quinta-feira, 20 de março de 2014

Joan Baez no Brasil: antecipação de cena?


Meu filho acaba de voltar de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O motivo de sua viagem foi um show de Joan Baez, que ocorreu ontem à noite no Auditório Araújo Vianna.

Joan Baez é uma cantora folk norte-americana, ícone do festival de Woodstock e conhecida pela natureza de protesto político-social em suas canções e até mesmo fora dos palcos. Foi presa duas vezes em manifestações públicas de protesto.

É a primeira vez, ao longo de cinquenta e quatro anos de carreira, que Baez faz um show em nosso país. Mas isso não é resultado de descuido dela. Em 1981, Baez tentou vir para cá. No entanto, foi proibida pela Ditadura Militar de pisar em solo brasileiro.

Baez não surpreendeu apenas pelo absoluto domínio sobre a plateia de quase três mil pessoas e pela assombrosa suavidade de sua voz e impecável técnica de canto. Em show realizado na capital do estado de origem de três dos cinco militares que governaram o Brasil na época da ditadura, Baez revelou que está estudando português. Não apenas conversou com o público em nosso idioma, como também cantou Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré, e Cálice, de Chico Buarque. 

A reação do público foi intensa. Pessoas erguiam o punho, ao som da música de Vandré, revivendo um passado de cinquenta anos que hoje parece se repetir.

Um processo de doutrinação (pseudo) marxista está infestando escolas da rede pública em diferentes estados da União. O governo federal apoia ditaduras espalhadas mundo afora, incluindo a de nossos vizinhos venezuelanos. O povo brasileiro é um dos mais boçais do mundo, usando confortos tecnológicos criados e produzidos por outros, mas sem assimilar valores sociais e culturais que edifiquem a nossa nação. Educação, segurança, justiça e saúde operam de forma precária na maior parte do país que tentará expor uma imagem bonita na Copa do Mundo (e, quem sabe, nas Olimpíadas de 2016!). A Agência Brasileira de Inteligência já identificou possíveis grupos organizados que podem até mesmo impedir a Copa do Mundo. No entanto, em usual demonstração de incompetência, afirma ser impossível antecipar a ação dos chamados "lobos solitários". 

Os problemas sociais em nosso país iniciam em seus fundamentos. E nem precisamos procurar evidências disso em fontes típicas de denúncias sociais. Vejam, por exemplo, este anúncio de um novo modelo de notebook da Sony. O texto diz:

"Executivos e Profissionais Criativos: Designers, arquitetos, profissionais de marketing e músicos vão se impressionar com a performance dos processadores Intel de quarta geração [...]

Universitários: Poderão utilizar a caneta digital para fazer anotações e poderão se divertir com a tela compartilhada para conversar com os amigos e assistir vídeos [...]"

Isso demonstra a perfeita sintonia entre agentes de publicidade que trabalham para a Sony e a realidade da vida acadêmica brasileira. Universitários são indivíduos que se divertem conversando com amigos e assistindo vídeos. Eventualmente fazem anotações.

Quando ingressei, em 1983, no Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ganhei uma calculadora TI55-II (Texas Instruments). Ela era programável, aceitando uma entrada de até 55 bytes! Não estou falando de 55 kbytes, megabytes ou gigabytes. Estou falando de 55 bytes! No manual da calculadora nem se usava a expressão "byte". O termo empregado era "passo de programação". A TI55-II tinha 55 passos de programação. E com esses 55 passos de programação eu programava operações de limites, derivadas e até integrais definidas. Mais tarde, durante o mestrado, comprei uma calculadora Cassio, na qual era possível inserir programas de 422 bytes. Achei aquilo uma maravilha. Eu já era capaz de programar integração numérica usando o método de Runge-Kutta. Cheguei a criar uma simulação de órbita de uma partícula eletricamente carregada ao redor de uma esfera com carga oposta, sujeita a um potencial de Debye. Isso tudo com 422 passos de programação!

Hoje os universitários têm acesso a máquinas com poder de memória e processamento extraordinariamente superiores às máquinas que usávamos nos anos 1980. E de que forma essas máquinas são usadas? Para ver vídeos, conversar com amigos e fazer anotações! Nos anos 1980 a publicidade de calculadoras científicas enfatizava o emprego dessas máquinas como instrumentos para tomada de decisões. Hoje a função anunciada é outra, principalmente quando o público-alvo é o de estudantes universitários.

