sábado, 14 de janeiro de 2012
Nota de Esclarecimento
Alguns leitores deste blog têm demonstrado preocupação quase pessoal com certas críticas aqui expostas. Preciso insistir que a crítica é parte fundamental do desenvolvimento intelectual. O segredo para não ser criticado é ser invisível, ou seja, nada produzir. Por isso aproveito a oportunidade para expor uma crítica séria a um trabalho meu, a qual foi feita com perturbadora propriedade.
Anos atrás desenvolvi um projeto de pesquisa em parceria com Décio Krause, Analice Gebauer Volkov e Aurélio Sartorelli sobre aplicações de teorias de quase-conjuntos em mecânica quântica, assunto sobre o qual pretendo postar detalhes futuramente. Esse projeto rendeu algumas publicações internacionais e várias citações na literatura especializada, comumente animadoras. Mas uma das citações foi feita por Nicholas J. J. Smith, da University of Sydney (Austrália). Neste excelente artigo o autor afirma (nas páginas 10 e 11) que Krause, Sartorelli e eu simplesmente não fizemos o que foi proposto em nosso programa de pesquisa. Os argumentos são contundentes e certamente nos obrigam a repensar nossa estratégia de ataque ao problema da não-individualidade em mecânica quântica.
Ou seja, críticas acadêmicas não constituem ataques pessoais. Elas fazem parte do próprio desenvolvimento do conhecimento humano. Se queremos desenvolver alguma tradição na produção de conhecimentos em nosso país, precisamos nos acostumar com a noção de crítica.
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Adonai.
ResponderExcluirEsta sua nota de esclarecimento foi MUITO boa! Um professor que tive na UFPR sempre dizia algo que repito sempre aos meus alunos. A nota de uma prova NÃO é o aluno! O aluno é muito mais que aquela nota (ou menos), ou seja, não devemos levar para o lado pessoal coisas do mundo profissional. Como vc diz: só quem faz é criticado. Os covardes que preferem ser amados por todos não fazem nada ou fingem que fazem, batendo nas costas de gregos e troianos.
Por isso aplaudo suas críticas. Em nenhum momento vc criticou a PESSOA Elon. Mas sim, (além de ter colocado os méritos do trabalho), criticou alguns pontos falhos ou equivocados. É isso que devemos fazer. O verdadeiro amigo é aquele que nos mostra os erros e não aquele que aceita tudo que fazemos! Um abraço e conte com meu apoio.
Em tempo: todas as suas imagens são lindas e todas pertinentes aos posts. Adorei esta em que aparecem dois seres se "confrontando". Parabéns pelos desenhos também!
ResponderExcluirAdonai
ResponderExcluirentão é possível que o próprio Newton da Costa tenha sido severamente criticado no decorrer de sua vida acadêmica antes de chegar ao atual patamar de importante cientista matemático brasileiro?????
Pergunto isso, pois a impressão que se tem é a de que esses grandes nomes da Ciência, os gigantes que conhecemos, ou não teriam sofrido absolutamente nenhuma crítica severa ou, se sofreram algumas, foram em quantidade muitíssimas vezes menor do que qualquer outra pessoa!!!!!
Daí surge a ideia de que "mais críticas implicaria em menor qualidade do pesquisador que implicaria em menor a chance de fazer algo de bom".
Seguindo essa linha de raciocínio, talvez a consequência direta seja justamente o medo de ser criticado e acabar tornando reais as chances de se tornar alguém que provavelmente não conseguirá fazer nada de bom, ou seja, fracassar em todos os sentidos em uma determinada área de atuação.
Caro Adonai,
ResponderExcluirimportante observação sobre o papel da crítica na ciência. A crítica naturalmente também faz parte de outros aspectos da cultura, como a arte e a política, embora, me pareça comparecer de modo espetacular na ciência, e particularmente na matemática. Como afirmou M. Unamuno: "The supreme triumph of reason is to cast doubt on its own validity".
Gilson Maicá
Leandro
ResponderExcluirNewton da Costa passou por diversas críticas ao seu trabalho. E posso citar inúmeros outros exemplos. Isaac Newton, Max Planck, Georg Cantor, Charles Darwin, Niels Bohr, David Bohm etc. Todos eles foram grandes construtores do conhecimento, cujas obras foram e são severamente criticadas. Max Planck, em particular, foi um exemplo muito curioso. A primeira pessoa a criticar sua ideia de quantização dos níveis de energia de radiação eletromagnética foi ele mesmo.
Ninguém neste mundo está protegido contra críticas pertinentes ao seu trabalho.
Susan
ResponderExcluirGrato pelo apoio.
