeta, até questões de insustentabilidade, estratificação econômica, supervulcões, exposição de gigantescas reservas naturais de metano, conflitos políticos entre países armados com artefatos nucelares etc. O fato é que nossa civilização vai desaparecer do mapa. Só resta saber quando. Vivemos em um campo minado. Por isso, cuida onde pisa.

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