Em resumo, Joan Baez veio ao Brasil na hora certa. E os poucos milhares que poderão testemunhar seus próximos shows no país poderão sentir aquela combinação de paixão e revolta que anuncia um estado de revolução.

Em um país fundamentalmente errado como o nosso, de fato há apenas uma solução: revolução.

Como já disse Geraldo Vandré em passado não muito distante, "protesto é coisa de quem não tem poder". E a forma mais eficaz de protesto é a revolução. Sem revolução, o Brasil manterá sua atual inércia até o momento em que mudanças não serão mais possíveis. Ainda somos um país rico em termos materiais. Ainda existem brasileiros que decidiram ficar no país e contribuir com a sua construção científica, tecnológica, social e cultural. Mas ainda falta a esses brasileiros a articulação política que simplesmente diga: Basta!

A hora é agora.

35 comentários:

  1. http://www.novelosnadaexemplares.blogspot.com.br/2014/03/real-cronica-vive-la-revolution.html

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  2. Por favor não me diga que isso é um texto de apoio à manifestação pela intervenção militar...

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    1. Oi, Stafusa

      No texto está escrito: "Ainda existem brasileiros que decidiram ficar no país e contribuir com a sua construção científica, tecnológica, social e cultural. Mas ainda falta a esses brasileiros a articulação política que simplesmente diga: Basta!" Portanto, não peço intervenção militar, mas a intervenção dos ainda silenciosos que produzem.

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  3. Professor Adonai,
    Penso que é errada a sua interpretação do anúncio.

    Releia :

    " Universitários: Poderão utilizar a caneta digital para fazer anotações e poderão se divertir com a tela compartilhada para conversar com os amigos e assistir vídeos [...]"

    O anúncio tem como foco mostrar as qualidades do hardware - em comparação a outros-, até porque o preço deste notebook é superior aos demais - comuns no mercado.

    É importante ressaltar a multifuncionalidade deste e de outros computadores, nele por exemplo, muitos universitários veem vídeos sobre Fluxo Magnético - conceito de fato abstrato, tendo em vista a grande falta de aulas práticas em muitos cursos- Máquina de Turing e também Física Moderna.
    Também deve considerar que muitos jovens -universitários ou não- têm trocado as horas de lazer da TV pelo youtube, como exemplo. Até porque o pc oferece um contingente maior de informações.
    Um pc e um livro didático são ambos úteis. Admito que a qualidade das informações que um pc disponibiliza são muitas vezes duvidosas, mas também, muitas vezes dinâmicas.
    E outra, um aluno que não quer aprender, esteja ele usando livro didático ou mesmo um computador, achará alguma distração.

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    1. Sergio

      Sua interpretação sobre o anúncio é, naturalmente, sensata. Porém o que desperta a atenção é a expressão "poderão se divertir". Seria cabível mencionar no anúncio que executivos poderão se divertir com este computador? Isso atingiria o público-alvo de executivos? Honestamente, duvido. Mas, quando o público-alvo se refere a estudantes universitários, aí sim a expressão se mostra adequada.

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  4. Achei seu texto contraditório.
    O começo do texto (me parece) enaltece revolucionários marxistas. Após faz uma crítica aos mesmos marxistas e exalta os ideais liberais. Por fim pede uma revolução.

    No Brasil há uma democracia. Ainda precisamos fortalecer instituições (ex. quebrar monopólios de mídia e outros). De qualquer forma, apesar de E por ser um liberal, prefiro esse governo de bosta do que qualquer revolução antidemocrática. A maioria dos Brasileiros quer esse modelo de governo. O tempo mostrará o caminho. Infelizmente talvez eu não esteja mais aqui para ver o resultado.

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    1. Eduardo

      Talvez fosse mais recomendável que você afirmasse que o texto não é suficientemente detalhado. Afinal, não deixo claro como deveria ser esta necessária revolução. No entanto, não vejo como alguém possa apontar esta postagem como sendo contraditória. Talvez você perceba contradição por estar assumindo uma premissa falsa: a de que o Brasil vive um regime democrático. O Brasil não vive democracia alguma, como já foi apontado em várias postagens deste blog. E cada vez mais caminha para um estado autoritário. Democracia não se define única e exclusivamente a partir de eleições. E mesmo nosso processo eleitoral apresenta falhas graves, como é apontado no excelente texto do Professor Marcos Castilho, no link abaixo.