Gilson
Seja muito bem-vindo a este fórum de discussões.
No entanto, mesmo o livro do Mahan exige apenas conhecimentos de Cálculo I e algum conhecimento de Cálculo II, visto que o livro é destinado para estudantes que estão apenas iniciando a vida universitária e, por isso, estão estudando Cálculo paralelamente a esta disciplina de Química Geral.
ResponderExcluirOps, errei.
ResponderExcluirEste último post era para ter sido publicado em "Como ler livros de Matemática?", e não aqui.
My mistaken.
:(
Olá Prof. Adonai.
ResponderExcluirSou o "Anônimo de 13 de janeiro" (da postagem "Como ler livros de matemática?"). Creio que também devo um esclarecimento.
Gostaria de dizer que li vários textos do seu blog, e achei que são extremamente relevantes (naquele dia não tinha lido texto algum, além daquele). A propósito, quando li o texto sobre Newton da Costa e me deparei com o fragmento "[...] um trabalho acadêmico incomensuravelmente superior [...]" lembrei-me na hora da crítica que fazia ao fragmento "seno e cosseno pertencem ao ângulo". Meu primeiro pensamento foi que o sr. não gosta que usem termos (pertinência) com significados matemáticos precisos fora de seu devido contexto, entretanto o sr. gosta de usar (comensurabilidade). Mas daí pensei que o sr. tem essa liberdade devido ao fato de o seu blog não ter a finalidade de ensinar matemática tal qual um livro didático (suponho serem outros os seus propósitos). Daí que isso não corroborou a crença inicial de que o sr. é daqueles "faça o que eu digo e não o que eu faço"
Na postagem "aulas de matemáticas como histórias" o sr. escreveu, em comentário, outro fragmento que me chamou a atenção: "Se Einstein, Gödel e Tarski estivessem vivos hoje, nenhum deles faria um blog". É que, sob o ângulo que eu enxergo, esta verdade está incompleta. Pessoas tais não só "não fariam um blog" como também não seriam leitoras de blogs. Todo blogueiro deveria estar ciente disso, assim não ficariam perturbados por receberem críticas não pertinentes aos seus textos publicados (vejo que ficou perturbado com minha crítica, por ser não pertinente - daí o motivo de sua nota: mostrar que seu trabalho acadêmico é não trivial a ponto de, inclusive, receber críticas academicamente pertinentes de gente de grosso calibre intelectual, tal qual o seu).
Tenho consciência de que minha crítica não é pertinente e é de menor importância (se é que pode ser chamada de crítica. Talvez 'objeção sem fundamente' seja uma nomenclatura mais adequada).
Não sei de quem o sr. falava quando escreveu "preocupação quase pessoal" ali em cima, mas curiosamente "a carapuça serviu" em mim. Penso isso, pois tentei defender as obras criticadas. É claro que o sr, não deixa de ter razão nas críticas feitas, contudo não vejo qualquer motivo racional para eu guardar silêncio sobre algo que eu, em certo sentido, discorde (ainda que ao quebrar o silêncio eu pareça irracional). [racional e irracional foram, aqui, empregados de acordo com o uso comum da língua portuguesa e não como jargões matemáticos].
Mas vou resumir meu ponto de vista: faça desaparecer todas as obras de Elon e, de um modo geral, todas as publicações da SBM. O que aconteceria com os brasileiros? (falo dos desafortunados, que não são poliglotas). Certamente haveria uma perda inestimável. Apesar de todas as falhas, ainda é um dos melhores materiais acessíveis para a sociedade que não faz parte da elite.
osb: desculpe pelo tamanho do meu comentário, sita-se a vontade para não publicá-lo. Parabéns pelo seu blog (não que meu elogio valha algo). Realmente gostei muito dos seus escritos (isto não significa que apenas concordarei com o sr. - como fazem 100% dos comentários que li que não são meus e nem são perguntas). Mas fique tranquilo, não serei um "perseguidor" do seu blog, sempre discordando.
Anônimo originalmente de 13 de janeiro e agora de 18 de janeiro
ResponderExcluirMuito bizarro, mas seu comentário caiu na pasta de spam. Quase me descuido com o seu texto.
De fato seu primeiro comentário me perturbou. Mas não pelos motivos que você julga aqui. Fiquei perturbado pela ideia de eu não estar me fazendo suficientemente claro. Pelo tom de sua crítica, parecia que eu estava promovendo um ataque ao Elon Lages Lima, o que definitivamente não foi a intenção. Mas é fato que muitas das ideias de Lima são pessimamente colocadas em livros dele. Tenho certeza que ele poderia ser mais cuidadoso, como acontecia em suas obras mais antigas. Afinal, escrever sobre ensino médio é muito mais difícil do que escrever sobre conteúdos de ensino superior. Isso porque os pré-requisitos dominados por alunos do ensino médio são praticamente inexistentes.