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2012/12/voto-eletronico-no-brasil.html

      Um estado democrático deve beneficiar o povo de uma nação. E não é o que está acontecendo neste Brasil que cada vez mais se isola do resto do mundo civilizado, não oferecendo educação, saúde, segurança e nem justiça, apesar de termos uma das mais altas cargas tributárias do planeta.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Sebastião

      Admiro o pouco que conheço da obra de Picasso. A visão dele sobre realismo nas artes é belíssima. Se ele realmente afirmou isso ou não, desconheço. Mas a afirmação carece de sentido. Desde os primórdios da computação, essas máquinas têm despertado várias questões extremamente importantes. Um exemplo bem conhecido é a tese de Church.

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  6. Prof. Adonai, eu li alguns artigos de seu blog e acho que o sr. é uma das pessoas que estou procurando. :-)

    Por favor, leia este artigo: http://arthur.bio.br/2013/06/20/politica/brasil/eu-quero-uma-revolucao-quem-vem-comigo#.U1NLjfGS5o5

    Sapere aude!

    Arthur Golgo Lucas

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    1. Arthur

      Tens alguma proposta de colaboração? Se desejar, podemos conversar por email em adonai@ufpr.br, ou via facebook.

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    2. Excelente. :-) Neste caso vou adicioná-lo no Facebook para poder conversar com maior agilidade.

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  7. Olá Profº Adonai

    Post legal. Aqui você fez um coerente apanhado de ideias e coisas aparentemente muito díspares e/ou distantes.

    Bem, eu gostaria de contribuir aprofundando as ideias aqui tratadas com os seguintes textos e vídeos:

    I. Os protestos de junho de 2013
    1) O gigante continua adormecido
    http://www.marcovilla.com.br/2013/11/gigante-continua-adormecido.html

    2) Manifestações sem direção?
    http://www.cpflcultura.com.br/wp/2013/10/07/manifestacoes-sem-direcao-com-demetrio-magnoli/

    3) Discutindo os protestos de junho de 2013
    http://www.youtube.com/watch?v=3WxRHKNPh1M (o que o entrevistado diz aqui sobre a democracia brasileira é o atual estado de nossa cultura política e humana é excepcional)

    II) História do Brasil
    1) A História do Brasil Vira Lata - As Razões Históricas da Tradição Autodepreciativa Brasileira
    http://www.youtube.com/watch?v=t-EKzgi42eg

    2) “O Brasileiro tem alma de vira-lata” (Nelson Rodrigues)
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_vira-lata

    Att, Leonardo.

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    1. Leonardo

      Muito obrigado pelas referências. Consultarei assim que for possível.

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  8. É triste ver um professor universitário desprestigiando o seu país e incentivando o desrespeito à democracia do seu país.

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    1. Anônimo

      Respeitarei a democracia no Brasil quando ela surgir.

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    2. Ela já existe. É imperfeita e perfectível, como a de todos os demais países. A democracia não passa a existir somente quando os resultados oriundos dela coincidem com nossos desejos. Respeitar a democracia é respeitar as decisões democráticas mesmo quando elas não são as melhores segundo nosso ponto de vista individual.

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    3. Anônimo

      Não sou tão convicto assim da existência de democracia no Brasil. Defender que existe democracia em nosso país me parece algo como defender que existe um sistema de defesa em uma comunidade de macacos, se alguém entregar armas de fogo para os mesmos. Democracia não se promove apenas com um sistema eleitoral obscuro, como o nosso. É fundamental uma formação básica para o nosso povo. E isso não existe ainda. Mesmo entre professores universitários se percebe uma ignorância sobre aspectos básicos de convívio social. Quem dirá o restante da população.

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    4. A sua analogia de brasileiros com macacos não está boa por muitas razões a começar pelo fato de que ao contrario das armas dos seus macacos, ninguém deu a nós, brasileiros, nossa democracia. Ela está sendo construída por nós, ou melhor pelos que acreditam que ela existe e pode e deve ser melhorada. Quanto à educação, todos concordam que uma formação básica é fundamental para o aperfeiçoamento da democracia, mas vamos lembrar que não é com um sistema ditatorial que vamos obter tal melhoria. Há muito caminho ainda por percorrer, mas bem longe de uma ditadura e cada vez mais aperfeiçoando a democracia com ações concretas, como por exemplo o fim do financiamento empresarial das campanhas eleitorais.

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    5. Anônimo

      Essa história de que todos concordam com a necessidade de uma formação básica é realmente velha e sem sentido. Se todos concordam, por que continuamos neste atraso enorme em relação ao mundo civilizado? Formação básica não serve para aperfeiçoar democracia. Ela é um pilar da democracia. Novamente somos macacos repetindo frases que não dizem nada para nós.

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    6. É ingenuidade pensar que a simples concordância da maioria sobre a necessidade da superação de um problema histórico, como o é a deficiência da formação básica dos brasileiros, seja suficiente para a realização dessa superação. Essa deficiência não existe só no Brasil, existe em todos os países da América Latina, da África e em muitos países da Ásia. Ela é uma consequência da história de colonização e neo colonização desses países e sua superação também é um processo histórico (em curso) que só seguirá avançando com o fortalecimento da democracia (e não com sua negação). Não é um sistema político ditatorial que vai resolver esse problema. Por falar nisso, é bom lembrar que durante a ditadura no Brasil (1964-1985) o ensino público foi sucateado, professores foram aposentados compulsoriamente por não estar de acordo com o governo, muitos professores foram torturados e "desaparecidos". Hoje, se vivêssemos numa ditadura, você não poderia ter um blog para criticar o governo.

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    7. Anônimo

      1) O povo brasileiro não sente que precisa de uma educação melhor, simplesmente porque não sabe o que é uma educação melhor.

      2) A desculpa da colonização já perdeu sentido há muito tempo.

      3) Por que você insiste em falar de ditadura?

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    8. 1) Sim, o povo brasileiro sente que precisa de uma educação melhor. Não passa uma semana sem que eu ouça pessoas dizendo isso. Na fila do ônibus, no mercado, no trabalho, nas redes sociais, nas escolas. Em toda a parte. Essa foi a primeira vez que eu vi alguém dizendo que o brasileiro não acha que precisa de uma educação melhor. E o interessante é que essa opinião tão rara é a da mesma pessoa que diz que o povo brasileiro é boçal.

      2) O papel da colonização e da neo colonização no prejuízo causado à qualidade da educação dos países colonizados e neo colonizados nunca foi desculpa, é um fato histórico amplamente aceito e óbvio.

      3) Insisto em falar em ditadura porque ela é um mal terrível da qual nos livramos há não muito tempo e que no momento em que vivemos lamentavelmente muitas pessoas ignorantes politicamente pedem a sua volta e desrespeitar a democracia brasileira como você faz é, sabendo ou não, contribuir para a ideia da volta da ditadura. Então tento alertar para esse grave erro.

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    9. Anônimo

      1) Não me surpreende que seja a primeira vez que você ouve alguém dizendo que o brasileiro não acha que precise de uma educação melhor. Pois bem, não faço essa afirmação por capricho. Recomendo que leia as múltiplas postagens nas quais aponto problemas graves não percebidos sequer por professores. Além disso, veja nas pesquisas abaixo as principais preocupações de pais com relação à escola pública: segurança, autoridade, uniforme e maior permanência dos filhos na escola. Conteúdo? Não, isso não preocupa. Além disso, os pais em geral estão satisfeitos com a atuação de professores e diretores de escolas públicas. O brasileiro apenas luta por sobrevivência e não por vivência. Sequer sabe o que é viver.

      http://portal.inep.gov.br/rss_censo-escolar/-/asset_publisher/oV0H/content/id/19523

      http://prattein.com.br/home/index.php?option=com_content&view=article&id=91:pesquisa-nacional-revela-opiniao-dos-pais-sobre-a-escola-publica&catid=117:estudos-e-indicadores-sobre-educacao&Itemid=209

      2) Estude a história da Austrália e compare com o Brasil. E jamais pense que algo seja óbvio só porque é senso comum. Essa postura assassina o senso crítico. Tome cuidado com o que pensa.