Esta nota de esclarecimento foi escrita em virtude, principalmente, de comentários de outros leitores, muitos deles não se manifestando diretamente neste blog. Recebo retorno de tudo que é canto que possa imaginar.
Não entendo por que você desmerece suas críticas. O fato é que suas críticas me obrigaram a repensar textos futuros. E se isso não foi uma contribuição relevante, não entendo o que mais poderia ser.
Entenda que tento incorporar neste veículo de comunicação um processo de interação. Misturo neste blog fatos com ideias. E, em troca, recebo mais fatos e ideias. E assim como espero mudanças de comportamento entre alguns que leem aqui, também espero mudanças comportamentais minhas.
Espero contar mais vezes com suas visitas e comentários por aqui. E não se preocupe (como anteriormente) com o anonimato. Na internet praticamente todos são anônimos.
Anônimo de 13 de janeiro
ResponderExcluirse vc acha que esta "nota de esclarecimento" foi direcionado para alguém como vc, peço que vá à postagem "Como Nossa Educação Contribui para o Crime Organizado", vá até o último comentário e conte de baixo para cima.
O 6º comentário de baixo para cima, acima do comentário do CM, escrito por mim, deixa bem claro uma profunda preocupação da minha parte acerca das minhas postagens anteriores, nas quais procurei escrever um texto para uma contra-argumentação a uma resposta de outro participante do fórum, fazendo uso de alguns poucos conhecimentos de lógica que possuo, devido a algumas leituras que efetuei na minha época de estudante.
Como não sou estudioso profundo de Lógica e não conheço sobre o assunto da melhor maneira possível, fiquei com medo de estar escrevendo muita bobagem, de ter meus comentários rechaçados por pessoas que conhecem muito mais sobre lógica do que eu e, pior, que meus escritos estivessem atuando como um enorme e significativo desserviço para com outros leitores do blog.
Certamente, eu não me sentiria nada bem se meus escritos desviassem alguns leitores do "bom caminho do aprendizado", se é que existe isso.
Demonstrei, por lá, uma grande preocupação nesse sentido, uma preocupação quase que pessoal mesmo.
Ainda assim, tenho ciência de que esta nota de esclarecimento não foi escrita e direcionada especificamente para mim, pois já notei comportamentos de outras pessoas que tiveram preocupações pessoais com isto, assim como eu e vc.
Portanto, verifique outras postagens, também de outros membros participantes do blog, e veja que esta nota de esclarecimento *não diz respeito a mim, a vc ou a qualquer outro participante em particular*, mas sim a um comportamento que tem-se mostrado *coletivo* aqui no blog!!!!!!
Abraços.
Leandro e demais críticos
ResponderExcluirA busca pelo conhecimento científico é uma faca de dois gumes. Por um lado ela exige envolvimento pessoal. Problemas científicos relevantes somente podem ser resolvidos diante de envolvimento pessoal profundo. Por outro lado, tal envolvimento pessoal facilmente evoca emoções, nem sempre desejáveis, quando um autor é duramente criticado por seus pares. Já vi de perto isso acontecer muitas vezes. Há histórias de bastidores da ciência que simplesmente não consigo reportar aqui, pois mostram o pior de pessoas que admiro muito.
Não escrevi esta postagem pensando em alguma pessoa em especial. Escrevi pensando apenas em uma das facetas do coletivo.
Tentarei resumir minha nota de esclarecimento acima da seguinte maneira: se uma pessoa defende uma ideia ingênua, isso não faz dela uma pessoa ingênua. Quem de nós não sentiu vergonha de coisas que fizemos e dissemos em algum momento do passado? É fundamental que não levemos críticas a ideias para o lado pessoal. Ideias sempre podem ser julgadas, mas pessoas não.
Adonai
ResponderExcluirtenho uma última dúvida acerca do texto:
Do ponto de vista lógico, é incorreto criticar pessoas, mesmo que o comportamento delas mostre-se, de fato, incorreto?????
Se a crítica fosse efetuada, isto caracterizaria a falácia lógica do "Argumentum ad Hominem", ou não necessariamente?????
Grato pelos esclarecimentos.
Leandro
ResponderExcluirSua pergunta não é de caráter lógico. Apenas considero inadequado julgar pessoas, pois elas transcendem seus atos isolados. O melhor que podemos fazer é julgar ações e ideias. Só isso.