      3) Se você julga que desrespeito a democracia, então lamentavelmente não compreende o que escrevo. Como já afirmei, não há democracia no Brasil. Jamais houve.

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    10. 1) Adonai, não leva a mal mas esses são realmente os links que você queria me passar? Sim, porque lendo conteúdo deles eu vejo que não estão de acordo com sua tese. Transcrevo aqui algumas passagens que demonstram isso: (A) "[os] professores são também bastante criticados por "faltas às aulas", abonos e realização de greves. Os pais mencionaram também a precariedade na formação dos professores." (B) "os pais concordam em que somente a escola privada pode garantir uma preparação adequada para se chegar ao ensino superior". (C) "A sensação generalizada é de uma escola pública [...] em que prevalece a crise de autoridade escolar (com pouca exigência para se passar de ano), com pouco compromisso dos professores [...] e governos e secretarias de Educação distantes." (D) "Nos casos concretos, particulares, "são poucos os aspectos de satisfação e numerosos os pontos que geram descontentamento"". Uma leitura crítica da sociedade e dos textos revela que sem sombra de dúvida o brasileiro, de um modo geral, acha que precisa de uma educação melhor.

      2) Por favor Adonai, não confundamos abóbada celeste com a boba da Celeste. A colonização da Austrália foi de povoação (assim como a dos Estados Unidos, a do Canadá e a da Nova Zelândia). No Brasil (e demais países da América Latina) o que houve foi a colonização de exploração. Espero que aqui todos saibam as importantes diferença entre esses dois tipos de colonizações e as consequentemente importantes diferenças históricas no desenvolvimento dos países em que se transformaram essas colônias.

      3) Vendo o seu argumento sobre o seu "não desrespeito" à democracia brasileira, é impossível não lembrar de um fato histórico bastante relatado na literatura e no cinema: na época do Brasil colônia e da escravidão, os exterminadores de índios e os donos de escravos diziam que não estavam desrespeitando a humanidade das suas vítimas pois, segundo eles, negros e índios não tem humanidade. Para mim é difícil imaginar um tipo de desrespeito que supere a esse.

      Espero que entenda essa discussão como ela realmente é: nada pessoal, simplesmente um debate de ideias entre duas pessoas que julgam ter responsabilidade social.

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    11. Anônimo

      De fato, fiz consulta rápida na internet e esqueci de incluir o link abaixo, o qual mostra um documento que relata levantamento feito pelo Ibope e que aponta que 76% dos entrevistados consideram a educação pública brasileira regular, boa ou ótima. Veja a página 4:

      http://g1.globo.com/jornaldaglobo/download/0,,4714-1,00.pdf

      Nos links que encaminhei realmente é fácil a pessoa ler o que achar mais conveniente, de acordo com as suas crenças pessoais. Frases como "Os pais mencionaram também a precariedade na formação dos professores." não são nada informativas.

      Além disso, recomendei que examinasse postagens neste blog sobre temas específicos em educação. Dá uma olhada, por exemplo, no texto abaixo. Ilustra um dos exemplos específicos de como não temos educação de qualidade em nosso país. E, pior, sequer sabemos disso.

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2009/11/muitos-livros-e-apostilas-de-matematica.html

      O problema não reside naquilo que pessoas acreditam perceber, mas principalmente naquilo que elas jamais enxergam.

      Com relação a essa velha e cansativa desculpa sobre colonização de exploração, creio que você não entendeu o ponto. Austrália poderia ter usado a desculpa da colonização infestada por criminosos para justificar qualquer fracasso. A região era praticamente toda ela uma colônia penal. Mas veja no texto abaixo o exemplo que a Austrália deu sobre o Brasil.

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2013/04/como-conhecer-o-passado-do-parana-basta.html

      Com relação ao seu comentário no item 3, não posso responder. Carrega preconceito em demasia.

      E com relação à sua última frase, é esquisita demais. Como eu poderia levar para o lado pessoal? Você nem se apresentou.

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  9. Anônimo

    Infelizmente sua visão sobre o que o povo brasileiro pensa é ingênua. Ninguém se importa com educação neste país, fui professor em escola pública e já ouvi diversas conversas de pais de alunos desprezando a educação. Se você ouve na rua ou na TV que a população quer uma educação melhor, me desculpe, é tudo hipocrisia ou demagogia. O jovem de hoje em dia só quer saber de ter um emprego braçal desqualificado, pra ter dinheiro pra beber fim de semana e ouvir funk ou sertanejo "universitário" alto em seus carros usados e financiados. Os brasileiros são sim, em sua imensa maioria, uns verdadeiros boçais

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    1. Hugo

      Se eu fosse basear minha visão a respeito de educação no Brasil apenas com o que vejo em sala de aula nos últimos 30 anos, eu já estaria morando dentro de uma caverna há muito tempo. É apavorante o que vejo na UFPR, entre alunos e também professores. A única fagulha de esperança que vejo reside em umas poucas pessoas espalhadas pelo território nacional e em alguns lugares no exterior.

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  10. Pois é, da mesma forma que os links das pesquisas no seu penúltimo comentário, o link do último também demonstra que o brasileiro pensa que a educação básica deve melhorar sim. Pois, claramente, a pesquisa diz que 59% dos brasileiros classifica a educação pública básica no Brasil como regular, ruim ou péssima, ou seja, a ampla maioria dos brasileiros acha que a educação pública básica do país deve melhorar.

    E digo mais, se considerarmos, como é sensato fazer, que os que consideram que a educação pública básica no Brasil não é ótima coincidem com os que acham que ela precisa melhorar (pois se não achassem isso pensariam que ela é ótima), então, segundo a última pesquisa que você disponibilizou, a porcentagem dos brasileiros que pensam que a educação pública básica precisa melhorar aumenta para 93%, ou seja a esmagadora maioria.

    Assim, as pesquisas trazidas aqui por você estão em concordância com o que eu ouço praticamente todos os dias nas ruas: o brasileiro acha que a educação básica pública precisa melhorar.

    Para finalizar esse ponto, embora você já tenha passado três links que confirmam minha tese (o que já é mais que suficiente), eu acrescento mais um, trazendo uma pesquisa divulgada recentemente pelo jornal O Estado de São Paulo:

    http://www.estadao.com.br/noticias/geral,brasileiro-se-diz-insatisfeito-com-servicos-publicos,1158006

    Vale ressaltar que existem poucas pesquisas sobre a satisfação dos brasileiros com a educação básica pública porque esse é um serviço que não prestado pelo governo federal, mas sim pelos governos estaduais. Assim, imagino que hajam consequentes variações nas avaliações feitas de estado para estado.

    Sobre a Austrália: Primeiro foi uma colônia penal; depois, e só depois que deixou de ser uma colônia penal e foi transformada em colônia de povoamento, a qualidade de vida da sua população melhorou e ela teve condições objetivas para se transformar no que é hoje: um país avançado tecnologicamente (igual às demais colônias de povoamento, como Estados Unidos, Nova Zelândia e Canadá). Isso demonstra a importância do tipo de colônia que um país foi para explicar o grau de desenvolvimento tecnológico e educacional dos países em que essas colônias se transformaram.

    Afinal, você acha que a Austrália é mais avançada que o Brasil em termos tecnológicos e educacionais porque os genes dos australianos são melhores que os dos brasileiros? Ou, de modo mais geral, que Estados Unidos, Nova Zelandia e Canadá são mais avançados tecnologicamente e tem uma qualidade de educação superior à dos países da América Latina porque os genes dos norte-americanos, neozelandeses e canadenses são melhor que dos latino americanos?

    A pergunta é válida e não é retórica, pois você não aceita a diferença entre os tipos de colonização (povoação X exploração) para explicar as diferenças no grau de desenvolvimento dos países em que se converteram as ex-colônias. Você não aceita essa explicação (somente qualificando-a como "cansativa"), mas não oferece uma explicação alternativa. Então eu te pergunto, para você, o que explica a superioridade tecnológica e educacional da Austrália em relação ao Brasil? Se possível de uma resposta que também explique essa superioridade em relação a Estados Unidos, Nova Zelândia e Canadá quando comparados com os países da América Latina.

    Com relação ao item 3) do meu último comentário, ele não tem nada de preconceito.

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    1. Anônimo

      OK. Você lê estatísticas com uma lente otimista. Entre 76% classificando educação pública básica como regular, boa e ótima e 59% classificando como regular, ruim e péssima, você ainda insiste na mesma tese. Isso levando em conta apenas o ensino básico público, que é exemplo clássico de problema. Ou seja, diante de pesquisa sobre ensino privado, a percepção de boa qualidade certamente aumentaria (de acordo com a nova fonte que você indica), apesar da maioria das instituições privadas de ensino básico e superior em nosso país serem realmente muito ruins. Mas, tudo bem. Você é um otimista. Não fez referência aos outros textos que indiquei, ignorando-os. E ainda acrescentou uma referência na qual se diz que 57% dos entrevistados avaliam que o Brasil está no caminho certo. Talvez, de algum modo, precisemos de pessoas como você. Mas entre Voltaire e Leibnitz, fico com o primeiro. Cândido, de Voltaire, oferece uma fascinante visão de mundo.

      A questão dos genes, que você coloca, nunca me ocorreu. Afinal, tanto aqui quanto nos EUA (por exemplo) há uma diversidade genética muito grande. Os problemas que vejo no Brasil, comparado com outros países, são de ordem cultural. E não são isolados, apesar do brasileiro não se sintonizar com os seus vizinhos. Praticamente toda a América Latina sofre de males semelhantes. É uma região que não faria falta para o mundo, se sumisse.

      Por aqui insistimos com a desculpa da colonização, como a mulher traída que culpa o ex-marido pelos anos perdidos. São inúmeros os casos de pessoas e até nações que, apesar de poderosas forças antagônicas, superaram suas dificuldades. Outro exemplo bem conhecido é o da Polônia, país de história milenar de invasões e pobreza, mas que lutou de maneira belíssima para transformar sua realidade.

      http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2013/02/quantos-polacos-sao-necessarios-para.html

      A pergunta que você faz ao final (o que explica a superioridade tecnológica e educacional da Austrália em relação ao Brasil?) é excelente. Mas não tenho resposta. Não consigo compreender a falta de senso comunitário no brasileiro, a falta de sonhos que vão além de carro na garagem e casa na praia, a falta de ambição de nosso povo e a facilidade de contentamento com tão pouco. Até mesmo as recentes manifestações populares foram um vexame. Não existe calor em nosso país. E, se não se importa, prefiro não insistir nessa discussão. Já passei por três ou quatro comentaristas com argumentos idênticos aos seus, nos últimos anos. E já aprendi que esse tipo de discussão não converge para lugar algum.

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    2. Adonai

      Acho que sou um dos três ou quatro comentaristas que o senhor diz apresentar argumentos idênticos aos do Anônimo. Creio também que, na discussão que li aqui, ficou bem claro o meu principal ponto de discordância com o senhor. Até dei um nome a isso: "excepcionalismo reverso brasileiro". Ao contrário de outros excepcionalismos, um pensamento peculiar que floresce por aqui é que o Brasil seja um país excepcionalmente ruim. Eu simplesmente discordo dessa ideia por ser infundada e até nociva, pois leva àquela conclusão de que "a única saída do Brasil é o aeroporto" e à existência dos proverbiais "revoltados" e reclamões que não movem uma palha pra mudar o estado de coisas, sem perceberem que deixar de ser medíocre é a primeira contribuição que alguém pode fazer para o Brasil deixar de ser um país medíocre. Paradoxalmente, não vejo os efeitos nocivos do "excepcionalismo reverso" no senhor, o que, para mim, é intrigante.

      Quanto à América Latina não fazer falta ao mundo, acho que o mundo seria um pouco pior se Jorge Luis Borges, Gabriel García Márquez e Machado de Assis não tivessem existido.

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    3. Leonardo

      De forma alguma pensei em você quando mencionei sobre comentaristas com argumentos idênticos aos do anônimo em questão. Bem pelo contrário, percebo em seus argumentos contrários a ideias minhas uma disposição para pensar criticamente. Não tenho problemas com pessoas que discordam de ideias minhas. Pelo contrário, já aprendi muito com pessoas que discordam de mim. E seus exemplos, citando Jorge Luis Borges e Gabriel García Márquez, são ótimos. Só tenho dúvidas quanto a Machado de Assis.

      Além disso, poderíamos citar vários nomes de brasileiros que influenciaram positivamente o mundo. Mas isso foi feito *apesar* de terem vivido e trabalhado no Brasil. Veja o exemplo de Carlos Chagas. Praticamente tudo neste país conspirou contra ele. Meu problema é com a cultura brasileira, praticamente desprovida de ambições e sonhos. O orgulho do passado, diante do futebol, é um bom exemplo do Brasil perante o mundo. Nosso país, apesar de eventos recentes, é uma referência mundial no futebol. Mas será que não podemos sonhar com mais? Qual é o problema de querermos mais? Não falo em transformar o Brasil em um império mundial, como um devaneio intervencionista sobre o globo. Falo apenas em transformar o Brasil em uma nação de fato, que sirva de exemplo para o planeta em que vivemos. O Brasil ainda é aquela criança grandona que se esconde no canto da sala de aula. É uma criança grandona que tem lampejos de inspiração, com evidente potencial. Mas parece ter medo de se expor perante os outros. Esse medo tem que acabar.

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  11. Adonai, então quer dizer que você traz o tema da Austrália para a discussão, pede que eu estude a historia desse país e compare com o Brasil e então, quando eu te pergunto afinal o que você acha que explica a superioridade tecnológica e educacional da Austrália em relação ao Brasil, você simplesmente diz que não tem ideia e diz que não quer seguir com a discussão? Isso depois de não ir além de dizer que a tese que defendo é cansativa e de fazer uma bastante questionável analogia com mulheres traídas.

    Aí fica fácil. Quer dizer, você bota um tema em discussão para supostamente sustentar sua tese e aí, quando chega a hora de afinal você dizer porque o tema que colocou em discussão realmente sustenta a sua tese, você simplesmente diz que não tem a menor ideia e suspende o debate?

    Com relação às pesquisas que você disponibilizou sobre o brasileiro achar ou não que a educação básica precisa melhorar, a minha posição não tem nada a ver com otimismo/pessimismo. É simplesmente uma leitura direta das pesquisas. As suas pesquisas apontam claramente para o seguinte fato: a maioria dos brasileiros acha que a educação básica pública (que é onde a esmagadora maioria dos brasileiros estuda) está regular, ruim e péssima. Isso não tem nada a ver com Leibiniz ou Voltaire, tem a ver com saber ler com isenção o resultado claro de uma pesquisa de opinião.

    Eu finalizo com uma pergunta: segundo você, o brasileiro é boçal e a América Latina poderia desaparecer que isso não ia fazer a menor diferença no mundo (imagino que você pense o mesmo da África). Então a pergunta é: uma vez que você é, gostando ou não, um latino americano brasileiro, você se acha boçal e acha que poderia desaparecer sem fazer nenhuma falta ao mundo? Essa pergunta se estende a todos os leitores que concordam com essa sua tese sobre brasileiros e latino americanos.

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    1. Anônimo

      Sua pergunta ao final é ótima. De fato, nasci um boçal e cresci como um. Afinal, nasci brasileiro. O que tento fazer é vencer essa boçalidade. E, de fato, hoje meu desaparecimento não faria diferença alguma perante o mundo. Mas ainda tento mudar esse quadro. Ainda luto contra a minha própria boçalidade. Por isso estou envolvido em um projeto que desenvolvo em parceria com dois outros colegas de trabalho e que espero, em algum momento, poder compartilhar por aqui. E isso é algo que espero de muitos outros: o reconhecimento por não ter ideia do que é civilidade e as medidas necessárias para corrigir isso.

      Com relação ao meu pedido para encerrar a discussão, preciso esclarecer algo. Sustentar uma tese não reflete, de forma alguma, um impulso inesgotável de participar de embates sem fim e sem sinal de convergência. Ideias jamais podem ser impostas. E as melhores ideias são aquelas que vencem por si mesmas e não por conta de persistências contra aqueles que as rejeitam. Um famoso exemplo é o Darwinismo. Uma quantia assustadora de pessoas rejeita o Darwinismo e sempre rejeitará. Mas é uma ideia que vence por mérito próprio a cada diz que se passa. Por conta disso que não gosto de Dawkins. Ele é um evolucionista que tenta impor teoria da evolução sobre aqueles que não creem nela. Isso é absoluta perda de tempo.

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    2. Mas...

      Você deu uma ideia ótima para postagem. Em breve escreverei.

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